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2011-11-30

Sabes quem sou? Eu não sei - Fernando Pessoa (no 76º aniversário do seu desaparecimento)

Sabes quem sou? Eu não sei.
Outrora, onde o nada foi,
Fui o vassalo e o rei.
É dupla a dor que me dói.
Duas dores eu passei.

Fui tudo que pode haver.
Ninguém me quis esmolar;
E entre o pensar e o ser
Senti a vida passar
Como um rio sem correr.


in Poesias Inéditas (1930-1935), Obras Completas de Fernando Pessoa, Edições Ática

FERNANDO António Nogueira PESSOA nasceu a 13 de Junho de 1888 e faleceu em Lisboa a 30 de Novembro de 1935).
Mais poemas de Fernando Pessoa, neste blog:
Se Alguém Bater
Aguardo - Ricardo Reis
Tanho Uma Grande Constipação (Álvaro de Campos)
Dá a Surpresa de Ser
Deus Sabe Melhor Do Que Eu
Suspense / Ansiedade
Tabacaria
Liberdade
Não Quero Recordar Nem Conhecer-me (Ricardo Reis)
Intervalo - Bernardo Soares
O guardador de rebanhos - X (Alberto Caeiro)
O guardador de rebanhos - XXI (Alberto Caeiro)
O guardador de rebanhos - XXVIII (Alberto Caeiro)
O Tejo é mais belo ...
Não sei se é sonho se é realidade
Odes - Ricardo Reis
Cruz na porta da tabacaria
Fragmentos do Livro do desassossego - Bernardo Soares
Afinal a melhor maneira de viajar é sentir...
Todas as cartas de amor são...
Se te queres matar ...
Dai-me rosas e lírios...
Sou vil, sou reles como toda a gente...
Não sei se é amor que tens
O que há em mim é sobretudo cansaço
Mar português
Ode marcial - h
Lycanthropy
Conselho
Para além da curva da estrada (Alberto Caeiro)
Sopra demais o vento
Poema da Canção sobre a Esperança
Soneto 1 de 35 sonetos (Poesia Inglesa) - em português
Sonnet 1 (from 35 Sonnets)
O amor é uma companhia
Quando vier a Primavera (Alberto Caeiro)

Sadias virações da madrugada - Francisco Álvares da Nóbrega

Lápide no Miradouro Francisco Álvares de Nóbrega no Machico

Sadias virações da madrugada,
Que as folhas embalais deste arvoredo,
Entrando neste sítio inda mais cedo
Que a dúbia luz da aurora marchetada.

Agora que repousa a doce Amada
Em bençãos de jasmins seu corpo ledo,
Um pouco respirai mais em segredo,
Sádias virações da madrugada.

Respeitai de Marília o sono brando
Nos ramos destes álamos copados.
As subtis asas plácidas feixando.

Tende em morno silêncio os verdes prados,
Durma a causa do mal que estou passando
Enquanto dorme – dormem meus cuidados.


Francisco Álvares de Nóbrega, mais conhecido pela antonomásia de Camões Pequeno, nasceu no Machico, Ilha da Madeira em 30 de Novembro de 1773 - m. em Lisboa, 1806)

2011-11-29

Rio Jaguaribe - Demócrito Rocha

O Rio Jaguaribe é uma artéria aberta
por onde escorre
e se perde
o sangue do Ceará.
O mar não se tinge de vermelho
porque o sangue do Ceará
é azul...

Todo plasma
toda essa hemoglobina
na sístole dos invernos
vai perder-se no mar.

Há milênios... desde que se rompeu a túnica
das rochas na explosão dos cataclismos
ou na erosão secular do calcário
do gnaisse do quartzo da sílica natural…

E a ruptura dos aneurismas dos açudes…
Quanto tempo perdido!

E o pobre doente – o Ceará – anemiado,
esquelético, pedinte e desnutrido -
a vasta rede capilar a queimar-se na soalheira -
é o gigante com a artéria aberta
resistindo e morrendo
resistindo e morrendo
resistindo e morrendo
morrendo e resistindo…

(Foi a espada de um Deus que te feriu
a carótida
a ti – Fênix do Brasil.)

E o teu cérebro ainda pensa
e o teu coração ainda pulsa
e o teu pulmão ainda respira
e o teu braço ainda constrói
e o teu pé ainda emigra
e ainda povoa.

As células mirradas do Ceará
quando o céu lhe dá a injeção de soro
dos aguaceiros -
as células mirradas do Ceará
intumescem o protoplasma
(como os seus capulhos de algodão)
e nucleiam-se de verde
- é a cromatina dos roçados no sertão…

(Ah, se ele alcançasse um coágulo de rocha!)

E o sangue a correr pela artéria do rio Jaguaribe…
o sangue a correr
mal que é chegado aos ventrículos das nascentes …
o sangue a correr e ninguém o estanca…

Homens da pátria – ouvi:

- Salvai o Ceará!

Quem é o presidente da República?
Depressa
uma pinça hemostática em Orós!

Homens -
o Ceará está morrendo, está
esvaindo-se em sangue …

Ninguém o escuta, ninguém o escuta
e o gigante dobra a cabeça sobre o peito
enorme,
e o gigante curva os joelhos no pó
da terra calcinada,
e
- nos últimos arrancos – vai

morrendo e resistindo
morrendo e resistindo
morrendo e resistindo


Demócrito Rocha nasceu em Caravelas, BA a 14 de Abril de 1888; faleceu em Fortaleza, CE a 29 de Novembro de 1943

2011-11-28

Momento Lírico - Campos de Figueiredo



Dá-me as tuas mãos, e vamos
Calados pela estrada
Sob a benção dos ramos
E as flores da madrugada.

Onde houver uma fonte,
Paremos a beber
As águas de outra fonte
Ainda por nascer.

Onde houver um jardim,
Entremos, de mãos juntas,
Mas às rosas e aos lírios,
Não façamos perguntas.

Ouçamos os perfumes,
No zumbir das abelhas,
E colhamos apenas
Duas rosas vermelhas.

E guardemos as rosas,
Só para desfolhar
Nas mãos da madrugada
Que o céu poisa no mar.


Mini-Antologia, 1965

José de Figueiredo Júnior de nome literário José Campos de Figueiredo nasceu em Cernache, 6 de Maio de 1899; faleceu em Coimbra a 28 de Novembro de 1965)

Ler do mesmo autor, neste blog:
Sonho
O Milagre das Rosas
Tela Íntima
Autocrítica
Fingimento

A Canção da Saudade - Olegário Mariano

Que tarde imensa e fria!
Lá fora o vento rodopia...
Dança de folhas... Folhas, sonhos vãos,
que passam, nesta dança transitória,
deixando em nós, no fundo da memória,
o olhar de uns olhos e a carícia de umas mãos.
Ante a moldura de um retrato antigo,
põe-se a gente a evocar coisas emocionais.
Tolda-se o olhar, o lábio treme, a alma se aperta,
tudo deserto... a vide em torno tão deserta
que vontade nos vem de sofrer mais!
Depois, há sempre um cofre e desse cofre
tiramos velhas cartas, devagar...
É a volúpia inervante de quem sofre:
ler velhas cartas e depois chorar.
Que tarde imensa e fria!
Nunca mais te verei... Nunca mais me verás...
Lá fora o vento rodopia...
Que desejo me vem de sofrer mais!


Olegário Mariano Carneiro da Cunha (nasceu na cidade de Recife, Pernambuco, a 24 de março de 1889. Faleceu no Rio de Janeiro a 28 de Novembro de 1958).

Ler do mesmo autor:
O Conselho das Árvores
O Enterro da Cigarra

2011-11-27

O Firmamento - Soares de Passos

Ao meu amigo J. S. da Silva Ferraz
Glória a Deus! Eis aberto o livro imenso,
O livro do infinito,
Onde em mil letras de fulgor intenso
Seu nome adoro escrito.
Eis do seu tabernáculo corrida
Uma ponta do véu misterioso:
Desprende as asas, remontando à vida,
Alma que anseias pelo eterno gozo!

Estrelas, que brilhais nessas moradas,
Quais são vossos destinos?
Vós sois, vós sois as lâmpadas sagradas
De seus umbrais divinos.
Pululando do selo omnipotente,
E sumidas por fim na eternidade,
Sois as faíscas do seu carro ardente
A rolar através da imensidade.

E cada qual de vós um astro encerra,
Um Sol que apenas vejo,
Monarca doutros mundos como a terra
Que formam seu cortejo.
Ninguém pode contar-vos: quem pudera
Esses mundos contar a que dais vida,
Escuros para nós, qual nossa esfera
Vos é nas trevas da amplidão sumida.

Mas vós perto brilhais, no fundo acesas
Do trono soberano;
Quem vos há-de seguir nas profundezas
Desse infinito oceano?
E quem há de contar-vos nessas plagas
Que os céus ostentam de brilhante alvura,
Lá onde sua mão sustém as vagas
Dos sóis que um dia romperão na altura?

E tudo outrora na mudez jazia,
Nos véus do frio nada;
Reinava a noite escura; a luz do dia
Era em Deus concentrada.
Ele falou! e as sombras mim momento
Se dissiparam na amplidão distante!
Ele falou! e o vasto Armamento
Seu véu de mundos desfraldou ovante!

E tudo despertou, e tudo gira
Imenso em seus fulgores;
E cada mundo é sonorosa lira
Cantando os seus louvores.
Cantai, ó mundos que o seu braço impele,
Harpas da criação, fachos do dia,
Cantai louvor universal Àquele,
Que vos sustenta e nos espaços guia!

