Há palavras que nos beijam - Alexandre O'Neill (na passagem do 90º aniversário do poeta)
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
Alexandre Manuel Vahía de Castro O'Neill (n. em Lisboa a 19 de dezembro de 1924; m. em 21 de agosto de 1986).
Ler do mesmo autor:
Nesta curva tão terna e lancinante;
O Beijo;
Um Adeus Português;
Gaivota;
Dai-nos, meu Deus, um pequeno absurdo quotidiano que seja;
Toma Lá Cinco;
Auto-Retrato.
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