Musical suggestion of the day: Fado Louco - Joana Amendoeira
Joana Amendoeira (Santarém, 30 de Setembro de 1982)
Amor, morte, poesia, política, actualidade, futebol, efemérides, solidão, paz, humor, musica...tudo e nada; Here we talk about life, love, death,
On this day in History, poetry, politics, football (soccer), solitude, peace, humour, music ... nothing and all.
Joana Amendoeira (Santarém, 30 de Setembro de 1982)
Venho de longe, trago o pensamento
Banhado em velhos sais e maresias;
Arrasto velas rotas pelo vento
E mastros carregados de agonia.
Provenho desses mares esquecidos
Nos roteiros de há muito abandonados
E trago na retina diluídos
Os misteriosos portos não tocados.
Retenho dentro da alma, preso à quilha
Todo um mar de sargaços e de vozes,
E ainda procuro no horizonte a ilha
Onde sonham morrer os albatrozes...
Venho de longe a contornar a esmo,
O cabo das tormentas de mim mesmo.
Erro é teu. Amei-te um dia
Com esse amor passageiro
Que nasce na fantasia
E não chega ao coração;
Nem foi amor, foi apenas
Uma ligeira impressão;
Um querer indiferente,
Em tua presença, vivo,
Morto, se estavas ausente,
E se ora me vês esquivo,
Se, como outrora, não vês
Meus incensos de poeta
Ir eu queimar a teus pés,
É que, — como obra de um dia,
Passou-me essa fantasia.
Para eu amar-te devias
Outra ser e não como eras.
Tuas frivolas quimeras,
Teu vão amor de ti mesma,
Essa pêndula gelada
Que chamavas coração,
Eram bem fracos liames
Para que a alma enamorada
Me conseguissem prender;
Foram baldados tentames,
Saiu contra ti o azar,
E embora pouca, perdeste
A glória de me arrastar
Ao teu carro... Vãs quimeras!
Para eu amar-te devias
Outra ser e não como eras...
Escrever é, para mim, tentar desfazer nós, embora o que na realidade acabo sempre
por fazer seja embrulhar ainda mais os fios. A própria caligrafia é sufocada.
Há todavia, um momento em que as palavras são cuspidas, saem em borbotões, e
o sangue e a saliva impregnam o sentido. É impossível separá-los.
Luís Miguel de Oliveira Perry Nava (nasceu em Viseu, 29 de Setembro de 1957 — m. Bruxelas, 10 de Maio de 1995)
Do mesmo autor, no Nothingandall:
As ondas que se enconttram
Os Pratos da Balança
O Último Reduto
Naquela roça grande não tem chuva
é o suor do meu rosto que rega as plantações:
Naquela roça grande tem café maduro
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue feitas seiva.
O café vai ser torrado
pisado, torturado,
vai ficar negro, negro da cor do contratado.
Negro da cor do contratado!
Perguntem às aves que cantam,
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:
Quem se levanta cedo? quem vai à tonga?
Quem traz pela estrada longa
a tipóia ou o cacho de dendém?
Quem capina e em paga recebe desdém
fuba podre, peixe podre,
panos ruins, cinqüenta angolares
"porrada se refilares"?
Quem?
Quem faz o milho crescer
e os laranjais florescer
- Quem?
Quem dá dinheiro para o patrão comprar
maquinas, carros, senhoras
e cabeças de pretos para os motores?
Quem faz o branco prosperar,
ter barriga grande - ter dinheiro?
- Quem?
E as aves que cantam,
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertão
responderão:
- "Monangambééé..."
Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras
Deixem-me beber maruvo, maruvo
e esquecer diluído nas minhas bebedeiras
- "Monangambééé..."
Posted by Nothingandall at sexta-feira, setembro 28, 2012 0 comments
Labels: António Jacinto, poesia
Posted by Nothingandall at quinta-feira, setembro 27, 2012 0 comments
Labels: poesia, Rodrigues de Abreu
Posted by Nothingandall at quarta-feira, setembro 26, 2012 0 comments
Labels: Maria Colasanti, poesia
Posted by Nothingandall at terça-feira, setembro 25, 2012 0 comments
Labels: poesia, Valter Hugo Mãe
Teu cheiro
de brasa
clareia
meu pensamento
na ardência
da luz
de teu sol.
