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2012-08-23

Anjo de Fogo - Affonso Manta

E como um ser de forte claridade,
Anjo de fogo do celeste empíreo,
Eu sentia nas asas do delírio
A dimensão da grande liberdade.

Passava nos lugares rotineiros
Colhendo todo mundo em meu abraço,
Confundindo noções de tempo e espaço,
Embaralhando fatos verdadeiros.

Ia nos quatro pontos cardeais.
Andava sobre a linha do equador.
Via o céu de manhã mudar de cor.
Percorria os espaços siderais.

Ia mais longe do que qualquer nave.
Voava mais depressa do que a luz.
Entendia as palavras de Jesus
Como uma criancinha entende uma ave.

Achincalhava todas as mentiras.
Todos os fariseus desmascarava.
Os ídolos do hipócrita quebrava.
A roupa do impostor deixava em tiras.

E como um ser de etérea realeza,
Adornado de estrelas e de luas,
Saía a percorrer todas as ruas
À procura da forma da beleza.

E encerrava meu curso luminoso
Num lugar pelos homens habitado,
Onde era pelos guardas algemado
E preso como um louco furioso.

[O Retrato de um Poeta]

Affonso Manta Alves Dias (nasceu em Salvador, Bahia, a 23 de agosto de 1939. Faleceu em 3 de dezembro de 2003 em Poções, Bahia).



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