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2017-09-30

DO BARCO - Paulo Bomfim



No barco de um soneto eu te procuro
Por praias e avatares tripulantes,
Deixo de mim nos litorais amantes,
Contrabandeando sóis no porto escuro.

E dos remos sonoros que seguro,
Faço a canção das ilhas mais distantes,
E num ritual de ventos navegantes
Clamo por ti em tempos de futuro.

Sinto que a vida passa e deito sondas
Que vão medindo em mim as profundezas
Dos céus que fui tragando em minhas ondas;

E na procura desse desatino,
Vou gritando ao sabor das correntezas:
− Meu barco, meu soneto, meu destino!

Paulo Lébeis Bomfim (n. em São Paulo, SP, Brasil, 30 de setembro de 1926)

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2017-09-29

Dois rios - Luís Miguel Navas (que hoje faria 60 anos...)



O corpo dividido em duas partes
fechadas
à chave uma na outra, avanço
num duplo coração como se fosse
ao mesmo tempo num só barco por dois rios.

in O Céu Sob as Entranhas; Limiar, Porto, 1989

Luís Miguel de Oliveira Perry Nava (nasceu em Viseu, 29 de setembro de 1957 — m. Bruxelas, 10 de maio de 1995)

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2017-09-28

Noturno - Emílio Moura


Tocai, tocai, ó flautas que ninguém ouve.
Silenciosas palavras que vos impregnais de eternidade:
falai ao nosso espírito.
Que carícia inesperada, que doçura tímida
nos pensamentos de jamais que ora regressam de ignorados ermos!

(Por que esta paisagem não se transfigura como se não houvesse tempo?)
Tocai, tocai, ó flautas que ainda guardais os velhos ritmos
de doces e antigas árias: tocai, tocai, de novo,
tocai até que a noite
seja apenas o antigamente
de vossa aérea e solitária música.

Emílio Guimarães Moura (n. 14 de agosto de 1902, Dores do Indaiá, Minas Gerais, Brasil — m. 28 de setembro de 1971, Belo Horizonte, Minas Gerais)

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2017-09-27

Crianças - Rodrigues de Abreu (na efeméride dos 120 anos do nascimento)

Somos duas crianças! E bem poucas
no mundo há como nós: pois, minto e mentes,
se te falo e me falas; e bem crentes
somos de nos magoar, abrindo as bocas...

Mas eu bem sinto, em teu olhar, as loucas
afeições, que me tens e também sentes,
em meu olhar, as proporções ingentes
do meu amor, que, em teu falar, há poucas!

Preza aos céus que isto sempre assim perdure:
que a voz engane no que o olhar revela;
que jures não amar, que eu também jure...

Mas que sempre, ao fitarmo-nos, ó bela,
penses: "Como ele mente" e que eu murmure:
"quanta mentira tem os lábios dela!".


Benedito Luís Rodrigues de Abreu (n. Capivari (SP) a 27 de setembro de 1897; m. em Bauru (SP) a 24 de novembro de 1927)

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2017-09-26

METÁFORA ANTIGA - Alice Spíndola



O artesão da palavra
faz paragem no tempo,
com talento, telas e fios
faz também surgir tramas e teias,
viaja e busca no íntimo,
melodia e tijolo antigo
que completam o sonho.


in Fio do labirinto; Goiânia: Editora da UFG, 1996


ALICE SPINDOLA nasceu na Nova Ponte, Minas Gerais, Brasil, em 26 de setembro de 1940

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2017-09-25

gordo e careca - valter hugo mãe



para rosa maria weber e alberto bresciani


onde vais, valter hugo mãe, tão sem ter
com quem, tão precipitado no vazio do
caminho à procura de quê

porque não ficas em casa, resignadamente só,
a ver como a vida se gasta sem culpa nem glória

é um rapaz estranho, valter hugo mãe, aí metido
num amor nenhum que te magoa e esperas ter
lugar no mundo, com tanto que o mundo tem de
distraído

devias morrer no dia dezoito de março de
mil novecentos e noventa e seis, como dizes que
vai acontecer, para que se acabe essa
imprecisa sentença que é a vida

volta a fechar a porta, não há nada para ti lá fora
e está frio, tens reumatismo, dói-te a cabeça, estás
gordo e careca, não faz sentido sequer que
tentes chegar às luzes esbatidas da marginal, ainda
que seja só ao lado menos percorrido pelos banhistas

volta a fechar a porta e talvez durmas, está um
agradável silêncio no prédio, tenho a certeza de que
reparaste nisso

In mil e setenta e um poemas; Brasília: Thesaurus, 2008

Valter Hugo Mãe nasceu em Saurimo, Angola, em 25 de Setembro de 1971.

