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2020-05-19

.Quand on ne s'aime plus - Julio Dantas


Ponto final. Adeus. Tinha previsto o fim.
Quiz muito, quiz demais... O culpado fui eu.
Se é que póde morrer o que nunca viveu,
Sinto que morreu hoje o teu amor por mim.

Fiz mal em vir? Talvez. Quizeste vêr-me: vim.
Que placidez a tua e que sorriso o teu!
Amor que raciocina é amor que morreu.
Pode lá nunca amar quem se domina assim!

Tinha de ser. Adeus. Deixas-me triste e doente.
Depois, qual é o amor que vive eternamente?
Tudo envelhece, e passa, e morre como tu.

Nunca mais me verás. É a vida, afinal.
Dá-me o ultimo beijo e não me queiras mal...
Il faut rompre en pleurant quand cn ne s'aime plus.


manteve-se a grafia constante da publicação
in Revista ATLANTIDA, Nº. 1, 15 de Novembro de 1915, Lisboa

Júlio Dantas (Lagos, 19 de maio de 1876 — Lisboa, 25 de maio de 1962)

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2020-05-05

Anunciação - Luís Amaro


Imprecisa e grácil te imagino
Rasgando de esperança a noite enorme
E iluminando o coração soturno
Que mora, exilado, em mim.

Teu vulto vence a névoa do crepúsculo
e detém meus passos sem destino
A beira da noite hiante e pálida
Com, lá no fundo, a minha imagem
Desfigurada e triste, arrependida...

E tua lembrança é o perdão, a luz,
A vida que desponta nas raízes
Mais íntimas do ser.

Vens, irreal e presente, ao meu encontro,
Cabelos soltos ao vento da manhã,
E dos teus lábios desprende-se a Palavra...

Flui de teus olhos a música das fontes!

in «Poesia 71»,
Porto: Editorial Nova, 1972

Francisco Luís Amaro, nasceu em Aljustrel, em 05 de maio de 1923; m. Lisboa, 24 de agosto de 2018.

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