Terra, globo que geras nas entranhas
Meu ser, o ser humano,
Que és tu com teus vulcões, tuas montanhas,
E com teu vasto oceano?
Tu és um grão de areia arrebatado
Por esse imenso turbilhão de mundos
Em volta de seu trono levantado
Do universo nos seios mais profundos.

E tu, homem, que és tu, ente mesquinho
Que soberbo te elevas,
Buscando sem cessar abrir caminho
Por tuas densas trevas?
Que és tu com teus impérios e colossos?
Um átomo subtil, um frouxo alento!
Tu vives um instante, e de teus ossos
Só restam cinzas, que sacode o vento.

Mas ah! tu pensas, e o girar dos orbes
À razão encadeias;
Tu pensas, e inspirado em Deus te absorves
Na chama das ideias:
Alegra-te, imortal, que esse alto lume
Não morre em trevas num jazigo escasso!
Glória a Deus, que num átomo resume
O pensamento que transcende o espaço!

Caminha, ó rei da terra! se’ inda és pobre
Conquista áureo destino,
E de século em século mais nobre
Eleva a Deus teu hino;
E tu, ó terra, nos floridos mantos
Abriga os filhos que em teu seio geras,
E teu canto de amor reúne aos cantos
Que a Deus se elevam de milhões de ‘sferas!

Dizem que já sem forças, moribunda,
Tu vergas decadente:
Oh! não! De tanto Sol que te circunda
Teu Sol inda é fulgente;
Tu és jovem ainda: a cada passo
Tu assistes de um mundo às agonias,
E rolas entretanto nesse espaço
Coberta de perfumes e harmonias.

Mas ai! tu findarás! Além cintila
Hoje um astro brilhante;
Amanhã ei-lo treme, ei-lo vacila,
E fenece arquejante.
Quem foi? Quem o apagou? Foi seu alento
Que extinguiu essa luz já fatigada,
Foram séculos mil, foi um momento
Que a eternidade fez volver ao nada.

Um dia, quem o sabe? Um dia ao peso
De anos e ruínas,
Tu cairás nesse vulcão aceso
Que teu Sol denominas;
E teus irmãos também, esses planetas
Que a mesma vida, a mesma luz inflama,
Atraídos enfim, quais borboletas,
Cairão como tu na mesma chama!

Então, ó Sol, então nesse áureo trono,
Que farás tu ainda,
Monarca solitário, e em abandono,
Com tua glória finda?
Tu findarás também, a fria morte
Alcançará teu carro chamejante:
Ela te segue, e profetiza a sorte
Nessas manchas que toldam teu semblante.

Que são elas? Talvez os restos frios
Dalgum antigo mundo,
Que'inda referve em borbotões sombrios
No teu seio profundo,
Talvez, envolta pouco a pouco a frente
Nas cinzas sepulcrais de cada filho,
Debaixo deles todos de repente
Apagarás teu vacilante brilho.

E as sombras passarão no vasto império
Que teu facho alumia;
Mas que vale de menos um psaltério
Dos orbes na harmonia?
Outro Sol como tu, outras esferas
Virão no espaço descansar seu hino,
Renovando nos sítios onde imperas,
Do Sol dos Sóis o resplendor divino.

Glória a seu nome! Um dia meditando
Outro céu mais perfeito,
O céu d'agora ao seu altivo mando
Talvez caia desfeito.
Então mundos, estrelas, sóis brilhantes,
Qual bando d’águias na amplidão disperso,
Chocando-se em destroços fumegantes,
Desabarão no caos do universo.

Então a vida, refluindo ao seio
Do foco soberano,
Parará concentrando-se no meio
Desse infinito oceano:
E, acabado por fim quanto fulgura,
Apenas restarão na imensidade —
O silêncio, aguardando a voz futura,
O trono de Jeovah, e a eternidade!
António Augusto Soares de Passos (Porto, 27 de Novembro de 1826 – Porto, 8 de Fevereiro de 1860)

2011-11-26

Benfica derrota o Sporting jogando meia-hora só com dez

Sporting logoBenfica logo
Benfica

1-0

Sporting


Javi Garcia marcou de cabeça... e aguentou a expulsão de Cardozo aos 63'


Sem Luisão lesionado foi Jardel que fez dupla de centrais com Garay. No Sporting Carriço apareceu à frente da dupla de centrais Polga e Oniewu. O jogo foi de grande intensidade e ritmo na primeira parte com o Sporting a entrar no jogo com grande agressividade privilegiando a iniciativa atacante pelo lado esquerdo com o duelo Diego Capel - Maxi Pereira a quase fazer faísca. Aos 12' o Estádio da Luz vibrou com a iminência do primeiro golo do jogo e para o Benfica. Canto de Aimar marcado muito parta trás para a entrada da área surgindo Gaitán a disparar um pontapé que levou a bola a bater no poste e a atravessar a baliza de Rui Patrício. Pouco depois foi Schaars que rematou de pé direitomas ao lado da baliza do Benfica.

Aos 24' o Sporting teve uma contrariedade com Matías Fernandez a lesionar-se sozinho e a ter de ser substituído entrando Carrilho.

Por esta altura o Benfica equilibrava o jogo com Aimar a evidenciar toda a sua categoria técnica depois de um começo mais ameaçador da equipa leonina.

Aos 37' Carrillo arranca pelas direita e Artur sai a fazer a mancha evitando o perigo. Já perto do final da primeira parte e na sequência de outro pontapé de canto marcado por Aimar o Benfica ganhou avanço no marcador com Javi Garcia a marcar de cabeça.

O início da segunda parte foi caracterizado pela iniciativa leonina que ganhou um livre junto da linha lateral da área por (pretensa) falta de Javi Garcia. Logo a seguir uma confusão na área do Benfica por altura da marcação de um pontapé de canto deu lugar a repreensão a Cardozo e a Wolfswinkel.

O Sporting atacava mais mas ao Benfica pertenceu a grande oportunidade de fechar o jogo. Oniewu perdeu parea Aimar e este assistiu Cardozo para o 2-0. Este surpreendeu-se com a oferta e começou a fintar adversários que lhe apareceram emn vez de ter logo finalizado. Ainda assim remataria forte (mas já com menor ângulo) respondendo Rui Patrício com defesa para canto.

O Sporting apostava agora mais pelo lado direito com Emerson a demonstrar muita permeabilidade (e menor capacidade física). De um cruzamento de Carrillo, Elias apareceu em excelente posição para o empate mas o remate de cabeça foi magistralmente defendido por Artur - uma intervenção que valeu um golo.

Aos 63' Cardozo no meio-campo leonino foi afastado em falta mas João Capela deixou jogar. O avançado paraguaio abriu os braços em protesto e deu um murro no relvado e o árbitro em excesso de rigor mostrou o segundo cartão amarelo. Não há derby que não tenha polémica quanto à arbitragem e estava assim criados motivos para este jogo não fugir à regra. Com o Soporting a perder e o Benfica - que jogara a meio da semana em Manchester - só com dez era natural o domínio territorial do Sporting.

Pouco depois da expulsão uma distracção de Artur que se desinteressou de uma bola que irioa sair pela linha final não fosse a diligência de Wolfswinkel quase dava o empate. O avançado de pouco ângulo obrigou o guarda-redes a defender de joelhos mas a bola sobrou para a zona frontal onde Elias desperdiçou grande chance de golo ao chutar ao lado!

Jesus procurou reconstituir a equipa fazendo entrar Rodrigo parta o lugar de Aimar e alguns minutos depois Ruben Amorim para o pouco visto Bruno César. Já Domingos Paciência prescindindo do amarelado Carriço por André Santos avançando mais a linha média.

O Benfica a custo reequilibrou-se em termos de organização passando Witsel a dar nas vistas. A dez minutos do fim entrou Bojinov para o lugar de Insua mas o avançado búlgaro não teve tempo para se evidenciar. O Benfica aguentou o último fôlego leonino e conseguiu garantir um triunfo difícil mas precioso numa semana bem sucedida após a qualificação para a Champions com o empate de Manchester e agora o triunfo - em situação de dificuldade face à expulsão de Cardozo -.

O árbitro mostrou muitos cartões amarelos e na parte final do jogo teve hipóteses de colocar as equipas em igualdade numérica após falta de André Santos (já previamente amarelado) mas preferiu mostrar o cartão amarelo a Schaars! Para Cardozo é que não teve contemplações...

Estádio da Luz:
Assistência: 63.146 espectadores
Árbitro: João Capela
BENFICA: Artur Moraes, Maxi Pereira, Garay, Jardel, e Enmerson; Javi Garcia, Witsel, Bruno César (Ruben Amorim 68'), Gaitán, Aimar (Rodrigo 66') e Cardozo.

SPORTING: Rui Patrício, João Pereira Insúa, Onyewu, Polga e Insua;
Daniel Carriço (André Santos 66') , Elias, Diego Capel, Matías Fernández (Carrilho 26'), Schaars, Van Wolfswinkel

Disciplina:
2' Cartão amarelo para Elias por falta sobre Garay.
21' Cartão amarelo para Carriço por falta sobre Aimar.
45+1' Cartão amarelo para Aimar por falta sobre Insúa.
48' Cartão amarelo para Wolfswinkel e para Cardozo por desentendimento antes da marcação de um pontapé de canto favorável ao Sporting.
80' Cartão amarelo para Carrillo por pontapear a bola com o jogo parado...
84' Cartão amarelo para André Santos por falta sobre Maxi Pereira.
87' Cartão amarelo para Schaars por protestos.

