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2011-06-30

Políticos sem vergonha!

Pedro, num dos primeiros Passos enquanto novo primeiro ministro, tirou (mais) um Coelho da cartola. Acabar com 0 13º. mês- disse em Março deste ano - é um disparate. «Se vier a ser necessário algum ajustamento fiscal ainda a minha garantia é que ela irá ser canalizada para os impostos sobre o consumo e não para os impostos sobre o rendimento», confirmou noutra ocasião.

Agora para além das medidas da troika e não fazendo parte do Programa do Governo há pouco tempo sufragado, já anunciou um imposto equivalente a metade do 13º mês... sobre todas as classes de rendimento (o que também é um paradoxo, porque há classes de rendimentos que não têm 13º. mês!).

Falta de vergonha... bastou uns dias...

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Duma outra infância, inventada - Reinaldo Ferreira

Duma outra infância, inventada,
Guardo memórias que são
Reais reversos do nada
Que as verdadeiras me dão.

Estas, se acaso regressam,
Em tropel e confusão
Ao limiar-me, tropeçam
No corpo das que lá estão.

Assim, mentindo as raízes
Do meu confuso começo,
Segrego imagens felizes
Com que as funestas esqueço.


in Cem Poemas Portugueses sobre a Infância; selecção, organização e introdução de José Fanha e José Jorge Letria, Terramar

Reinaldo Edgar de Azevedo e Silva Ferreira (n. em Barcelona, a 20 de Março de 1922; m. em Moçambique a 30 de Junho de 1959).

Ler do mesmo autor, neste blog:
Rosie
Quem dorme à noite comigo
Meu Quase Sexto Sentido
Uma Casa Portuguesa
Passemos Tu e Eu Devagarinho

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2011-06-29

Simpatia - Um poema infantil de Afonso Schmidt

imagem daqui

Numa tarde longa e mansa,
os dois pela estrada vão:
o cão estima a criança,
e a criança estima o cão.

Que delicada aliança
dos seres da criação:
uma risonha criança,
um robustíssimo cão.

Deus percebeu a lembrança
e sorriu lá na amplidão:
ele gosta da criança,
que trata bem o seu cão.

Por isso, na tarde mansa,
os dois felizes lá vão:
a delicada criança
e o robustíssimo cão.

in Poesia brasileira para a infância, Cassiano Nunes e Mário da Silva Brito, São Paulo, Saraiva:1968

Afonso Schmidt nasceu em Cubatão, Estado de São Paulo, a 29 de junho de 1890, m. em São Paulo a 3 de abril de 1964)

Ler do mesmo autor, neste blog:
Cubatão
Chromo
O Poema da Casa Que Não Existe

PS: Em memória do Niko que partiu deste mundo, mas que durante a vida fez a felicidade, não propriamente das crianças, mas de todos cá de casa.

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2011-06-28

Virgem Primitiva - Tristão da Cunha

A pobre Ofélia deu-lhe os tristes olhos mansos
Onde bóia um luar de sonhos afogados;
Mãos piedosas dormindo em gestos resignados,
De tarde, a meditar nos eternos descansos.

Há idílios de irmãos, inviolados remansos,
Soluços de ternura, e sorrisos cansados,
E saudades que não vem dos tempos passados,
No sobre-humano olhar daqueles olhos mansos.

Eu vejo-a morta já (que tristeza tão doce!...)
As mãos no colo em cruz e branca de alabastros,
Noiva morta de amor na primeira manhã...

Na Via-Láctea que a leva, pura como a trouxe,
Florindo-lhe o caminho anjos espalham astros,
E a lua vai seguindo atrás, como uma irmã...

Tristão da Cunha, pseudónimo de José Maria Leitão da Cunha Fº., nascido no Rio de Janeiro em 13 de Março de 1878, m. a 29 de Junho de 1942).

Ler do mesmo autor no Nothingandall:
Aniversário
Itervm

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As Infelizes Necessidades do Homem Civilizado - Jean-Jacques Rosseau

Um autor célebre, calculando os bens e os males da vida humana, e comparando as duas somas, achou que a última ultrapassa muito a primeira, e que tomando o conjunto, a vida era para o homem um péssimo presente. Não fiquei surpreendido com a conclusão; ele tirou todos os seus raciocínios da constituição do homem civilizado. Se subisse até ao homem natural, pode-se julgar que encontraria resultados muito diferentes; porque perceberia que o homem só tem os males que se criou para si mesmo, o que à natureza se faria justiça. Não foi fácil chegarmos a ser tão desgraçados. Quando, de um lado, consideramos o imenso trabalho dos homens, tantas ciências profundas, tantas artes inventadas, tantas forças empregadas, abismos entulhados, montanhas arrasadas, rochedos quebrados, rios tornados navegáveis, terras arroteadas, lagos cavados, pantanais dissecados, construções enormes elevadas sobre a terra, o mar coberto de navios e marinheiros, e quando, olhando do outro lado, procuramos, meditando um pouco as verdadeiras vantagens que resultaram de tudo isso para a felicidade da espécie humana, só nos podemos impressionar com a espantosa desproporção que reina entre essas coisas, e deplorar a cegueira do homem, que, para nutrir o seu orgulho louco, não sei que vã admiração de si mesmo, o faz correr ardorosamente para todas as misérias de que é susceptível e que a benfazeja natureza havia tomado cuidado em afastar dele.

