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2011-03-31

O Benfica-Porto ... já é no domingo!

Em plena crise económica, política e, pior de tudo, de valores, vive-se já o ambiente preliminar dos grandes jogos de futebol. Um grande jogo de futebol em Portugal tem, obviamente, a imprescindível presença do Benfica. No próximo domingo ao Benfica opõe-se o Porto. Infelizmente para mim (e para mais, pelo menos, 5.999.999 pessoas) dada a ordem dos factores classificativos é, neste caso, o Benfica que vai opor-se à celebração, desde já, do título pelo seu adversário e rival nortenho.

Espero que o Benfica ganhe e assim inflija a primeira derrota no campeonato ao Porto e atrase a festa ao futuro campeão nacional que sucederá nesse título ao glorioso emblema da Luz. Mas, em especial, espero que os anfitriões benfiquistas, ao contrário do que tem sucedido no Porto, criem um clima de apoio, sim, à equipa da casa, mas dentro dos princípios de desportivismo tradicional e não mediante a criação de um clima de terror, com provocações e esquemas que extravasem o simples jogo de futebol.

Espero um jogo de futebol e com arbitragem isenta! E não um jogo em que uma equipa joga futebol e a outra joga uma multiplicidade de desportos. Enquanto o Benfica tem um ecletismo desportivo que se consubstancia na prática de um elevado número de modalidades desportivas, cada qual no seu ambiente próprio, o FCP vem-nos habituando à prática de uma pleíade de desportos, simultaneamente, num só jogo (supostamente) de futebol.

Há anos, com jogadores do tipo Bruno Alves e ainda mais antigamente do tipo de Paulinho Santos o Porto num só jogo de futebol praticava modalidades de karaté, full-contact, boxe e outras variantes mais difíceis de classificar (ó José Pratas lembras-te de correr de uma baliza a outra a fugir dos jogadores do Porto, depois de validares um golo limpíssimo do Benfica numa Supertaça?). Esta época vem-nos habituando a, num só jogo de futebol, praticar várias outras modalidades com bola: é andebol, voleibol, basquetebol (sem cesto), golfe... E ninguém com responsabilidades oficiais sobre a matéria, árbitros incluídos, vêem ou, pior ainda, todos vêem e acham tudo natural.

Só o defesa central Rolando já cometeu esta época meia dúzia de faltas dentro da área cortando bolas com a mão ... mas não houve um único penalty marcado por via disso... contra o Porto! A favor as regras são diferentes e parecem-se com aquelas que eu costumava usar nos jogos de futebol de salão com os meus amigos em que não interessava se era a bola que batia no braço ou o braço que batia na bola - contacto com a mão ou braço na bola ou vice-versa era sempre falta! Quantos penalties o Porto já não beneficiou por isso, esta época? Desde a primeira jornada com a Naval...

Espero ainda que o árbitro Duarte Gomes não marque penalties fantasmas como o que marcou num célebre Benfica-Sporting quando Jardel se atirou para o chão (o Benfica, que ganhava por 2-0, acabou empatado 2-2!) ou como Proença marcou no Porto-Benfica de há duas épocas a dez minutos do fim a Yebda e que salvou o Porto da derrota no Dragão, lançando-o, aliás, para o título que conquistaria. Espero ainda que o jogo termine 11 contra 11 e não sempre desequilibrado com os encarnados a acabarem em inferioridade numérica como aconteceu em 2 dos 3 jogos desta época. Até sucedeu no jogo da Taça de Portugal no Dragão com Fábio Coentrão a ser expulso, com meia hora ainda para jogar, por uma falta banalíssima, quando antes o "boxe" de Beluschi sobre o mesmo Fábio Coentrão passou sem sequer cartão amarelo. Nem assim o Porto conseguiu recuperar do 0-2 (é certo que evitou, com prudência, um possível 0-5!!!) E que o critério sobre os arrufos de Luisão punidos (bem) com o cartão vermelho no jogo da primeira volta seja uniforme - já a agressão sobre Cardozo mesmo com 4-0 ou já eram 5-0? não teve igual consequência.

Enfim, não quero ver o Porto a festejar já este fim de semana... mas o mais importante quero ver uma demonstração de fair-play dos meus apaniguados benfiquistas: que as bolas de golf não se esgotem nas lojas da especialidade e que os autocarros do Porto possam voltar à cidade (em ambiente triste pelo resultado) mas em segurança e sem necessidade de recurso ao "Car-glass".

PS: De Duarte Gomes, apesar do erro apontado no texto, tenho-o como árbitro isento. Temo que para o jogo da Taça de Portugal (muito mais importante para o Benfica) possamos ter um árbitro do tipo Elmanos, Benquerenças ou Jorge Sousas...

Encontro Num Elevador / Meeting in a Lift - Vladimir Holan

Entramos só os dois no elevador,
e olhamo-nos sem pensar em mais nada.
Duas vidas, um momento de beatitude e plenitude.
Ela saiu no quarto piso e eu, que saía mais acima,
soube que não a voltaria a ver nunca mais,
que nos tínhamos encontrado na vida uma só vez,
que se a seguisse seria como um morto
e que se ela voltasse para mim
seria do outro mundo.


in Qual é a Minha ou a Tua Lingua; Cem poemas de amor de outras línguas, organização de Jorge Sousa Braga, Assírio & Alvim

Meeting in a Lift

We stepped into the lift. The two of us, alone
We looked at each other and that was all.
Two lives, a moment, fullness, bliss.
At the fifth floor she got out and I went on up
knowing I would never see her again,
that it was a meeting once and for all,
that if I followed her I would be like a dead man in her tracks
and that if she came back to me
it would only be from the other world.


Vladimír Holan (16. Set. 1905 - 31. Mar. 1980)

A confiança - Afonso Celso

Sem ti, a mente se afunda,
Minada em seus alicerces:
Feliz daquela em que exerces
Tua ascendência fecunda.

De quem te adota por guia
Quão segura a diretriz!
Sim! Feliz o que confia,
Feliz, três vezes feliz!

Mas, como o vidro, és frangível.
Não raro, a um gesto, a uma frase,
De chofre vai-se-te a base;
Cais, e, depois, é terrível.

O vidro quebrado corta
A mão que incauta o apertou...
Oh! como a confiança morta,
Coração, te retalhou!

Tudo falácia e quimera...
- Tem talvez sorte bendita
Esse que em nada acredita,
Nada esperou, nada espera.


Afonso Celso de Assis Figueiredo Jr. (n. em Ouro Preto, Minas Gerais, a 31 Mar 1860, m. Rio de Janeiro a 11 Jul 1938)

Ler do mesmo autor, neste blog:
Anjo Enfermo
Rosa
Porto Celeste

2011-03-30

Márcia! Márcia! ai de mim! ...- Natividade Saldanha

Márcia! Márcia! ai de mim! está chegado
O momento cruel, que eu mais temia;
Sinistro mocho, que a meu lado pia,
Há longo tempo o tinha anunciado!

Já deixei o surrão, e o meu cajado
Quebrei a doce flauta, em que tangia,
E o rafeiro fiel, que me seguia,
Definhou; definhou também meu gado.

Tudo acabou; e a negra desventura
Quer que os laços de amor a ausência corte;
Que eu deixe, ó Márcia, a tua formosura.

Céus! que Fado cruel! que imiga sorte
Eu desespero, eu morro ... Ó Parca dura,
Já que Márcia perdi, vem dar-me a morte.


José da NATIVIDADE SALDANHA nasceu em Santo Amaro do Jaboatão (PE) a 8 de Setembro de 1795 e morreu exilado em Bogotá, capital da Colômbia, em 30 de Março de 1830.

Ler do mesmo autor:
À Sombra Deste Cedro Venerando;
Os teus olhos gentis encantadores...

Celeste - Adelino Fontoura

É tão divina a angélica aparência
e a graça que ilumina o rosto dela,
que eu concebera o tipo de inocência
nessa criança imaculada e bela.

Peregrina do céu, pálida estrela,
exilada na etérea transparência,
sua origem não pode ser aquela
da nossa triste e mísera existência.

Tem a celeste e ingênua formosura
e a luminosa auréola sacrossanta
de uma visão do céu, cândida e pura.

E quando os olhos para o céu levanta,
inundados de mística doçura,
nem parece mulher - parece santa.


Adelino Fontoura Chaves (n. em Axixá, Maranhão, Brasil a 30 Mar.1859 – m. em Lisboa, Portugal a 02 Maio 1884)

Ler do mesmo autor:
Fruto Proibido
Atracção e Repulsa
Página Desconhecida
Jornada

Arte de amar - Thiago de Mello

Não faço poemas como quem chora,
nem faço versos como quem morre.
Quem teve esse gosto foi o bardo Bandeira
quando muito moço; achava que tinha
os dias contados pela tísica
e até se acanhava de namorar.
Faço poemas como quem faz amor.
É a mesma luta suave e desvairada
enquanto a rosa orvalhada
se vai entreabrindo devagar.
A gente nem se dá conta, até acha bom,
o imenso trabalho que amor dá para fazer.