SOBREVIVÊNCIA - Álvaro Pacheco

Que qualidades, indago,
pode-se ter
para estar por aqui?

As das roupas bem passadas
das aparências limpas
dos colarinhos engomados
e dos lenços colocados simetricamente
no bolso esquerdo?

Como se faz para ter importância
alguma importância
na vida?

Parece-me
que são raras as consciências
desta percepção do efêmero.

Quem sabe enumerar
os requisitos essenciais
para sobreviver na floresta?

Poucos têm um cantil de água
e guardaram
miolos de pão fresco
para fazer
o caminho destrutível
e sabem decifrar as vozes
das folhas e dos troncos mortos
que os aterrorizaram a infância
nos caminhos de areia
em torno do cemitério.


Álvaro dos Santos Pacheco (Jaicós, Piauí, 26 de novembro de 1933)

Centenário do nascimento de Mário Lago - Nada além + Atire a primeira pedra

Nada além
Nada além de uma ilusão
Chega bem
E é demais para o meu coração
Acreditando em tudo que o amor
Mentindo sempre diz
E vou vivendo assim feliz
Na ilusão de ser feliz
Se o amor
Só nos causa sofrimento e dor
É melhor
Bem melhor a ilusão do amor
Eu não quero e não peço

Para o meu coração

Nada além de uma linda ilusão



Nada Além - Mário Lago / Custódio Mesquita





Atire a Primeira Pedra
Covarde sei que me podem chamar.
Porque não calo no peito essa dor.
Atire a primeira pedra, ai, ai, ai,
Aquele que não sofreu por amor.
Covarde não sou.
Covarde sei que me podem chamar.
Porque não calo no peito essa dor.
Atire a primeira pedra, ai, ai, ai,
Aquele que não sofreu por amor.
Eu sei que vão censurar o meu proceder.
Eu sei, mulher, o que você mesma vai dizer.
Que eu voltei pra me humilhar, é,
Mas não faz mal, você pode até sorrir.
Perdão foi feito, foi feito pra gente pedir.
Perdão foi feito, foi feito pra gente pedir.

Atire a Primeira Pedra - Mário Lago / Ataulpho Alves





Mário Lago (Rio de Janeiro, 26 de novembro de 1911 — Rio de Janeiro, 30 de maio de 2002)

2011-11-25

Tornar os sonhos reais - Fernando Semana

Que bom é viver contente
Andar de cara levantada
Ser filho de boa gente…
De mãos dadas à namorada
Assistir ao sol poente!

Avistar ao longe o navio
E dar asas à imaginação
Solta e leve como o lítio
Nos teus lábios de perdição
Viajar sem sair do sítio.

Visitar portos e cais
Aldeias e cidades
Tornar os sonhos reais
Perder-me nas tuas vontades
E não acordar jamais...



Fernando Semana, economista, nasceu na freguesia de Valbom, concelho de Gondomar em 12 de Outubro de 1957

Primeira Carta a Clara - Eça de Queiroz

Não, não foi na Exposição dos Aguarelistas, em Março, que eu tive consigo o meu primeiro encontro, por mandado dos Fados. Foi no inverno, minha adorada amiga, no baile dos Tressans. Foi aí que a vi, conversando com Madame de Jouarre, diante de um console, cujas luzes, entre os molhos de orquídeas, punham nos seus cabelos aquele nimbo de ouro que tão justamente lhe pertence como “rainha de graça entre as mulheres”. Lembro ainda, bem religiosamente, o seu sorrir cansado, o vestido preto com relevos cor de botão de ouro, o leque antigo que tinha fechado no regaço; mas logo tudo em redor me pareceu irreparavelmente enfadonho e feio; e voltei a readmirar, a meditar em silêncio a sua beleza, que me prendia pelo esplendor patente e compreensível, e ainda por não sei quê de fino, de espiritual, de dolente e de meigo que brilhava através e vinha da alma. E tão intensamente me embebi nessa contemplação, que levei comigo a sua imagem, decorada e inteira, sem esquecer um fio dos seus cabelos ou uma ondulação da seda que a cobria, e corri a encerrar-me com ela, alvoroçado, como um artista que nalgum escuro armazém, entre poeira e cacos, descobrisse a obra sublime de um mestre perfeito.

E, por que o não confessarei? Essa imagem foi para mim, ao princípio, meramente um quadro, pendurado no fundo da minha alma, que eu a cada doce momento olhava – mas para lhe louvar apenas, com crescente surpresa, os encantos diversos de linha e de cor. Era somente uma rara tela, posta em sacrário, imóvel e muda no seu brilho, sem outra influência mais sobre mim que a de uma forma muito bela que cativa um gosto muito educado. O meu ser continuava livre, atento às curiosidades que até aí o seduziam, aberto aos sentimentos que até aí o solicitavam; - e só quando sentia a fadiga das coisas imperfeitas ou o desejo novo de uma ocupação mais pura, regressava à imagem que em mim guardava, como um Fra Angélico, no seu claustro, pousando os pincéis ao fim do dia, e ajoelhando ante a Madona a implorar dela repouso e inspiração superior.

Pouco a pouco, porém, tudo o que não foi esta contemplação, perdeu para mim o valor e encanto. Comecei a viver cada dia mais retirado no fundo da minha alma, perdido na admiração da imagem que lá rebrilhava - até que só essa ocupação me pareceu digna da vida, no mundo todo não reconheci mais que uma aparência inconstante, e fui como um monge na sua cela, alheio às coisas mais reais, de joelhos e hirto no seu sonho, que é para ele a única realidade.

Mas não era, minha adorada amiga, um pálido e passivo êxtase diante da sua imagem. Não! Era antes um ansioso e forte estudo dela, com que eu procurava conhecer através da forma e essência, e (pois a Beleza é o esplendor da Verdade) deduzir das perfeições do seu Corpo as superioridades da sua Alma. E foi assim que lentamente surpreendi o segredo da sua natureza; a sua clara testa que o cabelo descobre, tão clara e lisa, logo me contou a retidão do seu pensar: o seu sorriso, de uma nobreza tão intelectual, facilmente me revelou o seu desdém do mundanal e do efêmero, a sua incansável aspiração para um viver de verdade: cada graça de seus movimentos me traiu uma delicadeza do seu gosto: e nos seus olhos diferenciei o que neles tão adoravelmente se confunde, luz de razão, calor que melhor alumia... Já a certeza de tantas perfeições bastaria a fazer dobrar, numa adoração perpétua, os joelhos mais rebeldes. Mas sucedeu ainda que, ao passo que a compreendia e que a sua Essência se me manifestava, assim visível e quase tangível, uma influência descia dela sobre mim – uma influência estranha, diferente de todas as influências humanas, e que me dominava com transcendente onipotência. Como lhe poderei dizer? Monge, fechado na minha cela, comecei a aspirar à santidade, para me harmonizar e merecer a convivência com a Santa a que me votara. Fiz então sobre mim um áspero exame de consciência. Investiguei com inquietação se o meu pensar era condigno da pureza do seu pensar; se no meu gosto não haveria desconcertos que pudessem ferir a disciplina do seu gosto; se a minha idéia da vida era tão alta e séria como aquela que eu pressentira na espiritualidade do seu olhar, do seu sorrir; e se meu coração não se dispersara e enfraquecera de mais para poder palpitar com paralelo vigor junto do seu coração. E tem sido em mim agora um arquejante esforço para subir a uma perfeição idêntica àquela que em si tão submissamente adoro.

De sorte que a minha querida amiga, sem saber, se tornou a minha educadora. E tão dependente fiquei logo desta direção, que já não posso conceber os movimentos do meu ser senão governados por ela e por ela enobrecidos. Perfeitamente sei que tudo o que hoje surge em mim de algum valor, idéia ou sentimento, é obra dessa educação que a sua alma dá à minha, de longe, só com existir e ser compreendida. Se hoje me abandonasse a sua influência - devia antes dizer, como um asceta, a sua Graça – todo eu rolaria para uma inferioridade sem remição. Veja pois como se me tornou necessária e preciosa... E considere que, para exercer esta supremacia salvadora, as suas mãos não tiveram de se impor sobre as minhas – bastou que eu a avistasse de longe, numa festa, resplandecendo. Assim um arbusto silvestre floresce à borda de um fosso, porque lá em cima nos remotos céus fulge um grande sol, que não o vê, não o conhece, e magnanimamente o faz crescer, desabrochar, e dar o seu curto aroma... Por isso o meu amor tinge esse sentimento indescrito e sem nome que a Planta, se tivesse consciência, sentiria pela luz.

E considere ainda que, necessitando de si como da luz, nada lhe rogo, nenhum bem imploro de quem tanto pode e é para mim dona de todo bem. Só desejo que me deixe viver sob essa influência, que, emanando do simples brilho das suas perfeições, tão fácil e docemente opera o meu aperfeiçoamento. Só peco esta permissão caridosa. Veja pois quanto me conservo distante e vago, na esbatida humildade de uma adoração que até receia que o seu murmúrio, um murmúrio de prece, roce o vestido da imagem divina...