Posted by Nothingandall at segunda-feira, setembro 24, 2012 0 comments
Labels: Geraldo Coelho Vaz, poesia
Para que tu me ouças
as minhas palavras
adelgaçam-se por vezes
como o rasto das gaivotas sobre a praia.
Colar, guizo ébrio
para as tuas mãos suaves como as uvas.
E vejo-as tão longe, as minhas palavras.
Mais que minhas são tuas.
Vão trepando pela minha velha dor como a hera.
Elas trepam assim pelas paredes húmidas.
Tu é que és a culpada deste jogo sangrento.
Elas vão a fugir do meu escuro refúgio.
Tu enches tudo, amada, enches tudo.
Antes de ti povoaram a solidão que ocupas,
e estão habituadas mais que tu à minha tristeza.
Agora quero que digam o que eu quero dizer-te
para que tu ouças como quero que me ouças.
O vento da angústia ainda costuma arrastá-las.
Furacões de sonhos ainda ainda por vezes as derrubam.
Tu escutas outras vozes na minha voz dorida.
Pranto de velhas bocas, sangue de velhas súplicas.
Ama-me, companheira. Não me abandones. Segue-me.
Segue-me, companheira, nessa onda de angústia.
Mas vão-se tingindo com o teu amor as minhas palavras.
Ocupas tudo, amada, ocupas tudo.
Vou fazendo de todas um colar infinito
para as tuas brancas mãos, suaves como as uvas.
Da velha casa em que a manhã da vida
Passei – conservo uma lembrança exata:
Antes de eu vir ao mundo foi erguida
Perto da serra, quase ao pé da mata.
Dá para o sul a frente enegrecida;
Ao lado, para um poente de escarlata,
Janelas donde, na estação florida,
Se aspira o cheiro dos jasmins de prata.
Perto, o bambual em cujo seio amigo
Cantam graúnas, e o pomar antigo
Com melros, tiés e gurundis em bando.
O ribeirão, o cafezal, a horta...
Ah! que saudade o coração me corta
do lar querido que deixei chorando!
Posted by Nothingandall at sábado, setembro 22, 2012 0 comments
Labels: efemerides, futebol, Vitória de Guimarães
Não me demorei em mosteiros europeus
nem descobri por entre as ervas altas campas de cavaleiros
que caíram tão formosamente quanto as suas baladas contam;
não separei as ervas
nem intencionalmente as deixei cobertas de colmo.
Não libertei o meu pensamento para que vagueasse e aguardasse
naquelas grandiosas distâncias
entre as montanhas de neve e os pescadores,
como uma lua,
ou uma concha debaixo da água que corre.
Não contive a minha respiração
para que pudesse ouvir o fôlego de Deus,
nem domei o bater do meu coração com um exercício,
nem tive fome de visões.
Embora o tenha observado muitas vezes
não me transformei na garça,
deixando o meu corpo na praia,
e não me transformei na truta luminosa,
deixando o meu corpo no ar.
Não venerei feridas e relíquias,
nem pentes de ferro,
nem corpos envoltos e queimados em pergaminhos.
Não sou infeliz há dez mil anos.
Durante o dia rio-me e durante a noite durmo.
Os meus cozinheiros favoritos preparam as minhas refeições,
e todo o meu trabalho corre bem.
Se este poema fosse mais do que simples
Sonho de criança...
Se nada lhe faltasse para ser total realidade
Em vez de apenas esperança...
Se este poema fosse a imagem crua da verdade,
Eu nada mais pediria à vida
E passaria a cantar a beleza garrida
Das aves e das flores
E esqueceria os homens e as suas dores...
– se este poema fosse mais do que mero
sonho de criança.
Ai meu sonho...
