2022-05-25
2022-01-03
soneto dos sonetos - Vasco da Graça Moura (no dia em que faria 80 anos)
catorze versos tem este soneto
de dez sílabas cada, na contagem
métrica portuguesa; de passagem,
o esquema abba dá esqueleto
aos versos do começo: a engrenagem
podia ser abab, mas meto
aqui baab: destarte, preto
no branco, instabilizo a sua imagem.
teria, isabelino, uma terceira
quadra, cddc e ee final,
em vez de dois tercetos com quilate
sempre de ouro no fim, de tal maneira
porém o engengrei continental
que em duplo cde tem seu remate.
in poesia reunida, vol. 2, Quetzal
Vasco Graça Moura nasceu na freguesia da Foz do Douro, no Porto, a 3 de Janeiro de 1942; faleceu no dia 27 de abril de 2014, em Lisboa>
2021-08-10
Canção do Exílio - Gonçalves Dias
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas tem mais flores,
Nossos bosques tem mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Antonio Gonçalves Dias (n. Caxias, Maranhão, 10 de agosto de 1823; m. 3 de novembro de 1864) Read More...
2021-08-03
Momento - Políbio Gomes dos Santos
Não sei qual seja agora o meu querer:
Se ver-te para não ter mais saudades
Se as saudades de te ver,
Que ver-te a dois passos me faz desejar-te
Mais perto
E mais perto
Esmagada comigo
Num rito brutal ─ os dois sangues trocados!
Mas eu sei que ficaremos
Separados
Como valvas de marisco
No cisco da praia!
─ Duas peças do engenho de Deus
Avariado,
Enquanto o Homem não descobre o Mundo.
Políbio Gomes dos Santos (n. Ansião, 7 de Agosto de 1911 — m. Ansião, 3 de Agosto de 1939) Read More...
2021-07-08
O QUE EU VI - Manuel de Arriaga
Saí um dia a contemplar o mundo,
Por ver quanto há de belo e quanto brilha
Na múltipla e gloriosa maravilha,
Que anda suspensa em o azul profundo!
Vi montes, vales, árvores e flores,
Límpidas águas, múrmuras torrentes,
Do grande mar as músicas plangentes,
Dos céus sem fim os trémulos fulgores!
Trouxe os olhos tão ricos de beleza,
O coração tão cheio de harmonia,
De quanto havia em terra, mar e céus,
Que interpretando a sós a Natureza:
Dentro de mim esplêndido fulgia,
Num circulo de luz, teu nome, oh Deus!
in CANTOS SAGRADOS, Manoel Gomes Editor, LISBOA, 1899
Nota: A ortografia foi atualizada pelo autor do blog
Manuel José de Arriaga Brum da Silveira e Peyrelongue (Horta, Matriz, 8 de julho de 1840 — Lisboa, 5 de março de 1917).
Manuel de Arriaga, a 24 de agosto de 1911, tornou-se no primeiro presidente eleito da República Portuguesa, sucedendo na chefia do Estado ao Governo Provisório presidido por Teófilo Braga.