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2013-04-12

São Martinho de Anta, 12 de Abril de 1965: Diário - Miguel Torga

Capela de Nossa Senhora da Azinheira (Sabrosa) 
imagem daqui


São Martinho de Anta, 12 de Abril de 1965 - Chego - verdadeiramente nem chegar é preciso: basta partir nesta direcção - e pareço o cão de Pavlov: todo eu segrego baba emotiva. O simples nome da povoação, lido nos marcos da estrada, desencadeia dentro de mim uma girândola de reflexos. Vejo a senhora da Azinheira a branquejar no alto da serra, oiço o sino a badalar, sabe-me a boca a tabafeira, cheira-me a rosmaninho.
    Já dentro da terra, então, é como se uma resposta de sensações rompesse de repente o dique do esquecimento e alagasse a planície da lembrança. Tropeço em cada pedra, bebo em cada fonte, vou de anjo em cada procissão.
    Enquanto ando lá por baixo, esqueço-me de que tenho cá dentro um tal rosário de reacções à espera de estímulo. Prova evidente de que os ramos e as folhas estão longe das raízes...
    Tudo o que sou claramente não é daqui. Mas tudo o que sou obscuramente pertence a este chão. A minha vida é uma corda de viola esticada entre dois mundos. No outro, oiço-lhe a música; neste, sinto-lhe as vibrações. 

in Diário - Vols. IX a XII - Miguel Torga


1 comments:








Luma Rosa

disse...

Não podemos fugir de nossas raízes... rs.
Boa semana!! Beijus,