Há muito tempo já que eu vou perdendo
os sonhos, um a um, pelo caminho:
- Sangue dum anho ingênuo, cor d'arminho,
de calvário em calvário perecendo.
No alto dum monte, a luz que eu ia vendo,
diante de mim cantando como um ninho,
fria beijou-me o rubro desalinho,
e atrás de mim no escuro foi descendo.
Hoje os olhos se voltam como preces
para as memórias, em que há luas mortas,
e tu, morta, que morta não pareces!
Sobre esta alma de dúvida e agonias
caia a luz desses olhos, dessas portas
onde esperam o sol as almas frias.
Tristão da Cunha (n. no Rio de Janeiro em 13 de Março de 1878; m. a 29 de Junho de 1942).
Nota biobliográfica extraída de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria É a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004).
Ler do mesmo autor no Nothingandall: Aniversário
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