Os homens são maus, uma triste e contínua experiência dispensa a prova; entretanto, o homem é naturalmente bom, creio havê-lo demonstrado. Que será, pois, que o pode ter depravado a esse ponto, senão as mudanças sobrevindas na sua constituição, os progressos que fez e os conhecimentos que adquiriu? Que se admire quanto se queira a sociedade humana, não será menos verdade que ela conduz necessariamente os homens a se odiarem entre si à proporção do crescimento dos seus interesses, a se retribuir mutuamente serviços aparentes, e a se fazer efectivamente todos os males imagináveis. Que se pode pensar de um comércio em que a razão de cada particular lhe dita máximas directamente contrárias àquelas que a razão pública prega ao corpo da sociedade, e em que cada um tira os seus lucros da desgraça do outro? Não há, talvez, um homem abastado ao qual os seus herdeiros ávidos, e muitas vezes os seus próprios filhos, não desejem a morte, secretamente. Não há um navio no mar cujo naufrágio não constituísse uma boa notícia para algum negociante; uma só casa que um devedor de má fé não quisesse ver queimada com todos os documentos; um só povo que não se regozijasse com os desastres dos vizinhos. É assim que tiramos vantagens do prejuízo dos nossos semelhantes, e que a perda de um faz quase sempre a prosperidade do outro. Mas, o que há de mais perigoso ainda é que as calamidades públicas são a expectativa e a esperança de uma multidão de particulares: uns querem as moléstias, outros, a mortalidade; outros, a guerra; outros, a fome.

(...) O homem selvagem, quando acabou de comer, está em paz com toda a natureza, e é amigo de todos os seus semelhantes. Se, algumas vezes, tem de disputar o seu alimento, não chega nunca ao extremo sem ter antes comparado a dificuldade de vencer com a de encontrar noutro lugar a sua subsistência; e, como o orgulho não se mistura ao combate, ele termina por alguns socos. O vencedor come e o vencido vai procurar fortuna noutra parte, e tudo está pacificado. Mas, no homem da sociedade, é tudo bem diferente; trata-se, primeiramente, de prover ao necessário, depois, ao supérfluo. Em seguida, vêm as delícias, depois as imensas riquezas, e depois súbditos e escravos. Não há um momento de descanso. O que há de mais original é que, quanto menos as necessidades são naturais e prementes, tanto mais as paixões aumentam, e o que é pior, o poder de as satisfazer. De sorte que, após longas prosperidades, depois de haver devorado muitos tesouros e desolado muitos homens, o meu herói acabará por tudo arruinar, até que seja o único senhor do universo. Tal é, abreviadamente, o quadro moral, senão da vida humana, pelo menos das pretensões secretas do coração de todo homem civilizado.

Comparai, sem preconceitos, o estado do homem civilizado com o do homem selvagem, e investigai, se o puderdes, como além da sua maldade, das suas necessidades e das suas misérias, o primeiro abriu novas portas à miséria e à morte. Se considerardes os sofrimentos do espírito que nos consomem, as paixões violentas que nos esgotam e nos desolam, os trabalhos excessivos de que os pobres estão sobrecarregados, a moleza ainda mais perigosa à qual os ricos se abandonam, uns morrendo de necessidades e outros de excessos; se pensardes nas monstruosas misturas de alimentos, na sua perniciosa condimentação, nos alimentos corrompidos, nas drogas falsificadas, nas velhacarias dos que as vendem, nos erros daqueles que as administram, no veneno do vasilhame no qual são preparadas; se prestardes atenção nas moléstias epidémicas oriundas da falta de ar entre multidões de seres humanos reunidos, nas que ocasionam a nossa maneira delicada do viver, as passagens alternadas das nossas casas para o ar livre, o uso de roupas vestidas ou despidas sem precauções, e todos os cuidados que a nossa sensualidade excessiva transformou em hábitos necessários, e cuja negligência ou privação nos custa imediatamente a vida ou a saúde; se puserdes em linha de conta os incêndios e os tremores de terra que, consumindo ou derrubando cidades inteiras, fazem morrer os habitantes aos milhares; em uma palavra, se reunirdes os perigos que todas essas causas acumulam continuamente sobre as nossas cabeças, sentireis como a natureza nos faz pagar caro o desprezo que temos dado às suas lições.

in 'Discurso Sobre a Origem da Desigualdade'

Jean-Jacques Rousseau (Genebra, 28 de Junho de 1712 — Ermenonville, 2 de Julho de 1778)

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2011-06-27

Via Crucis - Bruno Tolentino (falecido há quatro anos)

A Via Crucis foi uma selvageria,
a Crucifixão uma brutalidade;
mas em três, quatro horas, acabou a agonia,
baixou a eternidade.

Eu vivo aqui, crucificada noite e dia,
carrego da manhã à tarde
o meu lenho de opróbrio e a noite me excrucia
lenta, fria, covarde.

Ah, como eu preferia
que me crucificassem de uma vez, sem o alarde
de algum terceiro dia!

Mas toca-me seguir nessa monotonia,
a agonia de alçar-me do catre
e abrir de novo os braços, vazia.

Bruno Lúcio de Carvalho Tolentino (Rio de Janeiro, 12 de novembro de 1940 — São Paulo, 27 de junho de 2007)

in As horas de Katharina (Companhia das Letras, 1994)

Ler do mesmo autor, neste blog:
Mecanismos
O Espírito da Letra

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2011-06-26

Recordações - Francisco Otaviano


Oh! se te amei! Toda a manhã da vida
Gastei-a em sonhos que de ti falavam!
Nas estrelas do céu via teu rosto,
Ouvia-te nas brisas que passavam:
Oh! se te amei! Do fundo de minh’alma
Imenso, eterno amor te consagrei...
Era um viver em cisma de futuro!
Mulher! oh! se te amei!

Quando um sorriso os lábios te roçava,
Meu Deus! que entusiasmo que sentia!
Láurea coroa de virente rama
Inglório bardo, a fronte me cingia;
À estrela alva, às nuvens do Ocidente,
Em meiga voz teu nome confiei.
Estrela e nuvens bem no seio o guardam;
Mulher! oh! se te amei!

Oh! se te amei! As lágrimas vertidas,
Alta noite por ti; atroz tortura
Do desespero d’alma, e além, no tempo,
Uma vida sumir-se na loucura...
Nem aragem, nem sol, nem céu, nem flores,
Nem a sombra das glórias que sonhei...
Tudo desfez-se em sonhos e quimeras...
Mulher! oh! se te amei!