Mas se a minha querida amiga por acaso, certa do meu renunciamento a toda a recompensa terrestre, me permitisse desenrolar junto de si, num dia de solidão, a agitada confidência do meu peito, decerto faria um ato de inefável misericórdia – como outrora a Virgem Maria quando animava os seus adoradores, ermitas e santos, descendo numa nuvem e concedendo-lhes um sorriso fugitivo, ou deixando-lhes cair entre as mãos erguidas uma rosa do paraíso. Assim, amanhã, vou passar a tarde com Madame de Jouarre. Não há aí a santidade de uma cela ou de uma ermida, mas quase o seu isolamento: e se a minha querida amiga surgisse, em pleno resplendor, e eu recebesse de si, não direi uma rosa, mas um sorriso, ficaria então radiosamente seguro de que este amor, ou este meu sentimento indescrito e sem nome que vai além do amor, encontra ante seus olhos piedade e permissão para esperar.

Fradique

Extraído de Cartas d' Amor - O efêmero feminino, Garamond

José Maria de Eça de Queiroz (Póvoa de Varzim, 25 de novembro de 1845 — Paris, 16 de agosto de 1900)

2011-11-24

Casa Destelhada - Rodrigues de Abreu

A Plínio Salgado


A minha vida é uma casa destelhada
por um vento fortíssimo de chuva.

(As goteiras de todas as misérias
estão caindo, com lentidão perversa,
na terra triste do meu coração.)

A minha alma, a inquilina, está pensando
que é preciso mudar-se, que é preciso
ir para uma casa bem coberta...

(As goteiras estão caindo,
lentamente, perversamente
na terra molhada do meu coração.)

Mas a minha alma está pensando
em adiar, quanto mais, a mudança precisa.
Ela quer muito bem à velha casa
em que já foi feliz...
E encolhe-se, toda transida de frio,
fugindo às goteiras que caem lentamente
na terra esverdeada do meu coração!

Oh! a felicidade estranha
de pensar que a casa agüente mais um ano
nas paredes oscilantes!
Oh! a felicidade voluptosa
de adiar a mudança, demorá-la,
ouvindo a música das goteiras tristes,
que caem lentamente, perversamente,
na terra gelada do meu coração!


(Do livro: "Casa Destelhada")

Benedito Luís RODRIGUES DE ABREU nasceu em Capivari (SP) a 27 de Setembro de 1897 e morreu em Bauru (SP) a 24 de Novembro de 1927).

Ler do mesmo autor, neste blog:
Mar Desconhecido
Ao Luar
Suprema Glória
Crianças
As Andorinhas

Poema da Eterna Presença - António Gedeão

Estou, nesta noite cálida, deliciadamente estendido sobre a relva,
de olhos postos no céu, e reparo, com alegria,
que as dimensões do infinito não me perturbam.
(O infinito!
Essa incomensurável distância de meio metro
que vai desde o meu cérebro aos dedos com que escrevo!)

O que me perturba é que o todo possa caber na parte,
que o tridimensional caiba no dimensional, e não o esgote.

O que me perturba é que tudo caiba dentro de mim,
de mim, pobre de mim, que sou parte do todo.
E em mim continuaria a caber se me cortassem braços e pernas
porque eu não sou braço nem sou perna.

Se eu tivesse a memória das pedras
que logo entram em queda assim que se largam no espaço
sem que nunca nenhuma se tivesse esquecido de cair;
se eu tivesse a memória da luz
que mal começa, na sua origem, logo se propaga,
sem que nenhuma se esquecesse de propagar;
os meus olhos reviveriam os dinossáurios que caminharam sobre a Terra,
os meus ouvidos lembrar-se-iam dos rugidos dos oceanos que engoliram continentes,
a minha pele lembrar-se-ia da temperatura das geleiras que galgaram sobre a Terra.

Mas não esqueci tudo.
Guardei a memória da treva, do medo espavorido
do homem da caverna
que me fazia gritar quando era menino e me apagavam a luz;
guardei a memória da fome;
da fome de todos os bichos de todas as eras,
que me fez estender os lábios sôfregos para mamar quando cheguei ao mundo;
guardei a memória do amor,
dessa segunda fome de todos os bichos de todas as eras,
que me fez desejar a mulher do próximo e do distante;
guardei a memória do infinito,
daquele tempo sem tempo, origem de todos os tempos,
em que assisti, disperso, fragmentado, pulverizado,
à formação do Universo.

Tudo se passou defronte de partes de mim.
E aqui estou eu feito carne para o demonstrar,
porque os átomos da minha carne não foram fabricados de propósito para mim.
Já cá estavam.
Estão.
E estarão.


in Obra Completa de António Gedeão, Relógio D´Água Editores

António Gedeão (pseudónimo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, n. em Lisboa a 24 Nov 1906; m. 19 Fev 1997)

Ler do mesmo autor:
Impressão Digital
Poema do Amor
Poema das Coisas Belas
Poema das Coisas
Poema do Gato
A um ti que eu inventei
Tempo de Poesia
Tudo é foi
Lição sobre a água
Poema da auto-estrada
Rosa branca ao peito
Pedra filosofal
Lágrima de preta
Minha Aldeia

Violões que choram... - Cruz e Sousa

Ah! Plangentes violões dormentes, mornos,
soluços ao luar, choros ao vento...
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
bocas murmurejantes de lamento,
Noites de além, remotas, que eu recordo.
Noites de solidão, noites remotas
que nos azuis da Fantasia bordo,
vou constelando de visões ignotas.
Sutis palpitações à luz da lua,
anseio dos momentos mais saudosos,
quando lá choram na deserta rua
as cordas dos violões chorosos.

João da Cruz e Sousa (n. em Nossa Senhora do Desterro, actual Florianópolis, Santa Catarina em 24 de novembro de 1861 — m. Estação do Sítio, Minas Gerais a 19 de março de 1898).

Ler do mesmo autor:
Ironia de Lágrimas
Inefável
Vida Obscura
Silêncios
Sorriso Interior
Monja

2011-11-23

Saudades - Francisco Manuel de Melo

Serei eu alguma hora tão ditoso,
Que os cabelos, que amor laços fazia,
Por prémio de o esperar, veja algum dia
Soltos ao brando vento buliçoso?

Verei os olhos, donde o sol formoso
As portas da manhã mais cedo abria,
Mas, em chegando a vê-los, se partia
Ou cego, ou lisonjeiro, ou temeroso?

Verei a limpa testa, a quem a Aurora
Graça sempre pediu? E os brancos dentes,
por quem trocara as pérolas que chora?

Mas que espero de ver dias contentes,
Se para se pagar de gosto uma hora,
Não bastam mil idades diferentes?


In Poemas de Amor, Antologia de poesia portuguesa, Org. de Inês Pedrosa
Lisboa, Dom Quixote, 2001

D. FRANCISCO MANUEL DE MELO nasceu em Lisboa a 23 de Novembro de 1608 e morreu em Alcântara, Lisboa a 13 de Outubro de 1666
Ler do mesmo autor, Junto do manso Tejo que corria
Soneto L Moral (Formusura, e Morte advertidas por um corpo belíssimo, junto à sepultura)

2011-11-22

Benfica empata em Old Trafford, lidera o grupo na Champions e já está qualificado...


Man. United


2-2

Benfica



Benfica mantém invencibilidade na época... mas perdeu Luisão para o derby


O Benfica não podia ter começado o jogo da melhor maneira. Aos 3' já vencia em Old Trafford! Com a equipa a entrar personalizada sofreu um livre mal executado por Nani mas logo voltou para a frente com a equipa a não ter medo de ter iniciativa ofensiva. Gaitán pelo lado direito teve espaço para cruzar para a pequena área e Phil Jones introduziu a bola na baliza de De Gea. O público inglês era posto em silêncio enquanto os cerca de três mil adeptos encarnados estavam esfuziantes.

Demorou a equipa da casa a encaixar o golo e só por volta dos vinte minutos a tão propalada posse de bola passou a ser maioritariamente do Manchester com o português Nani a ser o jogador mais influente. Aos 16' um slalom do internacional português foi travado por Garay que viu o primeiro cartão amarelo do jogo.

Aos 30' de um livre ainda longe da baliza a bola foi metida para a esquerda para Nani que teve tempo e espaço para executar o centro que apanhou Berbatov, vindo de posição irregular, a cabecear para o fundo da baliza de Artur. A equipa de arbitragem turca validou o golo e, assim, por vias ilegais, os ingleses repuseram o empate no marcador.

No minuto seguinte, Young surgiu isolado na área mas Artur defendeu com os pés negando a vantagem ao United. Os avançados ingleses colocavam-se muitas vezes em posição irregular por trás da defensiva encarnada para depois tentarem recolocar-se aquando dos passes mas eram apanhados com frequência em fora de jogo sendo certo que, como se disse, já haviam tirado partido favorável dessa estratégia.

Não foi o caso de uma jogada aos 40' em que Berbatov apanhado em posição irregular atirou ainda para a baliza com Artur a pedir o cartão amarelo para o jogador búlgaro, mas com o árbitro a mostrá-lo, isso sim, ao guarda-redes brasileiro do Benfica.

Se o Benfica começara o jogo da melhor maneira na segunda parte foi o Man. United que entrou com grande pressão ofensiva e o Benfica foi remetido para funções defensivas.

O sufoco era grande e aumentou com uma lesão de Luisão impeditiva de continuar em campo. O Benfica jogou alguns minutos com um homem a menos face à demora na promoção da substituição. Foi já, porém, com Miguel Vítor em campo mas com a equipa algo desorganizada que os ingleses chegariam 2-1. Numa das insistências da equipa da casa a bola foi enviada para o centro da área onde apareceu Darren Fletcher, desmarcado a marcar à vontade o segundo golo inglês. Face ao modo como o jogo decorria foi com alguma surpresa que os encarnados da Luz repuseram, de imediato, a igualdade. Uma bola mal aliviada foi captada por Bruno César na esquerda do ataque do Benfica e com Rodrigo a pedir a bola e ainda Aimar a aparecer o cruzamento foi cortado emúltima instância por Rio Ferdinand mas colocando a bola à disposição de Aimar que fez o empate.

