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2012-03-14

Horas de Saudade - Castro Alves

Foto: Origami - a propósito de Akira Yoshizawa 
(吉澤 章  14 March 1911 Kaminokawa, Japan – 14 March 2005)
 considerado o grande mestre do origami


Tudo vem me lembrar que tu fugiste,
Tudo que me rodeia de ti fala.
Inda a almofada, em que pousaste a fronte,
O teu perfume predileto exala.

No piano saudoso, à tua espera,
Dormem sono de morte as harmonias;
E a valsa entreaberta mostra a frase,
A doce frase que inda há pouco lias.

As horas passam longas, sonolentas...
Desce a tarde no carro vaporoso...
D'Ave-Maria o sino, que soluça,
É por ti que soluça mais queixoso.

E não vens te sentar perto, bem perto,
Nem derramas ao vento da tardinha,
A caçoula de notas rutilantes
Que tua alma entornava sobre a minha.

E, quando uma tristeza irresistível
Mais fundo cava-me um abismo n'alma,
Como a harpa de Davi, teu riso santo
Meu acerbo sofrer já não acalma.

É que tudo me lembra que tu fugiste,
Tudo que me rodeia, de ti fala,
Como o cristal da essência do Oriente
Mesmo vazio a sândalo trescala...

No ramo curto o ninho abandonado
Relembra o pipilar do passarinho.
Foi-se a festa de amores e de afagos...
Eras - ave do céu..-.minh'alma - o ninho!

Por onde trilhas - um perfume expande-se,
Há ritmo e cadência no teu passo!
És como a estrela, que transpondo as sombras,
Deixa um rastro de luz no azul do espaço...

E teu rastro de amor guarda minh'alma,
Estrela, que fugiste aos meus anelos!
Que levaste-me a vida entrelaçada
Na sombra sideral de teus cabelos!...

Extraído de Os dias do Amor, um poema para cada dia do ano; recolha, selecção e organização de Inês Ramos; prefácio de Henrique Manuel Bento Fialho

Antônio Frederico de Castro Alves (n. em Muritiba, Bahia, 14 de Março de 1847 — m. Salvador, Bahia, 6 de Julho de 1871).

Ler do mesmo autor:
Quando Eu Morrer
Boa-Noite
O Adeus de Teresa;
Adormecida
Beijo Eterno;
Mocidade e Morte;
Horas de Saudade
Ahasverus e o Gênio
Ao dia sete de setembro

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2012-03-05

Fado - Pedro Homem de Mello

Porque é que Adeus me disseste
Ontem e não noutro dia,
Se os beijos que, ontem, me deste
Deixaram a noite fria?

Para quê voltar atrás
A uma esperança perdida?
As horas boas são más
Quando chega a despedida.

Meu coração já não sente.
Sei lá bem se já te vi!
Lembro-me de tanta gente
Que nem me lembro de ti.

Quem és tu que mal existes?
Entre nós, tudo acabou.
Mas pelos meus olhos tristes
Poderás saber quem sou!

in Cem Poemas Portugueses do Adeus e da Saudade, selecção organização e introdução de José Fanha e José Jorge Letria, Terramar

Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello (n. Porto em 6 de Setembro de 1904 - m. Porto, 5 de Março de 1984).

Ler do mesmo autor, neste blog:
Oásis
Véspera
Berço
Obrigado
Uma Ânsia de Nudez
Povo que lavas no rio
Não choreis os mortos
Revelação

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2011-11-28

A Canção da Saudade - Olegário Mariano

Que tarde imensa e fria!
Lá fora o vento rodopia...
Dança de folhas... Folhas, sonhos vãos,
que passam, nesta dança transitória,
deixando em nós, no fundo da memória,
o olhar de uns olhos e a carícia de umas mãos.
Ante a moldura de um retrato antigo,
põe-se a gente a evocar coisas emocionais.
Tolda-se o olhar, o lábio treme, a alma se aperta,
tudo deserto... a vide em torno tão deserta
que vontade nos vem de sofrer mais!
Depois, há sempre um cofre e desse cofre
tiramos velhas cartas, devagar...
É a volúpia inervante de quem sofre:
ler velhas cartas e depois chorar.
Que tarde imensa e fria!
Nunca mais te verei... Nunca mais me verás...
Lá fora o vento rodopia...
Que desejo me vem de sofrer mais!


