A QUEDA - Bruno Tolentino
Quando tudo era brisa no arvoredo,
fuga no mato, jogo de menino,
pousei a mão no fogo feminino
e acabou-se de vez todo brinquedo,
tudo virou fogueira. Tive medo.
Tive a visão que ofusca o peregrino,
tive a rosa no alvor do seu segredo
e um terror indiscreto e repentino
como o dobre do Ângelus no ar.
Mas um anjo caído é um moribundo,
mal se convence que caiu, vai dar
no ponto mais estranho deste mundo,
no avesso do jardim perdido: ao fundo
o roseiral que arde sem queimar.
Bruno Lúcio de Carvalho Tolentino (nasceu no Rio de Janeiro, 12 de novembro de 1940 — m. em São Paulo, 27 de junho de 2007)
Ler do mesmo autor, neste blog:
Via Crucis
Mecanismos
O Espírito da Letra
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