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2016-07-01

Insónia - Carlos de Oliveira

Cactos no deserto do Arizonafoto de Jim Richardson daqui

Penso que sonho. Se é dia, a luz não chega para alumiar o caminho
pedregoso; se é noite, as estrelas derramam uma claridade desabitual.
Caminhamos e parece tudo morto: o tempo, ou se cansou já desta
longa caminhada e adormeceu, ou morreu também. Esqueci a fisionomia
familiar da paisagem e apenas vejo um trémulo ondular de deserto, a
silhueta carnuda e torcida dos cactos, as pedras ásperas da estrada.
Chove? Qualquer coisa como isso. E caminhando sempre, há em redor
de nós a terra cheia de silêncio.
Será da própria condição das coisas serem silenciosas agora?

Terras da harmonia

Extraído de Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI; selecção, organização introdução e notas de Jorge Reis-Sá e Rui Lage; prefácio de Vasco Graça Moura.

Carlos Alberto Serra de Oliveira (n. em Belém do Pará, a 10 de agosto de 1921 e morreu em Lisboa a 1 de julho de 1981)


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