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2012-10-14

Envelheces, Rapaz - Sebastião Alba


Palavras, cascalho desabrido
que em cada manhã, suspirando,
realinho nos canteiros
e que, sem fé, sagro
de cal idílica.
A vizinha chega-se ao muro,
diz "bom dia".
Vem duma comunidade
com juízo; apercebe-se
de que a minha saudação
carreta as pedras
dum mutismo lavrado.
Acabará por julgar
que há ali uxoricídio, e eu velo
para que ele não fique a descoberto.
Há-de ver
o meu bilhete de identidade, auge
de quem sou,
santo-e-senha, vínculo
que nem a morte pui.
Nada feia. No dia em que
um giro de andorinhas nos aureole,
dir-lhe-ei que tive
relações conjugais, sim!,
mas com a beleza, etc.
Não tardará que ela me escolha
as palavras e os chinelos
a seu gosto.

Extraído de Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, Porto Editora

Dinis Albano Carneiro Gonçalves nasceu em Braga, a 11 de Março de 1940, mas viveu a maior parte da sua vida em Moçambique. Morreu em Braga, no dia 14 de Outubro de 2000

Pai; quando falava no futuro


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