Francisco Otaviano de Almeida Rosa (n. no Rio de Janeiro a 26 de Jun 1825; m. no Rio de Janeiro a 28 Maio 1889 ou 28 de Junho de 1889)

Ler do mesmo autor: Soneto: Morrer, dormir, não mais...;
Ilusões de Vida

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2011-06-25

Soneto - Rodolfo Alves de Faria


A sombra geme aqui. Ruínas este soneto.
A arcaria da frase é um esgarado momo
e, sobre este papel, erguem-se os versos como
velhos muros de pedra ou restos de esqueleto.

A imagem lembra um curvo e triste cinamomo,
onde a hera da dor se enrosca ao tronco preto
e passeia, através da quadra e do terceto,
a saudade que reza, em religioso assomo.

Senta-se a mágoa sobre os escombros dispersos
do hemistíquio onde bate o coração dos versos
e em derredor rasteja o verme dos gemidos;

e como um braço, amor, que no outro braço arrima,
cai, em música estranha, a rima sobre a rima,
num sonoro rumor de mármores partidos.

Rodolfo Alves de Faria (Maceió, AL 23/3/1871 - Maceió AL 25/6/1899)

Poema extraído de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.

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2011-06-24

No centenário do nascimento de Ernesto Sábato

Creio que a verdade é perfeita para a matemática, a química, a filosofia, mas não para a vida. Na vida contam mais a ilusão, a imaginação, o desejo, a esperança.

Ernesto Sábato (n. Rojas, Argentina 24 de junho de 1911 - m. Santos Lugares, 30 de abril de 2011)

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2011-06-23

Minha Mãe - Martins Fontes

Beijo-te a mão que sobre mim se espalma
para me abençoar e proteger.
Teu puro amor o coração me acalma;
provo a doçura do teu bem-querer.

Porque a mão te beijei, a minha palma
olho, analiso, linha a linha, a ver
se em mim descubro um traço da tua alma,
se existe em mim a graça do teu ser.

E o M, gravado sobre a mão aberta,
pela sua clareza, me desperta
um grato enlevo, que jamais senti:

quer dizer – Mãe – este M tão perfeito
e, com certeza, em minha mão foi feito
para, quando eu for bom, pensar em ti.


José Martins Fontes nasceu em Santos (SP) a 23 de Junho de 1884 e morreu a 25 de Junho de 1937. Diplomou-se em Medicina pelo Rio em 1907 e iniciou a sua actividade profissional como interno do hospital de alienados. Diz-se que receitava aos neurasténicos e às histéricas a leitura de obras literárias. Trabalhou nas docas de Santos, tendo como clientes gente pobre e trabalhadores humildes, mas veio a ser delegado de Saúde. Popularíssimo, mas totalmente desprovido de vaidade, foi também jornalista e conferencista. Filosoficamente, era positivista e a sua poesia traduz entusiasmo pela vida, pela beleza e pela arte. Possuía riqueza de imaginação, virtuosismo formal e gosto da técnica do verso, mas excessiva verbosidade, exuberância retórica e barroquismo tropical.

Soneto e Nota biobliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.

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2011-06-22

Faz hoje 25 anos que Maradona marcou um dos golos mais fantásticos em Mundiais de futebol


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Rastros - Paulino de Oliveira

De chofre, como rápido meteoro
Que risca as minhas noites mal veladas
Surgem faiscando e fogem apressadas
Coisas que mal compreendo e mal decoro

Lembranças vagas a que em vão imploro
E estendo os braços... coisas apagadas,
Rastros de antigos prantos e risadas
Que debandaram em sombrio coro

É como o lastro dessas caravelas,
Dantes povoadas, de enfunadas velas,
Em que embarquei à busca dos desejos...

Passa um perfume conhecido, vago -
Aura de rotos panos, velho afago,
Rastro de aroma, a ideia dos teus beijos!


in Os dias do Amor, um poema para cada dia do ano; Ministério dos Livros

Francisco Paulino Gomes de Oliveira, nasceu em Setúbal a 22 de Junho de 1864, faleceu em 1914

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2011-06-21

Na Despedida de Ignez - Domingos Carvalho da Silva

Estão mudos os poemas,
não tenho mais tua voz para cantá-los.
O som corre vazio nas palavras
sem que teus ouvidos possam dar-lhes vida.
A luz se extingue,
pois tuas pálpebras estão cerradas para o sol
e em teus olhos
cresceu a longa treva sem a espera
do alvorecer.

Os rios não mais são necessários,
pois já não corre tua memória em suas águas.
Já não são necessários os caminhos,
que não mais poderão seguir-te os passos.
O livro que lias não chegou
a abrir a última folha,
as teclas do piano esperam esquecidas
o afago vibrante de tuas mãos,
que libertavam das pautas a harmonia.

Perdeu nossa casa a presença grácil
da castelã medieva,
o perfil de virtude
da senhoril esposa
romana.

Na face e nos lábios de pétalas dobradas
vi-te partir mais bela
que as rosas da manhã:
as últimas que te ornaram
foram cumprir contigo o teu silêncio.


Domingos Carvalho da Silva (nasceu em Pedroso, Vila Nova de Gaia a 21 de Junho de 1915, faleceu em 26 de Abril de 2003)

Ler do mesmo autor:
Teoria do Poema
A Fénix Refractária

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2011-06-20

Villas-Boas no Chelsea


Há dias Pinto da Costa dizia que Villas-Boas não saía porque o jovem treinador estava na sua cadeira de sonho! «Tenho a certeza absoluta que ele para o ano estará cá! O André Villas-Boas é uma pessoa séria que respeita os contratos e respeita fundamentalmente a sua palavra»!

Mas mais uma vez ganhou a cor do dinheiro ou será o novo lema o dinheiro não tem cor?

Quanto aos 15 milhões grande notícia para o novo Governo! Ou o que se verá é que não eram 15, afinal eram apenas 5 (e o resto vai parar a uma off-shore?

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O Amor e o Tempo - António Feijó

(Christopulos)

Pela montanha alcantilada
Todos quatro em alegre companhia,
O Amor, o Tempo, a minha Amada
E eu subíamos um dia.

Da minha Amada no gentil semblante
Já se viam indícios de cansaço,
O Amor passava-nos adiante
E o Tempo acelerava o passo.