Perdão, amor não se faz.
Quando muito, se desfaz.
Fazer amor é um dizer
(a metáfora é falaz)
de quem pretende vestir
com roupa austera a beleza
do corpo da primavera.
O verbo exato é foder.
A palavra fica nua
para todo mundo ver
o corpo amante cantando
a glória do seu poder.


Amadeu Thiago de Mello, nascido a 30 de março de 1926, na pequenina cidade de Barreirinha, Amazónia.

2011-03-29

Cruel

Porque deixaste parecer ser quem eu imaginei?
Porque será que o tempo de ti não me distancia
e ainda sinto saudades de quem eu pensei que queria?
Foste realmente tu que amei ou uma fantasia?
Fere-me a ausência daqueles olhos teus que eu via...
Para que me deste o sonho, se depois me retiraste a esperança?

Ainda e sempre Amália a propósito do 11º. aniversário do falecimento de Alain Oulman

Com que voz chorarei meu triste fado,
que em tão dura paixão me sepultou.
Que mor não seja a dor que me deixou
o tempo, de meu bem desenganado.

Mas chorar não estima neste estado
aonde suspirar nunca aproveitou.
Triste quero viver, pois se mudou
em tristeza a alegria do passado.

Assim a vida passo descontente,
ao som nesta prisão do grilhão duro
que lastima ao pé que a sofre e sente.

De tanto mal, a causa é amor puro,
devido a quem de mim tenho ausente,
por quem a vida e bens dele aventuro.


Poema de Luís Vaz de Camões, música de Alain Oulman

Alain Oulman nasceu a 15 de junho de 1928, em Cruz Quebrada-Dafundo, concelho de Oeiras e faleceu em Paris a 29 de março de 1990)

2011-03-28

A Graça - Alexandre Herculano

Vem do amor a Beleza,
Como a luz vem da chama.
É lei da natureza:
Queres ser bela? – ama.

Formas de encantar,
Na tela o pincel
As pode pintar;
No bronze o buril
As sabe gravar;
E estátua gentil
Fazer o cinzel
Da pedra mais dura...
Mas Beleza é isso? – Não; só formosura.

Sorrindo entre dores
Ao filho que adora
Inda antes de o ver,
– Qual sorri a aurora
Chorando nas flores
Que estão por nascer –
A mãe é a mais bela das obras de Deus.

Se ela ama! – O mais puro do fogo dos céus
Lhe ateia essa chama de luz cristalina:
É a luz divina
que nunca mudou,
É luz ... é a Beleza
Em toda a pureza
Que Deus a criou.

Que harmonia suave
É esta, que na mente
Eu sinto murmurar,
Ora profunda e grave,
Ora meiga e cadente,
Ora que faz chorar?

Porque da morte a sombra,
Que para mim em tudo
Negra se reproduz,
Se aclara e desassombra
Seu gesto carrancudo,
Banhada em branda luz?

Porque no coração
Não sinto pesar tanto
O férreo pé da dor,
E o hino da oração,
Em vez de irado canto,
Me pede íntimo ardor?

És tu, meu anjo, cuja voz divina
Vem consolar a solidão do enfermo,
E a contemplar com placidez o ensina
De curta vida o derradeiro termo?

Oh! Sim! és tu, que na infantil idade,
Da aurora à frouxa luz,
Me dizias: – «acorda, inocentinho,
Faze o sinal da cruz.»

És tu que eu via em sonhos, nesses anos
De inda puro sonhar
Em nuvem d’ouro e púrpura descendo
Co’as roupas a alvejar.

És tu, és tu ! que ao pôr do Sol, na veiga,
Junto ao bosque fremente,
Me contavas mistérios, harmonias
Dos céus, do mar dormente.

És tu, és tu! que, lá, nesta alma absorta
Modulavas o canto,
Que de noite, ao luar, sozinho erguia
Ao Deus três vezes santo.

És tu, que eu esqueci na idade ardente
Das paixões juvenis,
E que voltas a mim, sincero amigo,
Quando sou infeliz.

Sinto a tua voz de novo,
Que me revoca a Deus:
Inspira-me a esperança,
Que te seguiu dos Céus!...


Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo (Lisboa, 28 de Março de 1810 — Quinta de Vale de Lobo, Azóia de Baixo, Santarém, 13 de Setembro de 1877)

Ler ainda no Nothingandall: No Bicentenário do Nascimento de Alexandre Herculano - A Semana Santa; A Rosa

POEMA PARA A EXORCISTA - Mario Vargas Llosa

A minha vida aparece sem condão e
monótona
aos que me vêem
no trabalho árduo da oficina
em manhãs apuradas.
A verdade é muito distinta.
Cada noite eu saio e discuto
contra um espírito malévolo
que, se valendo de
máscaras - cão, grilo,
nuvem, chuva, vagabundo,
ladrão - trata de
se infiltrar na cidade
para estragar a vida humana
semeando
a discórdia.
Apesar dos seus disfarces
sempre a descubro
e a espanto.
Nunca conseguiu enganar-me
nem vencer-me.
Graças a mim, nesta cidade
ainda é possível
a felicidade.
Mas os combates nocturnos
deixam-me exausta e ferida.
E para compensar a minha
guerra contra o inimigo,
peço uns restos
de afecto e de amizade.

Tradução de Pedro Calouste

Version original
POEMA PARA LA EXORCISTA

Mi vida parece sin misterio y
monótona
a quienes me ven
de paso a la oficina
en las mañanas apuradas.
La verdad es muy distinta.
Cada noche debo salir a pelear
contra un espíritu malvado
que, valiéndose de
disfraces -perro, grillo,
nube, lluvia, vago,
ladrón- trata de
infiltrarse en la ciudad
para estropear la vida humana
sembrando
la discordia.
A pesar de sus disfraces yo
siempre lo descubro
y lo espanto.
Nunca ha conseguido engañarme
ni vencerme.
Gracias
a mí, en esta ciudad
todavía es posible
la felicidad.
Pero los combates nocturnos me
dejan exhausta y magullada.
En pago de mis
refriegas contra el enemigo,
les pido unas sobras
de afecto y amistad.

Jorge Mario Pedro Vargas Llosa (n. Arequipa, Perú 28 de março de 1936)

2011-03-27

O Homem e a Morte - Affonso Romano de Sant'Anna

O homem é um animal que enterra seus mortos   
ambiguamente. Os animais
deixam seus pares apodrecerem
à calcinada luz do Sol
e elaboram à luz da Lua
o luto
de suas plumas e pêlos.

Os homens, não. Ambiguamente
enterram os ossos alheios
na medula de seus sonhos.

Por isso
são sepulcros deambulantes
com sempre-vivas nos olhos
exalando suspiros
exalando remorsos
in Poesia Brasileira do Século XX Dos Modernistas à Actualidade
Selecção, introdução e notas de Jorge Henrique Bastos, Edições Antígona

Affonso Romano de Sant'Anna (nasceu em Belo Horizonte a 27 de Março de 1937)

Ler do mesmo autor, neste blog:
Silêncio Amoroso
Arte-final

2011-03-26

Three - Gregory Corso

1.
The streetsinger is sick
crouched in the doorway, holding his heart.
One less song in the noisy night.

2.
Outside the wall
the aged gardener plants his shears
A new young man
has come to snip the hedge

3.
Death weeps because Death is human
spending all day in a movie when a child dies.

— from The Happy Birthday of Death, 1960

Versão em Português

Três
1.
O cantor de rua está mal,
recurvo ao pé da porta, aparando o peito.
Um canto a menos no rumor da noite.

2.
Apartado da muralha
o jardineiro de idade planta suas tesouras
Um novo jovem vem
Espicaçar os ramos da cerca

3.
A morte chora porque a morte é gente
perdendo o dia num filme enquanto morre uma criança.

Tradução Adriandos Delima

Gregory Nunzio Corso (n. Greenwich Village, New York, 26 de março de 1930 - m. 17 de janeiro de 2001, Minnesota)

2011-03-25

O zoo da política nacional

«estamos perante alguém que tem a coluna vertebral de um caracol... este homem é um farsola. ... ainda não é o tempo de ir ao pote... Este homem não vai ganhar eleição nenhuma em Portugal. Graças a Deus e aos portugueses»

É o Silêncio... - Pedro Kilkerry

É o silêncio, é o cigarro e a vela acesa.
Olha-me a estante em cada livro que olha.
E a luz nalgum volume sobre a mesa...
Mas o sangue da luz em cada folha.

