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2011-10-31

Mãos Dadas - Carlos Drummond de Andrade

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

in Poesia Brasileira do Século XX, Dos Modernistas à Actualidade, selecção, introdução e Notas de Jorge Henrique Bastos, Antigona

Carlos Drummond de Andrade (n. Itabira, 31 de Outubro de 1902 — m. Rio de Janeiro, 17 de Agosto de 1987).

Ler do mesmo autor neste blog:
Além da Terra, além do Céu,
Quero
O amor antigo
Indagação
Amar
Qualquer Tempo
A Língua Lambe
Quarto em Desordem
A Falta de Érico
A Hora do Cansaço

2011-10-30

Recordar - Alfredo Guisado

Lembram botões eléctricos os meus olhos.
Chego os dedos a eles e carrego.
Acendem-se de imagens. Fico cego...
Sinto que as coisas morrem nos teus olhos.

Há entre mim e a Noite um reposteiro.
Pressinto-o no meu ao vê-lo. Ânsia perdida...
Eu próprio às vezes julgo ser ponteiro
No relógio que marca minha Vida.

E vejo a minha infância ser de seda.
Ando com ela ao colo pela alameda
é um eco de mim em idas naves...

Cai-me na cor do Outrora cinza preta.
E sinto o meu passado na gaveta
Da cómoda a que alguém perdeu as chaves.


in Cem Poemas Portugueses do Adeus e da Saudade
Selecção, organização e introdução de José Fanha e José Jorge Letria
Terramar

Alfredo Pedro de Meneses Guisado (nasceu a 30 de Outubro de 1891 em Lisboa, onde faleceu a 2 de Dezembro de 1975).

Ler do mesmo autor:
Outrora
Apagou-se por fim o incerto lume;
O Baloiço
Um Poema de "Elogio da Desconhecida" - Alfredo Guisado

2011-10-29

Bis de Rodrigo no triunfo tangencial do Benfica frente ao Olhanense

Benfica logoOlhanense logo
Benfica

2-1

Olhanense


Aos 13' o Benfica ganhava 2-0... Luisão evitou o empate ao minuto 90



Os benfiquistas acabam de ver este jogo e ficam com uma sensação de alguma frustração. Com um golo logo aos 29 segundos... e outro aos 13 minutos (ambos por Rodrigo em jogadas rápidas iniciadas pelo lado direito do ataque) e um domínio total... fica-se com a ideia que a equipa encarnada começou cedo demais a pensar no jogo da Champions da próxima quarta-feira.

Sem pressão defensiva do Olhanense (a primeira parte terminou com cinco faltas no jogo 1 do Benfica e 4 da equipa visitante) a velocidade inicial encarnada, com grande mobilidade dos jogadores, criou buracos suficientes para fazer os dois golos conseguidos e obter pelo menos outros tantos... mas a falta de concentração (ai Aimar como é possível perder aquela bola... em que estavas isolado e deixaste a bola bater no calcanhar e fugir...) e um pensamento de poupança fizeram a equipa baixar de rendimento nos últimos minutos da primeira parte, salvando o Olhanense do naufrágio.

No onze inicial Jesus surpreendeu ao meter Rodrigo e Cardozo ao mesmo tempo enquanto Maxi, recuperado da lesão, jogou desde o princípio ao fim. Sem poder contar com Javi Garcia (lesionado e ausência também quase certa para 4ª. feira) foi Matic que fez de pivot defensivo. Ao intervalo saiu Aimar para entrar Witsel e foi também mais um sinal... de redução de actividade.

Também Daúto Faquirá, treinador do Olhanense, que ainda na primeira parte fizera entrar o jovem (e rápido) Salvador Agra para o lugar do chileno Figueroa, meteu ao intervalo Nuno Piloto não reentrando em campo Dady.

Pouco tempo passado na segunda parte e a equipa visitante sem nada ainda ter feito marcou na Luz: lance também pela direita, cruzamento de João Gonçalves para trás da defensiva encarnada e Wilson Eduardo reduziu para 2-1.

O Benfica tremeu e Luisão teve de fazer falta para travar Salvador, vendo o cartão amarelo e dando origem a um livre perigoso que foi desperdiçado contra a barreira. A lembrança do jogo com o Gil Vicente (o Benfica esteve a ganhar 2-0 com Aimar em campo e com a saída dele - coincidência? - o Gil Vicente chegou ao empate), perpassou durante algum tempo.

Depois de ter travado quando a inclinação era favorável, tal como um carro, quando o caminho já era a subir (entenda-se o ânimo do adversário aumentou) o Benfica já não conseguiu acelerar. Ainda assim passado o efeito da surpresa do 2-1 o meio-campo encarnado reequilibrou-se após a entrada de Nolito.

O Benfica chegou ao 3-1 por Cardozo aos 69' e que daria outra tranquilidade (e provavelmente poderia repor a possibilidade de goleada) após livre de Witsel. Houve cabeceamento de Luisão ao primeiro poste e Cardozo encostou para golo. Mas o lance foi invalidado pelo fiscal de linha por suposto fora de jogo quando realmente o jogador do Benfica estava em posição regular. Mas já estamos habituados: enquanto o rival marca dois golos em fora de jogo (contra o Nacional) que são validados o Benfica marcou este golo legal mas que não valeu...

O jogo foi até ao fim com resultado tangencial e surpreendeu a pouca disponibilidade do Olhanense para buscar o empate. O guarda-redes do Olhanense demorava e demorava na reposição da bola nos pontapés de baliza como se tivesse feito alguma aposta de que não sofria mais de dois golos..., em vez de acelerar o jogo na perspectiva ambiciosa de um empate.

A verdade é que já no minuto 90 Djalmir (que entrara para os quinze minutos finais) após cruzamento de Wilson Eduardo finalizou com remate que visaria a baliza encarnada não fosse um desvio com o pé de Luisão a ceder pontapé de canto e a salvar o triunfo encarnado que, na última jogada do desafio na sequência desse canto, em contra-ataque poderia ter permitido a Saviola engordar.

Enfim...

De futebol de bilhar de grande envolvimento colectivo e velocidade dos primeiros 20 minutos o Benfica quis descansar cedo demais e depois teve de se preocupar impedindo até a preparação do jogo europeu (em que não pode contar com Emerson, que, verdade se diga, está em rendimento descendente) uma vez que Jesus já não arriscou a entrada do jovem Luís Martins. Apostamos que Jesus irá meter Ruben Amorim na direita, passando para a esquerda Maxi, até porque quem jogar a lateral esquerdo no Benfica terá que contar com a oposição do melhor jogador suiço (Xaquiri).

Na próxima quarta-feira vão ser exigidas mais concentração e regularidade para o Benfica conseguir garantir a passagem, desde já, aos oitavos de final da Champions

Num jogo tão fácil de arbitrar não se pode dar nota positiva à arbitragem de Masrco Ferreira quando se influencia o resultado por decisão errada, apresar da culpa ser do assistente.

Estádio da Luz
Assistência 35.319 espectadores
Árbitro: Marco Ferreira
BENFICA: Artur Moraes, Emerson, Garay, Maxi Pereira, Luisão, Bruno César, Matic, Gaitán, Aimar (Witsel ao int.), Rodrigo, Cardozo (Saviola 81').

OLHANENSE : Fabiano Freitas, Mexer, Ismaily, João Gonçalves, André Pinto, Figueroa (Salvador 36'), Cauê, Mateus (Djalmir 75'), Fernando Alexandre, Wilson Eduardo, Dady (Nuno Piloto ao int.).

Golos: Rodrigo 2 aos minutos 1' e 13; 2-1 Wilson Eduardo 47'
Disciplina: 51'Cartão Amarelo para Luisão (Benfica).
76' Cartão Amarelo para Djalmir (Olhanense).

Os Cantos Da Montanha - Elena Bono

Só quem todos os dias vai morrer
pode cantar assim
Era como cantariam
as torrentes
as grandes ervas brancas
a montanha
O vosso coração continha tudo
dentro de si:
ervas, águas, montanha,
humano coração
maior que a morte


Trad. Jorge de Sena
in Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Porto Editora

Elena Bono nasceu em Sonnino, Lazio, em 29 Out. 1921

Repouso - Adalgisa Nery

Dá-me tua mão
E eu te levarei aos campos musicados pela
canção das colheitas
Cheguemos antes que os pássaros nos disputem
os frutos,
Antes que os insetos se alimentem das folhas
entreabertas.
Dá-me tua mão
E eu te levarei a gozar a alegria do solo
agradecido,
Te darei por leito a terra amiga
E repousarei tua cabeça envelhecida
Na relva silenciosa dos campos.
Nada te perguntarei,
Apenas ouvirás o cantar das águas adolescentes
E as palavras do meu olhar sobre tua face muito
amada.


