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2013-12-10

Lúcida em excesso - Clarice Linspector

Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior do que eu mesma, e não me alcanço. Além do quê: que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano — já me aconteceu antes. Pois sei que — em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade — essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém.


Extraído de Aprendendo a viver, Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2004

Clarice Lispector (nascida Haia Lispector em Chechelnyk, Ucrânia a 10 de dezembro de 1920 — m. Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977)

Ler da mesma autoria, neste blog:
Meu Deus... me dê coragem
Mas Há a Vida
Amor à Terra


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