Foi feliz o modo como o Benfica empatou mas a avalanche ofensiva do Man. United do início da segunda parte não voltaria a acontecer. A entrada de Matic aos 68' para substituir Gaitán deu mais consistência ao meio-campo do Benfica com Aimar e Witsel a ter a bola no meio-campo para reequilibrar o jogo apesar do argentino do Benfica, já desgastado, ter que ser substituído por Ruben Amorim (83').

Antes, aos 79', Berbatov, desta vez em posição legal, perdera grande oportunidade de repôr a equipa inglesa à frente ao atirar por cima da barra.

Também o Manchester operou as suas substituições com Chicharito a substituir Valencia aos 82' para logo a seguir Fábio dar o lugar a Smalling.

O Benfica com o empate a dois golos a dar vantagem no confronto directo (face ao empate a um na Luz) pretendeu preservar o precioso empate mas aos 89' Rodrigo (que poucas vezes tocou na bola durante o jogo) teve uma jogada individual que quase dava o triunfo à equipa portuguesa.

Os três minutos de desconto decorreram com grande emoção e sofrimento dos adeptos encarnados que se ouviram permanentemente em Old Trafford e que puderam festejar um empate com sabor a vitória uma vez que garante, desde já a qualificação do Benfica à fase seguinte face à vantagem directa que disfruta em situações de desempate quer frente ao Manchester, como se disse, quer face aos suiços do Basileia (vencedores do jogo em Galati por 3-2 depois de ter granjeado a vantagem de 3-0). Para além disso um triunfo em casa no último jogo frente aos romenos, que não fizeram até agora qualquer ponto, garante o primeiro lugar do grupo independentemente do resultado entre o Basileia e o Manchester. Neste jogo se discute, quem diria, a segunda equipa a qualificar-se sendo que os ingleses têm vantagem de lhes bastarem um empate.

A equipa de arbitragem turca teve uma falha importante ao validar o golo de Berbatov.

Assistência: 74.873 espectadores
Árbitro: Cuneyt Çakir (Turquia)

MANCHESTER UNITED: De Gea, Phil Jones, Ferdinand, Fábio, Evra, Luis Valencia (Javier Hernandez 80'), Carrick, Darren Fletcher, Nani, Young, Berbatov

BENFICA: Artur Moraes, Maxi Pereira, Luisão (Miguel Vítor 58'), Garay, Emerson, Witsel, Javi García, Gaitán (Matic 68'), Aimar (Rúben Amorim 83'), Bruno César, Rodrigo.

Golos: 0-1 Phil Jones (p.b) 3'; 1-1 Berbatov 30'; 2-1 Darren Fletcher 59'; 2-2 Pablo Aimar 61'

Disciplina:
16' Cartão Amarelo para Garay (Benfica) por falta sobre Nani
33' Cartão Amarelo para Darren Fletcher (Manchester Utd.), por falta sobre Maxi Pereira.
40' Cartão Amarelo para Artur Moraes (Benfica), por pedir amarelo a Berbatov.
76' Cartão Amarelo para Carrick (Manchester Utd.), por falta sobre Aimar que saia em contra-ataque.
85' Cartão Amarelo para Maxi Pereira (Benfica) por falta sobre Young. O uruguaio falha o último jogo frente ao Otelul Galati

Perto Do Meu Corpo - Graça Pires

Conheço um rio sem destino,
confluência de mágoas e de sonhos,
onde os barcos navegam para o sul.

Perto do meu corpo nada é interdito,
a não ser um súbito verão
prolongado nas franjas da memória.

Amanhece na espessura dos desejos,
como se a madrugada descrevesse
a violência, em rotação azul,
ou crescessem papoilas nos olhos de quem ama.


Graça Pires (n. Figueira da Foz, 22 de Novembro de 1946)

Blog da autora aqui

Na passagem dos 110 anos do nascimento de Carlos Conde


Ao fim de tantos anos de ser tua
Amaste outra, casaste, foste ingrato;
Vi-te passar com ela à minha rua
Abracei-me a chorar ao teu retrato
Vi-te passar com ela à minha rua
Abracei-me a chorar ao teu retrato

Podia insultar-te quando te vi
Ferida neste amor supremo e farto
Mas vinguei-me a chorar, chorei por ti
Por entre as persianas do meu quarto
Mas vinguei-me a chorar, chorei por ti
Por entre as persianas do meu quarto

Casaste! sê feliz, deus te proteja
Não te desejo mal, e tanto assim
Que não tenho ciúmes nem inveja
Como a tua mulher teve de mim
Que não tenho ciúmes nem inveja
Como a tua mulher teve de mim

Mas olha, meu amor, eu não me importa,
Antes que fosses dela eu já fui tua
Podes sempre bater à minha porta
Mas não passes com ela à minha rua
Podes sempre bater à minha porta
Mas não passes com ela à minha rua


Letra de Carlos Conde (n. a 22 de Novembro de 1901, no Lugar do Monte na Murtosa; faleceu a 13 de Julho de 1981, em Lisboa).

2011-11-21

Ingratidão - Raul de Leoni

Amendoeiras em flor imagem daqui

Nunca mais me esqueci!… Eu era criança
e em meu velho quintal, ao sol nascente,
plantei, com a minha mão ingénua e mansa,
uma linda amendoeira adolescente.

Era a mais rútila e íntima esperança…
Cresceu… cresceu… e, aos poucos, suavemente,
pendeu os ramos sobre o muro em frente
e foi frutificar na vizinhança…

Daí por diante, pela vida inteira,
todas as grandes árvores que em minhas
terras, num sonho esplêndido, semeio,

como aquela magnífica amendoeira,
e florescem nas chácaras vizinhas
e vão dar frutos no pomar alheio…


RAUL DE LEÔNI Ramos nasceu a 30 de Outubro de 1895 em Petrópolis (RJ) e faleceu a 21 de Novembro de 1926 em Itaipava (RJ). Bacharel em Direito (1916) pela universidade do Rio, tentou a carreira diplomática mas, após três meses em Montevideu (Uruguai), desistiu, alegando não poder viver longe do Brasil. Então, tornou-se inspector de uma companhia de seguros e veio a ser deputado à assembleia legislativa do estado do Rio de Janeiro. É um poeta de transição, enamorado da Grécia antiga, de Roma, de Florença, das cidades da Renascença italiana, da cultura mediterrânica e do mundo clássico. Céptico e irónico, a sua poesia é estético-filosófica. O seu autor, quando adolescente, viajara pela Europa. Fora depois ginasta e campeão de natação, mas acabou por morrer tuberculoso. A sua obra, porém, representa uma evasão no espaço e no tempo e não trai a doença, como acontecia com os românticos.

Ler do mesmo autor neste blog:
Decadência
História Antiga
Pudor
Canção de Todos
Legenda dos dias
Soneto I de Sob Outros Céus
Sei de Tudo...

Soneto e nota biobibliográfica acima extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.

2011-11-20

Aqui onde me trouxe o duro fado - Abade de Jazente

Aqui onde me trouxe o duro fado
A passar o melhor da minha idade,
Não tenho mais que a bruta sociedade
De algum tosco vilão que tange o gado.

Tudo o mais é deserto inabitado,
Despenhos, precipícios, soledade,
Que só pode oferecer comodidade
Para algum infeliz desesperado.

Aqui sobre uma penha esmorecido
Fico um dia talvez, e em tal segredo,
Que até nem de mim mesmo sou sentido.

E, então, estupefactos mudo, e quedo
Assi’estou de males aturdido;
Qual junto de um penedo, outro penedo.


in Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI; Selecção, organização, introdução e notas Jorge Reis-Sá e Rui Lage, Porto Editora

Abade de Jazente (Paulino António Cabral de Vasconcelos), nasceu em Reguengo, Amarante a 6 de Maio de 1719 e morreu em Amarante a 20 de Novembro de 1789.
Ler do mesmo autor, neste blog:
Tu Queres Nize Oh Quanto Podes, Quanto
Um dos meus bisavôs foi mercador...;
Amor, é um arder, que se não sente

2011-11-19

Retrato Imperfeito - Maximiano Campos (na passagem do 70º aniversário do nascimento)

De tanto lembrar me esqueço
e é de sonhos que construo
o que vivo e busco e mereço.
E assim recordo
do recordar a lembrança
num tempo em que criança
fui o que hoje sou cópia:
retrato velho e imperfeito
de quem quebrou todos os brinquedos.


Maximiano Accioly Campos nasceu no Recife, PE, em 19 de novembro de 1941, e faleceu nessa mesma cidade em 1998.

2011-11-18

Completas - Manuel António Pina

A meu favor tenho o teu olhar
testemunhando por mim
perante juízes terríveis:
a morte, os amigos, os inimigos.

E aqueles que me assaltam
à noite na solidão do quarto
refugiam-se em obscuros sítios dentro de mim
quando de manhã o teu olhar ilumina o quarto.