De As Fronteiras da Quarta Dimensão (1951)

Adalgisa Maria Feliciana Noel Cancela Ferreira (Rio de Janeiro, 29 de outubro de 1905 — Rio de Janeiro, 7 de junho de 1980),

2011-10-28

Poema de Amor - Natércia Freire

Teu rosto, no meu rosto, descansado.
Meu corpo, no teu corpo, adormecido.
Bater de asas, tão longe, noutro tempo,
Sem relógio nem espaço proibido.

Oh, que atónitos olhos nos contemplam,
Nos sorriem, nos dizem: Sossegai!
Românticos amantes, viajantes eternos,
Olham por nós na hora que se esvai!

Que música de prados e de fontes!
Que riso de águas vem para nos levar?
Meu rosto, no teu rosto de horizontes,
Meu corpo, no teu corpo, a flutuar.


in Os dias do Amor, um poema para cada dia do ano, recolha, selecção e organização de Inês Ramos, prefácio de Henrique Manuel Bento Fialho

Natércia Ribeiro de Oliveira Freire nasceu em Benavente, a 28 de Outubro de 1919 - faleceu em 17 de Dezembro de 2004.

2011-10-27

Desaparecido - Carlos Queiroz

Sempre que leio nos jornais:
"De casa de seus pais desapar'ceu..."
Embora sejam outros os sinais,
Suponho sempre que sou eu.

Eu, verdadeiramente jovem,
Que por caminhos meus e naturais,
Do meu veleiro, que ora os outros movem,
Pudesse ser o próprio arrais.

Eu, que tentasse errado norte;
Vencido, embora, por contrário vento,
Mas desprezasse, consciente e forte,
O porto de arrependimento.

Eu, que pudesse, enfim, ser eu!
- Livre o instinto, em vez de coagido.
"De casa de seus pais desapar'ceu..."
Eu, o feliz desapar'cido!


in Rosa do Mundo - 2001 Poemas para o Futuro - 3ª Edição
Porto 2001 Capital Europeia da Cultura - Assírio & Alvim

José Carlos Queiroz Nunes Ribeiro (n. Lisboa 5 Abr 1907; m. 27 Out 1949)

Do mesmo autor, neste blog:
Amizade
Na Cidade Nasci
Erótica
Apelo à Poesia
Uma história vulgar
Pastoral
LIBERA-ME
Canção Grata

Lorelei - Sylvia Plath

imagem extraída daqui

Não existe nenhuma noite para nos afogarmos:
lua cheia, um rio correndo
negro sob um suave reflexo de espelho,

névoas azuis da água gotejando
de malha para malha como redes de pesca
embora os pescadores durmam,

torres sólidas do castelo
multiplicando-se num espelho
todo ele silêncio. Mas estas formas flutuam

em minha direção, perturbando o rosto
da quietude. Do nadir
erguem os seus membros plenos

de opulência, cabelos mais pesados
que o mármore esculpido. Cantam
um mundo mais cheio e límpido

do que aquele que existe. Irmãs, a vossa canção
traz uma carga demasiado pesada
para ser escutada pelas espirais do ouvido,

aqui, num país onde um sensato
senhor governa equilibradamente.
Ao serem perturbadas pela harmonia

que existem além da ordem deste mundo,
as vossas vozes fazem um cerco. Estais alojadas
nos recifes em declive do pesadelo,

prometendo um abrigo certo;
de dia, estendem-se para além dos limites
da inércia, das saliências

que existem também nas altas janelas. Pior
ainda que esta canção de enlouquecer
é o vosso silêncio. Na origem

do apelo do vosso coração gelado
- a embriaguez das grandes profundezas.
Ó rio, como vejo serem arrastadas

lá no fundo do teu curso de prata,
aquelas grandes deusas da paz.
Pedra, pedra, leva-me lá para baixo.

Tradução de Maria de Lourdes Guimarães

Sylvia Plath (n. Boston, Massachusetts, 27 Out. 1932; m. Londres 11 Fev. 1963 -suicídio-)

Ler também:
Mirror / Espelho
Mad Girl's Love Song
Canção de amor da jovem louca

Trovas - Carolina Azevedo de Castro

Sou austera e destemida
quando o momento requer;
mas nos teus braços, vencida,
Sou simplesmente mulher.

Quanto esta vida seria
difícil de suportar,
se não fosse essa mania
que a gente tem de sonhar!

Quantas vezes, sem maldade,
dizemos que estamos sós...
E é quando Deus, na verdade,
está mais perto de nós!

Um carro de boi gemendo,
um longo apito de trem,
uma porteira rangendo,
isto é saudade também!

Não é quando vais embora
que tenho ciúmes assim,
é quando estás como agora,
pensativo, junto a mim.

A casinha... o verde monte...
o caminho... a velha estância...
Mas... que fizeram da ponte
onde eu pescava na infância?...

Há três coisas que a mulher
consegue fazer de um nada;
- uma intriguinha qualquer,
um chapéu e uma salada!...


Carolina Azevedo de Castro nasceu em Recife (PE) em 27 de outubro de 1909 e faleceu em 31 de agosto de 1977

Mais sobre a autora aqui

2011-10-26

A negra terra - Manuel Rivas

Samba 1925 - Di Cavalcanti
Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo
(Rio de Janeiro 6 Set. 1897 - Rio de Janeiro 26 Out. 1976)

De falar, falarei coa terra.
A terra verdadeira,
a negra terra
onde prende a raíz.
A terra que se pisa.
A terra que se queima e que se crava.
Ese enorme lenzo onde o home debuxa o seu capricho.
Onde o home se perde e se revolve en sombras.
A negra terra,
ese corpo de puta vella con dentes amarelos de tabaco,
con olleiras negras de tan azuis.
De falar, só con ela falarei
e falarei coas mans,
docemente coas unllas,
coa paixón dun amante,
como falan, cando albiscan a morte, os
xabaríns feridos.
De falar, falarei coa terra.
Coa terra, con esa negra terra
que cospe, como sangue do peito, primaveras.

Manuel Rivas Barrós (Corunha, 26 de Outubro de 1957)
Poema extraído daqui

2011-10-25

Tuas cartas rasguei - Humberto de Campos

imagem daqui

Tuas cartas rasguei uma por uma:
cento e catorze páginas e tiras
de juramentos, de promessas, em suma
de perfídias, de sonhos, de mentiras.

Mas... chorei ao rasgá-las! Tinha alguma
cousa a implorar nelas por ti; e as iras
foram-se e, agora, cólera nenhuma
neste peito haverá, por mais que o firas.

Eram mentiras, eu bem sei... No entanto,
cada rompida página era um cardo
que enterrava no peito em cada canto.

E eis porque, ajoelhado, após instantes,
os pedaços juntei... e agora os guardo
com mais amor do que os guardava dantes!


Humberto de Campos (n. Miritiba, 25 Out 1886; m. Rio de Janeiro, 5 Dez 1934)

in A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa - Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, CRL, 2004

Ler neste blog, do mesmo autor:

Dream Songs - 366 - John Berryman

Mo's Irish pub


Chilled in this Irish pub I wish my loves
well, well to strangers, well to all his friends,
seven or so in number,
I forgive my enemies, especially two,
races his heart, as so much magnanimity,
can it all be true?

Mr Bones, you on a trip outside yourself.
Has you seen a medicine man? You sound will-like,
a testament & such.
Is you going? —Oh, I suffer from a strike
& a strike & three balls: I stand up for much,
Wordsworth & that sort of thing.

The pitcher dreamed. He threw a hazy curve,
I took it in my stride & out I struck,
lonesome Henry.
These Songs are not meant to be understood, you understand
They are only meant to terrify & comfort
Lilac was found in his hand.

(em português)

Enregelado neste bar irlandês faço votos de felicidade
aos meus amores, aos estranhos, a todos os seus amigos,
que somam cerca de sete,
perdoo aos meus inimigos, a dois em particular,
desafio o seu coração, tanta magnanimidade,
poderá tudo ser verdade?

- Sr. Bones, você numa viagem para fora de si.
Você foste a um curandeiro? Soa a póstumo,
testamento & tudo.
Será que parte? - Oh, sofro de um ataque
& um ataque & três bolas: represento muito,
Wordsworth & esse tipo de coisas.

O lançador sonhava. Atirou uma curva nebulosa,
apanhei-a de passagem & lancei-a fora,
solitário Henry.
Estas canções não são para serem entendidas, entendes.
São apenas para aterrorizar e confortar.
Encontraram lilás na sua mão.