Olegário Mariano Carneiro da Cunha (nasceu na cidade de Recife, Pernambuco, a 24 de março de 1889. Faleceu no Rio de Janeiro a 28 de Novembro de 1958).

Ler do mesmo autor:
O Conselho das Árvores
O Enterro da Cigarra

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2011-03-08

De «O SEU NOME» [Soneto] - João de Deus



Ela não sabe a luz suave e pura
Que derrama numa alma acostumada
A não ver nunca a luz da madrugada
Vir raiando senão com amargura!

Não sabe a avidez com que a procura
Ver esta vista, de chorar cansada,
A ela... única nuvem prateada,
Única estrela desta noite escura!

E mil anos que leve a Providencia
A dar-me este degredo por cumprido,
Por acabada já tão longa ausência,

Ainda nesse instante apetecido
Será meu pensamento essa existência...
E o seu nome, o meu ultimo gemido

in Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, Porto Editora

João de Deus de Nogueira Ramos, nasceu em 8 de Março de 1830 em São Bartolomeu de Messines, Silves e faleceu em Lisboa em 11 de Janeiro de 1896.

Ler do mesmo autor no Nothingandall:
Amor
Adeus
De Dia a Estrela de Alva Empalidece
A Cigarra e a Formiga
A Vida
Agora Miséria...

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2010-11-23

Através da Névoa da Distância - Da Costa e Silva

Tudo através da névoa da distância
se transfigura em sugestivo aumento,
ao reflectir-se, em nítida inconstância,
nos espelhos de luz do pensamento.

Milagre da ficção, delírio ou ânsia,
vejo passar, com vida e movimento,
as fugazes visões de minha infância,
como nuvens tangidas pelo vento.

Olhos meus, se ao passado vos volverdes,
algum dia, verei nessa ansiedade,
o céu mais lindo e as árvores mais verdes.

Vereis por novos e encantados prismas,
a paisagem tranquila da Saudade,
como a percebe o olhar das minhas cismas.


Poema extraído daqui onde poderá conhecer mais sobre o autor e a sua obra

Antonio Francisco da Costa e Silva (nasceu na cidade de Amarante, Piauí em 23 de novembro de 1885 e faleceu no Rio de Janeiro em 29 de junho de 1950)

Em Nothingandall, pode ler do mesmo autor:
Madrigal de um louco
Saudade
Velut Umbra

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2010-02-18

Eu passava na vida errante e vago - Fagundes Varela (aqui recordado na passagem do 135º. aniversário do seu desaparecimento)

foto: Cisne branco

Eu passava na vida errante e vago,
como o nauta perdido em noite escura,
mas tu te ergueste, peregrina e pura
como o cisne inspirado em manso lago.

Beijava a onda num soluço mago
das moles plumas a brilhante alvura,
e a voz, ungida de eternal doçura
roçava as nuvens em divino afago.

Vi-te... e nas chamas de fervor profundo,
a teus pés afoguei a mocidade,
esquecido de mim, de Deus, do mundo!...

Mas ai! cedo fugiste!... da soidade,
hoje te imploro desse amor tão fundo
uma ideia, uma queixa, uma saudade!

Luís Nicolau Fagundes Varela nasceu em Santa Rita do Rio Claro (RJ) a 17 de Agosto de 1841 e faleceu de apoplexia em Niterói (RJ) a 18 de Fevereiro de 1875. Cursou Direito, tanto no Recife, como em São Paulo, mas não chegou a diplomar-se, havendo, uma vez, naufragdo entre as duas cidades. Protótipo do "poeta maldito", foi um alcoólico de vida desregrada. Casou, primeiro com uma artista de circo (1862), da qual enviuvou, e voltou a consorciar-se, em 1869, com uma prima. O seu lirismo báquico ora traduz melancolia, tristeza, dúvida e angústia, ora sarcasmo e tédio. Tanto celebra a natureza e temas indianistas como revela preocupações sociais. Era antimonárquico, abolicionista e partidário de uma democracia igualitária. Para o fim, virou místico.

Soneto e nota biobibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.

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