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2020-08-27

Eu vi a linda Estela, e namorado - Alvarenga Peixoto


Eu vi a linda Estela, e namorado 
Fiz logo eterno voto de querê-la; 
Mas vi depois a Nize, e é tão bela, 
Que merece igualmente o meu cuidado. 

A qual escolherei, se neste estado 
Não posso distinguir Nize de Estela?
Se Nize vir aqui, morro por ela;
Se Estela agora vir, fico abrasado. 

Mas, ah! que aquela me despreza amante, 
Pois sabe que estou preso em outros braços, 
E esta não me quer por inconstante. 

Vem, Cupido, soltar-me destes laços, 
Ou faz de dois semblantes um semblante, 
Ou divide o meu peito em dois pedaços!


Inácio José de Alvarenga Peixoto (Rio de Janeiro, 1 de fevereiro 1744 — Ambaca, Angola, 27 de agosto 1792 ou 1 de janeiro de 1793)

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2020-08-16

E a Vida foi, e é assim, e não melhora - António Nobre

E a Vida foi, e é assim, e não melhora.
Esforço inútil. Tudo é ilusão.
Quantos não cismam nisso mesmo a esta hora
Com uma taça, ou um punhal na mão!
Mas a Arte, o Lar, um filho, António? Embora!
Quimeras, sonhos, bolas de sabão.
E a tortura do Além e quem lá mora!
Isso é, talvez, minha única aflição.
Toda a dor pode suportar-se, toda!
Mesmo a da noiva morta em plena boda,
Que por mortalha leva... essa que traz.
Mas uma não: é a dor do pensamento!
Ai quem me dera entrar nesse convento
Que há além da Morte e que se chama A Paz

António Pereira Nobre (nasceu no Porto a 16 de Agosto de 1867 e foi  vítima de tuberculose pulmonar, na Foz do Douro, Porto a 18 de Março de  1900).

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