Trad. José Alberto Oliveira
in Rosda do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Porto Editora

John Allyn Berryman (b. October 25, 1914 in McAlester, Oklahoma, USA; d. January 7, 1972)

2011-10-24

O Que Não Se Recorda - Luis Rosales

  Para voltar a ser feliz era
somente preciso ser hábil
ao recordar.
Buscávamos
dentro do coração nossas lembranças.
A alegria talvez não tenha história.
Ao olhar para dentro de nós dois
ficávamos calados.
Teus olhos eram
como um rebanho quieto
que seu tremor reúne sob a sombra
do álamo.
O silêncio
pôde mais que o esforço.
Anoitecia
para sempre no céu.
Não pudemos voltar a recordá-lo.
No mar a brisa era um menino cego.
Trad. José Bento, in Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro
Luis Rosales Camacho (n. Granada, 31 de maio de 1910 – m. Madrid, 24 de out. de 1992)

Rios - Amadeu Amaral


Rio Douro imagem daqui

Almas contemplativas! Vão rolando
por esta vida, como os rios quietos...
Rolam os rios – árvores e tectos,
céus e terras, tranquilos, espelhando;

vão reflectindo todos os aspectos,
num serpentear indiferente e brando;
espreguiçam-se, límpidos, cantando,
no remanso dos sítios predilectos;

fecundam plantações, movem engenhos,
dão de beber, sustentam pescadores,
suportam barcos e carreiam lenhos...

Lá se vão, num rolar manso e tristonho,
cumprindo o seu destino sem clamores
e sonhando consigo um grande sonho.

Amadeu Ataliba Arruda Amaral Leite Penteado nasceu em Capivari (SP) a 6 de Novembro de 1875 e faleceu em São Paulo a 24 de Outubro de 1929. Chegou em 1888 à capital do estado e, em 1921, abordou o Rio de Janeiro, mas depressa regressou a São Paulo. Foi jornalista e conferencista, dedicou-se ao magistério particular, notabilizou-se pelos seus estudos folclóricos e foi pioneiro de estudos dialectológicos. Como poeta, integrou-se na transição do parnasianismo para o simbolismo.

Soneto e nota biobibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado - Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe - Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.

Ler do mesmo autor, neste blog:
Soneto da Serpente
Lua
Voz Íntima
Versos Nevoentos
Sonho der Amor

2011-10-23

O fim é lindo - Fabrício Carpinejar

Minha casa é estranhamente regulada. Quando uma lâmpada queima, as outras vão junto. É um boicote que aumenta em minutos para testar a paciência. O gás da cozinha falta bem no momento da janta, e logo de madrugada, com o objetivo de me constranger ao telefone com uma lista infindável de entregadores. Se o computador estraga, o chuveiro também e o microondas sofre problemas de circuito. Confio que os aparelhos se imitam e conversam entre si. Devem reivindicar melhores condições de trabalho e uso, cobrar insalubridade, ou estão cansados das extensões e da sobrecarga indevidas. O certo é que minha casa é grevista. Insurgente. Nunca acontece de algo quebrar isoladamente.

Cheguei a minha residência depois de uma série de viagens. E mal acendi a luz, puf, puf, puf. Meu dedo estalou em cada interruptor. Teve até choque. Foi patético, para não dizer desanimador. Corredores mexendo as sombras, as paredes escorrendo a cegueira.

Mas, um pouco antes de explodirem, as lâmpadas aumentaram sua fosforescência. Puxaram todo o resto de força para refulgirem a extinção. Estenderam seus aros como nunca antes, com a potência de um refletor.

O mesmo ocorreu com o gás de cozinha, a chama das bocas subiu com perigosa curiosidade. Poderia ouvir o fogo gemer. Ele escurecia as bordas das panelas com sua assinatura. Quase formava os dedos de uma mão.

Conclui que o fim é lindo.

Assim como as luzes da casa e do fogão, o amor perto do desastre não se economiza. Não mais se contém. É desesperadamente transparente.

Um casal diante do fim terá a grande noite de sua vida por não prever uma próxima. Sairá do esconderijo porque não se vê mais seguro. Mostrará do que é capaz. Queimará o que guardou, não fará mais nenhum jogo, esquecerá a sedução e os conselhos dos amigos. Mais intensidade do que intenção.

É o escândalo da verdade. Tímidos se transformam em terroristas, calmos ficam enervados, pacientes se portam como histéricos. Por um instante, não há medo de fazer as propostas mais desvairadas, confessar palavras reprimidas, estender os olhos como um lençol limpo.

O fim é lindo. Do crepúsculo, de uma vela, de uma chuva. O fim é esperançoso, exigente. Pancadas de beleza. O som e o sol pulam como um suicida ao avesso para dentro da vida.

Extraído daqui

Fabrício (Carpi Nejar) Carpinejar nasceu em Caxias do Sul – RS, em 23 de outubro de 1972

2011-10-22

Benfica ganha tangencialmente em Aveiro com golo de Cardozo

Benfica logo
Beira Mar

0-1

Benfica

Com golo de Cardozo Benfica ultrapassou as dificuldades dos jogos pós-Europa

Depois do triunfo em Basileia para a Champions League o Benfica deslocou-se a Aveiro que assistiu à maior afluência de público da época com cerca de vinte mil espectadores, na maioria adeptos encarnados.

Jesus que já não podia contar com Maxi Pereira (lesionado) deixou no banco Javi Garcia (entrou Matic), Aimar e Gaitán. A equipa de Aveiro só marcou três golos até agora, aliás, todos num só jogo (frente ao Guimarães, que lhe valeram a única vitória) mas ostenta o rótulo de melhor defesa do campeonato. E, desde logo, os primeiros minutos fizeram adivinhar um desfecho escasso em golos.

O Benfica entrou com bom ritmo mas a equipa aveirense com as "linhas" próximas entre si quase sempre tinha os onze jogadores atrás da linha da bola e as dificuldades encarnadas, apesar de 2/3 do tempo na posse de bola, em penetrar na defesa local foram evidentes. Com Matic no meio-campo defensivo a não intervir na fase inicial de construção dos lances de ataque, o Benfica saía com a bola da defesa quase sempre pelas alas, até que Saviola recuou para servir de elo de ligação ao jogo ofensivo do Benfica, num meio-campo em que Witsel (mais uma vez) demonstrou ser um grande jogador.

Foi numa abertura ampla de Saviola que surgiria o único golo do jogo: a defesa aveirense estava avançada (coisa rara) e ao lançamento de Saviola para terreno livre acorreram Cardozo, um defesa aveirense (o número 4) e o guarda-redes Rui Rego. Este chegou primeiro mas o pontapé saiu mal ao guarda-redes aveirense, a bola subiu e veio para trás aproveitando Cardozo para, de cabeça, direccioná-la para a baliza.

Não podia ter sido melhor para a equipa encarnada este golo que levou as equipas para os balneários com espíritos diferentes após uma primeira parte em que escassearam as oportunidades sendo de registar para além do golo um lance concluído por Artur aos 16' com um remate ligeiramente acima da barra da baliza do outro Artur e uma incursão de Witsel pela esquerda que finalizou com um centro onde não apareceu ninguém ao segundo poste para concluir.

Na segunda parte a equipa do Benfica surgiu mais interessada em controlar o jogo do que em aumentar o score enquanto os locais conseguiram mais iniciativas atacantes beneficiando de alguns livres que, porém, foram sendo desperdiçados, manifestando a confirmação de uma equipa algo desequilibrada (uma boa defesa mas com poucas soluções ofensivas). Ainda assim aos 69' o Beira-Mar quase empatava o jogo, apesar do lance ter sido iniciado com um aveirense em posição irregular.

Na substituições no Benfica Aimar ainda se mostrou mas Gaitán entrou mal e o jogo foi decorrendo com resultado incerto até ao apito final terminando com os adeptos encarnados satisfeitos pela vitória mas com uma exibição, em particular na segunda parte, de baixo rendimento. Saliente-se a melhoria na defesa que completou o terceiro jogo consecutivo sem sofrer golos.

A arbitragem comandada por Lucílio Baptista foi muito picuinhas, com a amostragem de muitos amarelos, cujo critério para ser coerente deveria ter conduzido à amostragem do segundo amarelo a Rúben Amorim aos 85'. Nos foras de jogo nem sempre os assistentes estiveram certos com um erro quase a conduzir ao empate na jogada já referida perto dos 70 minutos. Facto negativo o ter permitido que Nuno Coelho regressasse ao jogo vestindo a camisola de Balboa que havia sido substituído, não obstante o 4º. árboitro ter assistido a tusdo e sido alertado por Jesus para o facto. Enfim...

Árbitro: Lucílio Baptista

BEIRA-MAR: Rui Rego, Pedro Moreira, Yohan, Hugo e Joãozinho (Turan 85'), Nuno Coelho, Nildo Petrolina, Artur, Balboa (Dudu 78'), Zhang (Serginho 60'), Douglas

BENFICA: Artur, Rúben Amorim, Luisão, Garay e Emerson; Matic, Witsel, Bruno César (Javi García 89') e Nolito (Gaitán 60'), Saviola (Aimar 60') e Cardozo.

Golos: 0-1 Cardozo 42'
Disciplina: 10' Cartão Amarelo para Bruno César (Benfica) por derrubar Nildo;
13' Cartão Amarelo para Joãozinho (Beira-Mar) após falta sobre Bruno César;
45'+1 Cartão Amarelo para Saviola (Benfica) por falta cometida sobre Zhang;
48' Cartão Amarelo para Nuno Coelho (Beira-Mar)por falta sobre Bruno César;
59' Cartão Amarelo para Matic (Benfica) por impedir ilegalmente um contra-ataque;
70' Cartão Amarelo para Yohan (Beira-Mar) por protestos;
70' Cartão amarelo para Pedro Moreira (Beira-Mar) por protestos;
71' Cartão amarelo para Rúben Amorim por falta sobre Nildo.

