Li uma vez em páginas antigas
que, se uma estrela cai do céu clemente,
concede tudo o que lhe pede a gente.
Como as estrelas são nossas amigas!
Por isso agora, insone e sem fadigas,
fito os céus toda a noite atentamente.
Chovem estrelas... E eu: – Astro fulgente,
quero que eterno o nosso amor predigas!
– Faze-me bom! Conserva-lhe a doçura!
– Estrela, dá-nos paz, serenidade!
– Que a nossa filha seja linda e pura!
Doiradas ambições! Como dizê-las,
se elas são tantas? Deus, por piedade,
manda que caiam todas as estrelas!
Marcelo Gama (n. a 3 de março de 1878 em Mostardas, Rio Grande do Sul, Brasil; m. a 7 de março de 1915 no Rio de Janeiro)
MARCELO GAMA foi o pseudónimo de Possidónio Cezimbra Machado, que nasceu
em Mostardas (RS) a 3 de Março de 1878 e morreu no Rio de Janeiro a 7
de Março de 1915. Teve uma morte insólita: caiu do eléctrico em que
viajava, dormindo, alta madrugada, sobre os trilhos. Foi um epígono do
simbolismo: poeta, teatrólogo, crítico, jornalista, empregado do
comércio e boémio. Hipersensível, com uma imaginação plástica de grande
originalidade, professava um socialismo utópico e sentia, a um tempo,
ódio e amor à vida. Os seus versos, por vezes, másculos e cortantes,
revelam influência de Cesário Verde.
Soneto
e Nota biobliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns
dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria É a Língua Portuguesa.
Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004).
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