Protege-me com ele, com o teu olhar,
dos demónios da noite e das aflições do dia,
fala em voz alta, não deixes que eu adormeça,
afasta de mim o pecado da infelicidade.


in Poesia, Saudade da Prosa - Uma Antologia Pessoal

Manuel António Pina (nasceu em 18 de Nov. 1943 no Sabugal)

Ler do mesmo autor, neste blog:
Lugares da Infância
Amor como em casa
Café do Molhe
Saudade da Prosa

2011-11-17

Quando os governantes não têm vergonha os governados perdem-lhes o respeito

Na passada 3ª feira, durante o debate na especialidade do Orçamento da Segurança Social para 2011, na Assembleia da República o deputado Jorge Machado num discurso acalorado acusou o Governo de querer pôr os portugueses de mão estendida para poder a seguir lhes "oferecer uma malga de sopa".

Dirigindo-se a Pedro Mota Soares perguntou "o sr. Ministro não tem vergonha na cara?", por se atrever a falar da "consciência social do Governo" numa altura em que corta nos salários e aumenta o custo de vida dos portugueses.

A intervenção de Jorge Machado valeu-lhe uma reprimenda do presidente da Comissão de Orçamento e Finanças, Eduardo Cabrita, que dirige os trabalhos, que considerou que o deputado cometeu excessos verbais.

O ministro Pedro Mota Soares ripostou considerando que o deputado comunista foi longe demais: "Conheço-o há muitos anos e nunca questionei a sua consciência social", respondeu, acrescentando que o "País depende de uma assistência externa que obriga ao cumprimento de um conjunto de obrigações. A consciência social do governo revela-se nessa margem de manobra", argumentou.

A ajuda externa e o acordo com a "troika" dão, assim, cobertura para todo o tipo de medidas. A questão fundamental está, isso sim, na seleção das medidas. E convenhamos que pôr sempre os mesmos a pagar (e várias vezes porque são afectados nos diversos tipos (e níveis) de medidas que estão a ser tomadas) não é boa política.

Afinal, «Quando os governantes não têm vergonha os governados perdem-lhes o respeito»

Para Ser Lido Mais Tarde - Mário Dionísio

Auto-retrato de Mário Dionísio 1945



Um dia
quando já não vieres dizer-me Vem
jantar.

quando já não tiveres dificuldade
em chegar ao puxador
da porta quando

já não vieres dizer-me Pai
vem ver os meus deveres

quando esta luz que trazes nos cabelos
já não escorrer nos papéis em que trabalho

para ti será o começo de tudo

Uma outra vida haverá talvez para os teus sonhos
um outro mundo acolherá talvez enfim a tua oferenda

Hás-de ter alguma impaciência enquanto falo
Ouvirás com encanto alguém que não conheço
nem talvez ainda exista neste instante

Mas para mim será já tão frio e já tão tarde

E nem mesmo uma lembrança amarga
ou doce ficará
desta hora redonda
em que ninguém repara


1953
in O Silêncio Voluntário, 1966

Extraído de Poemas Portugueses - Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, Selecção, organização, introdução e notas Jorge Reis-Sá e Rui Lage, Porto Editora

Mário Dionísio (Lisboa, 16 de Julho de 1916 - Lisboa, 17 de Novembro de 1993)

Telha de Vidro - Rachel Queiroz

Quando a moça da cidade chegou,
veio morar na fazenda
na casa velha...
tão velha...
quem fez aquela casa foi seu bisavô...
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
Mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha..a.
A moça não disse nada;
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro,
queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade...

Agora
o quarto onde ela mora
e o quarto mais alegre da fazenda.
Tão clara que, ao meio-dia, aparece uma renda
de arabescos de sol nos ladrilhos vermelhos
que, apesar de tão velhos,
só agora conhecem a luz do dia...

A lua branca e fria
também se mete às vezes pelo claro
da telha milagrosa...
ou alguma estrelinha audaciosa
carateia no espelho onde a moça se penteia...
Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta, fria,
sem um luar, sem um clarão...
Por que você não experimenta?
A moça foi tão bem sucedida?
Ponha uma telha de vidro em sua vida!


Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza - CE, no dia 17 de novembro de 1910 e faleceu no Rio de Janeiro, em 4 de novembro de 2003.

2011-11-16

Não me Peçam Razões... - José Saramago

Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.


in "Os Poemas Possíveis"

José de Sousa Saramago (n. em 16 Nov. 1922 na Azinhaga do Ribatejo; faleceu a 18 de Junho de 2010 em Tías, Lanzarote)

Ler do mesmo autor: Retrato do poeta quando jovem

2011-11-15

Foram seis podia ter sido uma dúzia! Portugal completa o lote de 16 para a fase final do Euro 2012

Bosnia Herzegovina flagPortugal flagPortugal
6-2
Bosnia and Herzegovina



Pareceu que os amigos da Sra. Merkl nos queriam ver fora do Euro...


Último round decisivo para a presença no Euro. Como de costume Portugal adia as decisões sempre até à última hora. Como não havia mais prorrogações de prazo, toca a trabalhar.

Estádio da Luz não esgotou mas estava com boa assistência (cerca de 50 mil). Portugal começa bem e cria lances de perigo logo aos 2' e aos 5'. Aos 8' falta sobre Cristiano Ronaldo, em posição frontal e é Cristiano Ronaldo que vai marcar o livre ... GOLO! Um míssil...

Bósnios lentos e sem ideias, parecem surpreendidos. Portugal carrega, Nani interna-se pela zona central e outro míssil. Grande Golo! Maior ainda do que o primeiro se os golos têm tamanho... 2-0 aos 24' e quase certeza de que vamos ter uma noite descansada.

Portugal agora descansa um tanto e a equipa visitante respira melhor. Cruzamento da esquerda e Dzeko de cabeça atira à barra... mas estava em posição irregular que a arbitragem assinala.

João Moutinho aparece em boa posição pela direita tira o guarda-redes da frente mas perde ângulo pode ainda atirar para a baliza prefere uma assistência para Ronaldo mas a bola não chega ao destino.

Ronaldo grande jogada dá para Postiga este vai antes para o penalty... não, o árbitro mostra amarelo ao avançado português.

Primeira intervenção de Rui Patrício e... penalty contra Portugal. Incrível uma bola praticamente perdida Coentrão parece afastado em falta e desequilibrado com o braço no ar e a bola bate-lhe no braço a arbitragem prefere assinalar a mão em vez do empurrão ao defesa português e a Bósnia reduz por Misimovic... Quem diria? Vamos para o intervalo com uma vantagem mínima quando as estatísticas são arrebatadoras: 9-2 em remates, 4-0 em pontapés de canto, 7-16 em faltas, 56%-44% em tempo de posse de bola.

Portugal começa a segunda parte a ganhar pontapés de canto atrás de pontapé de canto mas não cria perigo nestes lances. Recuperação de bola no meio-campo e João Moutinho lança a desmarcação de Cristiano Ronaldo.., aí vai ele em velocidade isola-se e Golo (53'). Está lá dentro e Portugal descansa novamente. Lulic é expulso por protestos quanto à validação do golo e Portugal tem a tarefa ainda mais facilitada.

Cristiano na área arranja a bola e um defesa - Pepac- corta com o braço. Penalty monumental e ... nada. Inacreditável. Como é possível não assinalar este penalty?

Aos 63' Paulo Bento mexe pela primeira vez na equipa entrando Rúben Micael para o lugar de Raul Meireles e na Bósnia sai Pianic dando o lugar a Muhamed Besic

Logo a seguir golo da Bósnia, Spahic em clara posição de fora de jogo... Senhores da UEFA esta arbitragem é uma vergonha!!!!

Dzeko provoca o público e vê cartão amarelo. Este Postiga não faz nada digo eu. Porque será que ele (entenda-se o treinador) não mete o Hugo Almeida?

Cristiano outra vez pela esquerda após combinação com Fábio Coentrão dá para o meio para Rúben Micael e passe extraordinário deste para a desmarcação de Postiga que de primeira enfia a bola na garagem! GOLO 4-2 e outra vez descomprimimos. Agora já não há hipóteses.

Aos 79' Pepac outra vez com a mão corta uma jogada de perigo - pensava que estava isento - mas agora foi fora da área e o árbitro assinalou. Cristiano ou Miguel Veloso? Miguel Veloso bate em jeito por cima da barreira ao primeiro poste, o guarda-rerdes nem se mexe... Já lá vão 5!!!

E mais um, de cabeça Postiga após cruzamento da esquerda de Coentrão. A equipa de Safet Susic está completamente derrotada e sem argumentos... Vamos chegar aos dez?

Qual quê? Paulo Bento está com medo deles? Tira um ponta de lança (Postiga) e mete um médio (Carlos Martins)? Como é possível?

E ficou assim... só seis!!!
porque Coentrão de cabeça! viu o guarda-redes defender e evitar o golo...
porque Ruben Micael isolado faz a bola passar por cima do guarda-redes mas sai ao lado;
porque... o árbitro não marcara aquele penalty clamoroso...
porque... com tantas interrupções (golos, cartões amarelos, substituições), o árbitro só concedeu um minuto de compensação.

Enfim ... a crise passou por uns dias. Dará até ao próximo fim de semana ou o Ministro das Finanças vai falar outra vez?

Fica uma certeza esta Bósnia nem aos calcanhares chega da selecção de Portugal. Enfim eu, se pudesse, trazia Dzeko para o nosso lado e bastaria. Cristiano Ronaldo é um grande jogador e finalmente fez uma grande exibição na selecção nacional.