Não me faças ... - João Apolinário

Não me faças
sentir ridículo
por ser mais velho

Os frutos de verão
são gerados
pelas sementeiras
do outono


in Amor fazer Amor, textos forja

João Apolinário Teixeira Pinto (Belas, Sintra, 18 de Janeiro de 1924 — Marvão, 22 de Outubro de 1988)

2011-10-21

Soneto das imagens interiores - Waldemar Lopes

Mistério das imagens interiores.
Imersas nestes mares de abandono
as sementes de fogo geram flores:
rosas de pó nas lâminas do outono.

Transfigurada, a fria luz de sono
vela de cinza a face dos pastores,
e os súditos do tempo, e os reis sem trono,
sob o mudo legado de outras dores.

Na áspera latitude um rio corre
branco de eternidade. As nebulosas
vão-se formando, enquanto o sonho morre.

Há pássaros absortos na obcecada
cisma da solidão; e mãos ansiosas
abrem portas de sombra para o nada.


Waldemar Freire Lopes (n. em Peri-Peri, então Município de Quipapá, mas hoje integrante do Município de S. Benedito do Sul, Pernambuco, a 1 de Fev. de 1911 - m. em 21 Out. 2006 no Recife).

2011-10-20

O Tempo - Frei António das Chagas

Deus pede estrita conta de meu tempo.
Forçoso de meu tempo é já dar conta.
Mas como dar sem tempo tanta conta
eu que gastei sem conta tanto tempo.

Para ter as minhas contas feita a tempo
dado me foi tempo e não fiz conta.
Não quis sobrando tempo fazer conta,
hoje quero fazer conta e falta tempo.

Oh, vós que tendes tempo sem ter conta
não gasteis o vosso tempo em passatempo,
cuidai enquanto é tempo em fazer conta.

Mas, ah! se os que contam com seu tempo,
fizessem desse tempo alguma conta,
não chorariam como eu o não ter tempo.


Antonio da Fonseca Soares (Antonio das Chagas), nasceu na Vidigueira a 25 de Junho de 1631 – m. Varatojo, Torres Vedras, em 20 de Outubro de 1682)

A tartaruguinha - João de Deus Souto Filho

imagem exttraída daqui

A tartaruguinha
Do pifuripafo
Não pifuripafa
Na pifuripinha.

O tartaruguinho
Só pifuripafa
Com a tartaruguinha
Na pifuripinha.

João de Deus Souto Filho nasceu em 20 de outubro de 1957, na cidade de Carolina, estado do Maranhão, Brasil

2011-10-19

Uefa Champions League Matchday 3: Oito "Peros" ao Pinheiro não encaminharam o Porto na Champions que desilude em casa frente a cipriotas

19 October 2011 - Matchday 3 - Results
Group E
Group F
Bayer Leverkusen
2-1Valencia
Marseille
0-1Arsenal
Chelsea
5-0Genk
Olympiacos
3-1Dortmund
Group G
Group H
Shakhtar Donetsk
2-2Zenit
Milan
2-0Bate Borisov
Porto
1-1Appoel

Barcelona
2-0Viktoria Plzen

18 October 2011 - Matchay 3 - Results
Group A
Group B
Napoli
1-1Bayern M.
CSKA Moskva
3-0Trabzonspor
Man. City
2-1Villarreal
Lille
0-1Internazionale
Group C
Group D
Otelul Galati
0-2Man. United
Real Madrid
4-0Lyon
Basel
0-2Benfica
Dinamo Zagreb
0-2Ajax



Standings
Group A
Group B
Bayern München
375-1
Internazionale
36
4-3
Napoli
35
4-2
CSKA Moskva
34
7-5
Manchester City
344-5
Trabzonspor
34
2-4
Villarreal
301-6
Lille
32
3-4
Group C
Group D
SL Benfica
374-1
Real Madrid
398-0
Manchester United
35
6-4
Ajax
342-3
FC Basel
3
45-6
Lyon
342-4
Otelul Galati
3
01-5
Dinamo Zagreb
300-5
Group E

Group F
Chelsea
37
8-1
Arsenal
374-2
Bayer Leverkusen
36
4-3
Marseille
364-1
Valencia
3
22-3
Olympiacos
334-4
Genk
3
10-7
Dortmund
312-7
Group G
Group H
Apoel FC
354-3
AC Milan
37
6-2
Zenit
34
6-5
Barcelona
379-2
FCPorto
3
44-5
Bate Borisov
31
1-8
Shakhtar Donetsk
3
24-5
Viktoria Plzen
31
1-5

Sonata do amor perdido - Vinicius de Moraes

Lamento nº. 1

Onde estão os teus olhos – onde estão? – Oh – milagre de amor que escorres dos meus olhos!
Na água iluminada dos rios da lua eu os vi descendo e passando e fugindo
Iam como as estrelas da manhã. Vem, eu quero os teus olhos, meu amor!
A vida... sombras que vão e sombras que vêm vindo
O tempo... sombras de perto e sombras na distância – vem, o tempo quer a vida!
Onde ocultar minha dor se os teus olhos estão dormindo?

Onde está tua face? Eu a senti pousada sobre a aurora
Teu brando cortinado ao vento leve era como asas fremindo
Teu sopro tênue era como um pedido de silêncio – oh, a tua face iluminada!
Em mim, mãos se amargurando, olhos no céu olhando, ouvidos no ar ouvindo
Na minha face o orvalho da madrugada atroz, na minha boca o orvalho do teu nome!
Vem... Os velhos lírios estão fanando, os lírios novos estão florindo...

Intermédio


Sob o céu de maio as flores têm sede da luz das estrelas
Os róseos gineceus se abrem na sombra para a fecundação maravilhosa...
Lua, ó branca Safo, estanca o perfume dos corpos desfolhados na alvorada
Para que surja a ausente e sinta a música escorrendo do ar!
Vento, ó branco eunuco, traz o pólen sagrado do amor das virgens
Para que acorde a adormecida e ouça a minha voz...

Lamento nº. 2

Teu corpo sobre a úmida relva de esmeralda, junto às acácias amarelas
Estavas triste e ausente – mas dos teus seios ia o sol se levantando
Oh, os teus seios desabrochados e palpitantes como pássaros amorosos
E a tua garganta agoniada e teu olhar nas lágrimas boiando!
Oh, a pureza que se abraçou às tuas formas como um anjo
E sobre os teus lábios e sobre os teus olhos está cantando!
Tu não virás jamais! Teus braços como asas frágeis roçaram o espaço sossegado
Na poeira de ouro teus dedos se agitam, fremindo, correndo, dançando...
Vais... teus cabelos desvencilhados rolam em onda sobre a tua nudez perfeita
E toda te incendeias no facho da alma que está queimando...
Oh, beijemos a terra e sigamos a estrela que vai do fogo nascer no céu parado
É a Música, é a música que vibra e está chamando!

Extraído de Vinicius de Moraes - Antologia Poética, Publicações Dom Quixote

Vinicius de Moraes (n. Rio de Janeiro a 19 Out 1913; m. Rio de Janeiro, 9 Jul 1980)

Ler neste blog do/sobre o autor:
Se o amor quiser voltar
Soneto da Separação
Saudades do Brasil em Portugal
Soneto do Amor Total
Poética I
Mar
Poema de Todas as Mulheres
Soneto de Fidelidade
Pela luz dos olhos teus
Dialectica
Aquarela
Amigos

Citação do dia - Jonathan Swift

Os leitores podem ser divididos em três classes: o superficial, o ignorante e o erudito. Quanto a mim, adapto a minha pena com muita felicidade em prol do génio e das vantagens de cada um. O leitor superficial será curiosamente levado a gargalhar, o que limpa o peito e os pulmões, combate o mau humor e é o mais inocente dos diuréticos. O leitor ignorante (cuja diferença do primeiro é extremamente subtil ) vai-se descobrir inclinado a olhar fixamente, o que é um remédio admirável para os olhos cansados, serve para elevar e avivar o espírito, e ajuda de maneira maravilhosa na transpiração. Mas o leitor verdadeiramente erudito, aquele para cujo benefício permaneço acordado enquanto os outros dormem, e adormeço quando eles acordam, encontrará aqui material suficiente para exercitar as suas faculdades especulativas para o resto da vida. Seria muito desejável, e eu aqui humildemente proponho como experiência, que cada príncipe do mundo cristão seleccionasse sete dos mais profundos eruditos dos seus domínios e os encarcerasse durante sete anos em sete gabinetes, com a ordem de escrever sete alentados comentários sobre este abrangente discurso. Aventuro-me a afirmar que, quaisquer que sejam as diferenças encontradas nas suas diversas conjecturas, serão todas, sem a menor distorção, manifestamente dedutíveis do texto.

in O Livro das Citações, Eduardo Gianetti, Publicações Dom Quixote

Jonathan Swift (Dublin, 30 de Novembro de 1667 — Dublin, 19 de Outubro de 1745)

2011-10-18

Benfica vence fora de casa e comanda o Grupo C da Champions League

FC BaselBenfica logo
FC Basel

0-2

SL Benfica


Bruno César abriu caminho... Cardozo aumentou

O Benfica venceu na Suiça um adversário directo na busca de um dos dois lugares que dão a qualificação e desbravou grande parte do caminho perante o Basileia que surpreendera ao empatar (estando a ganhar até ao último minuto) em Manchester.