Ai minha terra moçambicana erguida –
Com uma nova consciência, digna e amadurecida...
A minha terra cortada em sua extensão
Por todas essas realizações que a civilização
Inventa para tomar a vida humana mais feliz...
Luz e progresso para cada povoação perdida
No sertão imenso, escolas para crianças,
Para cada doente, e assistência da ciência consoladora,
Para cada braço de homem, uma lida
Honrada e compensadora,
Para cada dúvida uma explicação,
E para os homens, Paz e Fraternidade!
Ah, se este poema fosse realidade
E não apenas esperança!
Ah, se o fosse o destino da nova humanidade
A cantar então a beleza das flores,
Das aves, do céu, de tudo que é futilidade –
Porque a dor humana então não existiria,
Nem, a infelicidade, nem a insatisfação,
Na nova vida plena de harmonia!
Posted by Nothingandall at quinta-feira, setembro 20, 2012 0 comments
Labels: Noémia de Sousa, poesia
Dia após dia a mesma vida é a mesma.
O que decorre, Lídia,
No que nós somos como em que não somos
Igualmente decorre.
Colhido, o fruto deperece; e cai
Nunca sendo colhido.
Igual é o fado, quer o procuremos,
Quer o 'speremos.
Sorte Hoje,
Destino sempre, e nesta ou nessa
Forma alheio e invencível.
Posted by Nothingandall at terça-feira, setembro 18, 2012 0 comments
Labels: Bernardino Lopes, poesia
Do Penedo da Saudade
Lancei os olhos além.
Meu sonho de eternidade
Com saudades rima bem...
Ai sombras da Torre de Anto,
Do Convento de além-rio,
Dos muros brancos do Pio,
De Santo António a cismar,
Que é de outras sombras que à tarde
Convosco se confundiam,
E ao ar os braços erguiam,
E as mãos abriam no ar...?
(Sem saber para onde iam,
Aonde iriam parar?)
- Penha da Meditação...
Silêncio que paira em tudo!
A terra e o céu dão a mão
Num longo colóquio mudo...
Ai céus de Setembro-Outubro,
Painéis de sonho e loucura,
Rasgando a toda a lonjura
Cenários de arrepiar,
Que é de esses olhos de abismo
Que à tarde a vós se elevam,
Por longe andavam, voltavam,
Vos devolviam no olhar...?
(Sem saber o que buscavam,
Que haviam de ir encontrar?)
- Chegam da Baixa até Celas
Os ais dos sinos na bruma.
Se o céu tem tantas estrelas,
Importa lá cair uma!
Ai linda triste janela,
Toda voltada ao poente,
De onde a menina doente
Sorria a um Anjo seu par,
Rainha Santa do bairro,
Que é de essa cuja mão fria
Do teu caixilho pendia
Como um lírio a desfolhar...?
(Sem saber para onde ia,
Aonde iria parar?)
- Quinta das lágrimas, onde
Chora a fonte doce e langue!
Corre a água, e não esconde
Aquelas manchas de sangue...
Ai olivais silva e prata,
Choupos transidos de mágoa,
Ai laranjais de ao pé de água
Com frutos de oiro a brilhar,
Que é do bando vagabundo
Cujo rir vos acordava,
Cuja tristeza só dava
Mais vontade de cantar...?
(Sem saber o que buscava,
Que havia de ir encontrar?)
- Fui à Lapa dos Esteios,
Grandes coisas fui saber:
Que há pedras que têm seios,
que eu bem nas ouvi gemer...
Ai pedras nuas dos becos
Despenhando-se, angustiados
Entre esses velhos telhados
E muros de ar singular,
Que é de esses passos que a medo
Vos pisavam, e tremiam,
Passos de irmão, que sofriam
Da mágoa de vos pisar...?
(Sem saber para onde iam,
Aonde iriam parar?)
- No Choupal quis fazer versos,
Olhei as folhas do chão.
Deus sabe os sonhos dispersos
Que o vento leva na mão!
