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2012-09-27

Litania das minhas noites - Rodrigues de Abreu

Doçura estranha da minha mágoa!
Tristeza sutil da mocidade!
Meus olhos, sem motivo, rasos de água!

O fel violento que bebi na vida!
Minha esquisita vida de saudade!
Saudade vaga em lágrimas diluída!

A doçura do sangue em minha boca!
Minha inquietude cheia de ansiedade!
Longas insônias da minha alma louca!

Meu desejo feroz de humilhação!
Não ter um movimento de bondade,
apesar de rezar tanta oração!

Manhãs de cinza, dias de neblina,
noites sem lua, na visualidade
nevoente de quem toma cocaína!

Ah!, julguei que sentisse assim a vida
porque tivesse a sensibilidade
de uma alma sutil, desconhecida...

E em vez, isso provém deste mal físico:
a minha enorme sensibilidade
nasce das minhas vibrações de tísico!

Oh! saudade do tempo em que era doente
e em que desconhecia a enfermidade
e em que chorava à toa, inutilmente...

Já perdi a beleza de sofrer.
Minha tristeza vem deste mal físico.
Foi-se o bem de ser doente sem saber...

Antes nunca soubesse que sou tísico!

(Casa Destelhada)
in Suplemento Literário de "A Manhã" - Vol. V, 1943

Benedito Luís RODRIGUES DE ABREU nasceu em Capivari (SP) a 27 de Setembro de 1897 e morreu em Bauru (SP) a 24 de Novembro de 1927).

Ler do mesmo autor, neste blog:
Casa Destelhada
Mar Desconhecido
Ao Luar
Suprema Glória
Crianças
As Andorinhas


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