O jogo foi bastante bom durante a primeira parte com a equipa local a jogar muito forte nos primeiros dez minutos mas a equipa portuguesa com muito melhor capacidade técnica e trato de bola superiorizou-se. Os suiços mostraram ser uma equipa física de futebol directo e rápido (o que pode ser perigoso a jogar fora , porventura, a justificar o empate de Manchester), mas com falhas de criatividade.

Jesus apostou em Rodrigo no onze inicial. O jovem jogador nas primeiras intervenções não foi feliz (um remate fraco à figura) e uma perda de bola na zona do meio-campo, mas justificou a sua entrada pela mobilidade demonstrada tendo intervenção fulcral no lance do primeiro golo. Gaitán criou o lance pela direita tabelou com Aimar e voltou a pôr no centro da área para Rodrigo que deixando passar a bola pelo meio das pernas deixou para o desmarcado Bruno César concluir com um remate cruzado.

A equipa da casa pareceu surpreendido com a fluência do futebol do Benfica com Aimar e Witsel (excelente capacidade técnica a contemporizar e a proteger a bola) enquanto na equipa da casa foi Xaquiri pela direita o jogador mais perigoso colocando problemas sérios a Emerson que ainda na primeira parte viu o cartão amarelo numa jogada para travar o pequeno jovem jogador suiço (apenas vinte anos) que foi o jogador da casa em maior destaque.

Artur voltou a mostrar segurança permitindo que o Benfica levasse a vantagem para o intervalo.

Durante os primeiros vinte minutos da segunda parte o Benfica organizado superiorizou-se e pareceu questão de tempo o xeque-mate. Todavia, a meio da segunda parte o meio-campo encarnado começou a dar mostras de quebra: Aimar não aguenta o jogo todo, Gaitán revelou caimbras e foi a altura de Jesus mexer na equipa. Nolito entrou para o lugar de Aimar, Cardozo para o lugar de Rodrigo e num dos primeiros lances Cardozo ganhou o livre (e cartão amarelo para Huggel) num lance aéreo e na marcação do livre (talvez o novo treinador suiço não tenha estudado devidamente o Benfica) os locais não colocaram uma barreira suficiente enfiando Cardozo a bola rasteira junto ao poste e dando uma grande alegria a cerca de cinco milhares de adeptos benfiquistas no estádio.

Depois os últimos vinte minutos não foram bons para o Benfica. A equipa suiça não tinha nada a perder e as más notícias para o Benfica começaram a surgir. O Manchester adiantava-se definitivamente na Roménia, Maxi Pereira saía lesionado (entrando Miguel Vítor), Gaitán fazia figura de corpo presente, Javi, vindo de uma lesão mostrava também dificuldades e Emerson era expulso (por segundo cartão amarelo). A pressão suiça levou o Benfica para junto da baliza defensiva, Artur mais uma vez demonstrou segurança (aos 69' ainda com 0-1 já fizera a defesa da noite ao sair aos pés de Stressler) e o Benfica sofreu um tanto para manter as redes invioláveis.

O Benfica é superior e favorito para vencer de novo este Basileia em casa na próxima jornada (o que seria a confirmação do apuramento) mas os encarnados não tem defesa esquerdo para esse jogo (Capdevilla não está inscrito), e este Shaqiri é muito perigoso sendo o principal mérito do Basileia a transição rápida para o ataque.

A arbitragem foi comandada pelo árbitro húngaro Kassai que apitou a final da Champions da época passada e tendo algumas falhas de apreciação (um canto mal marcado contra o Benfica na primeira parte e uma ou outra falta discutível), mostrou categoria. Expulsou Jesus do banco já perto do fim do jogo quando este pedia a amostragem dum cartão vermelho por uma entrada extemporânea e destemperada de Shaqiri sobre Bruno César (viu só cartão amarelo).


UEFA Champions League
Group stage (Group C)
St. Jakob-Park, Basel (SUI)
Árbitro: Kassai (HUN)
Assistentes: Gabor Erös (HUN)e György Ring (HUN)

BASILEIA: Sommer; Steinhofer, Abraham, Dragovic e Park Joo Ho; Shaquiri, Granit Xhaka (Cabral 80'), Huggel (Chipperfield 85'), e Fabian Frei (Zoua 66'); Alexander Frei e Streller.

BENFICA: Artur Moraes; Maxi Pereira (Miguel Vítor 78'), Luisão, Garay e Emerson; Witsel e Javi García; Bruno César, Aimar (Nolito 67') e Gaitán; Rodrigo (Cardozo 71').

Golos: 0-1 Bruno César 20'; 0-2 Cardozo 75'
Disciplina:
35' Cartão amarelo a Streller por entrada violenta sobre Emerson.
41' Cartão amarelo para Emerson por bloquear em falta Shaquiri.
74' cartão amarelo a Huggel por cotovelada em Cardozo na disputa de um lance aéreo.
86'Segundo cartão amarelo e consequente cartão vermelho para Emerson (Benfica) por desnecessário bloqueio em falta a Shaqiri, ainda na zona de meio-campo junto à lateral.
90' Cartão amarelo a Artur por queimar tempo
90+3' Cartão amarelo a A. Frei por simular falta

Morna de Despedida (Hora di Bai) - Eugénio Tavares

Hora di bai,
Hora di dor,
Ja'n q'ré
Pa el ca manchê!
De cada bêz
Que 'n ta lembrâ,
Ma'n q'ré
Fica 'n morrê!

Hora di bai,
Hora di dor,
Amor,
Dixa'n chorâ!
Corpo catibo,
Ba' bo que é escrabo!
Ó alma bibo,
Quem que al lebabo?

Se bem é doce,
Bai é maguado;
Mas, se ca bado,
Ca ta birado!
Se no morrê
Na despedida,
Nhor Des na volta
Ta dano bida.

Dicham chorâ
Destino de home:
Es dor
Que ca tem nome:
Dor de crecheu,
Dor de sodade
De alguem
Que'n q'ré, que q'rem...

Dicham chorâ
Destino de home,
Oh Dor
Que ca tem nome!
Sofrí na vista
Se tem certeza,
Morrê na ausencia,
Na bo tristeza!

(tradução em português)
Hora de ir,
Hora de dor.
Já quero
Que não amanheça!
De cada vez
Que eu lembro,
Mais eu quero
Ficar e morrer!

Hora de ir,
Hora de dor!
Amor,
Deixe-me chorar!
Corpo cativo,
Vai tu que és escravo!
Ó alma viva,
Quem que já te levou?

Se voltar é doce,
Ir é magoado;
Mas, se não fores,
Não voltas!
Se nós morremos
Na despedida,
Senhor Deus na volta
Dá-nos vida.

Deixa-me chorar
Destino de homem:
Essa dor
Que não tem nome:
Dor de Crecheu
Dor de Saudades
De alguém
Que eu quero, e que me quer...

Deixa-me chorar
Destino de homem,
Ó dor
Que não tem nome!
Sofrer na vida
Se tem certeza,
Morrer na ausência,
Da tua tristeza!

Eugénio de Paula Tavares (Ilha Brava, 18 de outubro de 1867 — Vila Nova Sintra 1 de junho de 1930)

Ler do mesmo autor, neste blog:
Canção ao Mar - Mar Eterno
Força de Cretcheu

Mocidade - Casimiro de Abreu

Doce filha da lânguida tristeza
Ergue a fronte pendida - o sol fulgura!
Quando a terra sorri-se e o mar suspira
Por que te banha o rosto essa amargura?!

Por que chorar quando a natura é risos,
Quando no prado a primavera é flores?
- Não foge a rosa quando o sol a busca
Antes se abrasa nos gentis fulgores.

Não! - Viver é amar, é ter um dia
Um amigo, uma mão que nos afague;
Uma voz que nos diga os seus queixumes,
Que as nossas mágoas com amor apague.

A vida é um deserto aborrecido
Sem sombra doce, ou viração calmante;
- Amor - é a fonte que nasceu nas pedras
E mata a sede à caravana errante.

Amai-vos! disse Deus criando o mundo,
Amemos! - disse Adão no paraíso,
Amor! - murmura o mar nos seus queixumes,
Amor! - repete a terra num sorriso!