– «Amor! Amor! mais devagar!
Não corras tanto assim, que tão ligeira
Não pode com certeza caminhar
A minha doce companheira!»

Súbito, o Amor e o Tempo, combinados,
Abrem as asas trémulas ao vento...
– «Por que voais assim tão apressados?
Onde vos dirigis?» – Nesse momento,

Volta-se o Amor e diz com azedume:
– «Tende paciência, amigos meus!
Eu sempre tive este costume
De fugir com o Tempo... Adeus! Adeus!»

(in «Sol de Inverno», 1922). Extraído de Poesias Completas, António Feijó, Prefácio de J. Cândido Martins, Edições Caixotim

António Joaquim de Castro Feijó, nasceu em Ponte de Lima a 1 de Junho de 1859 e faleceu em Upsala na Suécia a 20 Junho 1917).

Ler do mesmo autor:

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Presente (poema infantil) de Matilde Rosa Araújo que celebraria hoje os 90 anos

A girafa deu
ao seu
marido
no dia
de Natal
um lenço
colorido
de seda natural.
Que alegria!
– disse o marido –
ponha a pata
nesta pata,
com um pescoço
tão comprido
você não podia
ter-me comprado
uma gravata.

Matilde Rosa Araújo (nasceu em Lisboa a 20 de Junho de 1921; faleceu, na mesma cidade, em 6 de Julho de 2010)

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2011-06-19

Abandonadas - Roberto de Mesquita

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Old abandoned house


A velha casa, onde eu morei outrora
e que há muito está desabitada,
silenciosa envolveu-me, ao ver-me agora,
num triste olhar de amante abandonada.

Com que amargor no íntimo lhe chora
uma alma sensitiva e ignorada,
que não tem voz para queixar-se, embora
se veja só, de todos olvidada!

Casa deserta e fria, que envelheces
ao desamparo sem uma afeição,
bem sinto que me vês, que me conheces

e relembras os dias que lá vão...
Eu esqueci-te, amiga, e tu pareces
toda magoada dessa ingratidão.

in A Circulatura do Quadrado, Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa, Edição Unicepe, Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, CRL , 2004

Augusto de Mesquita Henriques (n. em Santa Cruz das Flores, Açores a 19 de Jun 1871; m. em Santa Crus das Flores 31 Dez 1923)

Ler do mesmo autor neste blog:
Aves do Mar;
Universalidade II
Spleen






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2011-06-18

Retrato do poeta quando jovem - José Saramago (um ano após o seu desaparecimento)

Há na memória um rio onde navegam
Os barcos da infância, em arcadas
De ramos inquietos que despregam
Sobre as águas as folhas recurvadas.

Há um bater de remos compassado
No silêncio da lisa madrugada,
Ondas brancas se afastam para o lado
Com o rumor da seda amarrotada.

Há um nascer do sol no sítio exacto,
À hora que mais conta duma vida,
Um acordar dos olhos e do tacto,
Um ansiar de sede inextinguida.

Há um retrato de água e de quebranto
Que do fundo rompeu desta memória,
E tudo quanto é rio abre no canto
Que conta do retrato a velha história.


in Cem Poemas Portugueses do Adeus e da Saudade; selecção, organização e introdução de José Fanha e José Jorge Letria, Terramar

José de Sousa Saramago (n. em 16 Nov. 1922 na Azinhaga do Ribatejo; faleceu a 18 de Junho de 2010 em Tías, Lanzarote)

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Letters to Juliet: What and if


"What" and "if" two words as nonthreatening as words come. But put them together side-by-side and they have the power to haunt you for the rest of your life: "What if?"...

I don't know how your story ended. But I know that if what you felt then was love - true love - then it's never too late. If it was true then it why wouldn't it be true now? You need only the courage to follow your heart...

I don't know what a love like that feels like... a love to leave loved ones for, a love to cross oceans for... but I'd like to believe if I ever felt it. I'd have the courage to seize it. I hope you had the courage to seize it, Claire. And if you didn't, I hope one day that you will.

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2011-06-17

Saudade - António Franco Alexandre

Tal como és, assim te quero, e sempre
diverso cada dia do que foste;
cada imperfeito gesto que inventares
me fará desejar-te em outro verso.

Da arte do soneto feito mestre
no concurso sem regra da floresta,
na mais pequena folha te descubro
e no caule do vento é que te perco.

Da turva luz já retirei o emblema
que me sirva de rosto permanente
e venha o cabeçalho do poema;

e pedirei à noite que me empreste
um farrapo do manto incandescente
de que se veste, agora, para ter-te.


António Franco Alexandre (nasceu em 17 de Junho de 1944, em Viseu)

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World Day to Combat Desertification


The World Day to Combat Desertification is celebrated every year on 17 June all over the world since 1995, the same year the United Nations Convention to Combat Desertification (UNCCD) was implemented, to mark the date that the Convention was adopted in Paris, France, in 1994. By 2005, 191 governments around the world had signed the UNCCD, which promotes effective action through innovative programmes and supportive international partnerships.

The aim of the United Nations in designating a day of observance is to sensitize the public and policy makers to the increasing dangers of desertification, land degradation and drought for the international community. The observance events are designed to get everyone to undertake at least one action that year to help minimize the threat highlighted. This being the International Year on Forests (http://www.un.org/en/events/iyof2011/), the World Day to Combat Desertification for 2011 will focus specifically on the forests in the drylands areas of the world, guided by the motto: ‘Forests Keep Drylands Working’.

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2011-06-16

Cerveja Proibida



Devia ser proibido! A cerveja? Não... a cerveja tem a marca PROIBIDA mas é benvinda!

Proibida devia ser esta forma de publicidade. Então um gajo já não pode estar a beber uma cervejinha bem fresquinha sem ser inquietado por pensamentos libidinosos?

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Paraíso - David Mourão-Ferreira

Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.

Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!

Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...

Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.

in "Infinito Pessoal" (1959-1962)
Extraído de David Mourão-Ferreira, Obra Poética, 1º. Volume Livraria Bertrand

David de Jesus Mourão-Ferreira (n. em Lisboa a 24 Fev. 1927; m. Lisboa a 16 Jun 1996)

Ler do mesmo autor:
Equinócio
Soneto do Cativo
E Por Vezes
Nocturno
Paraíso
Ternura
Labirinto
Penelope
Primavera

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2011-06-15

ACONTECEU-ME - José de Almada Negreiros

Eu vinha de comprar fósforos
e uns olhos de mulher feita
olhos de menos idade que a sua
não deixavam acender-me o cigarro.
Eu era eureka para aqueles olhos.
Entre mim e ela passava gente como se não passasse
e ela não podia ficar parada
nem eu vê-la sumir-se.
Retive a sua silhueta
para não perder-me daqueles olhos que me levavam espetado
E eu tenho visto olhos!
Mas nenhuns que me vissem
nenhuns para quem eu fosse um achado existir
para quem eu lhes acertasse lá na sua ideia
olhos como agulhas de despertar
como íman de atrair-me vivo
olhos para mim!
Quando havia mais luz
a luz tornava-me quase real o seu corpo
e apagavam-se-me os seus olhos
o mistério suspenso por um cabelo
pelo hábito deste real injusto
tinha de pôr mais distância entre ela e mim
para acender outra vez aqueles olhos
que talvez não fossem como eu os vi
e ainda que o não fossem, que importa?
Vi o mistério!
Obrigado a ti mulher que não conheço.


in Poemas Portugueses Antologia da Poesia portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI; selecção, organização, introdução e notas de Jorge Reis-Sá e Rui Lage, Porto Editora

José Sobral de Almada Negreiros (n. em S. Tomé e Príncipe a 7 Abr 1893; m. 15 de Junho de 1970 em Lisboa)

Ler do mesmo autor, neste blog:
Mãe! Vem ouvir...
Esperança
Homem transportando o cadáver de uma mulher
Taça de Chá

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2011-06-14

E DE REPENTE É NOITE - Salvatore Quasimodo



Cada um está só sobre o coração da terra
Trespassado por um raio de sol:
E de repente é noite.


Trad. Ernesto Sampaio
in Rosa do Mundo 2001Poemas para o Futuro, Assírio & Alvim

Original
ED È SUBITO SERA

Ognuno sta solo sul cuor della terra
trafitto da un raggio di sole:
ed è subito sera.


Salvatore Quasimodo (nasceu em 20 Ago 1901 em Modica, Sicília; m. em Nápoles a 14 Jun 1968)

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2011-06-13

Ser e Não Ser - José Bonifácio

Se te procuro, fujo de avistar-te
e, se te quero, evito mais querer-te;
desejo quase... quase aborrecer-te,
e, se te fujo, estás em toda parte.

Distante, corro logo a procurar-te
e perco a voz e fico mudo ao ver-te;
se me lembro de ti, tento esquecer-te
e se te esqueço, cuido mais amar-te.

O pensamento assim partido ao meio
e o coração assim também partido,
Chamo-te e fujo, quero-te e receio.

Morto por ti, eu vivo dividido;
entre o meu e o teu ser sinto-me alheio
e, sem saber de mim, vivo perdido!


José Bonifácio Ribeiro de Andrada Machado e Silva nasceu em Santos (SP) a 13 de junho de 1763 e faleceu em Niterói (RJ) a 6 de Abril de 1838. Bacharelou-se em Direito Civil e Filosofia Natural pela universidade de Coimbra e doutorou-se em 20 de junho de 1801. Entretanto, recebera uma bolsa de estudo (1790), que lhe permitiu viajar, durante uma década, por França, Alemanha, Itália, Inglaterra e Escandinávia, onde frequentou universidades, museus, bibliotecas, instituições científicas, laboratórios, minas e instalações fabris de fundição de metais, e contactou os maiores sábios, desde Lavoisier a Alexandre von Humboldt, tornando-se assim um naturalista, mineralogista e geólogo de reputação internacional. Dominava, aliás, meia-dúzia de línguas. Leccionou Geognosia e Metalurgia na universidade onde se formara, chegou a tenente-coronel do batalhão académico durante as invasões francesas, foi intendente da polícia no Porto e secretário da Academia Real das Ciências de Lisboa (1812/1819). Nesta última data, regressou ao Brasil e, em 1822, era Ministro dos Negócios Estrangeiros, mas conheceu o exílio em França, de 1823 a 1829. Foi então que aproveitou para publicar os seus poemas, sob o pseudónimo de Américo Elísio, «Poesias Avulsas» (Bordéus 1825), revelando-se um autor de transição entre o Arcadismo e o Romantismo. Devido à sua acção no domínio político, é considerado o Patriarca da Independência Brasileira.

Soneto e nota biobibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.

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2011-06-12

Sandro Penna (nos 105 anos do nascimento)


O rio está deserto. Sabes que têm de acabar
as proezas solares de ontem.
Beijo-te nas axilas, húmidos, altivos,
os cheiros de um Verão que vai morrendo.

(in «No Brando Rumor da Vida»; tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo, Assírio & Alvim)

Sandro Penna (n. 12 Jun 1906 em Perugia; m. 21 Jan. 1977)

Do mesmo autor:
A Lição de Estética
De come è forte il rumore
Torna um pensier de amor

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Happy Birthday Adriana Lima


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2011-06-11

O Coveiro - Gonçalves Crespo

A Alberto Braga

Ele entrou cabisbaixo e silencioso
Na imunda tasca, e foi sentar-se a um canto,
Deram-lhe vinho, recusou, o espanto
Cresceu no olhar do taberneiro oleoso.

Ele era o mais antigo e o mais ruidoso
Dos fregueses da casa: ao obscuro canto
Ninguém prestava mais lascivo encanto
Ao som magoado de um violão choroso.

Mas o velho sentara-se distante
Da alegre turba, a vista lacrimante
Mergulhada nas chamas do brasido...

