Recordando - Matias de Lima
Relembro as lindas tardes de poesia
Passadas docemente à beira-mar;
Passadas na amorável companhia
Dos bons poveiros, corações sem par.
A minha vida triste, ao sol sem manchas,
Foi bela! O mar regia a sua orquestra.
Com os poveiros encostados às lanchas,
Eu me entretinha em fraternal palestra.
De quando em quando ouvia aos mais idosos
Narrações de trabalhos singulares:
Inclemências, naufrágios pavorosos
Que levavam o luto a tantos lares!
Quanta vez comparava a sua lida
Com a dos Poetas! Uns, do mar profundo
Extraindo alimento para a Vida...
Outros, da alma febril, luz para o Mundo!
Uns, engolfados nesse mar fatal;
Outros, por infortúnios perseguidos,
Nautas da Dor no pélago do Ideal!
Tanta vez soçobrados e vencidos!
***
É doce recordar, chorando e rindo,
Momentos de ventura, passageiros.
Ai, que saudades desse mar tão lindo!
Ai, que saudades desses bons poveiros!
Extraído daqui
Matias Lima (Porto, 20 de agosto de 1885 - Porto, 9 de março de 1970)
Do mesmo autor: Tarde de Agosto
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