Doce filha da lânguida tristeza
Tua alma a suspirar de amor definha...
- Abre os olhos gentis à luz da vida,
Vem ouvir no silêncio a voz da minha!

Amemos! Este mundo é tão tristonho!
A vida, como um sonho - brilha e passa;
Porque não havemos p'ra acalmar as dores
Chegar aos lábios o licor da taça?

O mundo! o mundo! - E que te importa o mundo?
- Velho invejoso, a resmungar baixinho!
Nada perturba a paz serena e doce
Que as rolas gozam no seu casto ninho.

Amemos! - tudo vive e tudo canta...
Cantemos! seja a vida - hinos e flores;
De azul se veste o céu... vistamos ambos
O manto perfumado dos amores.

Doce filha da lânguida tristeza
Ergue a fronte pendida - o sol fulgura!
- Como a flor indolente da campina
Abre ao sol da paixão tua alma pura!


Setembro - 1858.

Casimiro José Marques de Abreu (nasceu no dia 4 de Janeiro de 1839, em Barra de São João, no Estado do Rio, e morreu no dia 18 de outubro de 1860, em Nova Friburgo).

Ler do mesmo autor, neste blog:
A Valsa
Canção do Exílio
O Que é Simpatia
Meus oito anos
Quando ?!...
Clara
Amor e Medo
Minha Alma é Triste III

2011-10-17

Poema Dum Funcionário Cansado - António Ramos Rosa

A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita

estreita em cada passo
e as casas engolem-nos
sumimo-nos,
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só

Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Porque não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Porque me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?

Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música

São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo uma noite só comprida
num quarto só


(O Grito Claro, 1958)
in Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI, Porto Editora

António Víctor Ramos Rosa (nasceu em Faro a 17 de Outubro de 1924)

Ler do mesmo autor neste blog:
Este Viver Comum
Vertentes;
Não posso adiar o amor...

2011-10-16

Minha Rua - Moojen de Oliveira

Minha rua era tão minha
em sua simplicidade…

Não sei de onde é que ela vinha,
mas ia para a cidade.

Com suas pedras redondas
e duas magras calçadas,
não tinha praia nem ondas,
mas como tinha enxurradas!

Era alegre, era risonha,
tinha orquestra de pardais,
e a cantilena enfadonha
de mil pregões matinais.

Ali cresci, me fiz homem,
e a minha rua, coitada…
qual as mães que se consomem,
foi tudo, sem querer nada.

Foi pista dos meus brinquedos,
de jogos de correrias…
Foi dona dos meus segredos
viu tristezas, alegrias…

Viu meus passos imprecisos,
viu-me garoto, um traquinas,
e viu-me trocar sorrisos
nas rondas pelas esquinas.

Viu-me também, certo dia,
sair da lá, nem sei quando…

Por fora sei que sorria,
por dentro estava chorando…

guardei, porém, na lembrança
aquele encanto que tinha
a rua em que fui criança,
a rua que foi tão minha…


Virgílio Moojen de Oliveira nasceu em Leopoldina (MG) a 16 de Outubro de 1902, faleceu em 1980

2011-10-15

No centenário do nascimento de Manuel da Fonseca: Antes que Seja Tarde

Amigo,
tu que choras uma angústia qualquer
e falas de coisas mansas como o luar
e paradas
como as águas de um lago adormecido,
acorda!
Deixa de vez
as margens do regato solitário
onde te miras
como se fosses a tua namorada.
Abandona o jardim sem flores
desse país inventado
onde tu és o único habitante.
Deixa os desejos sem rumo
de barco ao deus-dará
e esse ar de renúncia
às coisas do mundo.
Acorda, amigo,
liberta-te dessa paz podre de milagre
que existe
apenas na tua imaginação.
Abre os olhos e olha,
abre os braços e luta!
Amigo,
antes da morte vir
nasce de vez para a vida.

in "Poemas Dispersos"

Manuel Lopes Fonseca (n. em Santiago do Cacém a 15 Out 1911 ; m. em Lisboa a 11 Mar 1993)

Ler do mesmo autor:
Poema da Menina Tonta
Depois vinha o luar...
Estradas
Segundo dos Poemas de Infância
Ruas da Cidade
Os olhos do poeta
Romance do terceiro oficial de finanças

2011-10-14

Pai: quando falava no futuro - Sebastião Alba

Pai: quando falava no futuro
a que se referia – ao meu tempo?
Nunca, na ascensão em espiral
de qualquer culto,
dominámos um frouxo de tosse.
Abro o livro (o seu era L’espoir):
Se o malogro das personagens não é certo,
Por certo o é o do autor.
Bem sucedido, morrerá: fim.
E isso nenhum estilo o redime.
Sorrio congeminando
Que o seu tinha uma encadernação durável.
Os meus filhos sorrirão doutra coisa.
Eis como o sorriso propaga.


in Cem Poemas Portugueses sobre a Infância
selecção, organização e introdução de José Fanha e José Jorge Letria

Dinis Albano Carneiro Gonçalves nasceu em Braga, a 11 de Março de 1940, mas viveu a maior parte da sua vida em Moçambique. Morreu em Braga, no dia 14 de Outubro de 2000

Ergo meus olhos vagos, na distância - Armando Côrtes-Rodrigues

Ergo meus olhos vagos na distância
Da sombra do meu Ser...
Pairam de mim além, e a minha Ânsia
Cansa de me viver.

Meus olhos espectrais de comoção,
Olhos da alma olhando-se a si,
Nimbam de luz a longa escuridão
Da Vida que vivi.

Auréola de Dor que finaliza
Na noite do abismo do meu nada;
Silêncio, prece, comunhão sagrada,
Sombra de luz que em Ti me divinisa,
Tortura do meu fim,
Alma ungida
E perdida
Na grandeza de Si. E já sem ver-me,
Maceração crepuscular de Mim,
Agonizo de Ser-me.

Armando César Côrtes-Rodrigues (Vila Franca do Campo, 28 de Fevereiro de 1891 — Ponta Delgada, 14 de Outubro de 1971).

Ler do mesmo autor, neste blog:
Em Louvor da Água
Vozes da Noite

No 43º. aniversário da morte de Cristovam Pavia

Na noite da minha morte
Tudo voltará silenciosamente ao encanto antigo...
E os campos libertos enfim da sua mágoa
Serão tão surdos como o menino acabado de esquecer.

Na noite da minha morte
Ninguém sentirá o encanto antigo
Que voltou e anda no ar como um perfume...
Há-de haver velas pela casa
E xales negros e um silêncio que eu
Poderia entender.

Mãe: talvez os teus olhos cansados de chorar
Vejam subitamente...
Talvez os teus ouvidos, só eles ouçam, no silêncio da casa velando,
E mesmo que não saibas de onde vem nem porque vem
Talvez só tu a não esqueças.


Cristóvam Pavia é o pseudónimo literário de Francisco António Lahmeyer Flores Bugalho, nascido na freguesia de Alcântara, Lisboa a 7 de Outubro de 1933 e faleceu na mesma cidade a 13 de Outubro de 1968.

Momento Num Café - Manuel Bandeira

Funeral imagem daqui

Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
Saudavam o morto distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida
Confiantes na vida

Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado
Olhando o esquife longamente
Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade
Que a vida é traição
E saudava a matéria que passava
Liberta para sempre da alma extinta.


in Rosa do Mundo 2001 Poemas para o Futuro, Porto 2001, Assírio & Alvim

Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (n. Recife, 19 Abril 1886 — m. Rio de Janeiro, 13 de Out. de 1968).

Ler do mesmo autor, neste blog:
Tema e Variações
Hiato
Desencanto
A Onda
Antologia
Maçã

2011-10-12

Remédio

- Está triste?!
- Estou…
- E porquê?

Oh! As raízes perdem-se na memória...

Isso é tema filosófico,
Metafísico e inglório,
Estético, biológico,
Talvez até genético...
Certamente pouco poético...

Sei lá, tantos cenários...

Provavelmente, um problema
Matemático:
Muitas hipóteses,
Nenhum teorema
Infinitos corolários...

- Olha! Dá-me um beijo
Que isso passa à história…

Fernando Semana nasceu na freguesia de Valbom, concelho de Gondomar em 12 de Outubro de 1957

Quando o Amor Morrer Dentro de Ti - Ruy Cinatti (na passagem dos 25 anos do desaparecimento do poeta)

Quando o amor morrer dentro de ti
Caminha para o alto onde haja espaço,
E com o silêncio outrora pressentido
Molda em duas colunas os teus braços.
Relembra a confusão dos pensamentos,
E neles ateia o fogo adormecido
Que uma vez, sonho de amor, teu peito ferido
Espalhou generoso aos quatro ventos.
Aos que passarem dá-lhes o abrigo
E o nocturno calor que se debruça
Sobre as faces brilhantes de soluços.
E se ninguém vier, ergue o sudário
Que mil saudosas lágrimas velaram;
Desfralda na tua alma o inventário
Do templo onde a vida ora de bruços
A Deus e aos sonhos que gelaram.


