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2012-07-07

O amor - Vladimir Maiakovski

Um dia, quem sabe,
ela, que também gostava de bichos,
apareça
          numa alameda do zoo,
sorridente,
         tal como agora está
         no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela,
         que, por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século
ultrapassará o exame
de mil nadas,
          que dilaceravam o coração.
Então,
         de todo amor não terminado
seremos pago
         sem enumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava
        como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano!
Ressuscita-me, 
        nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
        Quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo
De casamentos, 
concupiscência,
        salários.
Para que, maldizendo os leitos,
        saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia,
        que o sofrimento degrada, 
não vos seja chorado, mendigado.
E que, ao primeiro apelo:
        - Camaradas!
Atenta se volte a terra inteira.
Para viver
        livre dos nichos das casa.
Para que
        doravante
a família
        seja
o pai,
       pelo menos o Universo;
a mãe,
      pelo menos a Terra.

(1923)

Tradução de Haroldo de Campos

Vladimir Vladimirovitch Mayakovsky (em russo: Влади́мир Влади́мирович Маяко́вский) Bagdadi, Georgia, 7 de julho (calendário juliano) / 19 de julho (calendário gregoriano) de 1893 – Moscovo, 14 de abril de 1930)


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