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2017-09-23

Do Primeiro Regresso - Augusto Casimiro (na passagem do 50.º aniversário do seu desaparecimento)



Escuta meu Amor, quando eu voltar
De tão longe, e avistar de novo o Tejo,
O meu Restelo que em saudades vejo
Como outra Índia a conquistar

Quando a minha alma inquirida sossegar
Este voo indomável, num adejo,
E o amor e o céu e Deus, vivos num beijo,
Iluminarem todo o nosso lar:

Quando, meu Santo Amor, voltar o dia
Do primeiro regresso, e a aleluia
Madrugar tua alma anoitecida...

Hás-de embalar-me sobre o teu regaço
Arrolar, encantar o meu cansaço...
E então será o meu regresso à Vida!

in Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, selecção, organização introdução e notas de Jorge Reis-Sá, prefácio de Vasco da Graça Moura. Porto Editora.

Augusto Casimiro dos Santos (n. em Amarante a 11 Maio de 1889; m. em Lisboa a 23 de setembro de 1967)

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Manhã em Petrópolis - José Maria do Amaral



Que dourada manhã, que luz mimosa
Enverniza dos campos a verdura!
Que aura cheirosa e cheia de brandura!
Será, quem sabe, o respirar da rosa?

Doura-se em luz a serra majestosa,
Das flores leva a Deus a essência pura;
Dos pássaros nos sons com que doçura,
Canta a floresta antífona maviosa!

D’alma em ternura a ti sobem louvores,
Bendito Criador da natureza!
Quem vê sem te adorar tantos primores?

Que humano rosto em si tem tal beleza?
De qual beleza nascem mais amores?
E quais amores têm tanta grandeza?

José Maria do Amaral Filho (nasceu no Rio de Janeiro, RJ, Brasil a 14 de março de 1812 — faleceu em Niterói, RJ, Brasil a 23 de setembro de 1885)

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2017-09-22

CASA PATERNA - Gustavo Teixeira (na passagem dos 80 anos sobre a sua morte)



Da velha casa em que a manhã da vida
Passei – conservo uma lembrança exata:
Antes de eu vir ao mundo foi erguida
Perto da serra, quase ao pé da mata.

Dá para o sul a frente enegrecida;
Ao lado, para um poente de escarlata,
Janelas donde, na estação florida,
Se aspira o cheiro dos jasmins de prata.

Perto, o bambual em cujo seio amigo
Cantam graúnas, e o pomar antigo
Com melros, tiés e gurundis em bando.

O ribeirão, o cafezal, a horta...
Ah! que saudade o coração me corta
do lar querido que deixei chorando!

Gustavo de Paula Teixeira (São Pedro, Estado de S. Paulo, Brasil, 4 de março de 1881 — São Pedro, 22 de setembro de 1937)

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2017-09-21

Não Dizia Palavras - Luís Cernuda


Não dizia palavras,
Aproximava apenas um corpo interrogante,
Porque ignorava que o desejo é uma pergunta
Cuja resposta não existe,
Uma folha cujo ramo não existe,
Um mundo cujo céu não existe.

Entre os ossos a angústia abre caminho,
Ergue-se pelas veias
Até abrir na pele
Jorros de sonho
Feitos carne interrogando as nuvens.

Um contacto ao passar,
Um fugidio olhar no meio das sombras,
Bastam para que o corpo se abra em dois,
Ávido de receber em si mesmo
Outro corpo que sonhe;
Metade e metade, sonho e sonho, carne e carne,
Iguais em figura, iguais em amor, iguais em desejo.

Embora seja só uma esperança,
Porque o desejo é uma pergunta cuja resposta ninguém sabe.

in Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea, Selecção e Tradução de José Bento, Assírio & Alvim

Luis Cernuda Bidón (n. Sevilha. Espanha, 21 de setembro 1902 em Sevilha; m. cidade do México, México 5 de novembro de 1963)

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2017-09-20

A SECRETA FRATERNIDADE - Alberto de Lacerda

Fiquei crucificado noutros gritos
noutras formas de amor mais verdadeiras
Eu sou irmãos o cego autêntico
ébrio demais da luz de outros caminhos
filho secreto de mundos que perdi
irmão de nada - depois de ter morrido
em cada ser humano que trazia
olhos de criança e mãos vermelhas
de sangue.

in Árvore - Folhas de Poesia - Volume II Primeiro Fascículo

Carlos Alberto Portugal Correia de Lacerda, nasceu em 20 de setembro de 1928 em Lourenço Marques (actual Maputo), Moçambique e faleceu em 26 de agosto de 2007 em Londres.