A arbitragem alemã não sei se recebeu instruções da senhora Merkl mas pareceu que nos queria ver fora do Euro ... literalmente. Má arbitragem com erros capitais: um penalty contra, um golo contra em fora de jogo... um penalty a favor não assinalado... Não fosse o desnível entre as equipas... e estaríamos a comentar esta arbitragem eternamente...

Ficha do Jogo:
Play-off for Final Tournament, Second leg - 15/11/2011 - 21:00 em Portugal -
Estádio da Luz
Árbitro: Wolfgang Stark (Alemanha)
BÓSNIA E HERZEGOVINA: Begovic; Zahirovic, Jahic, Spahic e Papac; Rahimic (Darko Maletic 56'), e Haris Medunjanin; Lulic, Misimovic e Pjanic (Muhamed Besic 64'); Dzeko.

PORTUGAL: Rui Patrício, João Pereira, Pepe, Bruno Alves, Fábio Coentrão, João Moutinho, Raúl Meireles (Ruben Micael 63'), Miguel Veloso, Nani (Ricardo Quaresma 83'), Hélder Postiga (Carlos Martins 84'), Cristiano Ronaldo.

Golos: 1-0 Cristiano Ronaldo 8'; 2-0 Nani 24'; 2-1Misimovic 40'; 3-1 Cristiano Ronaldo 53'; 3-2 Spahic 65'; 4-2 Postiga 72'; 5-2 Miguel Veloso 80'; 6-2 Hélder Postiga 82'
Disciplina:
22' Cartão amarelo para Spahic (Bósnia e Herzegovina), por protestos.
37' Cartão amarelo para Hélder Postiga (Portugal), por simular grande penalidade.
40' Cartão amarelo para Fábio Coentrão (Portugal) no lance de penalty
44' Cartão amarelo para Rahimic (Bósnia e Herzegovina).
51' Cartão amarelo para Haris Medunjanin (Bósnia e Herzegovina), por falta sobre Raul Meireles.
68' Cartão amarelo para Dzeko (Bósnia e Herzegovina), por protestos.
77' Cartão Amarelo para Rúben Micael (Portugal).
79'Cartão amarelo para Papac (Bósnia e Herzegovina), por mão na bola à entrada da área.

Nos outros três jogos do play-off que tinham já desfecho sentenciado, curiosamente, nenhuma equipa que jogou em casa venceuficou já quase sentenciada a decisão final face ao desequilíbrio verificado no marcador:
Croácia 0-0 (3-0) Turquia
Montenegro 0-1 (0-2) - Rep. Checa
Rép. Irlanda 1-1 (4-0) Estónia

Este Poema De Amor Não É Lamento - Jorge de Lima

Love poem

Este poema de amor não é lamento
nem tristeza distante, nem saudade,
nem queixume traído nem o lento
perpassar da paixão ou pranto que há-de

transformar-se em dorido pensamento,
em tortura querida ou em piedade
ou simplesmente em mito, doce invento,
e exaltada visão da adversidade.

É a memória ondulante da mais pura
e doce face (intérmina e tranquila)
da eterna bem-amada que eu procuro;

mas tão real, tão presente criatura
que é preciso não vê-la nem possuí-la
mas procurá-la nesse vale obscuro.


Extraído de 366 poemas que falam de amor, uma antologia organizada por Vasco da Graça Moura, Quetzal Editores

Jorge Matheus de Lima (nasceu em União de Palmares, Alagoas a 23 de Abril de 1893 e faleceu no Rio de Janeiro a 15 de Novembro de 1953).

Ler do mesmo autor:
O Acendedor de Lampiões
Distribuição Da Poesia
O Mundo do Menino Impossível
Minha Sombra

2011-11-14

Ocultas Mágoas - Mécia Mousinho de Albuquerque

Como sombra que passa fugitiva
Olhos fitos nas pedras da calçada -
Lá vai ela - a Condessa pensativa
Em seu cismar infindo mergulhada!...

Os transeuntes param só por vê-la;
E cada um, ao contemplá-la diz:
«Isto não é mulher...é uma estrela!»
«Um ente assim, como há-de ser feliz!»

Ao banquete de finas iguarias
Onde as flores se espalham nos cristais
Ocultando profundas agonias,
A Condessa engole amargos ais!

Mas os convivas forçam-lhe o sorriso,
E cada um, ao contemplá-la diz:
«Não há mais bela flor no paraíso!»
«Um ente assim...como há-de ser feliz!»

Vibra do baile no ar o mago encanto,
Resplandece a alegria nos semblantes:
Só a Condessa a custo gela o pranto
Que borbulha em seus olhos rutilantes!

As donzelas cobiçam-lhe a frescura,
E cada uma, ao contemplá-la diz:
«Tão rica e formosa... que ventura!»
«Um ente assim... como há-de ser feliz!»

Mas sobre a fria e solitária lousa
Altar funéreo d'um amor ardente
A altas horas a Condessa ousa
Gemer... carpir... chorar eternamente!

E alevantando o seu olhar discreto,
Triste... o coveiro, ao contemplá-la diz:
«Só eu conheço o teu pesar secreto,
Mísera amante... e chamam-te feliz!»


in Poetisas Portuguesas, Nuno Catharino Cardoso, Lisboa. Livraria Scientífica, 1917

Mécia Mousinho de Albuquerque, nasceu em Lisboa, 1870; morreu em Lisboa, 1961

2011-11-13

Noite Triste de Outubro, 1959 - Jaime Gil de Biedma

Definitivamente,
parece confirmar-se que o inverno
que vem, será bem duro.

Adiantaram-se
as chuvas, e o Governo,
reunido em conselho de ministros,
não se sabe se estuda a estas horas
o subsídio de desemprego,
ou o direito ao despedimento,
ou se simplesmente, isolado num oceano,
se limita a esperar que a tempestade passe
e chegue o dia, o dia em que, por fim,
as coisas deixem de chegar mal dadas.

Na noite de outubro,
enquanto leio entre linhas o jornal,
parei a escutar a pulsação
do silêncio no meu quarto, as conversas
dos vizinhos ao deitar-se
todos esses rumores
que ganham de súbito uma vida
e um significado próprio, misterioso.

E pensei nos milhares de seres humanos,
homens e mulheres que neste mesmo instante,
com o primeiro calafrio,
voltaram a perguntar a si próprios pelas suas preocupações,
pela sua fadiga antecipada,
pela sua ansiedade neste inverno,

enquanto lá fora chove.
Por todo o litoral da Catalunha chove
com verdadeira crueldade, com fumo e nuvens baixas,
enegrecendo muros,
encharcando fábricas, penetrando
nas oficinas mal iluminadas.
E a água arrasta para o mar sementes
a germinar, misturadas no barro,
árvores, sapatos coxos, utensílios
abandonados e tudo misturado
com as primeiras letras protestadas.


in Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea, selecção e tradução de José Bento, Assírio & Alvim

Jaime Gil de Biedma y Alba (n. Nava de la Asunción, Segovia, 13 Nov. 1929 - † Barcelona, 8 de Jan. 1990)

Ler do mesmo autor: Canto da Manhã

2011-11-12

Psicologia De Um Vencido - Augusto dos Anjos

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigénesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!


Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (n. no Engenho Pau d'Arco, Paraíba, no dia 20 de abril de 1884; m. em Leopoldina em 12 de Nov. de 1914).

Ler do mesmo autor:
A Minha Estrela
O sonho, a crença e o amor
Budismo Moderno
Ao Luar
A Ideia
Tempos Idos
Versos Intimos
Soneto (canta teu riso...)
Contrastes

2011-11-11

Portugal empatou na Bósnia a zero e adiou decisão para terça-feira

Bosnia Herzegovina flagPortugal flagBosnia-Herzegovina
0-0
Portugal


Pepe foi senhorial e faltou um golo na boa exibição portuguesa...

Portugal fez o terceiro jogo oficial frente à Bosnia-Herzegovina e ainda tem as balizas incólumes. Afinal o ambiente terrível de Zenica foi bem dominado pela selecção portuguesa que durante quase toda a primeira parte mostrou ser superior. É certo que o mau estado do terreno (que ainda por cima foi regado antes do jogo ao contrário do que havia sido acertado em reunião oficial) prejudicava a explanação da maior qualidade técnica dos portugueses mas a equipa jogando com grande espírito de solidariedade e sentido colectivo pressionou a equipa da casa não deixando praticamente que esta se acercasse da baliza de Rui Patrício que teve uma noite tranquila com o primeiro remate bósnio a ocorrer aos 32'!.

Portugal criaria os únicos lances de perigo da primeira parte com Cristiano Ronaldo muito activo (tirou Salihovic do jogo da segunda mão porque viu cartão amarelo) mas foi na segunda parte que se verificaram as melhores oportunidades.

A equipa local reentrou mais avançada em campo e mais perigosa mas foram dos portugueses os primeiros lances de golo. Cristiano Ronaldo servido por um toque de calcanhar por Nani teve oportunidade de visar a baliza mas (queixando-se do terreno) atirou ao lado. Depois na sequência de um pontapé de canto um defesa atrapalhou-se e a bola apareceu à frente de Hélder Postiga (que também vira cartão amarelo perto do final da primeira parte), mas este desperdiçou ao rematar ao lado. Com o público mais empolgado face a um crescente predomínio do meio-campo por parte da equipa local foi Vedad Ibišević (que entrara aos 68' para o lugar de Salihovic) que falhou, por sua vez, duas chances de golo. Na primeira desequilibrou-se e o remate saiu muito ao lado, na segunda à frente de Rui Patrício após lance em que se desmarcou por trás da defesa portuguesa (João Pereira colocou o jogador bósnio em posição legal) com o guarda-redes português praticamente batido atirou por cima da baliza.

