Vítima da Moda - Maria O'Neill
Todos notam com dó quando ela passa
A curiosa figura em que se pôs:
Creme Simon, carmim e pó d'arroz;
Olheira falsa por lhe dar mais graça!
Vai contente de si e da elegância
Com que a despe um vestido de Gandon.
Através da vidraça do lorgnon
Olha os homens com arte e petulância.
Tem um ar imperial... o passo breve,
Que a modista a seu grado limitou:
E vai pensando essa cabeça leve,
Que a todos, que a fitaram, deslumbrou!
Comentário deles:
- Se lhe cair o chapéu
Arrasa a terra coitada!
- Uma cara assim pintada
E não saber pôr um véu!
- Nota como o fato acusa
a sua forma animal!
- Já vi. Acho natural
É que é de raça Andaluza!
- O passo, vê, que tortura
A moda às vezes impõe!
- De todos quantos dispõe
Transforma em caricatura.
- Não tem vantagem
- Subida!
Por bem que finja a mulher
Dá-nos a justa medida
Do tino que ela tiver
in A Sátira, Revista humorística de caricaturas, Ano I, nº. 1, 1 de fevereiro de 1911
Editor José Stuart Carvalhaes, Lisboa
Maria da Conceição Infante de Lacerda Pereira de Eça Custance O'Neill (Lisboa, 19 de novembro de 1873 - Costa brasileira, 23 de março de 1932)
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