ADEUS - Sousândrade (na passagem dos 180 anos sobre o nascimento do poeta)
Escreveste-me ainda; mas, diferem
Os tons de agora, desses do passado
Hinos de um coração apaixonado
Que ao meu vinham ecoar.
Os que viam-nos, hoje se nos verem,
Verão em mim do desespero o espectro,
Do reino das ficções quebrando o cetro,
Fixo no mundo o olhar.
Desiludido estou, co'a sombra n'alma,
Que um astro fora, a sombra desta morte
Que vem de ti pela mundana sorte
Que apagou-te o esplendor;
Apagar-se bem vês da glória a palma
Que eu criei-te. Oh, amei-te muito! E havias
De vir tu desfazer as harmonias
Do nosso eterno amor!
Ainda eu te amo – e t'imagino morta
Da paixão nossa e então, amo-te muito!
Evito da estrangeira o olhar e escuto
Em mim somente a ti.
Se eu esqueço a verdade: vem, transporta
Nossa alma às ilusões: o que passou-se
De meiguices de amor era tão doce,
Qual eu nunca mais vi.
Encadeando os fatos de memória,
Vejo a razão dos dias da ventura;
– Mas, ao porque se depravou natura,
Eu sinto-me infeliz;
Ao porque desfizeste tanta glória
Fazendo-te cadáver – da beleza
Descendo. Oh, sobe e volta à natureza
Coroada de luz!
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