Não sei se é mesmo a minha mão que molha
A pena, ou mesmo o instinto que a tem presa.
Penso um presente, num passado. E enfolha
A natureza tua natureza.
Mas é um bulir das cousas... Comovido
Pego da pena, iludo-me que traço
A ilusão de um sentido e outro sentido.
Tão longe vai!
Tão longe se aveluda esse teu passo,
Asa que o ouvido anima...
E a câmara muda. E a sala muda, muda...
Àfonamente rufa. A asa da rima
Paira-me no ar. Quedo-me como um Buda
Novo, um fantasma ao som que se aproxima.
Cresce-me a estante como quem sacuda
Um pesadelo de papéis acima...

...................................................

E abro a janela. Ainda a lua esfia
últimas notas trêmulas... O dia
Tarde florescerá pela montanha.

E ó minha amada, o sentimento é cego...
Vês? Colaboram na saudade a aranha,
Patas de um gato e as asas de um morcego.

Poema extraído daqui

Pedro Militão Kilkerry (n. em Salvador (BA), a 10 de Março de 1885: m. em 25 de Mar. 1917)
Ler do mesmo autor: Ritmo Eterno; Folhas da Alma

2011-03-24

Arco-íris - Olegário Mariano



Choveu tanto esta tarde
Que as árvores estão pingando de contentes.
As crianças pobres, em grande alarde,
Molham os pés nas poças reluzentes.

A alegria da luz ainda não veio toda.
Mas há raios de sol brincando nos rosais.
As crianças cantam fazendo roda,
Fazendo roda como os tangarás:

"Chuva com sol!
Casa a raposa com o rouxinol."

De repente, no céu desfraldado em bandeira,
Quase ao alcance da nossa mão,
O Arco-da-Velha abre na tarde brasileira
A cauda em sete cores, de pavão.


Publicado no livro Canto da Minha Terra (1930).

Olegário Mariano Carneiro da Cunha (nasceu na cidade de Recife, Pernambuco, a 24 de março de 1889. Faleceu no Rio de Janeiro a 28 de Novembro de 1958).

Ler do mesmo autor:
O Conselho das Árvores
O Enterro da Cigarra

A Seta e a Canção - Henry Wadsworth Longfellow

Atirei uma seta ao ar;
Caiu na terra, não sei onde.
Tão veloz ia, que não pôde
Seu voo seguir, o meu olhar.

Murmurei uma canção no ar;
Caiu na terra, não sei onde.
Que vista pode acompanhar
O voo de uma canção ao longe?

Tempos depois, inteira, a seta
Encontrei num carvalho antigo;
E essa minha canção, completa,
Guardou-a um coração amigo.


Trad. A. Herculano de Carvalho

Henry Wadsworth Longfellow (n. Portland, Maine, EUA, 27.02.1807 – Cambridge, Massachusetts, EUA, 24.03.1882)

Versão Original /Original Version

The Arrow and the Song - Henry Wadsworth Longfellow

I shot an arrow into the air,
It fell to earth, I knew not where;
For, so swiftly it flew, the sight
Could not follow it in its flight.

I breathed a song into the air,
It fell to earth, I knew not where;
For who has sight so keen and strong,
That it can follow the flight of song?

Long, long afterward, in an oak
I found the arrow, still unbroke;
And the song, from beginning to end,
I found again in the heart of a friend.

Henry Wadsworth Longfellow (n. Portland, Maine, EUA, 27.02.1807 – Cambridge, Massachusetts, EUA, 24.03.1882)

Versão em português (Portuguese version)

2011-03-23

No; volver a quererte, qué locura... - Ricardo Molinari

No; volver a quererte, qué locura,
qué cielo amargo me envenenaría
el ánimo, la sed, la noche pura
del sueño en que te vuelve a ver el día.

Qué bienaventuranza triste, dura,
es la de abrirme el pecho, tiranía
ardiente sin consuelo, flor oscura
espaciosa: clavel, soledad mía.

Frente de amor, ternura transparente.
No, sin cesar hacia el olvido: río,
niebla, isla, piedra, luna, esfera ausente;

ay, alto aire aterido, sin amigo,
primor inútilmente vuelto al frío,
a la memoria, sin nadie, contigo.


Ricardo Eufemio Molinari (n. 23 Mar 1898 Buenos Aires, Argentina – m. 31 Jul 1996)

2011-03-22

Canção: O lenço com que me acena - Cabral do Nascimento

Imagem daqui

O lenço com que me acena
Tudo o que está para trás,
É coisa já tão pequena
Que me faz chorar a pena
E rir de espanto me faz.

Vejo-o ao longe, a se perder,
A se apagar, a sumir,
Mas não sei, a bem-dizer,
Se ele é que vai a morrer,
Se eu é que vou a fugir.

E o lenço, com que a distância
Me diz adeus lá do seio
Do mar, rasga abismos de ânsia
Entre mim e a minha infância,
Sem deixar nada no meio.


in Cem Poemas Portugueses sobre a Infância, selecção, organização e introdução de José Fanha e José Jorge Letria, Terramar

João Cabral do Nascimento (n. no Funchal, ilha da Madeira em 22 de Março de 1897; m. em 2 de Março de 1978 em Lisboa)

Ler do mesmo autor, neste blog:
Canção: Fui ao Mar Buscar Sardinha
Vão as Águas Nostálgicas do Rio;
Brasil
Adeus
Cantiga

Aos Leitores Amigos - Goethe

Poetas não podem calar-se,
Querem às turbas mostrar-se.
Há de haver louvores, censuras!
Quem vai confessar-se em prosa?
Mas abrimo-nos sob rosa
No calmo bosque das musas.

Quanto errei, quanto vivi,
Quanto aspirei e sofri,
Só flores num ramo - aí estão;
E a velhice e a juventude,
E o erro e a virtude
Ficam bem numa canção.


Johann Wolfgang von Goethe (Frankfurt am Main, 28 de Agosto de 1749 — Weimar, 22 de Março de 1832)

2011-03-21

Benfica não vai ser campeão, mas ninguém joga assim...

Benfica logoPaços de Ferreira logo P. de Ferreira

1-5

Benfica


Nota técnica e nota artística muito elevada
...

Com holandeses, in loco, a espiar os encarnados, estes puseram-nos com olhos esbugalhados nos primeiros vinte e cinco minutos de jogo. Três golos, podiam ter sido cinco... grande mobilidade, variações extraordinárias, defesa pacense desbaratada e iniciativas desequilibrantes de Jara, Aimar, Gaitán, Saviola, enfim...

Cedo se percebeu que este Benfica não era de poupança apesar das ausências de Sidnei, Fábio Coentrão e Salvio. Num lance de bola parada Javi Garcia quase foi "estrangulado" por dois defesas e ainda recebeu uma joelhada... Nunca vira um penalty tão nítido nestas disputas de bola na área em lances de "bola parada": Cohene viu cartão amarelo e Cardozo, mais em jeito do que em força, não falhou e pôs o Benfica em vantagem.

Aos 13' pelo lado direito uma combinação Saviola-Aimar conclui-se com um remate ao primeiro poste do médio argentino do Benfica.

Aos 25' o terceiro golo: um monumento ao futebol, talvez o melhor golo deste campeonato. Jogada ao primeiro toque finalizada com um remate fabuloso de Gaitán após assistência de Cardozo. Vale a pena ver futebol assim...

Mas não se pense que foram três oportunidades, três golos. O Benfica pelo meio teve hipósteses de marcar mais em lances de Jara e de Cardozo.

O Paços de Ferreira viu o jogo mudar nos dez minutos subsequentes. Empolgado por um auto-golo de Carole após livre em jeito de canto curto, o Paços de Ferreira demonstrou que sabe jogar a bola empurrando o Benfica para o meio-campo e estando à beira de fazer o 2-3 num livre frontal de Ozéia com Roberto ainda a desviar a bola e esta a bater no poste...

Os pacenses equilibraram a posse de bola passaram para a frente na estatística dos pontapés de canto mas perderam as suas já remotas possibilidades quando Cohene ultrapassado por Saviola no lado esquerdo do ataque encarnado impede-o de prosseguir em falta e vê o segundo cartão amarelo.

Na segunda parte também não foi preciso muito para perceber que o jogo não iria ter a intensidade da primeira parte. O Benfica confortável no resultado, o Paços de Ferreira querendo (e em certa medida, conseguindo-o) manter a réplica e jogar no campo todo...mas podendo menos, ainda foi pondo a defesa encarnada em sentido, com Jardel a mostrar em certos lances alguma lentidão.

Uma única oportunidade do Benfica com Aimar a receber por trás da defesa um lançamento longo, grande recepção mas o remate não foi suficientemente desviado de Cássio que defendeu com o pé. Com as substituições finais e entrada de Nuno Gomes adivinhou-se que o resultado não ficaria assim. O experiente avançado português mais uma vez mostrou a sua veia goleadora e em cerca de um quarto de hora em campo marcou ...dois golos! Não é preciso muito, basta ser inteligente e saber posicionar-se... O primeiro após defesa de Cássio a remate sem ângulo de César Peixoto a bola sobrou para remate de pé esquerdo de Nuno Gomes, o guarda-redes voltou a defender depois foi de pé direito... O segundo e quinto da equipa e último do jogo outra vez insistência de César Peixoto, desta vez à entrada da área bola sobrante para Nuno Gomes em linha com o último defesa pacense e desvio na bola... sem hipóteses para Cássio.