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2017-09-19

Para ser grande, sê inteiro: nada - Ricardo Reis


Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive


Ricardo Reis (um dos heterónimos de Fernando Pessoa) nasceu, em ficção, no Porto, a 19 de setembro de 1887. Educado num colégio jesuíta (latinista por educação alheia e semi-helenista por educação própria), formou-se em Medicina. Por ser monárquico, partiu para o Brasil em 1919...

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2017-09-18

Namorados - Bernardino Lopes


Nessas manhãs alegres, perfumadas,
De éter sadio e claro firmamento,
Acariciando o mesmo pensamento
Percorremos o parque de mãos dadas.

Aves trinando em cima das ramadas,
Alvos patos e um cisne a nado lento
Sobre as águas do lago, num momento
Pela braza do sol ensanguentadas...

Brilha o sereno trêmulo nas pontas
Do vistoso gramal, como se fosse
Solto rosário de opalinas contas...

Enquanto uns casos rústicos de aldeia
Eu vou narrando-lhe, em linguagem doce,
Escuto a queixa de seus pés na areia!


in Os dias do Amor, um poema para cada dia do ano, Recolha, selecção e organização de Inês Ramos, prefácio de Henrique Manuel Bento Fialho, Ministério dos Livros

Bernardino da Costa Lopes (n. em Boa Esperança, Rio Bonito, Rio de Janeiro, a 19 de Jan. de 1859; m. em 18 de Set. 1916, no Rio de Janeiro).

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2017-09-15

Liberdade onde estás? Quem te demora? - Barbosa du Bocage

Hoje 15 de setembro é o Dia Internacional da Democracia declarado pela ONU em 2007 e também é feriado Municipal em Setúbal. Porque será? É o dia da efeméride do nascimento de Barbosa du Bocage! Deixemos, por isso aqui, este soneto:


Liberdade, onde estás? Quem te demora?
Quem faz que o teu influxo em nós não caia?
Porque (triste de mim!), porque não raia
Já na esfera de Lísia a tua aurora?

Da santa redenção é vinda a hora
A esta parte do mundo, que desmaia.
Oh!, venha... Oh!, venha, e trémulo descaia
Despotismo feroz, que nos devora!

Eia! Acode ao mortal que, frio e mudo,
Oculta o pátrio amor, torce a vontade,
E em fingir, por temor, empenha estudo.

Movam nossos grilhões tua piedade;
Nosso númen tu és, e glória, e tudo,
Mãe do génio e prazer, ó Liberdade!

Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage (n. Setúbal, 15 de setembro de 1765; m. Lisboa, 21 de dezembro de 1805)

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Porto's Wine: Ruby versus Tawny

«Enquanto o Porto Ruby poderá ser descrito como catalizador de energia, com o entusiamo e a efervescência de uma adolescente, o Porto Tawny é a sua irmã mais velha, mais reservada e confiante. Imagine ambas as mulheres numa festa: as pessoas serão inicialmente cativadas pelas qualidades exuberantes da irmã Ruby, mas depois acabarão por descobrir a natureza intrigante da irmã Tawny» in Vinhos & Outros Sabores, Revista Extra do Expresso 27 de Set. 2008.

Sugestão: fique com as duas irmãs ( não, não é as duas mulheres, falava das duas garrafas de vinho.. ah ah).

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2017-09-14

A Morte do Jangadeiro - Padre António Tomás

JangadeiroJangadeiro - Nicéas Romeo Zanchett

Ao sopro do terral abrindo a vela,
Na esteira azul das águas arrastada,
Segue veloz a intrépida jangada
Entre os uivos do mar que se encapela.

Prudente, o jangadeiro se acautela
Contra os mil acidentes da jornada;
Fazem-lhe, entanto, guerra, encarniçada,
O vento, a chuva, os raios, a procela.

Súbito, um raio o prostra e, furioso,
Da jangada o despeja na água escura;
E, em brancos véus de espuma, o desditoso,

Envolve e traga a onda entumecida,
Dando-lhe, assim, mortalha e sepultura
O mesmo mar que o pão lhe dera em vida.


Padre Antônio Thomaz Sales (nasceu em Acarati, Ceará a 14 de setembro de 1868 e faleceu em Fortaleza, Ceará, a 16 de julho de 1941).

