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2011-03-15

Quando eu, senhora, em vós os olhos ponho - Sá de Miranda

Quando eu, senhora, em vós os olhos ponho,
e vejo o que não vi nunca, nem cri
que houvesse cá, recolhe-se a alma a si
e vou tresvaliando, como em sonho.

Isto passado, quando me desponho,
e me quero afirmar se foi assi,
pasmado e duvidoso do que vi,
m'espanto às vezes, outras m'avergonho.

Que, tornando ante vós, senhora, tal,
Quando m'era mister tant' outr' ajuda,
de que me valerei, se alma não val?

Esperando por ela que me acuda,
e não me acode, e está cuidando em al,
afronta o coração, a língua é muda.


in Os dias do Amor, um poema para cada dia do ano, recolha, selecção e organização de Inês Ramos, prefácio de Henrique Manuel Bento Fialho, Ministério dos Livros.

Francisco de Sá de Miranda (Coimbra, a 28 de agosto de 1481 — Amares, 15 de março de 1558).

Ler do mesmo autor: Cantiga Feita nos Grandes Campos de Roma

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