As mexidas de Paulo Bento não alteraram a filosofia de jogo (foi homem por homem) mas o treinador Bósnio com as substituições alterou o sistema táctico da equipa para um 4-4-2 que deu trabalho acrescido à defesa portuguesa.

Fica a decisão adiada para a próxima terça-feira no Estádio da Luz esperando que a equipa com a mesma concentração e com melhor "tapete" possa materializar em golos a superioridade futebolística.

O árbitro inglês Howard Webb fez uma boa arbitragem e praticamente sem casos ainda que não tenha sido muito apologista da lei da vantagem. Postiga, que por muito protestar viu o cartão amarelo, viria posteriormente a ter razão em dois lances em que finalmente se livrou do adversário e viu (e ouviu) o jogo interrompido pelo árbitro inglês para marcar faltas favoráveis.

Ficha do Jogo
Play-off for Final Tournament, First leg - 11/11/2011 - 20:00CET (19:00 em Portugal) - Bilino Polje - Zenica
BÓSNIA E HERZEGOVINA: Begovic, Lulic, Jahic, Spahic, Salihovic (Vedad Ibišević 68'), Rahimic, Haris Medunjanin (Darko Maletić 67'), Pjanic, Zahirovic, Misimovic (Senijad Ibričić 86'), Dzeko.


PORTUGAL: Rui Patrício, João Pereira, Pepe, Bruno Alves, Fábio Coentrão, João Moutinho, Raúl Meireles (Ruben Micael 81'), Miguel Veloso, Nani, Hélder Postiga (Hugo Almeida 65') Cristiano Ronaldo.

Golos: Nada a assinalar
Disciplina: 18' Cartão amarelo a Sejad Salihović
42' Cartão amarelo para Hélder Postiga e também para Jahic

Nos outros três jogos do play-off ficou já quase sentenciada a decisão final face ao desequilíbrio verificado no marcador:
Turquia 0 - 3 Croácia
Rep. Checa 2 - 0 Montenegro
Estonia 0 - 4 Rep. Irlanda

Tornou-me o pôr-do-sol um nobre entre os rapazes - Sosígenes Costa

Queima sândalo e incenso o poente amarelo
perfumando a vereda, encantando o caminho.
Anda a tristeza ao longe a tocar violoncelo.
A saudade no ocaso é uma rosa de espinho.

Tudo é doce e esplendente e mais triste e mais belo
e tem ares de sonho e cercou-se de arminho.
Encanto! E eis que já sou o dono de um castelo
de coral com portões de pedra cor de vinho.

Entre os tanques dos reis, o meu tanque é profundo.
Entre os ases da flora, os meus lírios lilases.
Meus pavões cor-de-rosa, os únicos do mundo.

E assim sou castelão e a vida fez-se oásis
pelo simples poder, ó pôr-do-sol fecundo,
pelo simples poder das sugestões que trazes.


Sosígenes Costa (n. em Belmonte BA, 11 Nov.1901 - m. no Rio de Janeiro RJ, em 5 Nov. 1968).
Ler do mesmo autor: Duas Festas no Mar
Chuva de Ouro
O Pavão Vermelho

Para um Livro de Leituras Escolares - Hans Magnus Enzensberger

não leias odes, meu filho, lê antes horários:
são mais exactos, desenrola as cartas marítimas
antes que seja tarde, toma cuidado, não cantes.
o dia vem vindo em que hão-de outra vez pregar as listas
nas portas e marcar a fogo no peito os que digam
não. aprende a passar despercebido, aprende mais do que eu
a mudar de bairro, de bilhete de identidade, de cara,
treina-te nas pequenas traições, na mesquinha
fuga quotidiana. úteis as encíclicas
mas para acender o lume, e os manifestos
são bons para embrulhar a manteiga e o sal
dos indefesos. a cólera e a paciência são precisas
para assoprar-se nos pulmões do poder
o pó fino e mortal, moído por
aqueles que aprenderam muito
e são meticulosos por ti.

Trad. de Jorge de Sena

Hans Magnus Enzensberger (born 11 November 1929 in Kaufbeuren, Germany)

2011-11-10

O louro chá no bule fumegando - Correia Garção



O louro chá no bule fumegando
De Mandarins e Brâmanes cercado;
Brilhante açúcar em torrões cortado;
O leite na caneca branquejando;

Vermelhas brasas alvo pão tostando;
Ruiva manteiga em prato mui lavado;
O gado feminino rebanhado,
E o pisco Ganimedes apalpando:

A ponto a mesa está de enxaropar-nos.
Só falta que tu queiras, meu Sarmento,
Com teus discretos ditos alegrar-nos.

Se vens, ou caia chuva, ou brame o vento,
Não pode a longa noite enfastiar-nos,
Antes tudo será contentamento.


in Poemas Portugueses, Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, selecção, organização, introdução e notas de Jorge Reis-Sá e Rui Lage, Prefácio de Vasco da Graça Moura, Porto Editora

Pedro António Correia Garção (Lisboa, 13 de junho 1724 — Lisboa, 10 de novembro 1772
Ler do mesmo autor: Soneto: Comigo minha Mãe brincando um dia

Momento (Quase) Perfeito - Fernando Semana

Ouço Amália a cantar Ary
«Tudo raso de ausência, tudo liso de espanto»,
com música de Oulman
e desse compositor mor - a Natureza -
com a percussão ritmada da chuva
e som de cordas do vento,
a acrescentar mais beleza.
Leio Torga e bebo um gole
dum quente néctar alentejano:
sabor a amoras e frutos vermelhos,
com leves tons de alcatrão
- diz a prova - é muito bom!
Grande invento feito de uva…

Na mesa uma fatia de bolo
…E o Benfica marca um golo!

O que é preciso mais para a felicidade?

(Que mania de fazer sempre tantas coisas juntas
E, mais ainda, de dormir tenho vontade...)

Nunca temos o momento perfeito se pensamos
E se não pensamos não gravamos o momento
Triste filosofia e lamento
É meu fado… ou será da idade?

Há sempre alguma coisa a mais ou que falta
E no meu coração mora a saudade
A triste ausência do teu olhar…
«E a saudade é tão grande»

Fernando Semana nasceu em Valbom, concelho de Gondomar a 12 de Outubro de 1957

2011-11-09

Impressão... - Pereira da Silva

Era tal meu desgosto nesse dia
Que o próprio coração desfalecia...
E então vi vindo a Morte a passo lento,
Vago, sutil, quase sem movimento.

Era uma virgem de cabelo louro
E manto azul, cheio de estrelas de ouro
E claridade fria e compungente
Como a luz do crepúsculo do Poente.

Vi-a chegar de olhar alheio a tudo,
Mas imóvel no meu, lívido e mudo.

E ou porque se enganasse no lugar
Ou me quisesse apenas avisar
Que a Vida é como um gozo de entremez,
Sorriu-se do meu susto e se desfez...


Pereira da Silva (Antônio Joaquim P. da S.), jornalista e poeta, nasceu em Araruna, Serra da Borborema, PB, em 9 de novembro de 1876, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 11 de janeiro de 1944.

Ler do mesmo autor, no Nothingandall, Nihil

Biografia na Academia Brasileira de Letras

2011-11-08

A 3ª. Edição do BookCrossing Blogueiro decorre hoje !!!!


Em que consiste o BookCrossing Blogueiro?

Por iniciativa do Blog Luz de Luma, yes party! o BookCrossing Blogueiro é uma acção de divulgação da leitura promovido por bloggers e que consiste em "libertar" um livro (intencionalmente deixado num espaço público) de modo a poder ser retomado e lido (assim espero) por alguém.

No livro deve constar um bilhete dando conta da iniciativa, ou seja que o livro não foi perdido, mas antes intencionalmente deixado ao acaso e, até, pode deixar um contacto ou o endereço do blog, o que poderá permitir identificar o rasto da iniciativa.

Nothingandall associa-se ao projecto que vai na sua terceira edição. Como é óbvio o livro que deixei é de Poesia (Poesia do Eu, Obra Essencial de Fernando Pessoa, edição Richard Zenith, Assírio & Alvim - era o livro que tinha mais à mão mas sem dúvida uma boa escolha até porque vou ter de comprar outro igual para mim!). Bom proveito, e um dia cheio de sorrisos, flores e ...poesia.

À MINHA MUSA - Teixeira de Pascoaes

Senhora da manhã vitoriosa
E também do crepúsculo vencido.
Ó senhora da noite misteriosa,
Por quem ando, nas trevas, confundido.

Perfil de luz! Imagem religiosa!
Ó dor e amor! Ó sol e luar dorido!
Corpo, que é alma escrava e dolorosa,
Alma, que é corpo livre e redimido.

Mulher perfeita em sonho e realidade.
Aparição Divina da Saudade...
Ó Eva, toda em flor deslumbrada!

Casamento da lágrima e do riso;
O céu e a terra, o inferno e o paraíso,
Beijo rezado e oração beijada.


( Senhora da Noite )

Teixeira de Pascoaes pseudónimo de Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, nascido no dia 2 de novembro de 1877 em Gatão, Amarante e falecido no dia 14 de dezembro de 1952 em Amarante.

Ler também do mesmo autor neste blog:
A Sombra da Vida (excerto)
Elegia do Amor;
A sombra do Tâmega;
Canção da Névoa;
O Poeta;
Quem és tu? De onde vens?...