Ai águas do meu Mondego
Que entre choupais murmurando
Se me esquivais, nesse brando
Sempre ir andando até mar,
Que é das mãos roxas de febre
Que em vós se desalteravam,
E entre as folhas que boiavam
Se deixavam arrastar...?
(Sem saber o que buscavam,
Que haviam de ir encontrar?)
- A Santa Cruz, um por um,
Dos troncos fui despedir-me.
Não tenho amigo nenhum
Que me haja sido tão firme...
Ai choro com que o Paredes,
Vibrando os dedos em garra,
Despedaçava a guitarra,
Punha os bordões a estalar,
Gritos de cristal e de oiro
Que o Bettencourt alto erguia,
Que é da roda que algum dia
Vos sabia acompanhar...?
(Sem saber para onde ia,
Aonde iria parar?)
- Fonte do Largo da Sé,
Que dizes tu ao cair?
- Mortos do adro, de pé!,
Que os vivos é só dormir...
Ai crepúsculos de antanho,
Limalha do sol, que morre
Lá desde o cimo da Torre
Té Santa Clara, além-ar,
Que é de essa plêiade antiga
Cuja alma em vós se encantava,
Feita de cinza e de lava,
Desfeita em sombra e luar...?
(Sem saber o que buscava,
Deus sabe o que iria achar!)
- Do Penedo da Saudade
Lancei os olhos acima.
Sonho meu de eternidade
Com saudade é que bem rima...
Venho da rua. Um inebriamento
De formas e de cores abalou
Um momento o meu ser, onde pousou
Numa interrogação um desalento.
No silêncio do lar as mãos ansiosas
Levanto, e cerro os olhos cismador.
Todas as sombras logo em derredor
De mim vêm alinhar-se carinhosas....
-Que tens, pobre amoroso? Duvidaste?
Viste só com os olhos, e cegaste...
Vê com a alma, amigo. Põe constante
O coração nas cousas. Ama, crê!
A verdade é em ti, amigo, sê
Tu mesmo, e acha-la-ás a todo o instante...
Já não procuro a palavra exata
que me pudesse explicar:
ando pelos contornos onde todos os significados
são sutís, são mortais.
Não busco prender o momento belo:
quero vivê-lo sempre mais com a intensidade que exige a vida,
com o desgarramento do salto e da fulguração.
E me corto ao meio e me solto de mim, duplo coração:
a que vive,
a que narra,
a que se debate
e a que voa -
- na loucura que redime da lucidez
Que os anos sobre ti voem tão leves,
pedes a Deus; e que o rosto as pegadas
deles não sinta, e às grenhas bem penteadas
Isto lhes pede, e bêbado bebes
as vindimas em taças coroadas;
e pra teu ventre todas as manadas
que Apúlia pasta são bocados leves.
Pedes a Deus quanto a ti te quitas;
tua doença, tua velhice tragas
e estar isento delas solicitas.
Mas em rugosa pele dívidas pagas
das grandes bebedeiras que vomitas,
e na saúde que, comilão, estragas
Posted by Nothingandall at sexta-feira, setembro 14, 2012 0 comments
Labels: Francisco de Quevedo, poesia
Só de restos se consagra o tempo, força
cerrada na inutilidade destas
cores campestres, quando o sol em Novembro
escurece os sobreiros. Só de restos me
espera a cerimónia de viver,
trânsito e transigência do silêncio,
ocultado no meu corpo. Só de restos
o trespassa o tempo, máscara e manto. Morro
muito antes da morte, sem saber se os anjos
foram gaivotas hirtas no piedoso
musgos dos rios ou se hão-de ser maçãs
ou ciência, loendros ou lembrança,
inocentes, lúcidos sonos ou oblata
de seda, a deus cedida, em pagamento
da paz. Só do que chega ao fim, se corrompe
e apodrece, se imagina o princípio,
a majestade das coisas, o silêncio
irrevelado que o corpo desconhece.
