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2015-06-30

Medo - Reinaldo Ferreira (na voz de Amália)



Quem dorme à noite comigo?
É meu segredo, é meu segredo!
Mas se insistirem, desdigo.
O medo mora comigo,
Mas só o medo, mas só o medo!

E cedo, porque me embala
Num vaivém de solidão,
É com silêncio que fala,
Com voz de móvel que estala
E nos perturba a razão.

[Que farei quando deitado,
Fitando o espaço vazio,
Grita no espaço fitado
Que está dormindo a meu lado,
Lázaro e frio?]

Gritar? Quem pode salvar-me
Do que está dentro de mim?
Gostava até de matar-me.
Mas eu sei que ele há-de esperar-me
Ao pé da ponte do fim.


in O Fado da Tua Voz, Amália e os Poetas, Vítor Pavão dos Santos, Bertrand Editora

Reinaldo Edgar de Azevedo e Silva Ferreira (n. em Barcelona, a 20 de março de 1922; m. em Moçambique a 30 de junho de 1959).

Ler do mesmo autor, neste blog:
Na tarde erramos
Da margem esquerda da vida
Rosie
Vivo na esperança de um gesto
Meu Quase Sexto Sentido
Uma Casa Portuguesa
Passemos Tu e Eu Devagarinho
Duma outra infância, inventada

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2015-06-29

Morte Suave - Tristão da Cunha

Ei-los que vão-se ao mal de onde vieram,
Os males da minh'alma envelhecida:
E a lembrar tantos risos que os trouxeram,
Eu choro docemente esta partida...

Prantos lavam o sangue que verteram,
Na atroz delícia que já vai perdida,
E enche-me de saudades que ainda esperam
A saudade que um monge tem da vida...

No olhar que além dos olhos adormece
Erguem-se mortas, puras como lírios
E formosas e tristes como luas...

E tristemente um véu de nuvens desce
Sobre um casto clarão de exaustos círios,
Que estas virgens que voltam, voltam nuas...


Tristão da Cunha, pseudónimo de José Maria Leitão da Cunha Fº., nascido no Rio de Janeiro em 13 de março de 1878, m. a 29 de junho de 1942).

Ler do mesmo autor no Nothingandall:
Virgem Primitiva
Aniversário
Itervm

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2015-06-28

Uma vez mais ... - Velimir Khlébnikov


Uma vez mais, uma vez mais
Sou pra você
Uma estrela.
Ai do marujo que tomar
O ângulo errado de marear
Por uma estrela:
Ele se despedaçará nas rochas,
Nos bancos sob o mar.
Ai de você, por tomar
O ângulo errado de amar
Comigo: você
Vai se despedaçar nas rochas
E as rochas hão de rir
Por fim
Como você riu
De mim.

(Tradução de Augusto de Campos)

Velimir Khlebnikov, Велими́р Хле́бников, nasceu em 9 Nov, 1885 (October 28, 1885 (O.S.)) m. – 28 June 1922)

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2015-06-25

Soneto - Rodolfo Alves de Faria


A sombra geme aqui. Ruínas este soneto.
A arcaria da frase é um esgarado momo
e, sobre este papel, erguem-se os versos como
velhos muros de pedra ou restos de esqueleto.

A imagem lembra um curvo e triste cinamomo,
onde a hera da dor se enrosca ao tronco preto
e passeia, através da quadra e do terceto,
a saudade que reza, em religioso assomo.

Senta-se a mágoa sobre os escombros dispersos
do hemistíquio onde bate o coração dos versos
e em derredor rasteja o verme dos gemidos;

e como um braço, amor, que no outro braço arrima,
cai, em música estranha, a rima sobre a rima,
num sonoro rumor de mármores partidos.

Rodolfo Alves de Faria (n. Maceió, Alagoas, 23 de março de 1971 - f. Maceió, Alagoas, 25 de junho de 1899)

Poema extraído de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.

