Soneto I. 70 de A Imitação do Amanhecer [O amor é uma parábola, a instante tradução] - Bruno Tolentino
I. 70
O amor é uma parábola, a instante tradução
do real em metáfora; no entanto, não importa
se a aparição que se desvela quando a porta
se escancara entre os mundos, é uma alucinação
ou uma sombra tangível: o ser é uma porção
incerta do invisível e o olho não suporta,
muito menos retém-no, o impacto da visão;
o olhar humano dói mais fundo quando corta
a escuridão ao meio e penetra-a e não toca
sequer seus pirilampos, nem mesmo uma variante
da noite e seus relâmpagos: um corpo deslumbrante
pode se encher de luz primeva, mas a boca
é a entrada da treva, e o mais puro diamante
não cruza nunca o espelho nem tem valor de troca ...
in A imitação do amanhecer - Bruno Tolentino
São Paulo : Globo 2006 ISBN 85-250-4189-0
Bruno Lúcio de Carvalho Tolentino Sobrinho (Rio de Janeiro, 12 de novembro de 1940 — São Paulo, 27 de junho de 2007)
0 comments:
Enviar um comentário