Posted by Nothingandall at quarta-feira, setembro 12, 2012 0 comments
Labels: Fernando Semana, poesia
Tão longe a casa! Nem sequer alcanço
Vê-la através da mata. Nos caminhos
A sombra desce; e, sem achar descanso,
Vamos nós dois, meu pobre irmão, sozinhos!
É noite já. Como em feliz remanso,
Dormem as aves nos pequenos ninhos...
Vamos mais devagar... de manso e manso,
Para não assustar os passarinhos.
Brilham estrelas. Todo o céu parece
Rezar de joelhos a chorosa prece
Que a Noite ensina ao desespero e a dor...
Ao longe, a Lua vem dourando a treva...
Turíbulo imenso para Deus eleva
O incenso agreste da jurema em flor.
My father made the walls resound,
He wore his collar the wrong way round.
Come back early or never come.
When I was five the black dreamscame;
Nothing after was quite the same.
Come back early or never come.
When I woke they did not care;
Nobody, nobody was there.
Come back early or never come.
In my childhood trees were green
And there was plenty to be seen.
Come back early or never come.
When my silent terror cried,
Nobody, nobody replied.
Come back early or never come.
I got up; the chilly sun
Saw me walk away alone.
Come back early or never come.
My mother wore a yellow dress;
Gentle, gently, gentleness.
Come back early or never come.
The dark was talking to the dead;
The lamp was dark beside my bed.
Come back early or never come.
Frederick Louis MacNeice (Belfast, 12 September 1907 – 3 September 1963)
Posted by Nothingandall at quarta-feira, setembro 12, 2012 0 comments
Labels: Louis MacNeice, poetry
As flores que nossa alma descuidada
Colhe na mocidade com mão casta,
São belas, sim: basta aspirá-las, basta
Uma vez, fica a gente enfeitiçada.
Nascem num prado ou riba sossegada,
Sob um céu puro e luz serena e vasta:
Têm fragância subtil, mas nunca exausta,
Falam d'Amor e Bem à alma enlevada...
Mas as flores nascidas sobre o asfalto
Dessas ruas, no pó e entre o bulício,
Sem ar, sem luz, sem um sorrir do alto,
Que têm elas, que assim nos endoidecem?
Têm o que mais as almas apetecem ...
Têm o aroma irritante e acre do Vício!
Posted by Nothingandall at terça-feira, setembro 11, 2012 0 comments
Labels: Antero de Quental, poesia
De que vale tentar reconstruir com palavras
O que o verão levou
Entre nuvens e risos
Junto com o jornal velho pelos ares
O sonho na boca, o incêndio na cama,
o apelo da noite
Agora são apenas esta
contração (este clarão)
do maxilar dentro do rosto.
A poesia é o presente.
Ferreira Gullar, pseudônimo de José Ribamar Ferreira nascido em São Luís, Maranhão, 10 de setembro de 1930, foi Prémio Camões 2010.
Posted by Nothingandall at segunda-feira, setembro 10, 2012 0 comments
Labels: Ferreira Gullar, poesia
Soneto de Jacob, pastor antigo,
– soneto de Raquel, serrana bela...
Oh! quantas vezes o relembro e digo,
pensando em ti, como se foras Ela!
O que eu servira para viver contigo,
– tão doce, tão airosa e tão singela!
Assim, distante do teu rosto amigo,
em torturar-me a ausência se desvela!
E vou sofrendo a minha pena amarga,
– pena que não me deixa nem me larga,
bem mais cruel que a de Jacob pastor!
Raquel não era dele, e sempre a via,
enquanto que eu não vejo, noite e dia,
aquela que me tem por seu senhor!
Solidão uma conversa! Eu estou é no meio do mundo.
Do que serve trancar a porta?
Do que serve botar as mãos nos ouvidos?
Do que serve fazer o papel de surdo que não quer ouvir?
Gritos de homens da rua entram, apesar de tudo,
Vozes angustiadas de mulheres perdidas entram, apesar de tudo.
Uivos de seviciados entram, apesar de tudo.
Solidão uma conversa! eu estou é no meio do mundo.
Os eunucos estão fazendo flores nas torres de marfim,
Mas eu estou é no meio do mundo.