Disse um da roda: "espanta-me o coveiro!"
- Morreu-lhe há pouco a filha... - distraído
Volveu da bisca um contumaz parceiro.


in Poemas Portugueses Antologia das Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, Porto Editora

António Cândido GONÇALVES CRESPO nasceu nos subúrbios do Rio de Janeiro a 11 de Março de 1846 e morreu, tuberculoso, em Lisboa, a 11 de Junho de 1883.

Ler do mesmo autor:
Na Aldeia
O Relógio
Nunca eu te lesse, balada!
Na Roça
Mater Dolorosa

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2011-06-10

Doces águas e claras do Mondego - Luís Vaz de Camões

Doces águas e claras do Mondego,
doce repouso de minha lembrança,
onde a comprida e pérfida esperança
longo tempo após si me trouxe cego;

de vós me aparto; mas, porém, não nego
que inda a memória longa, que me alcança,
me não deixa de vós fazer mudança,
mas quanto mais me alongo, mais me achego.

Bem pudera Fortuna este instrumento
d'alma levar por terra nova e estranha,
oferecido ao mar remoto e vento;

mas alma, que de cá vos acompanha,
nas asas do ligeiro pensamento,
para vós, águas, voa, e em vós se banha.


Extraído de Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, Porto Editora

Luís Vaz de Camões (nasceu c. 1524; m. em Lisboa, a 10 de Junho de 1580).

Ler do mesmo autor:
Que me quereis, perpétuas saudades
Busque Amor novas artes novos engenhos
Amor, que o gesto humano na alma escreve
Aquela triste e leda madrugada
Mudam-se os tempos mudam-se-as vontades
Amor é um fogo que arde sem se ver
Erros meus, má fortuna, amor ardente
Alma minha gentil que te partiste
Verdes são os campos

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Happy Birthday Kate Upton

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2011-06-09

Estranho é o sono que não te devolve - Daniel Faria

Estranho é o sono que não te devolve.
Como é estrangeiro o sossego
de quem não espera recado.
Essa sombra como é a alma
de quem já só por dentro se ilumina
e surpreende
e por fora é
apenas peso de ser tarde. Como é
amargo não poder guardar-te
em chão mais próximo do coração.


Daniel Faria (nasceu em 10 de abril de 1971, em Baltar, Paredes, Portugal; m. Porto a 9 Jun de 1999).

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Dá-me a tua mão - José Gomes Ferreira

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Dá-me a tua mão

Deixa que a minha solidão
prolongue mais a tua
- para aqui os dois de mãos dadas
nas noites estreladas,
a ver os fantasmas a dançar na lua.
Dá-me a tua mão, companheira,
até o Abismo da Ternura Derradeira.

José Gomes Ferreira (n. no Porto a 9 Jun 1900, m. 8 Fev 1985)

in Poemas de Amor, Antologia de poesia portuguesa, organização e prefácio de Inês Pedrosa, Publicações Dom Quixote

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2011-06-08

Quando Eu For Pequeno - José Jorge Letria

Quando eu for pequeno, mãe,
quero ouvir de novo a tua voz
na campânula de som dos meus dias
inquietos, apressados, fustigados pelo medo.
Subirás comigo as ruas íngremes
com a certeza dócil de que só o empedrado
e o cansaço da subida
me entregarão ao sossego do sono.

Quando eu for pequeno, mãe,
os teus olhos voltarão a ver
nem que seja o fio do destino
desenhado por uma estrela cadente
no cetim azul das tardes
sobre a baía dos veleiros imaginados.

Quando eu for pequeno, mãe,
nenhum de nós falará da morte,
a não ser para confirmarmos
que ela só vem quando a chamamos
e que os animais fazem um círculo
para sabermos de antemão que vai chegar.

Quando eu for pequeno, mãe,
trarei as papoilas e os búzios
para a tua mesa de tricotar encontros,
e então ficaremos debaixo de um alpendre
a ouvir uma banda a tocar
enquanto o pai ao longe nos acena,
lenço branco na mão com as iniciais bordadas,
anunciando que vai voltar porque eu sou pequeno
e a orfandade até nos olhos deixa marcas.

in "O Livro Branco da Melancolia"

José Jorge Alves Letria nasceu em Cascais a 8 de junho de 1951

Ler do mesmo autor, neste blog:
O Amor Tudo Mata Quando Morre
O Sono

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2011-06-07

DERAM UM FUZIL AO MENINO - Firmino Rocha

Adeus luares de Maio.
Adeus tranças de Maria.
Nunca mais a inocência,
nunca mais a alegria,
nunca mais a grande música
no coração do menino.
Agora é o tambor da morte
rufando nos campos negros.
Agora são os pés violentos
ferindo a terra bendita.
A cantiga, onde ficou a cantiga?
No caderno de números,
o verso ficou sozinho.
Adeus ribeirinhos dourados.
Adeus estrelas tangíveis.
Adeus tudo que é de Deus.
DERAM UM FUZIL AO MENINO.


Firmino Rocha nasceu em Itabuna, Bahia, a 07 de junho de 1910 e faleceu em Ilhéus em 1 de julho de 1971.

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O Gênio da Humanidade - Tobias Barreto

Sou eu quem assiste às lutas,
Que dentro d´alma se dão,
Quem sonda todas as grutas
Profundas do coração:
Quis ver dos céus o segredo;
Rebelde, sobre um rochedo
Cravado, fui Prometeu;
Tive sede do infinito,
Gênio, feliz ou maldito,
A Humanidade sou eu.

Ergo o braço, aceno aos ares,
E o céu se azulando vai;
Estendo a mão sobre os mares,
E os mares dizem: passai!...
Satisfazendo ao anelo
Do bom, do grande e do belo,
Todas as formas tomei:
Com Homero fui poeta,
Com Isaías profeta,
Com Alexandre fui rei.

Ouvi-me: venho de longe,
Sou guerreiro e sou pastor;
As minhas barbas de monge
Têm seis mil anos de dor:
Entrei por todas as portas
Das grandes cidades mortas,
Aos bafos do meu corcel,
E ainda sinto os ressábios
Dos beijos que dei nos lábios
Da prostituta Babel.

