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2011-03-27

O Homem e a Morte - Affonso Romano de Sant'Anna

O homem é um animal que enterra seus mortos   
ambiguamente. Os animais
deixam seus pares apodrecerem
à calcinada luz do Sol
e elaboram à luz da Lua
o luto
de suas plumas e pêlos.

Os homens, não. Ambiguamente
enterram os ossos alheios
na medula de seus sonhos.

Por isso
são sepulcros deambulantes
com sempre-vivas nos olhos
exalando suspiros
exalando remorsos
in Poesia Brasileira do Século XX Dos Modernistas à Actualidade
Selecção, introdução e notas de Jorge Henrique Bastos, Edições Antígona

Affonso Romano de Sant'Anna (nasceu em Belo Horizonte a 27 de Março de 1937)

Ler do mesmo autor, neste blog:
Silêncio Amoroso
Arte-final

2 comentários:

Lúcia Laborda disse...

Querido Fernando; não sei o motivo dos animais largarem os companheiros mortos, expostos, porque eles têm a prática de enterrar ossos, etc.
Esse é um poema para reflexão.
Bom domingoe boa semana! Beijos

tulipa disse...

Faz HOJE 2 anos que a TÂNIA partiu.
Este poema tem coisas muito certas:

Os homens, não. Ambiguamente enterram os ossos alheios na medula de seus sonhos.

Por isso são sepulcros deambulantes
com sempre-vivas nos olhos exalando suspiros exalando remorsos

Posso levá-lo?
Beijos meus.

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