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2017-09-13

DUENDES - Alceu Wamosi

Nas mudas solidões da alma da gente,
Pela noite sem termo, andam vagando
Dolorosos espectros tristemente,
Em soluçante e doloroso bando...

Uns têm o aspecto cândido, inocente,
E os olhos cheios de lágrimas, chorando.
Outros, da rebeldia impenitente,
Vão, na fúria danada, estertorando.

É toda a dor amarga que nos prosta,
Que, num cortejo fúnebre, se mostra,
- Duendes vagando na alma - sem rebouços...

São as acerbas mágoas, os gemidos
Profundos, revoltados, doloridos,
E as blasfêmeas, e as pragas, e os soluços...

Alceu de Freitas Wamosy naceu em Uruguaiana, Rio Grande do Sul (RS), Brasil a 14 de Fevereiro de 1895 e faleceu em Livramento (RS) a 13 de setembro de 1923

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2017-09-12

HOJE - Auta de Sousa


Fiz anos hoje... Quero ver agora
Se este sofrer que me atormenta tanto
Me não deixa lembrar a paz, o encanto,
A doce luz de meu viver de outrora.

Tão moça e mártir! Não conheço aurora,
Foge-me a vida no correr do pranto,
Bem como a nota de choroso canto
Que a noite leva pelo espaço em fora.

Minh’alma voa aos sonhos do passado,
Em busca sempre desse ninho amado
Onde pousava cheia de alegria.

Mas, de repente, num pavor de morte,
Sente cortar-lhe o vôo a mão da sorte...
Minha ventura só durou um dia.

12 de Setembro de 1894.

Auta de Souza (Macaíba, Rio Grande do Norte, Brasil, 12 de setembro de 1876 — Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, 7 de fevereiro de 1901)

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2017-09-11

Sonho Oriental - Antero de Quental


Sonho-me ás vezes rei, nalguma ilha,
Muito longe, nos mares do Oriente,
Onde a noite é balsâmica e fulgente
E a lua cheia sobre as aguas brilha...

O aroma da magnólia e da baunilha
Paira no ar diáfano e dormente...
Lambe a orla dos bosques, vagamente,
O mar com finas ondas de escumilha...

E enquanto eu na varanda de marfim
Me encosto, absorto num cismar sem fim,
Tu, meu amor, divagas ao luar,

Do profundo jardim pelas clareiras,
Ou descansas debaixo das palmeiras,
Tendo aos pés um leão familiar.

Antero Tarquínio de Quental (n. Ponta Delgada, S.Miguel, Açores a 18 de abril 1842; m. em Ponta Delgada, a 11 setembro 1891)

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2017-09-08

A Primeira Namorada - Farias de Carvalho

Namoradosimagem daqui

Como pássaros brancos que voltassem
de uma estranha região de coisas mortas,
as tuas mãos, Teresa, em meus cabelos
vieram ninhar saudades esquecidas.

Deixa eu tê-las nas minhas. Vamos juntos
passear velhos domingos de outros tempos,
fazer a turma toda roer de inveja
quando eu passar contigo pela praça.

Repetiremos tudo novamente:
– eu, orgulhoso, comprarei sorvetes
com os dez mil-réis contados da semana;

ficaremos depois no velho banco
sem dizer nada, nossas sombras juntas
como duas saudades que se achassem!


(Transcrito de Pássaro de cinza)

Carlos Farias Ouro de Carvalho (nasceu em Manaus, no dia 8 de setembro de 1930. Faleceu em Niterói em 25 de junho de 1997).

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2017-09-07

Na passagem dos 150 anos do nascimento de Camilo Pessanha: Singra o navio. Sob a água clara



Singra o navio. Sob a água clara
Vê-se o fundo do mar, de areia fina...
- Impecável figura peregrina,
A distância sem fim que nos separa!

Seixinhos da mais alva porcelana,
Conchinhas tenuemente cor de rosa,
Na fria transparência luminosa
Repousam, fundos, sob a água plana.

E a vista sonda, reconstrui, compara,
Tantos naufrágios, perdições, destroços!
- Ó fúlgida visão, linda mentira!

Róseas unhinhas que a maré partira...
Dentinhos que o vaivém desengastara...
Conchas, pedrinhas, pedacinhos de ossos...


(Clepsidra 1920)
Extraído de Poemas Portuguesdes Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, Porto Editora

CAMILO de Almeida PESSANHA nasceu em Coimbra a 7 de setembro de 1867 e morreu, tuberculoso, em Macau (China) a 1 de março de 1926.