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2015-06-24

As virtudes dialogais - Pedro Oom

Dentro
de mim
há uma planta
que cresce
alegremente
que diz
bom dia
quando nos amamos
ao entardecer
e boa noite
quando florimos
à alvorada
uma árvore
que não está com o tempo
este tempo
a que chamamos
nosso.


in Actuação escrita (Lisboa: & etc, 1980)

Pedro dos Santos Oom do Vale (nasceu em Santarém, 24 de junho de 1926 – faleceu em Lisboa, 26 de abril de 1974)

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2015-06-23

Incontentado - Martins Fontes

Quando em teus braços, meu amor, te beijo,
se me torno, de súbito, tristonho,
é porque às vezes, com temor, prevejo
que esta alegria pode ser um sonho.

Olho os meus olhos nos teus olhos... Ponho,
trêmulo, as mãos nas tuas mãos... E vejo
que és tu mesma, que és tu! E ainda suponho
Ser enganado pelo meu desejo.

Quanto mais, desvairado de ansiedade,
do teu corpo, meu corpo se avizinha,
mais de ti, junto a ti, sinto saudade...

- E o meu suplício atroz não se adivinha,
quando, beijando-te, o pavor me invade
de que em meus braços tu não sejas minha!


José Martins Fontes nasceu em Santos (SP) a 23 de Junho de 1884 e morreu a 25 de Junho de 1937.

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2015-06-22

Rastros - Paulino de Oliveira

De chofre, como rápido meteoro
Que risca as minhas noites mal veladas
Surgem faiscando e fogem apressadas
Coisas que mal compreendo e mal decoro

Lembranças vagas a que em vão imploro
E estendo os braços... coisas apagadas,
Rastros de antigos prantos e risadas
Que debandaram em sombrio coro

É como o lastro dessas caravelas,
Dantes povoadas, de enfunadas velas,
Em que embarquei à busca dos desejos...

Passa um perfume conhecido, vago -
Aura de rotos panos, velho afago,
Rastro de aroma, a ideia dos teus beijos!


in Os dias do Amor, um poema para cada dia do ano; Ministério dos Livros

Francisco Paulino Gomes de Oliveira, nasceu em Setúbal a 22 de junho de 1864, faleceu em 1914

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2015-06-21

Musa Consolatrix - Machado de Assis

foto: Folha de Outono



Que a mão do tempo e o hálito dos homens
Murchem a flor das ilusões da vida,
Musa consoladora,
É no teu seio amigo e sossegado
Que o poeta respira o suave sono.

Não há, não há contigo,
Nem dor aguda, nem sombrios ermos;
Da tua voz os namorados cantos
Enchem, povoam tudo
De íntima paz, de vida e de conforto.

Ante esta voz que as dores adormece,
E muda o agudo espinho em flor cheirosa,
Que vales tu, desilusão dos homens?
Tu que podes, ó tempo?
A alma triste do poeta sobrenada
À enchente das angústias,
E. afrontando o rugido da tormenta,
Passa cantando, alcíone divina.
Musa consoladora,
Quando da minha fronte de mancebo
A última ilusão cair, bem como
Folha amarela e seca
Que ao chão atira a viração do outono,
Ah! No teu seio amigo
Acolhe-me, — e haverá minha alma aflita,
Em vez de algumas ilusões que teve,
A paz,o último bem, último e puro!


Joaquim Maria Machado de Assis (n. em 21 de junho de 1839 no Morro do Livramento(RJ); m. em 29 de setembro de 1908 no Rio de Janeiro).

