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2014-02-04

Os Cinco Sentidos - Almeida Garrett

            São belas – bem o sei, essas estrelas,
            Mil cores – divinais têm essas flores;
            Mas eu não tenho, amor, olhos para elas:
                         Em toda a natureza
                         Não vejo outra beleza
                         Senão a ti – a ti!

           Divina – ai! Sim, será a voz que afina
           Saudosa – na ramagem densa, umbrosa.
           Será; mas eu do rouxinol que trina
                         Não oiço a melodia,
                         Nem sinto outra harmonia
                         Senão a ti – a ti!

           Respira – n’aura que entre as flores gira,
           Celeste – incenso de perfume agreste.
           Sei... não sinto, minha alma não aspira,
                        Não percebe, não toma
                        Senão o doce aroma
                        Que vem de ti – de ti!

           Formosos – são os pomos saborosos,
           É um mimo – de néctar o racismo:
           E eu tenho fome e sede... sequiosos,
                        Famintos meus desejos
                        Estão... mas é de beijos,
                        É só de ti – de ti!
          Macia – deve a relva luzidia
          Do leito – ser por certo em que me deito.    
         
          Mas quem, ao pé de ti, quem poderia           
                        Sentir outras carícias,                     
                        Tocar noutras delícias                     
                        Senão em ti – em ti!                      
          A ti! ai, a ti só os meus sentidos,                  
                        Todos num confundidos,                
                        Sentem, ouvem, respiram, 
                        Em ti, por ti deliram.
                        Em ti a minha sorte,
                        A minha vida em ti;
                        E quando venha a morte,
                        Será morrer por ti.


João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett (n. no Porto a 4 de Fev. 1799; m. em Lisboa 9 Dez. 1854)

Ler do mesmo autor:
Não Te Amo
A Rosa - Um Suspiro
Os Meus Desejos
Seus Olhos
Este Inferno de Amar
Rosa sem Espinhos
Seus Olhos
Destino


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