Lembranças - Ruy Cinatti
Chorar pelos vivos que falecem
é natural – coisa lacrimal.
A carne sente a falta do costume
às tantas … tem fome.
Não choro ninguém.
Quando digo chorar é outra pressa
de chegar a tempo
da conversa atenta com um amigo
que nos quer bem.
Chorar por ninguém é chorar pelos vivos
que já morreram, sem o saber,
e vivem no seu presídio.
O resto, repito, é fisiologia
provocada, e ainda bem, pelo riso,
ou pela dor que temos de já ter nascido
e sermos chorados por alguém.
in Cem Poemas Portugueses do Adeus e da Saudade
selecção, organização e introdulção de José Fanha e José Jorge Letria
Terramar
Ruy Cinatti Vaz Monteiro Gomes (Londres, 8 de Março de 1915 — Lisboa, 12 de Outubro de 1986)
Ler do mesmo autor, neste blog: Vigília
Quando o Amor Morrer Dentro de Ti
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