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2015-06-20

Não se amam os poetas - Matide Rosa Araújo

Não se amam os poetas que descem do rio porque
Porque o rio é negro e fundo e uma voz canta na outra margem
Voz sempre estrangeira
E no rio desce também um lago de jardim
Artificial e inútil com peixes vermelhos
De noite ouvia os animais da selva por entre gritos.
Animais que ressonavam por entre barras de ferro
O sono de sua força prisioneira
E passavam cavalos da Guarda sobre a calçada
E só mortos os seus passos o medo morria
E eu não ser amada no rio sem o ver
E ouvia a voz da outra margem
E no lago de peixes vermelhos
Era tudo tão pouco e cercado
E na noite os animais vinham derrotados e poderosos no seu sonhar
Chorando eu ia pelo rio nele fundida
Não tinha uma boneca para dormir
Escusava de abrir e fechar os olhos a boneca
Bastava só ser boneca para eu adormecer e dormir a minha idade.
E as grades da minha cama de ferro foram sempre duras de mais
E boiava de noite pelo rio e descia na jangada do lago


Matilde Rosa Lopes de Araújo (Lisboa, 20 de junho de 1921 - Lisboa, 6 de julho de 2010)

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2015-06-19

Chega o Verão e o sofrimento dos benfiquistas...

Jesus, Lima, Jonas, Gaitán, Maxi Pereira, adeus! Salvio meio ano sem poder jogar lesionado; ainda talvez Talisca, André Almeida ou Pizzi ...

Bons jogadores portugueses como Danilo - bastaria ver as exibições do jogador nos dois jogos contra o Benfica para se aquilatar da qualidade - o Benfica nem fareja (e foi jogador da famosa "formação"). Entram jogadores marroquinos de quem nunca se ouvira falar e segundas ou terceiras linhas que nem no Rio Ave eram titulares. Enfim...

Allô Vitória estás a ver? No ano passado uma equipa de nível top europeu - só precisaria de uns ligeiros retoques para ser equipa de Champions - foi totalmente esfrangalhada. Jesus conseguiu repor a equipa e ganhou, apesar do nível inferior ao da época precedente. Agora sucede o mesmo e o nível vai descendo e degradando-se. Vitória vai precisar de milagre para fazer jus ao nome.

Os benfiquistas já estão habituados mas em todos os defesos (vamos ver os jogos da pré-época) são passados em atroz sofrimento, quando devia ser de alegria após o título...

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No centenário do nascimento de Celina de Holanda: Colcha de retalhos



No chão da casa depositei as malas
E me sobraram braços
(meu nome
perdido em sua voz, não me chamava)
era a noite onde as coisas terminam
a interminável.
Agora
Setecentos e vinte e seis dias depois,
Um ar de chuva atravessando o rio,
Sento na máquina e recomeço a vida,
Só retalhos.

Celina de Holanda Cavalcanti de Albuquerque nasceu no município do Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco em 19 de junho de 1915 e morreu no Recife em 04 de julho de 1999

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2015-06-18

Ao fundo da minha alma branca... - Fernando Botto Semedo

Campo de papoilasimagem daqui

Ao fundo da minha alma branca
Vejo uma alameda infinita de papoilas
De luz, num bailado de galáxias
Do ser de todas as crianças de gesso,
Que choram os brinquedos partidos
Da sua infância longínqua e perdida,
Onde um universo de cristal brilha muito
No sangue de um Deus orvalhado
Com poemas da água límpida do bem.

Fernando Botto Semedo nasceu, em Lisboa, no dia 18 de Junho de 1955.

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2015-06-17

o teu amor, bem sei, é uma palavra musical - António Franco Alexandre



o teu amor, bem sei, é uma palavra musical,
espalha-se por todos nós com a mesma ignorância,
o mesmo ar alheio com que fazes girar, suponho, os epiciclos;
ergues os ombros e dizes, hoje, amanhã, nunca mais,
surpreende o vigor, a plenitude
das coxas masculinas, habituadas ao cansaço,
separamo-nos, à procura de sinais mais fixos,
e o circuito das chamas recomeça.

