Casa Destelhada - Rodrigues de Abreu
A minha vida é uma casa  destelhada 
por um vento fortíssimo de chuva.
(As goteiras de todas as misérias
estão caindo, com lentidão perversa, 
na terra triste do meu coração.)
A minha alma, a inquilina, está pensando
que é preciso mudar-se, que é preciso
ir para uma casa bem coberta...
(As goteiras estão caindo,
lentamente, perversamente
na  terra molhada do meu coração.)
 
Mas a minha alma está pensando
em adiar, quanto mais, a mudança precisa.
Ela quer muito bem à velha casa
em que já  foi feliz...
E encolhe-se, toda transida de frio,
fugindo às goteiras que caem lentamente
na terra esverdeada do meu coração!
 
Oh! a felicidade estranha
de pensar que a casa agüente mais um ano
nas paredes oscilantes!
Oh! a felicidade voluptosa
de adiar a mudança, demorá-la,
ouvindo a música das goteiras tristes,
que caem lentamente, perversamente, 
na terra gelada do meu coração!
(Do livro: "Casa Destelhada")
Benedito Luís RODRIGUES DE ABREU nasceu em Capivari (SP) a 27 de Setembro de 1897 e morreu em Bauru (SP) a 24 de Novembro de 1927).
Ler do mesmo autor, neste blog:
Mar Desconhecido
Ao Luar
Suprema Glória
Crianças
As Andorinhas
 


 






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