Penélope - David Mourão-Ferreira
Mais do que sonho: comoção!
sinto-me tonto, enternecido,
quando, de noite, as minhas mãos
são o teu único vestido.
E recompões com essa veste,
que eu, sem saber, tinha tecido,
todo o pudor que desfizeste
como uma teia sem sentido;
todo o pudor que desfizeste
a meu pedido.
Mas nesse manto que desfias,
e que depois voltas a pôr,
eu reconheço os melhores dias
do nosso amor.
David de Jesus Mourão-Ferreira (Lisboa, 24 de fevereiro 1927 – Lisboa, 16 de junho 1996)
Ler do mesmo autor:
Penumbra
Praia do Esquecimento
Tentei Fugir da Mancha Mais Escura
Presídio
Casa
E Por Vezes
Ilha
Nocturno
Paraíso
Ternura
Labirinto
Primavera
Equinócio
Soneto do Cativo
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