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DESPEDIDA - Carlos Magalhães de Azeredo

Não me coroes, Alma querida, de rosas: o encanto
da Juventude é efêmero; e a minha é quase extinta.

Também não me coroes de louros: a Glória não fala
ao coração, nem o ouve; passa, longínqua e fria.

Coroa-me das heras, que abraçam as graves ruínas:
são da humildade símbolo, e da tristeza eterna ...


Procelárias (1898)
Extraído daqui

Carlos Magalhães de Azeredo nasceu no Rio de Janeiro, em 7 de setembro de 1872, e faleceu em Roma, Itália, em 4 de novembro de 1963

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2017-09-06

Oásis - Pedro Homem de Mello




Aquela praia-contraste
Entre a liberdade e a lei
(Aquela praia ignorada!)
Foste tu que ma mostraste
Ou fui eu que a inventei?
Lençol de seda ou de linho?
Lençol de linho bordado?
Deitei-me nele ao comprido...
Lençol de seda ou de linho?
Lençol de espuma comprido...
Lençol de areia queimado!
Ai! aquela praia! Aquela
Que, na minha embriaguez
Manchei sem dó! Fiquei triste
Logo da primeira vez
Em que a vi... Não o sentiste?
Agora, lembro-me dela
Como de um lençol de renda
Rasgado por minha mão...
E fico triste, tão triste!
Todas as praias são brancas
E só aquela é que não!
Moinhos que andais no vento,
Leite que escorres na Lua,
Quero pedir-vos perdão!
Mas é tão grande, tão grande
Ai! é tão grande o contraste
Entre a liberdade e a Lei
Que, às vezes até nem sei
Se aquela praia ignorada
Foste tu que me mostraste
Ou fui eu que a inventei...

in 366 poemas que falam de amor, uma antologia organizada por Vasco da Graça Moura, Quetzal Editores

Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello (n. Porto em 6 de setembro de 1904 - m. Porto, 5 de março de 1984).

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2017-09-05

Tudo o que amei se é que o amei - Fernando Pessoa


Tudo que amei, se é que o amei, ignoro,
E é como a infância de outro. Já não sei
Se o choro, se suponho só que o choro,
Se o choro por supor que o chorarei.

Das lágrimas sei eu... Essas são quentes
Nos olhos cheios de um olhar perdido...
Mas nisso tudo são-me indiferentes
As causas vagas deste mal sentido.

E choro, choro, na sinceridade
De quem chora sentindo-se chorar
Mas se choro a mentira ou a verdade,
Continuarei, chorando, a ignorar.

5-9-1934

In Novas Poesias Inéditas, 1973; Ed. Ática, Lisboa

Fernando Pessoa

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2017-09-04

Silêncio - Medeiros e Albuquerque (na efeméride dos 150 anos do nascimento)

II s’en plaignit, il en parla,...
J’en connais de plus misérables.
JOB, Benserade

Cala. Qualquer que seja esse tormento
que te lacera o coração transido,
guarda-o dentro de ti, sem um gemido,
sem um gemido, sem um só lamento!

Por mais que doa e sangre o ferimento,
não mostres a ninguém, compadecido,
a tua dor, o teu amor traído:
não prostituas o teu sofrimento!

Pranto ou Palavra - em nada disso cabe
todo o amargor de um coração enfermo
profundamente vilipendiado.

Nada é tão nobre como ver quem sabe,
trancado dentro de uma dor sem termo,
mágoas terríveis suportar calado!

(Últimos versos, in Poesias, 1904.)

José Joaquim de Campos da Costa MEDEIROS E ALBUQUERQUE nasceu no Recife (PE) a 4 de setembro de 1867 e faleceu no Rio de Janeiro a 9 de junho de 1934.

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2017-09-03

Happy Birthday Nothingandall !!

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2017-09-01

Madrugada - Marcelino Mesquita

Dentre a relva orvalhada, a cotovia
Encastela no ar cantando e rindo;
O vago azul do céu vão colorindo
Os largos tons de luz, núncios do dia.

Desfaz-se lentamente a névoa fria
Como véu que se rasga e vão caindo,
Como bagas de anoso tamarindo
Para a terra, os cristais que a noite cria.

Fumegam chaminés pelas aldeias
E, correm para o mar, além, distante,
Os rios semelhando enormes veias.

Aqui e além soturno caminhante...
Os rebanhos beijando as valas cheias,
Na rubra luz do sol purpureante.

Marcelino Mesquita nasceu no Cartaxo a 1 de setembro de 1856 e faleceu a 7 de junho de 1919

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