é um país subtil, o olho franco das mulheres,
há nos passeios garrafas com leite apenas cinzento,
os teus pais disseram: o melhor de tudo é ser engenheiro,
morrer de casaco, com todas as pirâmides acesas,
viajar de navio de buenos aires a montevideu.
esta é a viagem que não faremos nunca, soltos
na minuciosa tarde dos lábios,
ágil pobreza.

permanentemente floresce o horizonte em colinas,
os animais olham por dentro, cheios de vazio,
como um ladrão de pouca perícia a luz
desfaz devagarmente os corpos.
ele exclama: quando me libertarás da tosca voz dormida,
para que seja
alto e altivo o coração das coisas? até quando aguardarei,
no harmonioso beliche, que a tua visão cesse?

António Franco Alexandre nasceu em Viseu a 17 de Junho de 1944

Ler do mesmo poeta, neste blog:
a rectidão da água; o crescimento
Já estou a ficar velho
Saudade
Nesta última tarde em que respiro
Quando ouço ao telefone a voz que brinca

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2015-06-16

Primavera - David Mourão-Ferreira (na voz de Amália)



Todo o amor que nos prendera
Como se fora de cera,
Se quebrava e desfazia,
Ai, funesta Primavera,
Quem me dera, quem nos dera,
Ter morrido nesse dia!

E condenaram-me a tanto,
Viver comigo o meu pranto,
Viver, viver e sem ti.
Vivendo, sem no entanto
Eu me esquecer desse encanto
Que nesse dia perdi

Pão duro da solidão
É somente o que nos dão,
O que nos dão a comer.
Que importa que o coração
Diga que sim ou que não
Se continua a viver...?

Todo o amor que nos prendera
Se quebrara e desfizera,
Em pavor se convertia.
Ninguém fale em Primavera!
Quem me dera, quem nos dera
Ter morrido nesse dia


Letra extraída de «O Fado da Tua Voz. Amália e os Poetas», Vítor Pavão dos Santos, Bertrand Editora. A música é de Pedro Rodrigues.

David de Jesus Mourão-Ferreira nascido em Lisboa a 24 de fevereiro de 1927 e falecido na mesma cidade a 16 de junho de 1996

Ler do mesmo autor:
Anjo Descido ao Mar
Paraíso
Praia do Esquecimento
Tentei Fugir da Mancha Mais Escura
Presídio
Casa
E Por Vezes
Ilha
Nocturno
Ternura
Labirinto
Penelope
Equinócio
Soneto do Cativo

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2015-06-15

Aconteceu-me - Almada Negreiros

Eu vinha de comprar fósforos
e uns olhos de mulher feita
olhos de menos idade que a sua
não deixavam acender-me o cigarro.
Eu era eureka para aqueles olhos.
Entre mim e ela passava gente como se não passasse
e ela não podia ficar parada
nem eu vê-la sumir-se.
Retive a sua silhueta
para não perder-me daqueles olhos que me levavam espetado
E eu tenho visto olhos!
Mas nenhuns que me vissem
nenhuns para quem eu fosse um achado existir
para quem eu lhes acertasse lá na sua ideia
olhos como agulhas de despertar
como íman de atrair-me vivo
olhos para mim!
Quando havia mais luz
a luz tornava-me quase real o seu corpo
e apagavam-se-me os seus olhos
o mistério suspenso por um cabelo
pelo hábito deste real injusto
tinha de pôr mais distância entre ela e mim
para acender outra vez aqueles olhos
que talvez não fossem como eu os vi
e ainda que o não fossem, que importa?
Vi o mistério!
Obrigado a ti mulher que não conheço.


in Poemas Portugueses Antologia da Poesia portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI; selecção, organização, introdução e notas de Jorge Reis-Sá e Rui Lage, Porto Editora

José Sobral de Almada Negreiros (n. em S. Tomé e Príncipe a 7 de abril de 1893; m. em Lisboa, a 15 de junho de 1970)

Ler do mesmo autor, neste blog:
Encontro
A Sombra Sou Eu
Ode a Fernando Pessoa
Mãe! Vem ouvir...
Esperança
Homem transportando o cadáver de uma mulher
Taça de Chá

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2015-06-14

O Meu Vestido de Veludo Com Rendas Brancas - Joaquim Paço d'Arcos

Quando eu era pequenino
Tinha um vestido de veludo com rendas brancas.
Ia a passeio com o vestido de veludo
E tinha os cabelos loiros
da cor dos teus cabelos loiros.
O vestido era igual ao teu vestido,
As rendas eram iguais às tuas rendas.