Triunfo encarnado inapelável com 25 minutos do melhor que se vê por aí...

O Benfica pode evitar assim que o Porto festeje o título no Estádio da Luz.. e para isso basta empatar; mas queremos mais...

Arbitragem de Artur Soares Dias sem grandes polémicas. O penalty é do tamanho da Torre Eiffel e a expulsão sem espinhas... Ainda houve um fora de jogo mal assinalado a Jara no início da segunda parte mas aí a culpa é do assistente...

Paços de Ferreira: Cássio, Baiano, Ozéia, Javier Cohene e Maikón; Manuel José, Filipe Anunciação e Brunio Di Paula (Bura 46'); Mário Rondón, Nélson Oliveira (Rui Caetano 61') e Pizzi (Ammond 71').

Benfica: Roberto, Maxi Pereira, Luisão, Jardel e Carole; Javi Garcia; Gaitán (Carlos Martins 71'), Aimar e Jara; Cardozo (César Peixoto 65') e Saviola (Nuno Gomes 77')

Golos: 0-1 Cardozo (pen) 4'; 0-2 Aimar 13'; 0-3 Gaitán 25'; 1-3 Carole (p.b.) 28'; Nuno Gomes (2) aos 82' e 90'+1'

Disciplina: 4'Cartão Amarelo para Javier Cohene (P. Ferreira) por cometer penalty sobre Javier Garcia.
37' Cartão Amarelo para Maykon (P. Ferreira).
41' Segundo Amarelo e respectivo Vermelho para Javier Cohene (P. Ferreira) por falta sobre Saviola.
69' Cartão Amarelo para Baiano (P. Ferreira), por protestos

Ontem - Nizar Kabanni

1.
Ontem pensei
no meu amor por ti.
Recordei
as gotas de mel nos teus lábios
e lambi o açúcar
das paredes da minha memória.

2.
Por favor
respeita o meu silêncio.
o silêncio é a minha melhor arma.
Escutaste as minhas palavras
quando fiquei silencioso?
Sentiste a beleza do que disse
quando não disse nada?

in Qual é a Minha ou a Tua Língua - Cem poemas de amor de outras línguas, organização de Jorge Sousa Braga, Assírio & Alvim

Nizar Tawfiq Qabbani (Arabic: نزار توفيق قباني‎, Nizār Tawfīq Qabbānī) (n. 21 Mar. 1923 em Damasco, Síria: m. em Londres, em 30 April 1998)

Quando Vier a Primavera - Alberto Caeiro

Primavera

imagem daqui

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

in Poemas Completos de Alberto Caeiro, Recolha, transcrição e notas Teresa Sobral Cunha - Editorial Presença, 1994

Alberto Caeiro, um dos heterónimos de Fernando Pessoa (n., Lisboa, 13 Jun 1888, m. 30 Nov 1935)
O Guardador de Rebanhos- Poema II - O Meu Olhar
O Quê? Valho Mais Que Uma Flor
Para Além da Curva da Estrada
O Guardador de Rebanhos - Poema X
O Tejo é Mais Belo ...

2011-03-20

Duma outra infância, inventada - Reinaldo Ferreira

Duma outra infância, inventada,
Guardo memórias que são
Reais reversos do nada
Que as verdadeiras me dão.

Estas, se acaso regressam,
Em tropel e confusão
Ao limiar-me, tropeçam
No corpo das que lá estão.

Assim, mentindo as raízes
Do meu confuso começo,
Segrego imagens felizes
Com que as funestas esqueço.


in Cem Poemas Portugueses sobre a Infância; selecção, organização e introdução de José Fanha e José Jorge Letria, Terramar
Reinaldo Edgar de Azevedo e Silva Ferreira (n. em Barcelona, a 20 de Março de 1922; m. em Moçambique a 30 de Junho de 1959).

Ler do mesmo autor, neste blog:
Quem dorme à noite comigo
Rosie
Meu Quase Sexto Sentido
Uma Casa Portuguesa
Passemos Tu e Eu Devagarinho

2011-03-19

Poema Suspirado - Rui Diniz

Coimbra Night View - by adores (daqui)

Algures, num momento de silêncio,
neste campo aberto que é a minha vida,
de noite,
sempre de noite – quando a magia acontece,
surge uma forma no vento
e nele,
um poema suspirado.
É certo que os poemas são mesmo efémeros
e as palavras um dia serão nada,
desaparecerão no esquecimento das eras
tal como as peles que vestimos
e os nomes que ostentamos.
O poema que é teu,
trazido pela brisa que na relva fresca te desenha,
um dia não será mais que outra coisa,
acompanhando-nos,
na impiedosa sucessão de formas e sabores
que provamos
e temos de largar.

Mas esse teu suspiro
e essa tua forma
e esse teu poema
e esse teu sentido (tão próximo do meu)
pintaram-se no quadro do horizonte
deste campo aberto que é a minha vida…
e de noite, sempre de noite – quando a magia acontece,
a realidade perceptível da ilusão do universo
colidirá com nossos fogos,
ardendo em uníssono,
dançando no mesmo vento
que agora desenha nós os dois,
que agora suspira o ar quente da cama embriagada,
que nesse momento se deixa entregar…
no mesmo campo aberto que é a nossa vida
e de noite – quando a magia acontece,
àquela pequena parte de um segundo
de uma eternidade passageira.


in Os dias do Amor - Um poema para cada dia do ano, recolha, selecção e organização de Inês Ramos, prefácio de Henrique Manuel Bento Fialho, Ministério dos Livros

Rui Diniz nasceu a 19 de Março de 1979 em Almada

O Assinalado - Cruz e Sousa

Tu és o louco da imortal loucura,
O louco da loucura mais suprema.
A Terra é sempre a tua negra algema,
Prende-te nela a extrema Desventura.

Mas essa mesma algema de amargura,
Mas essa mesma Desventura extrema
Faz que tu'alma suplicando gema
E rebente em estrelas de ternura.

Tu és o Poeta, o grande Assinalado
Que povoas o mundo despovoado,
De belezas etrenas, pouco a pouco...

Na Natureza prodigiosa e rica
Toda a audácia dos nervos justifica
Os teus espasmos imortais de louco!


in Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro

João da Cruz e Sousa (n. em Nossa Senhora do Desterro, actual Florianópolis, Santa Catarina em 24 de novembro de 1861 — m. Estação do Sítio, Minas Gerais a 19 de março de 1898).

Ler do mesmo autor:
Ironia de Lágrimas
Inefável
Vida Obscura
Silêncios
Sorriso Interior
Monja

2011-03-18

E a Vida foi, e é assim, e não melhora - António Nobre


E a Vida foi, e é assim, e não melhora.
Esforço inútil. Tudo é ilusão.
Quantos não cismam nisso mesmo a esta hora
Com uma taça, ou um punhal na mão!
Mas a Arte, o Lar, um filho, António? Embora!
Quimeras, sonhos, bolas de sabão.
E a tortura do Além e quem lá mora!
Isso é, talvez, minha única aflição.
Toda a dor pode suportar-se, toda!
Mesmo a da noiva morta em plena boda,
Que por mortalha leva... essa que traz.
Mas uma não: é a dor do pensamento!
Ai quem me dera entrar nesse convento
Que há além da Morte e que se chama A Paz


António Pereira Nobre (nasceu no Porto a 16 de Agosto de 1867 e foi vítima de tuberculose pulmonar, na Foz do Douro, Porto a 18 de Março de 1900).

Ler do mesmo autor, neste blog:
O Teu Retrato
Na Praia Lá Da Boa Nova Um Dia
À Luz de Lua
Ao Cair das Folhas
Virgens que passais
Carta ao Oceano
A Leão XIII
Menino e Moço
Ladainha
Purinha

2011-03-17

Benfica empata em Paris e está nos Quartos-de-final da Liga Europa

SL Bemficva logoPSG logo
PSG


1-1

Benfica



Golo de Gaitán e boa segunda parte deu merecida qualificação


Vantagem mínima na Luz o Benfica teria toda a conveniência em marcar um golo e aumentar a vantagem não deixando a eliminatória avançar em termos de tempo e ficar sempre com a "corda na garganta com a possibilidade de sofrer um golo e a eliminatória inverter em termos de rumo.
Pois bem o Benfica não marcou assim tão cedo, mas aos 28' passou a ter dois golos de avanço na eliminatória! Num jogo com grande velocidade, as transições eram rápidas de parte a parte e numa delas Gaitán ganhou vantagem na meia-esquerda e de fora da área optou por um remate ao primeiro poste e que enganou Edel inclinado para o outro lado da baliza tentou emendar a sua trajectória, ainda tocou na bola mas ela beijou as malhas interiores da baliza para festejo de cerca de 25 mil portugueses no Estádio.

