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2011-11-08

A Nuvem - Teófilo Dias

Sulcas o ar de um rastro perfumoso
Que os nervos me alvoroça e tantaliza,
Quando o teu corpo musical desliza
Ao hino do teu passo harmonioso.

A pressão do teu lábio saboroso
Verte-me na alma um vinho que eletriza,
Que os músculos me embebe, e os nectariza,
E afrouxa-os, num delíquio langoroso.

E quando junto a mim passas, criança,
Revolta a crespa, luxuosa trança,
Na espádua arfando em túrbidos negrumes,

Naufraga-me a razão em sombra densa,
Como se houvera sobre mim suspensa
Uma nuvem de cálidos perfumes!


Do livro Fanfarras (1882). Poema integrante da série Flores Funestas. In: Poesias escolhidas. Sel. introd. e notas Antonio Candido. São Paulo: Conselho Estadual de Cultura, 1960.

Teófilo Odorico Dias de Mesquita (Caxias, 8 de novembro de 1854 — São Paulo, 29 de março de 1889)Teófilo Dias: 8 de novembro de 1854 — 29 de março de 1889)


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