O rumor das ruas confunde-se ao ritmo do teclado da máquina;
Metralhadoras escrevem poemas no teclado da máquina,
Cavalos estão batendo patas no teclado da máquina.
Gente lutando,
Suando,
Amando, nas cinco partes do mundo.
Quem pode escrever poemas na solidão,
Se portas trancadas nada valem
Se mãos nos ouvidos nada valem,
Se fazer o papel do surdo que não quer ouvir nada vale,
Se os olhos dos moribundos ficam, do alto, iluminando as páginas,
Se mãos alvas vêm acender o cigarro, devagarinho,
Se o rumor das ruas vem fazer coro ao ritmo do teclado da máquina?
Solidão uma conversa! Eu estou é no meio do mundo...
Posted by Nothingandall at sábado, setembro 08, 2012 0 comments
Labels: Camillo de Jeus LIma, poesia
Foi um dia de inúteis agonias,
- Dia de sol inundado de sol.
Fulgiam nuas, as espadas frias.
- Dia de sol inundado de sol.
Foi um dia de falsas alegrias.
- Dahlia a esfolhar-se, o seu mole sorriso.
Voltavam os ranchos das romarias.
- Dahlia a esfolhar-se, o seu mole sorriso.
Dia impressível, mais que os outros dias.
Tão lúcido, tão pálido, tão lúcido!
Difuso de teoremas, de teorias...
O dia fútil, mais que os outros dias!
Minuete de discretas ironias...
Tão lúcido, tão pálido, tão lúcido!
Posted by Nothingandall at sexta-feira, setembro 07, 2012 0 comments
Labels: Camilo Pessanha, poesia
Asas amarelas...
as borboletas nos ramos...
as folhas soltando...
Posted by Nothingandall at sexta-feira, setembro 07, 2012 0 comments
Labels: Edmar Guimarães, poesia
Seríamos dois faunos sobre a praia,
Batidos pelo vento e pelo sal,
Tendo por manto apenas a cambraia
Da espuma
E, por fronteira,
O areal.
Gémeos de corpo e alma,
Ver um era ver o outro:
A mesma voz,
A mesma transparência,
A mesma calma
De búzio, intacto, em cada um de nós!
Felicidade?
Não!
Inconsciência!
E as nossas mãos brincavam com o lume
À beira da impaciência
Ou do ciúme.
Posted by Nothingandall at quinta-feira, setembro 06, 2012 0 comments
Labels: Pedro Homem de Mello, poesia
Quero-te num lugar onde
te confundas com a claridade
pois é dessa luz que eu preciso
para iluminar meus olhos
cansados de escuridão.
Quero-te num lugar onde
te possa beijar num sufoco
como se os meus lábios quisessem
falar-te de uma só vez
toda a verdade e essa verdade
não fosse mais que um grande amor.
Quero-te num lugar onde
os nossos corações possam habitar
sem qualquer constrangimento
as veredas de um destino traçado
com a força do nosso querer comum.
Quero-te num lugar onde
seja fácil estar ao pé de ti:
precisar um afago e ter as tuas mãos
necessitar calor e ter o teu corpo
ansiar um beijo e ter a tua boca.
Posted by Nothingandall at quarta-feira, setembro 05, 2012 0 comments
Labels: António Pires Vicente, poesia
Tudo que amei, se é que o amei, ignoro,
E é como a infância de outro. Já não sei
Se o choro, se suponho só que o choro,
Se o choro por supor que o chorarei.
Das lágrimas sei eu... Essas são quentes
Nos olhos cheios de um olhar perdido...
Mas nisso tudo são-me indiferentes
As causas vagas deste mal sentido.
E choro, choro, na sinceridade
De quem chora sentindo-se chorar
Mas se choro a mentira ou a verdade,
Continuarei, chorando, a ignorar.