(Anoitecendo, a Vida Recomeça, 1942)
in Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI

Ruy Cinatti Vaz Monteiro Gomes (Londres, 8 de Março de 1915 — Lisboa, 12 de Outubro de 1986)

Ler do mesmo autor, neste blog: Vigília

2011-10-11

Também no futebol Portugal demonstra que não é capaz. Neste caso nem conseguimos auxílio externo...

Denmark flagPortugal flagDinamarca

2-1

Portugal


Sonâmbulos e conformados ... como o país!

Não foram precisos muitos segundos de jogo para perceber que o discurso de Paulo Bento de que a selecção nacional de futebol sénior ia a Dinamarca para ganhar e não para jogar para o empate se tratava de demagógico paleio de político.

Como é que uma selecção medíocre de há quatro dias atrás se podia em tão pouco tempo converter numa boa selecção? Não entendo como uma imprensa tão benevolente para Paulo Bento se satisfez com um resultado de 5-3 em casa perante a Islândia. Então sofrer três golos em casa perante toscos islandeses, que ainda criaram outras tantas oportunidades flagrantes, só podia prenunciar um desastre na Dinamarca.

E os primeiros minutos logo mostraram amedrontados portuguesinhos de palmo e meio a andarem a passo de caracol (ou a trem da linha do Tua) perante gigantes dinamarqueses a velocidade de train de gran vitesse (que não temos e nunca teremos).

Aos três minutos já perdíamos não fosse o árbitro italiano ver uma falta (depois de os dinamarqueses já estarem há bom tempo a festejar) que não vi. Mas perante uma equipa à defesa que não sabe defender foi questão de tempo ver Rui Patrício sofrer um golo num remate de Krohn-Dehli... que Rolando desviou para dentro da baliza. E assim a Dinamarca avançava para o comando da qualificação. Na Suécia a equipa da casa avançava também no marcador mas logo os holandeses restabeleciam o empate para repor Portugal na rota da fase final do Euro.

Quase durante toda a primeira parte Portugal esteve bloqueado e o guarda-redes dinamarquês teve um dia de férias, intervindo praticamente para fazer uma defesa a remate de Cristiano Ronaldo que saiu com boa direcção mas frouxo.

Quando se pensaria que o intervalo só poderia fazer bem a Portugal os dinamarqueses ameaçaram com o segundo golo que viriam a marcar por Bendtner aos 63'. O onze do jogo da Islândia repetido neste jogo em Copenhaga estava longe de chegar para se bater perante o futebol directo, vivo, físico e dinâmico da Dinamarca.

Postiga um zero à esquerda, sempre lento, amorfo e inconsequente. Os laterais João Pereira e Eliseu foram buracos de todo o tamanho, Carlos Martins com alguns remates de fora da área desastrados, João Moutinho e Raul Meireles sem físico para disputar as bolas perante gigantes dinamarqueses a maior parte das vezes em lances aéreos. Cristiano Ronaldo poucas vezes em jogo...

Da Suécia as notícias do segundo golo da Holanda logo foram contrariadas pela reviravolta sueca que atirava Portugal para o play-off.

Já era mais a expectativa de auxílio externo do que esperança na capacidade portuguesa. A Dinamarca falhava golos de baliza aberta e via Rui Patrício, ainda assim a ser o melhor português, evitando um desaire mais pesado em termos de desnível.

Paulo Bento fez as substituições possíveis mas era flagrante a pouca capacidade do banco para alterar as coisas. Miguel Veloso (no lugar de Eliseu 65'), Quaresma (no lugar de Carlos Martins) e Nuno Gomes! (no lugar de Postiga 78') nada alteraram ainda que o primeiro tenha feito alguns arranques pela esquerda finalizados com centros para as mãos do guarda-redes.

Já em tempo de desconto um livre directo de Cristiano Ronaldo deu uma expressão errada ao marcador tamanha foi a diferença de ritmo e de oportunidades de golo entre as duas equipas.

Resta o play-off podendo caber a Portugal a Bósnia (que empatou na França 1-1 depois de estar a ganhar durante muito tempo) - será um remake do play-off do Mundial? -, Montenegro (que hoje perdeu na Suiça por 2-0 mas ganhou o segundo lugar no Grupo G), Estónia (surpreendente segundo lugar, beneficiando da eliminação da Sérvia pela derrota na Eslovénia no grupo ganho pela Itália) ou Irlanda (após triunfo em casa frente à Arménia por 2-1 ficou em segundo lugar no Grupo B ganho pela Rússia). As restantes três equipas do play-off são a Turquia (vencedor do Azerbaijão por 1-0, no Grupo ganho com 100% dos pontos pela Alemanha: dez triunfos em dez jogos!), a República Checa (venceu 4-1 na Letónia no Grupo em que a Espanha também fez o pleno com oito vitórias nos oito jogos disputados) e a Croácia (segunda classificada no Grupo ganho pela Grécia).

Caso para dizer que como o prazo foi prorrogado... esperamos até à última para cumprir.

Venha a Estónia que iremos lá... (digo eu... não sei...).

Ficha do Jogo:
Qualifying round (Group H) - 11/10/2011 - 20:15CET (20:15 local time) - Parken Stadion - Copenhagen
Árbitro: Nicola Rizzoli (ITA); assistentes: Luca Maggiani (ITA), Andrea Stefani (ITA)

DINAMARCA: Sorensen, Jacobsen, Kjaer, Bjelland, Silberbauer (Simon Poulsen 76'), William Kvist, Eriksen, Zimling (Christian Poulsen 70'), Rommedahl (Jakob Poulsen 87'), Bendtner, Krohn-Dehli.

PORTUGAL: Rui Patrício, João Pereira, Rolando, Bruno Alves, Eliseu (Miguel Veloso 65', Carlos Martins (Quaresma 65'), Raúl Meireles, João Moutinho, Nani, Hélder Postiga (Nuno Gomes 78'), Cristiano Ronaldo.

Golos: 1-0 Krohn-Dehli 13; 2-0 Bendtner 63; 2-1 Cristiano Ronaldo 90+2'
Disciplina: Cartão amarelo para Rommedahl 45'por obstrução a Cristiano Ronaldo
Cartão amarelo aos 75' para Michael Silberbauer

No 7º. aniversário do desaparecimento do escritor Fernando Sabino

Aqui jazz Fernando Sabino, que nasceu homem e morreu menino!

O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis

Para os pobres, é dura lex, sed lex. A lei é dura, mas é a lei.
Para os ricos, é dura lex, sed latex. A lei é dura, mas estica.

Fernando Tavares Sabino, (Belo Horizonte, 12 de outubro de 1923 - Rio de Janeiro, 11 de outubro de 2004)

2011-10-10

À Virgem - Bittencourt Sampaio

Do teu trono de róseas alvoradas,
Estende, mãe bendita, as mãos radiosas,
Sobre a angústia das sendas escabrosas
Onde choram as mães atormentadas.
Mãe de todas as mães infortunadas
Com tua alma de lírios e de rosas,
Mitiga a dor das almas desditosas
Entre as sombras de míseras estradas.
Anjo consolador dos desterrados,
Conforta os corações encarcerados
Nas algemas do mundo amargo e aflito.
Ao teu olhar, as lágrimas da guerra
E os quadros de amargor, que andam na Terra,
São caminhos de luz para o Infinito.


Francisco Leite de Bittencourt Sampaio (Laranjeiras, 1 de fevereiro de 1834 — Rio de Janeiro, 10 de outubro de 1895

World Day Against Death Penalty

Today October 10th, 2001, the 9th World Day against the Death Penalty is to raise awareness on the inhumanity of the death penalty throughout the entire process, from sentence to execution.

When Amnesty International was founded in 1961, only nine countries had abolished the death penalty for all crimes. Fifty years on, the trend towards worldwide abolition of the death penalty is unmistakeable. Every year on 10 October Amnesty International joins other activists in the abolitionist movement to celebrate the World Day Against the Death Penalty, calling for the abolition of this inhuman punishment worldwide.

At least 17,833 people were on death row around the world at the end of 2010.
At least 67 countries imposed death sentences in 2010. Belarus is the last country in Europe that allows the death penalty.

2011-10-09

Eu - Ismael Nery

Eu sou a tangência de duas formas opostas e justapostas
Eu sou o que não existe entre o que existe.
Eu sou tudo sem ser coisa alguma.
Eu sou o amor entre os esposos.
Eu sou o marido e a mulher.
Eu sou a unidade infinita.
Eu sou um deus com princípio.
Eu sou poeta!
Eu tenho raiva de ter nascido eu.
Mas eu só gosto de mim e de quem gosta de mim.
O mundo sem mim acabaria inútil.
Eu sou o sucessor do poeta Jesus Cristo
Encarregado dos sentidos do universo.
Eu sou o poeta Ismael Nery
Que às vezes não gosta de si.
Eu sou o profeta anônimo.
Eu sou os olhos dos cegos
Eu sou o ouvido dos surdos.
Eu sou a língua dos mudos.
Eu sou o profeta desconhecido, cego, surdo e mudo
Quase como todo mundo.


