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2011-11-23

Saudades - Francisco Manuel de Melo

Serei eu alguma hora tão ditoso,
Que os cabelos, que amor laços fazia,
Por prémio de o esperar, veja algum dia
Soltos ao brando vento buliçoso?

Verei os olhos, donde o sol formoso
As portas da manhã mais cedo abria,
Mas, em chegando a vê-los, se partia
Ou cego, ou lisonjeiro, ou temeroso?

Verei a limpa testa, a quem a Aurora
Graça sempre pediu? E os brancos dentes,
por quem trocara as pérolas que chora?

Mas que espero de ver dias contentes,
Se para se pagar de gosto uma hora,
Não bastam mil idades diferentes?


In Poemas de Amor, Antologia de poesia portuguesa, Org. de Inês Pedrosa
Lisboa, Dom Quixote, 2001

D. FRANCISCO MANUEL DE MELO nasceu em Lisboa a 23 de Novembro de 1608 e morreu em Alcântara, Lisboa a 13 de Outubro de 1666
Ler do mesmo autor, Junto do manso Tejo que corria
Soneto L Moral (Formusura, e Morte advertidas por um corpo belíssimo, junto à sepultura)

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