O jogo, porém, não acalmou e a vantagem dos encarnados (neste jogo de branco, porque os vermelhos eram os franceses) neste jogo durou pouco tempo. Um toque de cabeça de um avançado francês que ganhou nas alturas a Luisão e colocou a bola à mercê de Bodmer que fez um golo de belo efeito (35') ao rematar de pronto, forte, à meia volta. Ainda assim com o jogo empatado a 1-1 o Benfica estava melhor do que com 0-0 uma vez que agora um seguindo golo dos franceses igualaria a eliminatória (mas não dava vantagem aos franceses).

Na segunda parte o Benfica entrou bastante bem, com postura ofensiva, e desta vez não foi muito eficaz. Vários remates (de Cardozo (48'), Saviola (57'), Luisão (61')) colocava os franceses em sentido. Erdinç aos 63' teve remate perigoso por cima da barra e este lance motivou Jesus a alterar o onze. Saviola, muito ausente do jogo, deu o lugar a Carlos Martins mas os franceses ripostaram com a entrada de dois avançados no troca por troca, apostando no físico de Hoarou e na veterania de Giuly.

A cerca de dez minutos do final os franceses apostaram mais na ofensiva com a entrada de Maurice e Roberto viveu dois lances de perigo: uma confusão na área encarnada com defesa de Roberto e alívio posterior da defesa e Roberto a sair após um lançamento em profundidade e a chegar primeiro à bola que Giuly. Respondeu o Benfica com uma iniciativa fabulosa de Fábio Coentrão pelo centro em velocidade a ultrapassar vários adversários e a ser completamente trucidado por Armand que só viu amarelo (bem podia ter sido vermelho!). Nos últimos minutos a equipa encarnada apoiada pelos emigrantes já só queria segurar a bola (desperdiçando um pontapé de canto ao abdicando de atacar) e no último minuto ainda passou por uma aflição, com um francês a escorregar e a perder a oportunidade de visar a baliza quando estava em boa posição pelo lado direito.

No cômputo dos dois jogos o Benfica mereceu ganhar apesar da na primeira parte do jogo da Luz. E se nos lembrarmos dos penalties não marcados na Luz...

Liga Europa, 2ª. Mão dos Oitavos de Final
Parque dos Príncipes, Paris
Árbitro: William Collum (Escócia)

PSG: Edel, Ceará (Maurice 78'), Sakho, Armand, Tiéné; Jallet, Chantôme, Bodmer (Giuly 68'), Makelele; Nené e Erdinç (Hoarau 68')

Benfica: Roberto, Maxi Pereira, Luisão, Sidnei e Fábio Coentrão; Javi Garcia, Salvio Aimar (César Peixoto 80') e Gaitán (Jardel 90'); Cardozo e Saviola (Carlos Martins 64')

Golos: 0-1 Gaitán 28'; 1-1 Bodmer 35'
Disciplina: 31'Cartão Amarelo para Aimar (Benfica).
72'Cartão Amarelo para Chantôme (Paris SG).
78'Cartão Amarelo para Maxi Pereira (Benfica).
82'Cartão Amarelo para Armand (Paris SG).

Uefa Europa League: Portugal is great in Europa League with three teams in eight

Uefa Europa League - Round of 16
Villarreal2-1 (3-2)
Roma
PSG
1-1 (1-2)Benfica
Man. City
1-0 (0-2D. Kyiv
Zenit2-0 (0-3)Twente
Spartak Moskva3-0 (1-0)Ajax
Porto2-1 (1-0)CSKA Moskva
Rangers0-1 (0-0)PSV
Liverpool0-0 (0-1)Braga

The result of the first leg is shown in brackets
xxx Team qualified (in rose)

Qualified by countries:
Portugal 3 : Benfica, FC Porto, Braga
Netherlands 2: PSV, Twente
Russia 1: Spartak Moskva
Spain 1: Villarreal
Ukraine 1: Dynamo Kyiv

Champions League - Round of 16
Shakhtar3-0 (3-2)
Roma
Tottenham0-0 (1-0)Milan
Schalke04
3-1 (1-1)Valencia
Barcelona
3-1 (1-2)Arsenal
Chelsea0-0 (2-0)
Kobenhavn
Bayern
2-3 (1-0)Inter
Man.United
3-1 (0-0)Marseille
Real Madrid3-0 (1-1)Lyon

Qualified by countries:
England 3: Tottenham, Chelsea, Manchester United
Spain 2: Barcelona, Real Madrid
Ukraine 1: Shakhtar Donetsk
Italy 1: Internazionale
Germany 1: Schalke04

Meus olhos que por alguém - António Botto, na voz de Mariza + Nem sequer podia...


Meus olhos que por alguém
deram lágrimas sem fim
já não choram por ninguém
- basta que chorem por mim.
Arrependidos e olhando
a vida como ela é,
meus olhos vão conquistando
mais fadiga e menos fé.
Sempre cheios de amargura!
Mas se as coisas são assim,
chorar alguém - que loucura!
- Basta que eu chore por mim.



2

Nem sequer podia
Ouvir falar no teu nome.
E se fixava o teu vulto,
Irritava-me, sofria
Por não poder insultar-te...

Até que nos encontrámos!

Choviscava, anoitecia.
- uma chuvinha
Impertinente e gelada
Como sorriso de ironia
Numa boca desejada.

Já não sei o que disseste;
Nem me lembro do que disse...

A chuva continuava.
Atravessámos um jardim.
E à luz fosca
Dum candeeiro,
Segredaste ao meu ouvido:
Quero entregar-te o meu corpo.
E eu acrescentei: - Pois sim.

A chuva tornou-se densa.
Eu ia todo encharcado.
Por fim, chegámos; entrei...

Um marinheiro descia
Ajeitando a camisola
E compondo os caracóis.
Era uma casa vulgar
Aonde o amor
- Oculto a todos os Sóis,
Se dava e prostituía
A troco da real mola.

Arrependi-me. Blasfemei;
Mas quando abandonei os teus braços
Senti que tinha mais alma!

E nunca mais te encontrei!


(Ciúme, 1934)
António Tomaz Botto nasceu a 17 de Agosto de 1897, em Casal da Concavada, Abrantes e faleceu no Rio de Janeiro a 17 de Março de 1959)

Ler do mesmo autor, neste blog:

Emoção - Ana Maria Costa

O instante sai entre as palavras
encolhendo os dias nas minhas mãos
Pergunto!
Devo formar exército de lágrimas
ou estar na inocência?
Não!
Pejar o lugar com lágrimas
e suster a voz entre as palavras.

poema daqui

Ana Maria Costa nasceu a 17 de Março de 1966 na Freguesia de Vila Nova da Telha, concelho da Maia

2011-03-16

Hipocrisias e MAIS Agiotas

A situação não está para brincadeiras.

E não estou a referir-me apenas aos acontecimentos catastróficos de origem climatérica ou natural como o recente tsunami no Japão e que caem no âmbito do que se convencionou chamar, em termos jurídicos, "Act of God", se bem que admita que estejam cada vez mais relacionados com os actos dos homens (aqui com letra pequena porque não merecem mais), face à destruição profunda e progressiva dos equilíbrios ecológicos, florestais, camada de ozono, etc…

Mas voltemos à "vaca fria". A situação não está para brincadeiras em termos políticos no norte de África, onde a evoluções mais ou menos democratizantes em alguns países correspondem noutros (Líbia, mas não só) um cada vez mais apertar do cerco de governos totalitaristas que querem perpetuar-se no poder à custa de distribuição de benesses por uma élite política (e militar) e o resto (entenda-se “povo”) que se *oda. O curioso é que quem há poucos meses tinha relações privilegiadas, ou não tendo fomentá-las, agora, que o "tapete" do poder está a fugir, se ponha de fora. Hipocrisias...

A situação não está para brincadeiras em Portugal! Um governo minoritário rosa (bem podia ser de outra cor, porque ao contrário das cores de clubes, eu em matéria política não tenho cor, pelo menos associada a partidos), rosa por ser da cor do PS, mas efectivamente mais púrpura ou roxo, na essência – por ter mais a ver com depressão, morte e nojo - e de fortes tons "socratianos", cada vez mais isolado, que tudo vem fazendo para se esticar no poder bem sabendo que não vai dar a lugar algum, foi em primeiro lugar escondendo a crise – qual crise? – depois reconhecendo-a aos poucos, mas sempre negligenciando (quero crer mais por incompetência do que intencionalmente) a sua verdadeira dimensão, para, agora, PEC atrás de PEC, ir delapidando o Estado Social.

