A PONTO DE CAIR - Blas de Otero
Nada é tão necessário ao homem como um pouco de mar
e uma orla de esperança para além da morte,
é tudo o que preciso e talvez um par de asas
abertas no capítulo primeiro da carne
Não sei como dizê-lo, com que cara
trocar-me por um anjo dos anteriores à terra
quebraram-se-me os braços de tanto lhes dar corda,
dizei-me o que farei agora, que horas são, se ainda há tempo,
é preciso que suba a mudar-me, que me arrependa sem perder uma lágrima,
uma apenas, uma lágrima orfã,
por favor, dizei-me qual a hora das lágrimas,
sobretudo a das lágrimas sem nada mais que pranto
e pranto ainda e para sempre.
Nada é tão necessário ao homem como um par de lágrimas
prontas a cair no desespero.
In "Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea"
selecção e traduçãode José Bento; Assírio & Alvim.
Blas de Otero Muñoz (n. Bilbao, 15 de março de 1916 - m. Majadahonda, Madrid, 29 de junho de 1979)
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