Mas eu era pequenino e perdi o vestido,
E cortei os caracóis loiros.
A minha mãe guardou as rendas num baú,
para o meu irmão que ainda era mais pequenino.
E nunca mais me lembrei das rendas
até que te encontrei.
E então vi-te com o vestido preto
e as rendas da minha infância,
E os cabelos loiros, platinados,
de caracóis de criança.
E lembrei-me dos anos todos que passaram
desde que me perdi até que te encontrei,
E lembrei-me dos luares como este luar dourado,
Mas sem as rendas do teu vestido
e sem o loiro dos teus cabelos.
E por isso este luar é afinal mais dourado
Porque tem o oiro dos teus cabelos.
E eu tenho a saudade das minhas rendas
e dos veludos que perdi,
A saudade que vem do longe da minha infância,
Até à vereda, ao luar, em que te encontrei a ti.

Dá-me os meus veludos, minhas rendas brancas,
Dá-me o oiro da infância que perdi,
Tudo que guardas e foi meu em lembrança distante,
Tudo que cobre o teu corpo de amante
E em saudade possuí.

in Poemas Imperfeitos

Joaquim Belford Correia da Silva (Paço d'Arcos) (Lisboa, 14 de junho de 1908 - Lisboa, 10 de junho de 1979)

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2015-06-13

A criança que fui chora na estrada I - Fernando Pessoa



A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E ao ver-me, tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.

FERNANDO António Nogueira PESSOA nasceu a 13 de Junho de 1888 e faleceu em Lisboa a 30 de Novembro de 1935.

Mais poemas de Fernando Pessoa, neste blog:
Passava eu na estrada pensando impreciso
Dá a Surpresa de Ser
António de Oliveira
Os Ratos
Nada Sou, Nada Posso, Nada Sigo
Se Alguém Bater
Aguardo - Ricardo Reis
Tanho Uma Grande Constipação (Álvaro de Campos)
Deus Sabe Melhor Do Que Eu
Suspense / Ansiedade
Tabacaria
Liberdade
Não Quero Recordar Nem Conhecer-me (Ricardo Reis)
Intervalo - Bernardo Soares
O guardador de rebanhos - X (Alberto Caeiro)
O guardador de rebanhos - XXI (Alberto Caeiro)
O guardador de rebanhos - XXVIII (Alberto Caeiro)
O Tejo é mais belo ...
Não sei se é sonho se é realidade
Odes - Ricardo Reis
Cruz na porta da tabacaria
Fragmentos do Livro do desassossego - Bernardo Soares
Afinal a melhor maneira de viajar é sentir...
Todas as cartas de amor são...
Se te queres matar ...
Dai-me rosas e lírios...
Sou vil, sou reles como toda a gente...
Não sei se é amor que tens
O que há em mim é sobretudo cansaço
Mar português
Ode marcial - h
Lycanthropy
Conselho
Para além da curva da estrada (Alberto Caeiro)
Sopra demais o vento
Poema da Canção sobre a Esperança
Soneto 1 de 35 sonetos (Poesia Inglesa) - em português
Sonnet 1 (from 35 Sonnets)
O amor é uma companhia
Quando vier a Primavera (Alberto Caeiro)

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2015-06-12

La vita… è ricordarsi di un risveglio / A vida é recordar-se um despertar - Sandro Penna

A vida… é recordar-se um despertar
triste num trem ao alvorecer: ter visto
fora a luz incerta: ter sentido
no corpo alquebrado a melancolia
virgem e áspera do ar pungente.