E vi Pentapólis nua,
Que não corava de mim,
Dizendo ao sol: eu sou tua,
Beija-me... Queima-me assim!
E dentro havia risadas
De cinco irmãs abraçadas
Em voluptuoso furor...
Ânsias de febre e loucura,
Chiando em polpas de alvura,
Lábios em brasas de amor!...

Travei-me em lutas imensas,
Por vezes, cansado e nu,
Gritei ao céu: em que pensas?
Ao mar: de que choras tu?
Caminho... e tudo que faço
Derramo sobre o regaço
Da história, que é minha irmã:
Chamem-me Byron ou Goethe,
Na fronte do meu ginete
Brilha a estrela da manhã.

E no meu canto solene
Vibra a ira do Senhor:
Na vida, nesse perene
Crepúsculo interior,
O ímpio diz: anoitece!
O justo diz: amanhece!
Vão ambos na sua fé...
E às tempestades que abalam
As crenças d´alma, que estalam,
Só eu resisto de pé!...

De Deus ao imenso ouvido
A Humanidade é um tropel,
E a natureza um ruído
Das abelhas com seu mel,
Das flores com seu orvalho,
Dos moços com seu trabalho
De santa e nobre ambição,
De pensamentos que voam,
De gritos d´alma, que ecoam
No fundo do coração!...


Tobias Barreto de Meneses (Vila de Campos do Rio Real, 7 de junho de 1839 — Sergipe, 26 de junho de 1889)

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2011-06-06

Os Meus Amigos o Palhaço e o Coveiro

Aqueles que ali vão, em terno abraço
como modelos de união fraterna,
cantando, e aos empurrões, para a taberna,
- um deles é coveiro, o outro palhaço.

Com eles, horas mui patuscas passo,
estudando cada um. - Minha lanterna
interroga cada alma, qual, na interna
mina, o mineiro com soturno passo.

Quando eu escuto o lúgubre coveiro,
sinto o spleen do Hamleto e aspiro o cheiro
da erva calcada, os goivos, os chorões.

Mas se guincha o palhaço, sinto as solas
dos meus pés a pedirem cabriolas;
- à luz do gás e ao «hurrah» das multidões.

(Mefistófoles em Lisboa, 1907)
in Poemas Portugueses Antologia da Poesia portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI,
selecção, organização, introdução e notas de Jorge Reis-Sá e Rui Lage, Porto Editora

António Gomes Leal (n. em Lisboa a 6 Jun 1848; m. 29 Jan 1921)

Ler do mesmo autor, neste blog:
A Um Corpo Perfeito
O Amor do Vermelho (Nevrose de um Lord)
A Lady

Romantismo
Som e Cor
O Visionário ou Som e Cor III
Cantiga de Campo
À Janela do Ocidente

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2011-06-05

Soneto XXVI : Não vês Nise, este vento desabrido - Cláudio Manuel da Costa

Não vês, Nise, este vento desabrido,
Que arranca os duros troncos? Não vês esta,
Que vem cobrindo o céu, sombra funesta,
Entre o horror de um relâmpago incendido?

Não vês a cada instante o ar partido
Dessas linhas de fogo? Tudo cresta,
Tudo consome, tudo arrasa, e infesta,
O raio a cada instante despedido.

Ah! não temas o estrago, que ameaça
A tormenta fatal; que o Céu destina
Vejas mais feia, mais cruel desgraça:

Rasga o meu peito, já que és tão ferina;
Verás a tempestade, que em mim passa;
Conhecerás então, o que é ruína.


Claúdio Manuel da Costa (n. Vargem do Itacolomi,atual Mariana, MG a 5 Jun 1729; m. em Vila Rica, actual Ouro Preto, MG, a 4 Jul 1789)

Ler do mesmo autor, neste blog:
Soneto XCVIII;
Pastores...;
Soneto V;
Soneto XLVI

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2011-06-04

Uma Manhã, no Golfo do Corinto - António Patrício


Uma manhã no golfo de Corinto,
comemos grandes cachos moscatel.
O mar, de leite e azul, tinha veios de absinto;
e o teu corpo, ao sol, como um sabor a mel.

Enlaçámo-nos nus entre loureiros-rosas,
róseos e brancos, alternando, até à praia.
- Não tornam mais a vir as horas dolorosas
sumiram-se ao cair sútil da tua saia.

E boca contra boca, a sorver bagos de âmbar,
bem brunidos de sol, e sempre a arder em sede,
assim ficámos nós até que veio a tarde
deitar-nos devagar sua mística rede.

Mostraste-me a sorrir, no golfo, uma medusa
«Queria viver assim, disseste, a vida toda.»
Tinhamos vinho com resina numa infusa,
e bebemo-lo os dois para acabar a boda.

Fomos nadar depois a água era tão densa,
que nos trazia, mornamente, ao colo,
num puro flutuar, beatitude imensa,
entre reflexos, a arrolar, de rolo em rolo...

A noite veio enfim estendidos na areia,
pusemo-nos então a entristecer calados.
Como dois mármores um tritão e uma sereia
que o golfo adormecia em soluços velados.

in Antologia de Poesia Erótica e Satírica, Redacção. Prefácio e notas de Natália Corrreia, Antígona Frenesi, Lisboa 2005

António Patrício (nasceu no Porto, a 7 de Março de 1878 e faleceu em Macau a 4 de Junho de 1930)

Ler do mesmo autor, neste blog:
É Uma Tarde de Estio
O QUE É VIVER
Relíquia
Em Prinkipo

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Como Queiras, Amor... - Jorge de Sena

Como queiras, Amor, como tu queiras.
Entregue a ti, a tudo me abandono,
seguro e certo, num terror tranquilo.
A tudo quanto espero e quanto temo,
entregue a ti, Amor, eu me dedico.

Nada há que eu não conheça, que eu não saiba
e nada, não, ainda há por que eu não espere
como de quem ser vida é ter destino.

As pequeninas coisas da maldade, a fria
tão tenebrosa divisão do medo
em que os homens se mordem com rosnidos
de mal contente crueldade imunda,
eu sei quanto me aguarda, me deseja,
e sei até quanto ela a mim me atrai.

