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2012-06-29

Zingarella - Afonso Schmidt

Certa noite, na Itália, quando eu vinha
para meu quarto, achei-a junto à porta;
era tão bela, mas tão pobrezinha!
De sono e frio estava quase morta.


Ela, pálida e franzina,
eu, de sobretudo roto:
— Buona sera, signorina!
— Buona sera, giovanoto!


Ofereci-lhe o quarto de estudante,
de minha estreita cama fiz a sua,
e, enquanto ela dormia, palpitante,
eu vagava, sem teto, pela rua.


De manhã, voltando à casa,
perguntei o nome dela:
- Como ti chiami, regazza?
-Io mi chiamo Zingarella.


Depois... Eu tinha vinte e três janeiros,
ela contava quinze primaveras.
Eram tão juntos nossos travesseiros...
Veio a paixão. Amamo-nos deveras...


Foi o quadro mais risonho
desta vida fugidia:
— Zingarella, sei mio sogno!
— E tu sei la vita mia!


Mas, um dia, ao voltar do meu estudo,
cheio de mágoas, de ânsias e de frio,
não encontrei seus olhos de veludo:
o quarto estava gélido e vazio.


Grito embalde o nome dela,
Numa tristeza infinita:
— Dove sei, o Zingarella?
— Dove sei, o mia vita?


E a minha vida prosseguiu inglória...
Fiz coisas de rapaz... Não me envergonho
de recordar ainda aquela história,
quase desvanecida como um sonho:


ela, pálida e franzina,
eu, de sobretudo roto...
— Buona sera, signorina!
— Buona sera, giovanoto!


Publicado no livro Janelas abertas (1911)

Afonso Schmidt nasceu em Cubatão, Estado de São Paulo, a 29 de junho de 1890, m. em São Paulo a 3 de abril de 1964).


Ler do mesmo autor, neste blog:
Cubatão
Chromo
O Poema da Casa Que Não Existe
Simpatia (Poema infantil)


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