Mas recordar-se da libertação
inesperada é mais doce: perto de mim
um marinheiro jovem: o azul
e o branco do seu uniforme, e fora
um inteiro mar fresco de cores.

Trad. Vera Lúcia de Oliveira

Original:

La vita… è ricordarsi di un risveglio
triste in un certo treno all’alba: aver veduto
fuori la luce incerta: aver sentito
nel corpo rotto la malinconia
vergine e aspra dell’aria pungente.
Ma ricordarsi la liberazione
improvvisa è più dolce: a me vicino
un marinaio giovane: l’azzurro
e il bianco della sua divisa, e fuori
un mare tutto fresco di colore.

Sandro Penna (n. Perugia, 12 Jun. 1906 – m. Roma, 21 jan. 1977)

Do mesmo autor:
Notte: Sogno di Sparse / Noite: Sonho de Esparsas
A Lição de Estética
De come è forte il rumore
Torna um pensar de amor / Torna un pensier d'amore
Viver eu queria adormecido / Io vivere vorrei addormentato



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Citação do Dia: Karl Krauss


O desenvolvimento técnico só vai deixar um único problema por resolver: a debilidade da natureza humana

Karl Krauss (n. Jičín, Boémia - actualmente, República Checa - a 28 de abril de 1874 - m. Viena, 12 de junho de 1936)

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2015-06-11

O Relógio - Gonçalves Crespo




No álbum de Eduardo Burnay

Ebúrneo é o mostrador: as horas são de prata
Lê-se a firma Breguet por baixo do gracioso
Rendilhado ponteiro; a tampa é enorme e chata:
Nela o esmalte produz um quadro delicioso.

Repara: eis um salão: casquilho malicioso
Das festas cortesãs o mimo, a flor, a nata,
Junto a um cravo sonoro a alegre voz desata.
Uma fidalga o escuta ébria de amor e gozo.

Rasga-se ampla a janela; ao longe o olhar descobre
O correto jardim e o parque extenso e nobre.
As nuvens no alto céu flutuam como espumas.

Da paisagem no fundo, em lago transparente,
Onde se espelha o azul e o laranjal frondente,
Um cisne à luz do sol estende as níveas plumas.

in Poemas Portugueses Antologia das Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, Porto Editora

António Cândido GONÇALVES CRESPO nasceu nos subúrbios do Rio de Janeiro a 11 de março de 1846 e morreu, tuberculoso, em Lisboa, a 11 de junho de 1883.

 Ler do mesmo autor:
Na Aldeia
O Coveiro
A Noiva
Num Leque
Nunca eu te lesse, balada!
Na Roça
Mater Dolorosa

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2015-06-09

Porque é que este sonho... . José Gomes Ferreira

Porque é que este sonho absurdo
a que chamam realidade
não me obedece como os outros
que trago na cabeça?

Eis a grande raiva!
Misturem-na com rosas
e chamem-lhe vida.


José Gomes Ferreira (n. no Porto a 9 de junho de 1900, m. em Lisboa a 8 de fevereiro de 1985)

Ler do mesmo autor, neste blog:

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2015-06-08

Pedra Tumular - António Manuel Couto Viana

A minha geração fugiu à guerra,
Por isso a paz que traz não tem sentido:
É feita de ignorância e de castigo,
Tão rígida e tão fria como a pedra.

Desfazem-se-lhe as mãos em gestos frágeis,
Duma verdade inútil por vazia,
E a língua imóvel nega o som à vida,
Por hábito ou por falta de coragem.

Se há rumores lá de fora, às vezes, lembra:
Porque é que pulsa o coração do mundo,
Precipitado, angustioso, ardente?

Mas depressa submerge na indiferença
- Que lhe deram um túmulo seguro;
E o relógio dá-lhe horas certas, sempre.

in Mancha Solar, 1959

António Manuel Couto Viana (n. Viana do Castelo, 24 de Janeiro de 1923 - m. Lisboa, 8 de Junho de 2010) .

