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2011-11-14

Ocultas Mágoas - Mécia Mousinho de Albuquerque

Como sombra que passa fugitiva
Olhos fitos nas pedras da calçada -
Lá vai ela - a Condessa pensativa
Em seu cismar infindo mergulhada!...

Os transeuntes param só por vê-la;
E cada um, ao contemplá-la diz:
«Isto não é mulher...é uma estrela!»
«Um ente assim, como há-de ser feliz!»

Ao banquete de finas iguarias
Onde as flores se espalham nos cristais
Ocultando profundas agonias,
A Condessa engole amargos ais!

Mas os convivas forçam-lhe o sorriso,
E cada um, ao contemplá-la diz:
«Não há mais bela flor no paraíso!»
«Um ente assim...como há-de ser feliz!»

Vibra do baile no ar o mago encanto,
Resplandece a alegria nos semblantes:
Só a Condessa a custo gela o pranto
Que borbulha em seus olhos rutilantes!

As donzelas cobiçam-lhe a frescura,
E cada uma, ao contemplá-la diz:
«Tão rica e formosa... que ventura!»
«Um ente assim... como há-de ser feliz!»

Mas sobre a fria e solitária lousa
Altar funéreo d'um amor ardente
A altas horas a Condessa ousa
Gemer... carpir... chorar eternamente!

E alevantando o seu olhar discreto,
Triste... o coveiro, ao contemplá-la diz:
«Só eu conheço o teu pesar secreto,
Mísera amante... e chamam-te feliz!»


in Poetisas Portuguesas, Nuno Catharino Cardoso, Lisboa. Livraria Scientífica, 1917

Mécia Mousinho de Albuquerque, nasceu em Lisboa, 1870; morreu em Lisboa, 1961


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