5-9-1934
Fernando Pessoa
Posted by Nothingandall at quarta-feira, setembro 05, 2012 0 comments
Labels: Fernando Pessoa, poesia
O enorme elefante
É o animal mais infeliz
Da floresta
Todos
Até a pulga minúscula
E asquerosa
Lhe trepam no lombo
Homem que engole tudo
É como o pobre elefante:
De nada lhe vale
Ser trombudo
Aníbal João da Silva Melo nasceu a 5 de setembro de 1955 em Luanda, Angola.
na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.
Posted by Nothingandall at terça-feira, setembro 04, 2012 0 comments
Labels: José Luís Peixoto, poesia
Já é oficial. Witsel deixa de ser futebolista do Benfica. Depois de Javi Garcia o meio-campo do Benfica fica desfalcado de um dos jogadores mais promissores do futebol mundial. Neste caso pelo valor da cláusula de rescisão de 40 milhões de euros o jogador belga transfere-se para o Football Clube Zenit. O Sport Lisboa e Benfica - Futebol, SAD já emitiu a comunicação no sítio da CMVM.
E o Benfica soube precaver-se? De certo vai jogar Lima no seu lugar ou quem sabe talvez Júlio César...
Neste caso o encaixe financeiro é de valor mas esta operação - que acentua o efeito da perda de Javi Garcia ou seja dois jogadores do meio-campo defensivo - só vem confirmar como é vergonhosa a política de contratações do Benfica que não sabe preservar o equilíbrio do plantel. Ora bem, como também Hulk, do clube rival, foi transacionado... não há problemas...
Tantas juras nós trocámos,
Tantas promessas fizemos,
Tantos beijos nos roubámos
Tantos abraços nós demos.
Meu amor da Rua Onze,
Meu amor da Rua Onze,
Já não quero
mais mentir.
Meu amor da Rua Onze,
Meu amor da Rua Onze,
Já não quero
mais fingir.
Era tão grande e tão belo
Nosso romance de amor
Que ainda sinto o calor
Das juras que nós trocámos.
Era tão bela, tão doce
Nossa maneira de amar
Que ainda pairam no ar
As promessas que fizemos.
Nossa maneira de amar
Era tão doida tão louca
Qu'inda me queimam a boca
Os beijos que nós roubámos.
Tanta loucura e doidice
Tinha o nosso amor desfeito
Que ainda sinto no peito
Os abraços que nós demos.
E agora
Tudo acabou
Terminou
Nosso romance
Quando te vejo passar
Com o teu andar
Senhoril,
Sinto nascer
E crescer
Uma saudade infinita
Do teu corpo gentil
de escultura
Cor de bronze,
Meu amor da Rua Onze.
Posted by Nothingandall at segunda-feira, setembro 03, 2012 0 comments
Labels: Aires de Almeida Santos, poesia
Todas as horas, todos os minutos,
São para mim a véspera da partida.
Preparo-me para a morte, como quem
Se prepara para a vida.
Em qualquer parte eu disse que a Beleza
Não nasce só mas acpmpanhada.
Não são palavras minhas as que eu digo.
À minha boca pertence aos que me amam.
Mudos e sós
À nossa volta todos os amantes
Sentir-se-ão tranquilos.
Um coração puro
É como o Sol:
Brilha todos os dias.
Posted by Nothingandall at segunda-feira, setembro 03, 2012 0 comments
Labels: poesia, Raul de Carvalho
Tu que trouxeste a voz consoladora
Do perdão, e de séculos distantes
Traças ao mundo a rota redentora
Que leva o amor a todos os quadrantes;
Tu que possuis as forças dominantes
Da bondade e da luz inspiradora,
És a fonte da Fé confortadora
Da intrépida vontade dos gigantes...
Descem de ti eflúvios de virtude,
Fulguração de sol que as almas banha
Na frescura da tua juventude...
O homem na terra os passos acompanha,
Altitude a fulgir noutra altitude,
Montanha culminando outra montanha...
Último dia de "transações comerciais" da época desportiva normal do futebol - sim porque em Janeiro abre-se outra fase. Esperei para ver se o Benfica corrigia algumas coisas. Espantosamente as últimas horas de contratações serviram para confirmar a pouca habilidade, a incoerência e a falta de estratégia...
