Narciso - José Régio
Dentro de mim me quis eu ver. Tremia,
Dobrado em dois sobre o meu próprio poço...
Ah, que terrível face e que arcabouço
Este meu corpo lânguido escondia!
Ó boca tumular, cerrada e fria,
Cujo silêncio esfíngico bem ouço!
Ó lindos olhos sôfregos, de moço,
Numa fronte a suar melancolia!
Assim me desejei nestas imagens.
Meus poemas requintados e selvagens,
O meu Desejo os sulca de vermelho:
Que eu vivo à espera dessa noite estranha,
Noite de amor em que me goze e tenha,
...Lá no fundo do poço em que me espelho!
(Biografia, 1929)
José Régio, pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira (n. Vila do Conde 17 Set 1901; m. em Vila do Conde 22 Dez 1969)
Ler do mesmo autor neste blog:
Adeus
Soneto de Amor
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