Como queiras, Amor, como tu queiras.
De frágil que és, não poderás salvar-me.
Tua nobreza, essa ternura tépida
quais olhos marejados, carne entreaberta,
será só escárnio, ou, pior, um vão sorriso
em lábios que se fecham como olhares de raiva.
Não poderás salvar-me, nem salvar-te.
Apenas como queiras ficaremos vivos.

Será mais duro que morrer, talvez.
Entregue a ti, porém, eu me dedico
àquele amor por qual fui homem, posse
e uma tão extrema sujeição de tudo.

Como tu queiras, Amor, como tu queiras.

Jorge de Sena (n. Lisboa 2 Nov. 1919; m. em Santa Bárbara, Califórnia, 4 Jun 1978)

Ler neste blog do mesmo autor:
Génesis VI
Suma Teológica
Glosa À Chegada do Outono
Amo-te muito meu amor
Fidelidade
A diferença que há...
Rígidos seios de redondas, brancas...

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2011-06-03

O Poeta e o Poema - Alphonsus de Guimaraens Filho

Nenhum poema se faz de matéria abstrata.
É a carne, e seus suplícios,
ternuras,
alegrias,
é a carne, é o que ilumina a carne, a essência,
o luminoso e o opaco do poema.

Nenhum poema. Nenhum pode nascer do inexistente.
A vida é mais real que a realidade.
E em seus contrastes e sequelas, funda
um reino onde pervagam
não a agonia de um, não o alvoroço
de outro,
mas o assombro de todos num caminho
estranho
como infinito corredor que ecoa
passos idos (de agora,
e de ontem e de sempre),
passos,
risos e choros — num reino
que nada tem de utópico, antes
mais duro do que rocha,
mais duro do que rocha da esperança
(do desespero?),
mais duro do que a nossa frágil carne,
nossa atônita alma,
— duros pesar de seu destino, duros
pesar de serem só a hora do sonho,
do sofrimento,
de indizível espanto,
e por fim um silêncio que arrepia
a epiderme do acaso:
E por fim um silêncio... Nenhum poema
se tece de irreais tormentos. Sempre
o que o verso contém é um fluir de sangue
no coração da vida,
no pobre coração da vida, aqui
paralisado, além
nascente no seu ímpeto de febre,
no coração da vida,
no coração da vida,
(da morte?)
e um frio antigo, e as bocas
cerradas, olhos cegos,
canto urdido de cantos sufocados,
e uma avenida longa, longa, longa,
e a noite,
e a noite,
e, talvez, um sublime amanhecer.

(...)

Não há poema isento.
Há é o homem.
Há é o homem e o poema.
Fundidos.

Alphonsus de Guimaraens Filho (Mariana, MG, 3.6.1918 — RJ, RJ, 28.8.2008)

Ler do mesmo autor, neste blog: Soneto da Ausência

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2011-06-02

1...2...3... Foi há 123 anos que começou a publicação do JN - Parabéns

Foi num SABBADO, dia 2 de Junho de 1888 que foi publicado o Nº. 1 do Jornal de Notícias, com uma tiragem de 1 500 exemplares.

Parabéns ao vetusto jornal portuense que soube atingir posição de destaque no panorama jornalístico nacional e que é actualmente um dos mais lidos!

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An Upbrading - Thomas Hardy

Morri, é fácil vires agora
cantares aquelas canções
de que gostávamos os dois.
Porém, quando era vivo
nunca cantaste, ah nunca
quiseste. Agora, morto,
vejo-te a chegar ao pé de mim,
ao luar, vens em abandono.
O que eu não teria dado
para te ter tido mais vezes.
Quando também tu morreres
e estiveres aqui, comigo,
sem ser em estados diferentes,
serás distante como dantes,
vai ser tudo muito diferente
ou nem por isso?


in "Qual é a Minha ou a Tua Língua? - Cem poemas de amor de outras línguas"
organização de Jorge Sousa Braga; Assírio & Alvim

Thomas Hardy (Higher Bockhampton, Dorset, 2 de junho de 1840 - Max Gate, Dorchester, 11 de janeiro de 1928)

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2011-06-01

Sonho Desfeito - António Feijó

Quando o Sonho, batendo as asas doidamente,
Voa como falena errante, no infinito,
Cuido que ao pé de mim, voluptuosamente,
Cravas no meu olhar o teu olhar bendito.

E no delírio em que eu nervosamente fito
A curva do teu seio elástico e tremente,
Atrevo-me a poisar, nostálgico proscrito,
Meus lábios sem pudor sobre o teu colo ardente.

Mas como o vento espalha as húmidas neblinas,
Diluídas no vapor das névoas matutinas
A quimera, a ilusão de estranho visionário,

Vejo que o teu sorriso, ó casta Margarida!
Apenas me envolveu, luar da minha vida,
No tépido clarão dum beijo imaginário! …


(in Poesias Completas, António Feijó, Prefácio de J. Cândido Martins, Caixotim Edições)

António Joaquim de Castro Feijó, nasceu em Ponte de Lima a 1 de Junho de 1859 e faleceu em Upsala na Suécia a 20 Junho 1917).

Ler do mesmo autor:

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Comédia Humana - Camilo Castelo Branco

Literatos! Chorai-me, que eu sou digno
Da vossa gemebunda e velha táctica!
Se acaso tendes crimes em gramática,
Farei que vos perdoe o Deus benigno.

Demais conheço a prosa inflada, enfática,
Com que chorais os mortos; e o maligno
Desafecto aos que vivem… Não me indigno…
Sei o que sois em teoria e em prática.

Quando o avô desta vã literatura
Garrett, era levado à sepultura,
Viu-se a imprensa verter prantos sem fim…

Pois seis dos literatos mais magoados,
Saíram, nessa noite embriagados,
Da crapulosa tasca do Penim.


Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco (n. em Lisboa a 16 de Março de 1825; m. (suicídio) em S. Miguel de Ceide, Famalicão a 1 de Junho de 1890).

Ler do mesmo autor:
Paixão Única
Anel

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