Poente - Armando Côrtes-Rodrigues
As minhas sensações - barcos sem velas -
Erram de mim. Ocaso roxo. Cismo.
Meus olhos de Não-ver-me são janelas
Dando sobre o abismo.
Abismo d'Outro Ser. E a Hora chora
Nostálgica de Si, mas eu de vê-las
Erro de Ser-me, e a noite sem estrelas
Apavora.
Delírio roxo d'agonia. Prece.
Poente feito noite. Escuridão.
Perturbo-me de mim em sensação
E dentro em mim desfalece
E anoitece
A sombra do meu Ser na solidão
Do dia que morreu
E se perdeu
E jamais amanhece.
Lisboa 1914
(poema publicado no primeiro número da Revista Orpheu, de Janeiro/Fevereiro/Março de 1915)
Armando César Côrtes-Rodrigues (Vila Franca do Campo, 28 de fevereiro de 1891 — Ponta Delgada, 14 de outubro de 1971).