Blog Widget by LinkWithin

2015-01-08

MESA EX-POSTA - Políbio Alves

Tão esquivo quanto o estático bule
com suas rústicas margaridas, o leite
se esconde à borda da xícara amarela.

Ante a persistência da manhã inusitada
no centro da mesa sobre a renda branca,
fez-se queijo, manteiga e coalhada.


in Exercício lúdico: invenções & armadilhas, Ideia, 1991, PB

Políbio Alves dos Santos naseu em 8 janeiro de 1941, no bairro Cruz das Armas, periferia de João Pessoa, Paraíba.

Ler do mesmo autor:
Última Carta
Os Objetos Indomáveis

Read More...

2015-01-07

Nom chegou, madr', o meu amigo - D. Dinis

Nom chegou, madr’, o meu amigo
e oj’est o prazo saído.
     Ai, madre, moiro d’amor!

Nom chegou, madr’, o meu amado
e oj’est o prazo passado.
     Ai, madre, moiro d’amor!

E oj’est o prazo saído!
Por que mentiu o desmentido?
     Ai, madre, moiro d’amor!

E oj’est o prazo passado!
Por que mentiu o perjurado?
     Ai, madre, moiro d’amor!

Porque mentiu o desmentido,
pesa-mi, pois per si é falido.
     Ai, madre, moiro d’amor!

Porque mentiu o perjurado,
pesa-mi pois mentiu a seu grado.
     Ai, madre, moiro d’amor!

in «Os Dias do Amor», por Inês Ramos

D. Dinis (ou Diniz) (n. 9 de outubro 1261 — m. 7 de janeiro 1325 em Santarém): é esse mesmo. O nosso sexto Rei, o Lavrador e poeta, faleceu há 690 anos!

Read More...

Musical suggestion of the day: Clint Mansell - Winter Lux Aeterna from Requiem for a Dream




Clinton Darryl Mansell (Coventry, 7 january 1963)

Read More...

2015-01-06

SONETO XXXI - Reis Quita


Quando em meu desvelado pensamento
O teu formoso gesto se afigura,
Não sei que afecto sinto, ou que ternura,
Que a toda esta alma dá contentamento.

Ali fico num largo esquecimento,
Contemplando na minha conjectura
De teu sereno rosto a graça pura,
De teus olhos o doce movimento.

Porém logo a inconstante fantasia
Me acorda o entendimento arrebatado,
E desfaz todo o bem que me fingia,

Sendo tal este gosto imaginado,
Que de Amor outra glória eu não queria
Mais que trazer-te sempre em meu cuidado.


Domingos dos REIS QUITA nasceu em Lisboa a 6 de Janeiro de 1728 e aí morreu, tuberculoso, a 26 de Agosto de 1770. Embora exercesse a humilde profissão de cabeleireiro e barbeiro, adquiriu, como autodidacta, uma cultura que lhe permitiu ser um dos mais destacados membros da Arcádia Lusitana, com o nome de Alcyno Mycénio. Foi autor de várias tragédias, mas é sobretudo notável como poeta bucólico.

Nota biobliográfica extraída de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.


Read More...

2015-01-05

Ponderação do Rosto e Olhos de Anarda - Manuel Botelho de Oliveira

Quando vejo de Anarda o rosto amado,
Vejo ao céu e ao jardim ser parecido
Porque no assombro do primor luzido
Tem o sol em seus olhos duplicado.

Nas faces considero equivocado
De açucenas e rosas o vestido;
Porque se vê nas faces reduzido
Todo o império de flora venerado.

Nos olhos e nas faces mais galharda
Ao céu prefere quando inflama os raios,
E prefere ao jardim, se as flores guarda:

Enfim dando ao jardim e ao céu desmaios,
O céu ostenta um sol, dois sóis Anarda,
Um maio o jardim logra; ela dous maios.


Extraído de Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Porto Editora

Manuel Botelho de Oliveira (n. Salvador, 1636 — m. Salvador, 5 de janeiro de 1711)

Ler do mesmo autor: Rosa, e Anarda

Read More...