O amor - Vladimir Maiakovski
Um dia, quem sabe, ela, que também gostava de bichos, apareça numa alameda do zoo, sorridente, tal como agora está no retrato sobre a mesa. Ela é tão bela, que, por certo, hão de ressuscitá-la. Vosso Trigésimo Século ultrapassará o exame de mil nadas, que dilaceravam o coração. Então, de todo amor não terminado seremos pago sem enumeráveis noites de estrelas. Ressuscita-me, nem que seja só porque te esperava como um poeta, repelindo o absurdo quotidiano! Ressuscita-me, nem que seja só por isso! Ressuscita-me! Quero viver até o fim o que me cabe! Para que o amor não seja mais escravo De casamentos, concupiscência, salários. Para que, maldizendo os leitos, saltando dos coxins, o amor se vá pelo universo inteiro. Para que o dia, que o sofrimento degrada, não vos seja chorado, mendigado. E que, ao primeiro apelo: - Camaradas! Atenta se volte a terra inteira. Para viver livre dos nichos das casa. Para que doravante a família seja o pai, pelo menos o Universo; a mãe, pelo menos a Terra.
(1923)
Tradução de Haroldo de Campos
Vladimir Vladimirovitch Mayakovsky (em russo: Влади́мир Влади́мирович Маяко́вский) Bagdadi, Georgia, 7 de julho (calendário juliano) / 19 de julho (calendário gregoriano) de 1893 – Moscovo, 14 de abril de 1930)
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