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2012-09-08

O poeta escrevendo - Camillo de Jesus Lima (na passagem do centenário do nascimento do poeta)

Solidão uma conversa! Eu estou é no meio do mundo.
Do que serve trancar a porta?
Do que serve botar as mãos nos ouvidos?
Do que serve fazer o papel de surdo que não quer ouvir?
Gritos de homens da rua entram, apesar de tudo,
Vozes angustiadas de mulheres perdidas entram, apesar de tudo.
Uivos de seviciados entram, apesar de tudo.
Solidão uma conversa! eu estou é no meio do mundo.
Os eunucos estão fazendo flores nas torres de marfim,
Mas eu estou é no meio do mundo.
O rumor das ruas confunde-se ao ritmo do teclado da máquina;
Metralhadoras escrevem poemas no teclado da máquina,
Cavalos estão batendo patas no teclado da máquina.
Gente lutando,
Suando,
Amando, nas cinco partes do mundo.
Quem pode escrever poemas na solidão,
Se portas trancadas nada valem
Se mãos nos ouvidos nada valem,
Se fazer o papel do surdo que não quer ouvir nada vale,
Se os olhos dos moribundos ficam, do alto, iluminando as páginas,
Se mãos alvas vêm acender o cigarro, devagarinho,
Se o rumor das ruas vem fazer coro ao ritmo do teclado da máquina?
Solidão uma conversa! Eu estou é no meio do mundo...

Camillo de Jesus Lima (Caetité, 8 de setembro de 1912 — Itapetinga, 28 de fevereiro de 1975)


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