Passaste como a estrela matutina,
que se some na luz pura da aurora;
da vida só viveste aquela hora
em que a existência em flor luz sem neblina.
Ver-te e perder-te! De tão triste sina
não passa a mágoa em mim, antes piora;
sem ver-te já, minh'alma 'inda te adora
em triste culto que a saudade ensina.
Não vivo aqui; a vida em ti só ponho.
Na fé, de Cristo filha, a dor abrigo;
futuro em ti no céu vejo risonho!
Neste mundo, meu mundo é teu jazigo;
dizem que a vida é triste e falaz sonho;
se é sonho a vida, sonharei contigo.
JOSÉ MARIA DO AMARAL nasceu no Rio de Janeiro a 14 de Março de 1813 e faleceu em Niterói (RJ) a 23 de Setembro de 1885. Diplomado em Direito e Medicina por Paris, seguiu a carreira diplomática (Paris, Washington, capitais sul-americanas). Foi conselheiro do Império e deixou toda a sua obra dispersa por jornais e revistas. No fim da vida, a dúvida e o desespero atormentaram-no. O soneto, que incluímos, é dedicado à morte de uma filha.
Soneto e nota biobibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.
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