Porém, a hipocrisia dos decisores exógenos ao país que (ainda) somos (que dão pelo nome eufemístico de "mercados" e a que junto a Sra. Merkl), cada vez mais exógenos e exigentes - digo eu na minha interpretação da opinião do Prof. Cavaco Silva, e não digam mal deles, porque eles é que nos deixam funcionar e sobreviver, alegadamente, num discurso miserabilista e impotente de um país que não sabe traçar as suas orientações estratégicas e de rumo de médio/longo prazos - é cada vez mais vincada.

Tomem medidas para reduzir o défice! Medidas sérias e fortes, porque isto não vai de lenitivos e com «papas de linhaça»! Pois bem vamos definir um pacote de aumentos e diminuições: aumentos dos impostos e diminuições dos benefícios, porque diminuições dos custos de funcionamento do Estado esses são bem poucos.

Não chega? Tomem mais medidas de aumentos e diminuições … mais impostos e menos benefícios, com sempre os mesmos a pagar a crise. Como o nome do quadro atribuído a estas medidas foi mal redigido – não estivemos, não estamos em presença de nenhum Programa de Estabilidade e Crescimento, mas sim de Medidas de Aumento de Impostos e Salvaguarda dos Agiotas – ou seja MAIS Agiotas – nós que em 2009 até crescemos 1,4%, em 2010 já não crescemos e vamos até reentrar em depressão económica (porque na outra, psicológica, já lá estamos há vários anos).

E por causa da falta de crescimento ou mesmo recessão os ratings descem mais ainda… e os juros aumentam mais ainda … e por causa do défice temos de tomar mais medidas de aumentos e diminuições: mais aumentos de impostos e mais diminuições de benefícios e regalias sociais (resta alguma?).

Já agora querem saber qual vai ser o défice orçamental projectado para os Estados Unidos da América em 2011?...
...São só 10,9% ! …

Sócrates & Sócrates


- Só sei que nada sei - Sócrates, filósofo grego;

- Só sei que o que dizes um dia, é o contrário do que disseste no outro - sobre Sócrates, político português!

Fiz um conto para me embalar - Natália Correia (já lá vão 18 anos do seu desaparecimento!)


Donzelas na praia - Dacha (foto daqui)

Fiz com as fadas uma aliança.
A deste conto nunca contar.
Mas como ainda sou criança
Quero a mim própria embalar.

Estavam na praia três donzelas
Como três laranjas num pomar.
Nenhuma sabia para qual delas
Cantava o príncipe do mar.

Rosas fatais, as três donzelas
A mão de espuma as desfolhou.
Nenhum soube para qual delas
O príncipe do mar cantou.


Natália Correia (n. na Ilha de S. Miguel, Açores a 13 Set 1923; m. em Lisboa a 16 Mar 1993)
Ler da mesma autora neste blog:
Retrato Talvez Saudoso da Menina Insular
Boletim Meteorológico

2011-03-15

Quando eu, senhora, em vós os olhos ponho - Sá de Miranda

Quando eu, senhora, em vós os olhos ponho,
e vejo o que não vi nunca, nem cri
que houvesse cá, recolhe-se a alma a si
e vou tresvaliando, como em sonho.

Isto passado, quando me desponho,
e me quero afirmar se foi assi,
pasmado e duvidoso do que vi,
m'espanto às vezes, outras m'avergonho.

Que, tornando ante vós, senhora, tal,
Quando m'era mister tant' outr' ajuda,
de que me valerei, se alma não val?

Esperando por ela que me acuda,
e não me acode, e está cuidando em al,
afronta o coração, a língua é muda.


in Os dias do Amor, um poema para cada dia do ano, recolha, selecção e organização de Inês Ramos, prefácio de Henrique Manuel Bento Fialho, Ministério dos Livros.

Francisco de Sá de Miranda (Coimbra, a 28 de agosto de 1481 — Amares, 15 de março de 1558).

Ler do mesmo autor: Cantiga Feita nos Grandes Campos de Roma

2011-03-14

Quem é o palhaço?

«Quando saímos do restaurante Shis, na Foz, fomos subitamente surpreendidos por dois indivíduos quer deram um soco ao Rui, dizendo que era a paga pelos comentários que fazia na TV. Segundo me disseram, estava uma terceira pessoa dentro de um carro a controlar tudo o que se passava. Foi claramente uma emboscada dirigida ao Rui Gomes da Silva. Foi tudo muito rápido: agrediram-no e fugiram.» - estas são as declarações do Presidente da Câmara do Município de Paredes, Celso Ferreira, hoje transcritas em «A Bola» no artigo der José Manuel Delgado com o título: "Quando se branqueia o terrorismo...".

Pois quais foram as afirmações dum senhor chamado Pinto da Costa (de que o ilustre irmão se deve envergonhar): «Podem simular agressões a qualquer palhaço, mas nós vamos continuar o nosso destino e o nosso destino é vencê-los».

Quem é, afinal, o palhaço? Depois de café com leite, fruta de dormir, quinhentinhos, viagens ao Brasil pagas a árbitros nas contas do clube, já estamos habituados a estas palhaçadas... O pior é quem ainda acha graça a este sujeito...


Ahasverus e o gênio - Castro Alves (no Dia da Poesia)

   Sabes quem foi Ahasverus?...— o precito,
O mísero Judeu, que tinha escrito
Na fronte o selo atroz!

Eterno viajor de eterna senda...
Espantado a fugir de tenda em tenda,
Fugindo embalde à vingadora voz!

Misérrimo! Correu o mundo inteiro,
E no mundo tão grande... o forasteiro
Não teve onde... pousar.

Co'a mão vazia — viu a terra cheia.
O deserto negou-lhe — o grão de areia,
A gota d'água — rejeitou-lhe o mar.

D'Ásia as florestas — lhe negaram sombra
A savana sem fim — negou-lhe alfombra.
O chão negou-lhe o pó!...

Tabas, serralhos, tendas e solares...
Ninguém lhe abriu a porta de seus lares
E o triste seguiu só.

Viu povos de mil climas, viu mil raças,
E não pôde entre tantas populaças
Beijar uma só mão ...

Desde a virgem do Norte à de Sevilhas,
Desde a inglesa à crioula das Antilhas
Não teve um coração! ...

E caminhou!... E as tribos se afastavam
E as mulheres tremendo murmuravam
Com respeito e pavor.

Ai! Fazia tremer do vale à serra...
Ele que só pedia sobre a terra
— Silêncio, paz e amor! —

No entanto à noite, se o Hebreu passava,
Um murmúrio de inveja se elevava,
Desde a flor da campina ao colibri.

"Ele não morre", a multidão dizia...
E o precito consigo respondia:
— "Ai! mas nunca vivi!" —

................................
O Gênio é como Ahasverus... solitário
A marchar, a marchar no itinerário
Sem termo do existir.

Invejado! a invejar os invejosos.
Vendo a sombra dos álamos frondosos...
E sempre a caminhar... sempre a seguir...

Pede u'a mão de amigo — dão-lhe palmas:
Pede um beijo de amor — e as outras almas
Fogem pasmas de si.

E o mísero de glória em glória corre...
Mas quando a terra diz: — "Ele não morre"
Responde o desgraçado: — "Eu não vivi!..."
in Rosa do Mundo, 2001 Poemas Para o Futuro, Porto Editora

António Frederico de CASTRO ALVES nasceu em Muritiba (BA) a 14 de Março de 1847 e morreu, em São Salvador (BA) a 6 de Julho de 1871

De Castro Alves já divulgámos aqui neste blog Boa Noite, O Adeus de Teresa; Adormecida
Beijo Eterno; Mocidade e Morte; Horas de Saudade

2011-03-13

Benfica empata pela primeira vez na Liga esta época, em casa, contra o último!

Portimonense logoBenfica logo
Benfica


1-1

Portimonense


Benfica já atirou a toalha ao chão...


Já se sabia que o Benfica tinha vários jogadores impedidos para este jogo mas não se esperava uma equipa de reservas. Até o guarda-redes mudou. Depois pôr ao mesmo tempo Luís Filipe, Roderick, Carole (estreou-se!), Felipe Meneses, César Peixoto (enfim, este tem jogado mais vezes...) Jorge de Jesus pôs a equipa a jeito...

E se nos primeiros minutos o Portimonense defensivo e até a mostrar-se medroso deixou o Benfica dominar e dar (falsas) esperanças de que poderia ganhar com facilidade - Kardec logo aos cinco minutos obrigou Ventura a defender um remate de cabeça após cruzamento de Jara -, a equipa algarvia passou, com o comando de Candeias, a também a ameaçar a baliza de Moreira. Aos 26' após um canto marcado sem perigo, Aimar perde a bola à saída da defesa e Lito, de fora da área, enviou a bola à barra. Passados dois minutos, num lance aparentemente inofensivo Roderick não chegando com a cabeça mete a mão à bola e o árbitro assinalou o competente penalty que Ricardo Pessoa não desperdiçou.