O Benfica converteu-se simplesmente num entreposto comercial...
Saviola que teve o contrato renovado há poucos meses! ... rescinde e vai para o Málaga. Se Jesus não contava com ele porque renovou? Das contratações nacionais do último defeso Hugo Vieira, Djaniny, Michel e Luisinho fica o último que Jesus tem deixado sistematicamente de lado. Hugo Vieira emprestado para um clube espanhol, Djaniny na equipa B para se ambientar e progredir? Qual quê vai emprestado para o Olhanense... Michel vai para o Braga enquanto o Benfica vai pescar Lima um jogador que estava a poucos meses de terminar contrato com o Braga e já com 29 anos pagando, ao que se crê, o valor da cláusula de rescisão fixada em cerca de 4,5 milhões de euros! Um jogador interessante para jogar numa equipa de contra-ataque... longe de ser as caraterísticas do Benfica. Em contrapartida, o Benfica não arranja lugar para o mais promissor jogador de ataque de Portugal, Nelson Oliveira que vai emprestado para o Corunha...
Djaló que nunca se percebeu bem porque o Benfica o contratou na última época vai - emprestado suponho - para o Toulouse.
Ola John custou oito milhões contratado para um lugar onde o Benfica já tinha várias opções; não se está a afirmar no plantel e pelo que percebo da teimosia de Jesus vai servir de pouco rendimento para o Benfica...
Defesa esquerdo... onde é que andas? Tantos nomes falados... Dos últimos, Rojo que também é central foi parar ao rival do Sporting porque o Benfica não se chegou à frente com mais umas centenas de milhares de euros... Até Eliseu, do Málaga, se gorou... À última hora tentou-se contratar Sílvio ... mas também foi "tostão furado". Uma vergonha... Sempre ficamos com Melgarejo candidato a um dos lugares de melhor marcador de golos da Liga...na própria baliza sendo ele o menos culpado...
Entretanto, dos potenciais jogadores a vender com encaixes financeiros significativos quem sai? Witsel por 40 milhões? Gaitán pelos 40 milhões? Javi Garcia por 30? Sai o último que desempenha um lugar para onde o Benfica só tem como sucedâneo Matic, mas apenas por 20 milhões ou seja apenas 2/3 do valor da cláusula de rescisão...
Defesa central para substituir Luisão ou Garay? Podia ser - e ano passado chegou a sê-lo - Javi mas esse já se foi...
Defesa direito para substituir / competir com Maxi Pereira? Temos um ex-júnior na equipa B.
Guarda-redes suplente de Artur? Paulo Lopes quando o ano passado era Eduardo internacional português... Enfim, por ausência de colocação foi inscrito Júlio César!
Nestas trocas e baldrocas ficamos a ganhar? Em qualidade? Não parece. Ao menos em dinheiro? Como? Os vinte milhões do Javi são desbaratados nestas contratações de terceira categoria de jogadores que em grande parte nunca chegam a vestir a camisola do Benfica...
Brilhante capacidade de negociação de Luís Filipe Vieira e dos seus acólitos... ou entreposto comercial com muitas comissões para aqui e para ali? Brilhante capacidade de organização do plantel com metade dos lugares deficitários e outra metade com excedentes, até parecendo a função pública...
Dois pontos já lá foram na primeira jornada... Vamos ver quantos mais lá irão ...
Dentre a relva orvalhada, a cotovia
Encastela no ar cantando e rindo;
O vago azul do céu vão colorindo
Os largos tons de luz, núncios do dia.
Desfaz-se lentamente a névoa fria
Como véu que se rasga e vão caindo,
Como bagas de anoso tamarindo
Para a terra, os cristais que a noite cria.
Fumegam chaminés pelas aldeias
E, correm para o mar, além, distante,
Os rios semelhando enormes veias.
Aqui e além soturno caminhante...
Os rebanhos beijando as valas cheias,
Na rubra luz do sol purpureante.
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