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2011-06-16

Paraíso - David Mourão-Ferreira

Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.

Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!

Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...

Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.

in "Infinito Pessoal" (1959-1962)
Extraído de David Mourão-Ferreira, Obra Poética, 1º. Volume Livraria Bertrand

David de Jesus Mourão-Ferreira (n. em Lisboa a 24 Fev. 1927; m. Lisboa a 16 Jun 1996)

Ler do mesmo autor:
Equinócio
Soneto do Cativo
E Por Vezes
Nocturno
Paraíso
Ternura
Labirinto
Penelope
Primavera


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