Idílio - Reis Quita
Praias, que banha o Tejo caudaloso:
Ondas, que sôbre a areia estais quebrando:
Ninfas, que ides escumas levantando:
Escutai os suspiros dum saüdoso.
E vós também, ó côncavos rochedos,
Que dos ventos em vão sois combatidos,
Ouvi o triste som de meus gemidos,
já que de Amor calais tantos segredos.
Ai, amada Tircéa, se eu pudera
os teus formosos olhos ver agora,
Que depressa o pesar, que esta alma chora,
No gôsto mais feliz se convertera!
Oh, como então ficaras conhecendo
Quanto te amo, se visses a violência
Com que estão de meus olhos nesta ausência
Estas saüdosas lágrimas correndo!
Tanto neste pesar, que estou sentindo,
O triste coração se desfalece,
e tanto me atormenta, que parece
Que ao sofrimento a alma vai fugindo.
Mas oh, qual há de ser a crueldade
Dêste terrível mal, em que ando envolto,
Se a qualquer parte, emfim, que os olhos volto,
Imagens estou vendo de saüdade.
(...)
in Os dias do Amor, Um poema para cada dia do ano, recolha, selecção e organização de Inês Ramos; prefácio de Henrique Manuel Bento-Fialho.
Domingos dos Reis Quita (nasceu em Lisboa a 6 de Janeiro de 1728 e aí faleceu a 26 de Agosto de 1770)
Ler do mesmo autor neste blog: Pelo Campo Cantando; Soneto XXXI
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