O Portimonense a ganhar na Luz e os reservistas do Benfica a baixarem de rendimento com um futebol pastoso e lento onde só Jara mostrava capacidade de dinamização.Aos 39' Airton à boca da baliza após livre de Aimar atira cruzado ao lado falhando uma grande oportunidade para empatar o jogo.

Ao intervalo Jesus tira Carole e Felipe Menezes para entrarem Gaitan e Salvio, mas nomeadamente o segundo entrou mal no jogo logo fazendo um cruzamento parta a bancada. À equipa do Portimonense bastava mostrar-se concentrada no meio-campo defensivo para sem grandes problemas ir conservando a vantagem; os visitantes poderiam até ter decidido o jogo definitivamente a seu favor se Moreira novamente batido não tivesse visto um chapéu de Hélder Castro bater no poste aos 75'.

Nesta altura já estava Nuno Gomes em campo a substituir Aimar. Assumiu a condição de capitão de equipa e dum pontapé de canto com Ventura a fazer um milagre evitando o golo de cabeça de Jardel, a bola ficou ali a sobrevoar a zona perto da baliza e Nuno Gomes aproveitou para marcar o seu segundo golo na Liga e estabelecer o empate.

Como nos quatro anteriores jogos no Estádio da Luz o Benfica esteve sempre a perder por (0-1) e o resultado final foi 2-1, os adeptos acreditaram que se poderia repetir a reviravolta. Mas também se percebeu que o caudal de jogo, a velocidade e a pressão sobre o adversário não era, desta vez, idêntica. Jara ainda motivou Ventura a nova grande defesa e já com o tempo de desconto expirado, o Benfica beneficiou de um livre perigoso que Kardec atirou à baliza mas com pouca força, defendendo Ventura.

O Benfica mais fraco da época empatou com a equipa mais fraca da Liga. Agora já todas as equipas experimentaram todos os resultados possíveis. A equipa da Luz era a única que ainda não empatara esta época.O Campeonato já está mais do que decidido mas a questão que se levante é se o motor do Benfica de tanta cilindrada não terá dado o berro... Quinta-feira, no jogo de Paris para a Liga Europa, saberemos...

O árbitro é do tipo de marcar faltinhas e mais faltinhas, mas se todas as arbitragens fossem imparciais como esta...

Uma nota final para o estranho discurso do treinador do Portimonense. Dedicou o resultado a tanta gente ...que mais parecia ter ganho o Nobel...

Estádio da Luz: Cerca de 30 mil
Árbitro: Paulo Baptista

Benfica: Moreira, Luís Filipe, Roderick, Jardel e Carole (Salvio ao interv.), Airton, Felipe Menezes (Gaitan ao int.) Aimar (Nuno Gomes 70') e César Peixoto; Kardec e Jara

Portimonense: Ventura, Ricardo Pessoa, André, Ricardo Nascimento; Soares e Elias; Candeias, Pedro Moreira (Vilas Boas 85')e Lito (Di Fábio 73'); Calvin (Hélder Castro 62')

Golos: 0-1 28' Ricardo Pessoa (de grande penalidade); 1-1 Nuno Gomes
Disciplina: 28'Cartão Amarelo para Roderick por mão na bola, no lance do penalty
33'Cartão Amarelo para César Peixoto (Benfica), por suposta simulação.
38'Cartão Amarelo para André Pinto (Portimonense), por falta sobre César Peixoto.
84'Cartão Amarelo para Soares (Portimonense).
89'Cartão Amarelo para Ricardo Nascimento (Portimonense)

Itervm - Tristão da Cunha

imagem daqui

Há muito tempo já que eu vou perdendo
os sonhos, um a um, pelo caminho:
- Sangue dum anho ingênuo, cor d'arminho,
de calvário em calvário perecendo.

No alto dum monte, a luz que eu ia vendo,
diante de mim cantando como um ninho,
fria beijou-me o rubro desalinho,
e atrás de mim no escuro foi descendo.

Hoje os olhos se voltam como preces
para as memórias, em que há luas mortas,
e tu, morta, que morta não pareces!

Sobre esta alma de dúvida e agonias
caia a luz desses olhos, dessas portas
onde esperam o sol as almas frias.


Tristão da Cunha (n. no Rio de Janeiro em 13 de Março de 1878; m. a 29 de Junho de 1942).

TRISTÃO DA CUNHA foi o pseudónimo escolhido por José Maria Leitão da Cunha F.º, que, em 13 de Março de 1878 nasceu no Rio de Janeiro, onde morreu a 29 de Junho de 1942. Aluno da faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais, concluiu o bacharelato em 1900. Advogado, poeta e prosador (contos e ensaios), redigiu de 1910 a 1928 a secção brasileira da revista simbolista «Mercure de France». Tímido e arredio, conciliava um ideário político democrático com uma sensibilidade aristocrática, o requinte esteticista e o refinamento da linguagem com uma espontaneidade e fluência eivada de melancolia. Um título significativo: «Torre de Marfim» (1901).

Nota biobliográfica extraída de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria É a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004).

Ler do mesmo autor no Nothingandall: Aniversário

2011-03-12

Management Lesson (XII) - Fábula da ratoeira

Um rato, olhando pelo buraco na parede, vê o fazendeiro e sua esposa abrindo um pacote.

Pensou logo no tipo de comida que haveria ali.

Ao descobrir que era uma ratoeira ficou aterrorizado.

Correu ao pátio da fazenda advertindo todos:

- Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa!

A galinha disse:

- Desculpe-me Sr. Rato, eu entendo que isso seja um grande problema para o senhor, mas não me prejudica em nada, não me incomoda.

O rato foi até ao porco e disse:
- Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira!

- Desculpe-me Sr. Rato, disse o porco, mas não há nada que eu possa fazer, a não ser rezar. Fique tranquilo que será lembrado nas minhas orações.

O rato dirigiu-se à vaca. E ela respondeu:
- O quê? Uma ratoeira? Por acaso estou em perigo? Acho que não!

Então o rato voltou para casa abatido, para encarar a ratoeira.

Naquela noite ouviu-se um barulho, como o da ratoeira pegando a sua vítima.

A mulher do fazendeiro correu para ver o que havia acontecido.

No escuro, ela não viu que a ratoeira havia aprisionado a cauda de uma cobra venenosa.

E a cobra picou a mulher... O fazendeiro levou-a imediatamente ao hospital.

Ela voltou com febre.

Todo o mundo sabe que para alimentar alguém com febre, nada melhor do que uma canja de galinha.

O fazendeiro pegou no seu cutelo e foi providenciar o ingrediente principal.

Como a doença da mulher continuava, os amigos e vizinhos vieram visitá-la.

Para alimentá-los, o fazendeiro matou o porco.

A mulher não melhorou e acabou morrendo. Muita gente veio para o funeral e o fazendeiro,, vendo, também a sua vida andar para trás, acabou por sacrificar a vaca.

Moral da História:

Na próxima vez que você ouvir dizer que alguém está diante de um problema e acreditar que o problema não lhe diz respeito, lembre-se que quando há uma ratoeira na casa, toda a fazenda corre riscos. O problema de um é um problema de todos!

Saudade - Gilka Machado

De quem é esta saudade
que meus silêncios invade,
que de tão longe me vem?

De quem é esta saudade,
de quem?

Aquelas mãos só carícias,
Aqueles olhos de apelo,
aqueles lábios-desejo…

E estes dedos engelhados,
e este olhar de vã procura,
e esta boca sem um beijo…

De quem é esta saudade
que sinto quando me vejo?

Gilka da Costa Melo Machado (nasceu no Rio de Janeiro a 12 de Março de 1893 e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), no dia 11 de dezembro de 1980).

Ler ainda da mesma autoria, neste blog:
Esboço
Símbolos

2011-03-11

Poema da Menina Tonta - Manuel da Fonseca



A menina tonta passa metade do dia
a namorar quem passa na rua,
que a outra metade fica
pra namorar-se ao espelho.

A menina tonta tem olhos de retrós preto,
cabelos de linha de bordar,
e a boca é um pedaço de qualquer tecido vermelho.

A menina tonta tem vestidos de seda
e sapatos de seda,
é toda fria, fria como a seda:
as olheiras postiças de crepe amarrotado,
as mãos viúvas entre flores emurchecidas,
caídas da janela,
desfolham pétalas de papel...

No passeio em frente estão os namorados
com os olhos cansados de esperar
com os braços cansados de acenar
com a boca cansada de pedir...

A menina tonta tem coração sem corda
a boca sem desejos
os olhos sem luz...

E os namorados cansados de namorar...
Eles não sabem que a menina tonta
tem a cabeça cheia de farelos.


