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2018-07-04

No centenário do nascimento de Adolfo Casais Monteiro - PERMANÊNCIA


         Não peçam aos poetas um caminho. O poeta
         não sabe nada de geografia celestial.
         Anda aos encontrões da realidade
         sem acertar o tempo com o espaço.
         Os relógios e as fronteiras não tem
         tradução na sua língua. Falta-lhe
         o amor da convenção em que nas outras
         as palavras fingem de certezas.
         O poeta lê apenas os sinais
         da terra. Seus passos cobrem
         apenas distâncias de amor e
         de presença. Sabe
         apenas inúteis palavras de consolo
         e mágoa pelo inútil. Conhece
         apenas do tempo o já perdido; do amor
         a câmara escura sem revelações; do espaço
         o silêncio de um vôo pairando
         em toda a parte.
         Cego entre as veredas obscuras é ninguém e nada          sabe
         — morto redivivo.

         Tudo é simples para quem
         adia sempre o momento
         de olhar de frente a ameaça
         de quanto não tem resposta.
         Tudo é nada para quem
         descreu de si e do mundo
         e de olhos cegos vai dizendo:
         Não há o que não entendo.

Adolfo Casais Monteiro (nasceu no Porto a 4 de Julho de 1918 e faleceu em São Paulo a 23 de Julho de de 1972)


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