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2012-05-31

Perfumados Prados do Meu Peito - Walt Whitman

Perfumados prados do meu peito,
Colho as vossas folhas, escrevo, para melhor as estudar depois,
Folhas dos túmulos, folhas do corpo crescendo sobre mim, sobre a 
          morte,
Raízes vivas, altas folhas, oh o inverno não vos enregelará, delicadas 
          folhas.
De novo floresceis todos os anos, de novo saindo do vosso retiro;
Eu não sei se muitos ao passar vos hão-de descobrir ou aspirar tão  
          suave aroma, mas sei que alguns o farão;
Oh delicadas folhas! Flores do meu sangue! Falai à vossa maneira
          do coração que por baixo tendes,
Eu não sei qual o vosso subterrâneo sentido, não sois a felicidade,
Sois muitas vezes tão cruéis que não vos posso suportar, queimais-
          -me e feris-me,
E, todavia, que bela sois aos meus olhos, raízes levemente colori-
          das, fazendo-me pensar na morte,
A julgar  por vós a morte é bela, (enfim, que haverá de mais belo
          senão a morte e o amor?),
Oh creio que não é em louvor da vida que aqui canto o meu canto 
          de amantes, creio que é em louvor da morte,
Pois, como é sereno, como floresce solenemente ao elevar-se à atmos-
          fera dos amantes!
Vida ou morte, tanto me faz, a minha alma recusa-se a escolher,
(Talvez a alma sublime dos amantes prefira a morte),
Na verdade, ó morte, penso que estas folhas significam o mesmo
          que tu,
Crescei, doces folhas, para que vos possa ver! Crescei sobre o         
          meu peito!
Abandonai o coração que aí se oculta!
Não vos enredeis, tímidas folhas, em vossas rosadas raízes!
Não vos quedeis aí, envergonhadas, ervas do meu peito!
Vinde, estou decidido a desnudar este amplo peito, tanto tempo
          o reprimi e sufoquei;
Emblemáticas e caprichosas folhas, deixo-vos, pois já não me sois
          úteis,
Sem rodeios direi o que tenho a dizer,
Só a mim e aos companheiros hei-de cantar, jamais atenderei outra
          voz que não a sua,
Despertarei ecos imortais em todos os estados do meu país,
Aos amantes darei um exemplo que seja para sempre forma e vontade
em todos os estados do meu país,
Pronunciarei as palavras que exaltem a morte,
Dá-me então a tua música, ó morte, para estarmos em harmonia,
Dá-te a mim porque agora sei que acima de tudo me pertences e
          que tu e o amor estão inseparavelmente unidos,
Não permitirei que me enganes mais com isso a que chamava vida,
Porque enfim compreendo que és os conteúdos essenciais,
Que, por qualquer razão, te escondes nestas mutáveis formas de
          vida, e que elas existem sobretudo para ti,
Que, para além delas, surges e permaneces, tu, realidade real,
Que, sob a máscara das coisas materiais, aguardas pacientemente,
não importa quanto tempo,
Que, talvez um dia, tudo dominarás,
Que talvez dissipes todo este imenso desfile de aparências,
Que talvez seja para ti que tudo existe mas não perdura,
Mas tu perdurarás.


Trad. José Agostinho Baptista


in Rosa do Mundo 2001 Poemas para o Futuro, Assírio Alvim

Walt Whitman (n. emn West Hills, Huntington on Long Island,  New York, 31  mai 1819 – m. 26 mar 1892)

Ler do mesmo autor, nest blog: To a Stranger; Song of myself; Vida


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