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2008-09-29

Nos 100 anos da morte de Machado de Assis : Círculo Vicioso

Vagalume imagem daqui

Bailando no ar, gemia inquieto vagalume:
– «Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
que arde, no eterno azul, como uma eterna vela!».
Mas a estrela, fitando a lua com ciúme:

– «Pudesse eu copiar-te o transparente lume
que, da grega coluna à gótica janela,
contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!».
Mas a lua, fitando o sol com azedume:

– «Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
claridade imortal, que toda a luz resume!».
Mas o sol, inclinando a rútila capela:

– «Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
enfara-me esta azul e desmedida umbela...
porque não nasci eu um simples vagalume?»


Joaquim Maria MACHADO DE ASSIS nasceu no Rio de Janeiro a 21 de Junho de 1839 e aí faleceu de aterosclerose a 29 de Setembro de 1908. Mestiço, filho de um pintor de paredes mulato e de uma lavadeira açoriana, o maior de todos os escritores brasileiros demonstra aos racistas que a miscigenação não é factor de degenerescência, antes pelo contrário. Só com a instrução primária, este autodidacta de génio começou como compositor tipógrafo e revisor de provas e acabou como fundador da Academia Brasileira de Letras, de que foi o primeiro presidente, eleito por unanimidade. Casou com uma portuguesa, Carolina Augusta, irmã do poeta portuense Faustino Xavier de Novais. Sofria de epilepsia e de... cepticismo. Foi autor, nomeadamente, dos romances «Memórias Póstumas de Brás Cubas» (1881), «Quincas Borba» (1891), «Dom Casmurro» (1900) e da novela «O Alienista», além de muitos contos, que são obras-primas do género.


Soneto e nota biobibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.

Ler do mesmo autor:
Musa Consolatrix
Menina e Moça


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