Ler do mesmo autor, neste blog: No Bazar; 23; Estival; Súplica a Eros; A Tartaruga; Despojo

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2015-06-06

Carta ao Mar - Gomes Leal

Deixa escrever-te, verde mar antigo,
Largo Oceano, velho deus limoso,
Coração sempre lírico, choroso,
E terno visionário, meu amigo!

Das bandas do poente lamentoso
Quando o vermelho sol vai ter contigo,
- Nada é mais grande, nobre e doloroso,
Do que tu, - vasto e húmido jazigo!

Nada é mais triste, trágico e profundo!
Ninguém te vence ou te venceu no mundo!...
Mas também, quem te pode consolar?!

Tu és Força, Arte, Amor, por excelência! -
E, contudo, ouve-o aqui, em confidencia;
- A Música é mais triste inda que o Mar!

  in 'Claridades do Sul'

António Gomes Leal (n. em Lisboa a 6 de junho de 1848; m. em 29 de janeiro de 1921)

Ler do mesmo autor, neste blog:
Pregões Matinais
À Janela do Ocidente
A Lady
Romantismo
Som e Cor
O Visionário ou Som e Cor III
Cantiga de Campo

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2015-06-05

Ainda a mudança de Jesus para o Sporting ...


Será que o miúdo da esquerda era o Bruninho (de Carvalho)? Afinal, foi promessa desde pequenino...

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Olhar Descalço - Wanda Cristina

Calcei os olhos com o olhar de sempre
e sai a rua para olhar o sol...
E voltei com o silêncio pegado a minha língua,
e chorei com o olhar pegado às minhas lágrimas...

Invadi um jardim de um cão sem dono
e o meu olhar descalço pisou nas rosas.


Wanda Cristina da Cunha e Silva nasceu em São Luís, Maranhão, a 5 de junho de 1959

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2015-06-04

Génesis VI - Jorge de Sena

De mim não falo mais: não quero nada.
De Deus não falo: não tem outro abrigo.
Não falarei também do mundo antigo,
pois nasce e morre em cada madrugada.

Nem de existir, que é a vida atraiçoada,
para sentir o tempo andar comigo;
nem de viver, que é liberdade errada,
e foge todo o Amor quando o persigo.

Por mais justiça ... - Ai quantos que eram novos
em vão a esperaram porque nunca a viram!
E a eternidade...Ó transfusão dos povos!

Não há verdade: O mundo não a esconde.
Tudo se vê: só se não sabe aonde.
Mortais ou imortais, todos mentiram.

in Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI. Selecção, organização, introdução e notas: Jorge Reis e Rui Lage; Prefácio: Vasco da Graça Moura. Porto Editora, 2009

Jorge Cândido de Sena (n. em Lisboa a 2 de novembro de 1919; m. em Santa Bárbara, Califórnia a 4 de junho de 1978)

Ler neste blog do mesmo autor:
Quando se Pensa Nesse Amor
A Canalha
Suma Teológica
Carta a Meus Filhos Sobre os Fusilamentos de Goya
Glosa à Chegada do Outono
O Corpo Não Espera
Entre-Distância
Amo-te muito meu amor
Como Queiras, Amor
Fidelidade
A diferença que há...
Rígidos seios de redondas, brancas...

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Jesus no Sporting - ou seja, atirado aos leões!!!

JJ vai para o Sporting. Isso, é o mesmo Sporting que não tem dinheiro... Isso, Jesus é o mesmo treinador que no Benfica se dizia que era dos treinadores mais bem pagos do Mundo. Isso, é mesmo o Jesus, o treinador que pretendia ter reconhecimento desportivo internacional. Assinou pelo Sporting ... que ficou em terceiro e tem de fazer play-off na Champions League... Sporting que tem um treinador com contrato por mais dois ou três anos...

