Quero que saibas
uma coisa.
Tu já sabes o que é:
se olho
a lua de cristal, o ramo rubro
do lento outono em minha janela,
se toco
junto ao fogo
a implacável cinza
ou o enrugado corpo da madeira,
tudo me leva a ti,
como se tudo o que existe
aromas, luz, metais,
fossem pequenos barcos que navegam
para essas tuas ilhas que me aguardam.
Pois ora,
se pouco a pouco deixas de me amar,
de te amar, pouco a pouco, deixarei.
Se de repente
me esqueces,
não me procures,
já te esqueci também.
Se consideras longo e louco
o vento de bandeiras
que canta em minha vida
e te decides
a me deixar na margem
do coração no qual tenho raízes,
pensa
que nesse dia
a essa hora
levantarei os braços
me nascerão raízes
procurando outra terra.
Porém,
se cada dia,
cada hora,
sentes que a mim estás destinada
com doçura implacável.
Se cada dia se ergue
uma flor a teus lábios me buscando,
ai, amor meu, ai minha,
em mim todo esse fogo se repete,
em mim nada se apaga nem se esquece,
do teu amor, amada, o meu se nutre,
e enquanto vivas estará em teus braços
e sem sair dos meus.
Tradução de: Thiago de Mello
Extraído de Os Versos do Capitão; Impresso no Brasil, 2004 - 8ª. edição EDITORA BERTRAND BRASIL LTDA.
Pablo Neruda [Ricardo Eliecer Neftalí Reyes Basoalto] (n. 12 julho de 1904, Parral, Chile; m. 23 de setembro 1973 em Santiago, Chile).
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