Ismael Nery nasceu no dia 9 de outubro de 1900 em Belém do Pará e faleceu em 6 de Abril de 1934 no Rio de Janeiro

2011-10-08

Interferência - Alberto de Serpa

A Cecília Meireles

Quem veio bater a minha porta? Quem?
Quem me fez abrir a janela e a noite morta?

O caminho estava deserto e o seu silêncio tinha horas.
Vento? Esta noite tem a paz e o sossego da morte.
Só eu e as estrelas sentíamos a solidão fantástica...

Nos ouvidos e na ansiedade guardei o rumor que me chamou,
as minhas mãos tiveram a carícia doutras mãos perdidas,
e uma companhia invisível acendeu uma luz na minha alma...

Alguém terá pensado em mim, longe?


(A Vida é o Dia de Hoje, 1939)
in Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI; Porto Editora

Alberto de Serpa Esteves de Oliveira (nasceu no Porto a 12 de Dezembro de 1906 - m. na mesma cidade a 8 de Outubro de 1992)

Ler do mesmo autor, neste blog:
Incerteza
Um Jovem Camarada
Poema III

Acalmia ruidosa. Em quatro sinos - João Maimona

1. instante inicial

eis a história das sílabas igualando
os confins das linhas de água.
a alegria peregrina percorre cidadelas
como as sentinelas do mar: as águas
vêm dar à beleza das sílabas
como se houvesse um luminoso
reencontro: era o instante inicial.

2. primeiro instante intermédio

esperava que a paisagem pintasse
noites vizinhas. E insígnias rebuscando
cacimbos numa desconhecida povoação.
Porém, apareceram riozinhos esverdeados
Iluminando armadilhas, angústias
E telas infernais: nascia a nação comum
Encerrando torturas sobre as lágrimas.

3. segundo instante intermédio

parecia um reino de passo fascinante
suficiente para enriquecer estômagos estranhos.
precioso? os rios não diziam o contrário.
e desfilava maldita miséria insuficiente
para desencantar a plenitude humana.
em reino que raspava a fortuna
crescia a flor do dia freqüentando
abraços virgens. ricos em sonhos enfeitiçados.

4. instante final

teria o solo da eternidade outras cinzas?
onde adormece o abrigo crescem
um insondável silêncio e delicadas
folhas cuja cor saúda a origem da sombra:
todas as cinzas pronunciavam a eternidade.
Era a repetição dos passos e imagens.
Imagens do milênio anterior.

João Maimona nasceu em Quibocolo, município de Maquela do Zombo, província do Uíge, a 8 de Outubro de 1955.

2011-10-07

Não fugir. Suster o peso da hora - Cristovam Pavia

Não fugir. Suster o peso da hora
Sem palavras minhas e sem os sonhos,
Fáceis, e sem as outras falsidades.
Numa espécie de morte mais terrível
Ser de mim despojado, ser
abandonado aos pés como um vestido.
Sem pressa atravessar a asfixia.
Não vergar. Suster o peso da hora
Até soltar sua canção intacta.


in Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro; Assírio & Alvim
Cristovam Pavia é o pseudónimo literário de Francisco António Lahmeyer Flores Bugalho, nascido na freguesia de Alcântara, Lisboa a 7 de Outubro de 1933 e faleceu na mesma cidade a 13 de Outubro de 1968.

2011-10-06

Musical suggestion of the day: Eterna Amália Rodrigues no 12º aniversário do desaparecimento

Amália da Piedade Rodrigues (Lisboa, 23 de Julho de 1920 — Lisboa, 6 de Outubro de 1999)

Medo


Com Que Voz


Disse-te adeus e morri

2011-10-05

Memorial - Soneto XLVIII - Maximiano Torres


À Ilustríssima, e Excelentíssima Senhora D. Joana Isabel Forjaz

Louvem-te embora a angélica beleza
De que o Céu te dotou com mão profusa
Louvem-te as graças da suave Musa
Ou dos Avós honrados a nobreza

Eu só tu'alma a quem Virtude preza
Louvo, a honra, e esplendor da Terra Lusa
Onde o Mérito achar refúgio usa
Náufrago nos cachopos da Pobreza

Tu só, Jonia gentil, tu só piedosa
Co'a lança da benéfica Ventura
Corres a debelar-me a Sorte irosa

Já grata em teu louvor a voz se apura:
Já para ouvir-me o Mouro* ergue a limosa
Fronte azul, e entre os freixos não murmura.


* Mouro=Rio de Mouro ribeiro conhecido que nasce três léguas distante de Lisboa para a banda de Sintra, cuja estrada atravessa por baixo de uma espaçosa ponte, dando o seu nome a um lugar insigne pelas suas amenas, e grandiosas quintas. = Nota do Editor.

in Versos do Bacharel Domingos Maximiano Torres denominado Alfeno Cynthio, Lisboa, Tipografia Nunesiana, Ano MDCCXCI

(Nota do Webmaster: A ortografia foi adaptada para os nossos dias)

Domingos Maximiano Torres (que usou o nome arcádico de Alfeno Cynthio) nasceu em 6 de Fevereiro de 1748 na freguesia de Rio de Mouro, Sintra, e faleceu na Trafaria a 5 de Outubro de 1810.

Do mesmo autor, neste blog, À Vida Rústica

2011-10-04

Musical suggestion of the day - Mercedes Sosa


...


Cancion De Las Simples Cosas

Uno se despide insensiblemente de pequeñas cosas
Lo mismo que un árbol en tiempo de otoño
se queda sin hojas
Al fin la tristeza es la muerte lenta
de las simples cosas
Esas cosas simples que quedan doliendo en el corazón.

Uno vuelve siempre a los viejos sitios
en que amo la vida
Y entonces comprende como están de ausentes
las cosas queridas
Por eso muchacho no partas ahora soñando el regreso
Que el amor es simple
y las cosas simples se las devora el tiempo.

Demórate aquí en la luz mayor de este mediodía
Donde encontraras con el pan al sol la mesa tendida
Por eso muchacho no partas ahora soñando el regreso
Que el amor es simple y las cosas simples las devora
el tiempo...

Mercedes Sosa (n. San Miguel de Tucumán, 9 de julho de 1935 — m. Buenos Aires, 4 de outubro de 2009)

2011-10-03

Coisas do outro mundo - Manuel António Pina

Manuel António Pina nascido no Sabugal em 18 de Novembro de 1943 é um jornalista, escritor e poeta português, galardoado em 2011 com o Prémio Camões. Do poeta já constam no Nothingandall a divulgação de vários poemas. No Jornal de Notícias mantém uma crónica diária "Por outras Palavras". Não.. não tem a ver com o título da canção de Mafalda Veiga mas concorde-se ou não é de leitura imprescindível.

Hoje a crónica tem a ver com "Coisas do Outro Mundo" e como actualmente a sociedade portuguesa está cheia delas é imperdível e de leitura altamente recomendável, face aos sacrifícios progressivos que a troika e o Governo exige da população portuguesa em geral enquanto uns tantos senhores se governam no reino do outro mundo.

Então aí vai daqui:
Depois dos seis mil milhões de dívidas vivas e a rabear descobertas nas contas de Alberto João Jardim, alguém se pôs, de novo a mando da "troika", a espiolhar a base de dados da Administração Central do Sistema de Saúde e deu com 500 médicos mortos, alguns dos quais, segundo noticiou o "Público", continuam a passar receitas.

A notícia é omissa quanto ao facto de os falecidos continuarem ou não a receber salário, embora seja admissível, tratando-se de mortos, que trabalhem só para aquecer.

Cadáveres adiados que procriam receitas é cousa de grande assombração, sobretudo num país onde tantos mortos se sentam quietamente há anos nas bancadas do Parlamento e em gabinetes ministeriais e institutos sem procriar nada que se veja a não ser despesa pública.

E atestados médicos, continuarão os saudosos extintos a atestar que Fulano e Sicrano "se encontram doentes e impossibilitados de exercer as suas funções"? E certidões de óbito, próprias e alheias?

O estranho caso dos médicos que exercem na tumba põe complexas questões metafísicas, para além da da vida profissional depois da vida. Uma delas é a existência de farmácias com comércio com o Além que aviam receitas passadas por fantasmas, certificadas com vinhetas que seria suposto vigorarem no Aquém, a almas penadas que, cheias de olheiras, se materializam às horas mortas das noites de serviço permanente para comprar comprimidos para o sono eterno.

(Fim de citação)

Na verdade em vez de aumentos sistemáticos de impostos, com a elasticidade das receitas fiscais a dar mostras evidentes de acentuada quebra, medidas legislativas de facilitismo de despedimentos e outras que afectam direitos sociais que o pós 25 de Abril consignou, não seria muito mais fácil e proveitoso acabar com estas (e outras) fantasmagorices? ... ou não convém?...