Manuel Lopes da Fonseca (n. em Santiago do Cacém a 15 Out 1911 ; m. em Lisboa a 11 Mar 1993)

Ler do mesmo autor:
Estradas
Segundo dos Poemas de Infância
Ruas da Cidade
Os olhos do poeta
Romance do terceiro oficial de finanças

Vida da minha vida - Torquato Tasso

Vida da minha vida
tu me pareces azeitona pálida,
ou bem uma rosa esquálida,
mas de beleza és diva,
e em qualquer modo sempre me és querida,
ou anelante, ou esquiva;
e quer fujas, quer sigas,
suavemente me destróis e obrigas


Trad. de Jorge de Sena

in Os dias do amor, um poema para cada dia do ano, Ministério dos Livros

Torquato Tasso (Sorrento, 11 de março de 1544 — Roma, 25 de abril de 1595)

2011-03-10

Benfica dá a reviravolta mas fica (outra vez) desconfortável...

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2-1

PSG



Será sina das estrelas não marcar penalties na Luz?

Um jogo para uma fase adiantada duma prova europeia importante com dois clubes de nome, mas duas equipas com problemas. O Benfica com muitos jogadores em estado físico debilitado, com os alas Gaitán e Salvio a jogarem no onze inicial mas a serem dos principais afectados. Aimar no banco. O treinador do PSG, também, em gestão de esforço para o campeonato preferiu prescindir de alguns titulares importantes, designadamente Giuly e Makelele.

O Benfica vindo de uma derrota comprometedora em Braga (e de arbitragem que o prejudicou) nos primeiros cinco minutos ameaçou marcar com Apoula Edel a salvar o remate de Gaitan depois de ter feito asneira ao dar um punho na bola para a frente. Mas não foi preciso esperar muito para perceber que a defesa do Benfica estava em noite desastrada. Aos 6' Erdinç apareceu descaído pela direita, ultrapassou Luisão e Roberto teve de defender junto ao relvado perigoso remate. Aos 10' canto para o Paris SG, marcado por Nenê e Traoré aparece na área a cabecear, mas rematando por cima da baliza. O Benfica ainda teve aos 11' uma situação de perigo com Coentrão pela esquerda a centrar e a aparecer Salvio a cabecear mas ao lado. Aos 15' os franceses inauguraram o marcador. Muito espaço concedido a Nenê (foi um dos melhores do PSG no jogo) a vir da esquerda para o centro e a assistir Luyindula (no limite do fora de jogo), que na cara de Roberto, atirou para o fundo da baliza do Benfica.

O desnorte encarnado foi grande e o 0-2 esteve perto de acontecer várias vezes, a primeira delas passado apenas dois minutos após o primeiro golo, com Erdinç a rematar ao poste. Sidnei mostrava-se muito nervoso a falhar vários passes e a pôr constantemente a defesa encarnada em polvorosa. Aos 26' de um livre a bola foi desviada ligeiramente ao lado da baliza do Benfica e Roberto também teve de intervir noutra vez com felicidade. Mas o Benfica, sem jogar com solidez, antes aos repelões, também criava oportunidades. Um remate de Carlos Martins desviou num defesa, o guarda-redes ficou batido mas a bola saiu por cima da barra. Num livre de Cardozo forte e colocado o guarda-redes francês fez defesa vistosa para canto.

Com um Benfica a demonstrar irregularidade, a querer jogar rápido demais e a perder a bola com frequência permitindo transições rápidas do adversário, foi com felicidade que a Luz festejou o empate aos 41'. Carlos Martins fez sobrevoar a bola para as costas da defesa francesa (que também mostrava vulnerabilidades), Maxi entrou bem, dominou com o peito e já em queda, de pé direito, fez um golo a autêntico "matador". Foi um Benfica em alta que terminou a primeira parte, mas nos primeiros dez minutos da segunda o Benfica andou atrás da bola. O jogo, mudaria a partir daí, os franceses recuaram mais para o seu meio-campo e o Benfica passou a atacar mais. Com as substituições (entradas de Jara e Aimar) pressentiu-se que só o Benfica poderia ganhar. E tal poderia ter começado a acontecer aos 72' se o árbitro (ou o assistente - em jogada anterior tivera a iniciativa para ser marcada uma falta do Gaitan) tivesse assinalado um penalty sobre Saviola do tamanho, não propriamente da torre Eiffel, da Torre de Belém que já é significativamente grande... Certamente não lhe devem ter dado "café com leite" nem sequer "fruta" (daquela de dormir), e nem o ar comprometido de Camara motivaria o árbitro checo a tomar a única decisão possível: assinalar grande penalidade e mostrar cartão amarelo (no mínimo) ao defesa francês. Mas aos 81' lá chegou o golo encarnado, numa jogada de Aimar que largou à entrada da área para Jara que dominou com o pé esquerdo, viu-se rodeado de adversários, e de pé direito atirou cruzado e colocado dando vantagem à equipa da casa.

Tentou ainda o Benfica um terceiro golo que daria uma vantagem muito boa, mas o jogo terminou com o mesmo resultado e a mesma ordem de golos do jogo da eliminatória anterior com o Estugarda. Oxalá o desfecho final seja semelhante ... mas para a semana os benfiquistas vão sofrer...

Estádio da Luz
Round of 16, First leg - 10/03/2011 - 21:05CET (20:05 local time) - Estádio do Sport Lisboa e Benfica - Lisbon
Árbitro: Pavel Kralovec (CZE), Assistentes: Miroslav Zlamal (CZE) e Martin Wilczek (CZE)
BENFICA: Roberto, Maxi Pereira, Luisão, Sidnei, Fábio Coentrão, Javi García, Salvio (Jara 66'), Carlos Martins (César Peixoto 85'), Gaitán (Aimar 71'), Saviola, Cardozo.

PARIS SG: Edel, Ceará, Armand, Traoré, Makonda (Makhedjouf 75'), Camara, Chantôme, Luyindula (Maurice 44'), Erdinç, Bodmer (Kebano 70'), e Nenê.

Disciplina: 26' Cartão Amarelo para Salvio (Benfica), por impedir a progressão de Makonda (PSG).
30' Cartão Amarelo para Armand (Paris SG), por falta sobre Maxi (Benfica).
39' Cartão Amarelo para Ceará (Paris SG), por falta sobre Fábio Coentrão.
83' Cartão amarelo para Nenê (Paris SG), por protestar uma falta não assinalada.
90'+ 1 Cartão Amarelo para Camara (Paris SG) por falta sobre Cardozo.

Disse-te adeus e morri - Vasco de Lima Couto, na voz de Amália



Disse-te adeus e morri
E o cais vazio de ti
Aceitou novas marés.
Gritos de búzios perdidos
Roubaram dos meus sentidos
A gaivota que tu és.

Gaivota de asas paradas
Que não sente as madrugadas
E acorda noite a chorar.
Gaivota que faz o ninho
Porque perdeu o caminho
Onde aprendeu a sonhar.

Preso no ventre do mar
O meu triste respirar
Sofre a invenção das horas,
Pois na ausência que deixaste,
Meu amor, como ficaste,
Meu amor, como demoras.


Vasco de Lima Couto (Porto, 26 de Novembro de 1923 - Lisboa, 10 de Março de 1980)

Do mesmo autor ler (e ouvir) no Nothingandall:
Noite na voz de António Mourão
Retrato
Pomba Branca na voz de Max e no duo Paulo de Carvalho + Dulce Pontes

Prelúdio - Bernardo Guimarães

Neste alaúde, que a saudade afina,
Apraz-me às vezes descantar lembranças
De um tempo mais ditoso;

De um tempo em que entre sonhos de ventura
Minha alma repousava adormecida
Nos braços da esperança.

Eu amo essas lembranças, como o cisne
Ama seu lago azul, ou como a pomba
Do bosque as sombras ama.

Eu amo essas lembranças; deixam n'alma
Um quê de vago e triste, que mitiga
Da vida os amargores.

Assim de um belo dia, que esvaiu-se,
Longo tempo nas margens do ocidente
Repousa a luz saudosa.

Eu amo essas lembranças; são grinaldas
Que o prazer desfolhou, murchas relíquias
De esplêndido festim;

Tristes flores sem viço! - mas um resto
Inda conservam do suave aroma
Que outrora enfeitiçou-nos.

Quando o presente corre árido e triste,
E no céu do porvir pairam sinistras
As nuvens da incerteza,

Só no passado doce abrigo achamos
E nos apraz fitar saudosos olhos
Na senda decorrida;

Assim de novo um pouco se respira
Uma aura das venturas já fruídas,
Assim revive ainda

O coração que angústias já murcharam,
Bem como a flor ceifada em vasos d'água
Revive alguns instantes.


Bernardo Joaquim da Silva Guimarães (Ouro Preto, 15 de agosto de 1825 — 10 de
março de 1884)

Ler do mesmo autor neste blog: Se eu de ti me esquecer