JANGADA TRISTE - Gilberto Freyre
Ao longe, mui longe, no horizonte,
além, muito além daquele monte,
como ave que voa desdenhada,
flutua tristemente uma jangada.
Nos zangados soluços do oceano,
quase desaparece o canto humano
de quem no mar e céu inda confia
porque em terra tudo lhe é melancolia.
Isso de terra firme e mar traiçoeiro
nem sempre é certo para o jangadeiro
mais preso ao fiel sal que à incerta areia.
Mistura ao grande azul as suas mágoas
e encontra no vaivém das verdes águas
consolo às negras dores cá da terra.
in Talvez Poesia, Prefácio Mário Mota. Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1962.
Gilberto de Mello Freyre (Recife, Pernambuco, Brasil, 15 de março de 1900 — Recife, 18 de julho de 1987)
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