Ah! mas o dinheiro vem dum "sindicato de investidores" angolanos, sportinguistas. Eles é que pagam... Provavelmente, também são eles que vão pagar a aquisição de grandes jogadores... para reforçar o plantel, já que no Benfica o plantel vai ficar enfraquecido com a saída dos melhores. "Investidores" que, certamente, também vão pagar a indemnização ao Marco Silva.

Não duvido que dentro de pouco tempo Jesus - o mesmo dos "peaners" - passará a ser uma das grandes figuras intelectuais da sociedade portuguesa, porventura, candidato aos Globos de Ouro mas da Cultura (não do desporto).

Para Eduardo Barroso «A saída de Jorge Jesus do Benfica é uma grande notícia para os sportinguistas, ele vale três pontas de lança. É também um golpe profundo no futuro a curto prazo do Benfica». Pelo que se vê antecipo que o Sporting contratou Jesus para o tirar do Benfica!

Diamantino ontem é que disse sobre Jesus e o presidente do Sporting, melhor dizendo sobre o carácter deles : «estão bem um para o outro».

Já o Benfica que ultimamente (com Jesus) retomou o hábito de ganhar vira-se para o Vitória. Tem nome adequado para o clube!!!

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2015-06-03

APELO - Nâzim Hikmet

Este país,cabeça duma égua
da Ásia ao Mediterrâneo trotando tanta légua
este país é o nosso.
Punhos em sangue banhados,dentes serrados,planta nua
e chão feito alfombra,toda em seda crua,
este inferno,este céu é o nosso.
Fechem-se as portas de estranhos, não mais voltem a abrir!
O homem não imponha ao homem escravidão!
Este apelo é o nosso.
Viver!Qual árvore,sozinha e livre
e juntos irmanados,qual floresta:
Este anseio é o nosso.

Tradução de Doina Zugravescu

in Rosa do Mundo 2001 Poemas Para o Futuro, Porto Editora

Nâzım Hikmet Ran (n. 20 de Novembro de 1901 – m. 3 de Junho 1963)

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2015-06-02

Sr. Pato

Boa tarde Sr. Pato. Logo à noite vou fazer arroz para o jantar. A sua presença é imprescindível.

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Nada, Esta Espuma - Ana Cristina Cesar



Por afrontamento do desejo
insisto na maldade de escrever
mas não sei se a deusa sobe à superfície
ou apenas me castiga com seus uivos.
Da amurada deste barco
quero tanto os seios da sereia.

Ana Cristina Cruz Cesar (nasceu no Rio de Janeiro em 2 de junho de 1952, m. em 29 de outubro de 1983).

Ler da mesma autoria:
Tu queres sono: despe-te dos ruídos
Sexta Feira da Paixão
Final de uma Ode
Tenho uma folha branca
Encontro de Assombrar na Catedral

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2015-06-01

Paciencia - Camilo Castelo Branco

Quem pode conceber que Deus creasse
Tanta obra perfeitissima, esmaltada
Pelo espaço infinito, e a desgraçada
Raça humanal de imperfeições manchasse?

Quem pode conceber o acerbo enlace
De miserias que esmagam, condemnada
A creação mais nobre, atormentada
Desde o berço até ás ancias do trespasse?

É certo que as desgraças são enormes;
Mas tu, Deus abscondito, não dormes,
Quando eu te invoco a divinal clemencia.

Ao dar-me as penas com que me torturas,
Um thesouro me deste de venturas:
Chama-se este thesouro a PACIENCIA.


Soneto X de Nas Trevas Sonetos sentimentaes e humoristicos
LISBOA LIVRARIA EDITORA, TAVARES CARDOSO & IRMÃO
6, LARGO DO CAMÕES, 6
— 1890

Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco (Lisboa, Encarnação, 16 de março de 1825 — Vila Nova de Famalicão, São Miguel de Seide, 1 de junho de 1890)

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